sábado, 23 de junho de 2018

O menino que caiu no infinito

Por Nilza Monti Pires
Revisão: Jean e Nilza
Ilustrações: Paula Vanessa
Annina Ramona
Sabrina Paloma

Pedrinho era um menino alegre e muito curioso.

Morava numa cidadezinha cheia de pássaros, ruas arborizadas e flores por todo lado. Um lugar aprazível, encantador, quase mágico.

 

Todas as manhãs, logo cedinho, saía para empinar sua pipa. Era o que mais gostava de fazer.

Numa rodinha de amigos, um deles falou:

- Sabia que o céu não tem fim?

O outro respondeu:

- Não tem mesmo, o céu é infinito.

Pedrinho ficou intrigado e pensou:

“Como não tem fim? A minha pipa vai tão alto que chega até o fim. Vou provar a eles que o céu tem um fim”.

Naquele dia lá foi ele empinar a sua pipa, que foi tão alto que quase chegou nas nuvens, mas logo em seguida começou a perder força caindo rapidinho.

Pedrinho ficou aborrecido mas não desanimou.

No dia seguinte, saiu com a sua pipa mais otimista.

“Hoje vou conseguir. Vou exibir com orgulho como ela vai longe”.

Mal subiu, a pipa rasgou, começou a rodar, a rodar, descendo em zigue e zague, até cair. Desta vez, foi pior ainda!

Pedrinho ficou desolado novamente. Não teve sorte.

Voltou para casa imaginando como melhorar a sua pipa. Aí teve a seguinte ideia: colocar mais linha e aumentar a cauda de papel colorido, deixando uma rabiola bem bonita.

O dia amanheceu quente e ensolarado. O céu bem azul.

Pedrinho saiu confiante, cheio de esperança. Afinal, o tempo colaborava. Com certeza, hoje a pipa iria alcançar ao fim do infinito.



Saiu feliz da vida com sua linda pipa, com a rabiola colorida de fazer gosto!

Pedrinho subiu até na árvore para ficar mais alto.

E a sua pipa foi subindo, subindo, subindo... Subiu tão alto que ultrapassou as nuvens, até quase não se ver.

Pedrinho ficou tão ansioso que queria tocar no final do céu, saber o que tinha lá.

Amarrou a linha num galho de árvore e resolveu subir pela forte linha de sua pipa.

Estava fascinado com o desconhecido. Foi subindo até chegar pertinho da pipa, onde as nuvens passavam. Pedrinho tentava olhar o fim.

De repente, aconteceu o inesperado! O céu escureceu, ficando quase noite. Deu um grande estrondo, estremecendo o céu. Aí começou uma chuva torrencial, acompanhada de relâmpagos e trovões. Veio uma rajada de vento tão forte que cortou a linha da sua pipa, que começou a rodar, girar, serpentear, levando Pedrinho para bem longe daquele lugar.

Mas bem longe, pois não parava mais de rodar com vento.

Depois de muito tempo rodando, o vento foi diminuindo e a pipa começou a cair, cair, cair...

Por sorte, Pedrinho caiu suavemente numa grama bem macia, numa floresta azul escura. A lua erguia-se brilhando e as primeiras estrelas começaram a brilhar.

Pedrinho ficou pensativo, sentado olhando as estrelas quando ouviu um ruído na mata, um rumor, um farfalhar das folhagens, que balançavam. Viu que estava sendo observado. Viu também os rostos sobre as folhas de muitos anõezinhos que um por um apareceram em sua volta, ficando totalmente rodeado por eles.
Todos olhavam espantados.

- Quem são vocês? Perguntou Pedrinho.

- Nós moramos aqui - responderam um dos anõezinhos. E você quem é?

Pedrinho disse:

- Eu caí aqui. Que lugar é este?

- Aqui é a nossa casa - responderam-lhe.

- Vocês estão com medo de mim? Indagou o menino.

- Não! Você é do nosso tamanho e igual a gente - retrucou um dos anõezinhos.

- É porque ainda sou uma criança, por isso que ainda sou pequeno.

Um anãozinho questionou:

- Você mora perto daqui?

- Não - disse Pedrinho - moro muito longe.

- O que então veio fazer aqui, num lugar tão distante, se mora muito longe?

- Vim procurar o infinito – retrucou Pedrinho.

- O infinito!!! Exclamaram os anõezinhos e todos riram.

Um dos anõezinhos então falou:

- Pelo que sabemos, esta terra não tem fim. É a perder de vista. Mas nós não saímos daqui, não temos coragem.

- Eu preciso ir - disse Pedrinho. Minha pipa rasgou, preciso consertá-la. Por acaso, vocês têm um papel impermeável?

- Não temos - respondeu um dos anõezinhos. Vivemos na floresta e não precisamos de nada.

- Que pena! Então vou ter que ir embora. Vocês poderiam me indicar qual é o melhor caminho para sair daqui?

- O melhor caminho?! Qualquer caminho é muito extenso e perigoso - disse um dos anõezinhos.

- Perigoso?!!! Exclamou Pedrinho.

- Sim, qualquer direção ou caminho que você for, vai encontrar na floresta árvores gigantes, seres repugnantes, plantas pegajosas, cheias de espinhos, com folhas que soltam uma gosma grudenta que prendem você. Além disso, você vai ter que atravessar um lamaçal repleto de cobras venenosas e jacarés, onde um nevoeiro denso, envolto de trevas, onde mal se vê a um palmo do nariz.

- Não posso ficar aqui. Tenho que voltar para a casa. De qualquer maneira, antes preciso ir e encontrar o fim do infinito.

- O fim do infinito? Mas o infinito tem fim? Tem certeza? Se quiser pode ficar aqui. Gostamos de você – indagou um anãozinho.

- Agradeço, mas tenho que ir - enfatizou Pedrinho.

- É teimoso mesmo. Esse aí tem ideia fixa – resmungou um anãozinho.

- E teimoso mesmo - confirmou um outro.

- Se vocês querem vir comigo também - disse Pedrinho - a tarefa é divertida.

- Ficamos aqui mesmo - responderam.

- Então, adeus meus amigos. Obrigado por tudo e pelo conselho também.

Dizendo isso, Pedrinho se despediu.

- Adeus e boa sorte! Disseram os anõezinhos.

Pedrinho andou pela escuridão durante muito tempo. Lá pelas tantas, sentiu um perfume agradável. No caminho, lindas flores, um gramado muito verde, atraente e convidativo.
Pedrinho continuou caminhando, parecia tudo tranquilo. E aí começou um som metálico infernal e uma terrível ventania. As folhas das árvores começaram a voar, a floresta inteira se mexia e as folhas pegajosas se moviam para lá e para cá.

E, num instante, as folhas agarraram Pedrinho, grudando-o da cabeça aos pés.

- Me solta! Me solta! Gritava Pedrinho, desesperadamente. Estou ficando sufocado, sem ar. Me solta!

Pedrinho, quase já se fôlego, com voz abafada e sem força para gritar, ainda tentava desesperadamente se soltar. Já não aguentava mais e murmurou:

- Por favor, solte-me, preciso encontrar o infinito!

Assim que ele falou “infinito”, a floresta parou de se mexer, as folhas grudentas abriram-se, o vento se acalmou e voltou tudo como era antes.

Livre, Pedrinho sentiu-se aliviado e pôde continuar sua jornada. Sorte dele!

Pedrinho pensou:

“Por que será que a floresta voltou ao normal quando falei infinito?”

Mesmo assim, Pedrinho queria sair daquele lugar o mais depressa possível.

Depois de andar ainda no escuro, muito cansado e com fome adormeceu ali mesmo.

Quando acordou, já estava claro e o sol bem forte. Pedrinho deparou-se, bem na sua frente, com um castelo.



- Que sorte! - exclamou Pedrinho - Um castelo! Estou faminto, vou até lá. Quem sabe alguém bondoso me dá alguma coisa pra comer?

Chegando em frente do portão do castelo, Pedrinho tentou tocar a campainha, mas não tinha nem sino nem nada. Bateu na porta e ninguém atendeu. Resolveu entrar devagarinho, sem fazer barulho. A princípio, ficou escondido. Achou estranho o silêncio e aí viu sentado num trono um rei, com longas barbas brancas e com uma cara amarrada. De vez em quando, o rei bocejava, fazendo um forte barulho, entediado.



Pedrinho ficou com receio de chamar o rei. O castelo era mal iluminado, sombrio, esquisito, nada generoso. Achou melhor ir embora. Ao sair, Pedrinho esbarrou numa mesinha deixando cair um vaso de metal que fez um barulho ensurdecedor.

- Quem está aí? Perguntou o rei enfezado, gritando com raiva.

- Quem está aí? Perguntou novamente o rei irritado.

- Sou eu, majestade, me chamo Pedrinho. Desculpe por ter deixado cair o seu vaso, foi um acidente.

- Como entrou aqui, sem bater na porta? Falou o rei com uma voz áspera, soltando gritos de cólera - Você é muito ousado e atrevido!!!

- Majestade, o senhor me interpretou mal. Andei pela floresta à noite inteira e sem querer vim parar aqui. Estou cansado e com fome.

- Ah! desculpa ardilosa, que petulância! Você veio aqui para tirar a minha paz. É cheio de astúcias. Sei que está interessado é neste castelo. Isto é uma emboscada!

- Vossa Alteza, o senhor me interpretou mal outra vez. Não estou interessado no seu castelo. Só vim procurar o fim do infinito.

- O fim do infinito? Está zombando de mim? Infinitooo... Lá vem você com essa ladainha! Você é um charlatão. Esta terra não tem limites, não tem fim, é toda minha. Você é um impostor, veio aqui para me insultar. Guardas! Guardas! Prendam este bisbilhoteiro atrevido. Prendam-no numa jaula, dê umas chicotadas e, se ele reagir, pode feri-lo com farpas.

Pedrinho ficou tão apavorado que reuniu todas as suas forças para fugir. Fugiu numa velocidade incrível e desapareceu rapidinho, com sua pipa a balançar. Nem deu tempo para os guardas pegá-lo.

Pedrinho correu, correu, correu, até não poder mais. Cansado e com fome, sentou-se embaixo de uma árvore frondosa para descansar. Nesse momento, o sol já sumia do horizonte e Pedrinho adormeceu profundamente e só acordou com a claridade do dia seguinte. Estava aborrecido e parecia que nada dava certo. Recordou-se então no que se passou no castelo.

- Queria me explicar, mas não consegui. Que rei mais intolerante, peçonhento, que língua solta!

Na brisa daquele dia, o ar exalava um cheiro agradável, saboroso, que invadia a floresta.

Pedrinho pensou de onde vinha aquele aroma tão delicioso e tão doce e foi seguindo-o, levado pelo cheiro. Ficou surpreso com o que viu. Um vilarejo isolado, várias pessoas, mulheres, homens e crianças, todos bem gordinhos, andando pra lá e pra cá, com as mãos cheias de doces. Um lugar agradável onde havia uma mesa ao ar livre repleta de atraentes guloseimas, como sonhos de chocolate, tortas de morango, suspiros e confeitos coloridos colocados sobre bolos de vários sabores.

- Hum, que delícia! Murmurou Pedrinho, com água na boca. Tenho medo de me aproximar. E se tiver aí também um rei excêntrico e antissocial?

Pedrinho estava distraído pensando quando foi surpreendido por duas meninas que logo avisaram a mãe.
Pedrinho ficou sobressaltado e apavorado e foi logo dizendo:

- Já estava indo embora, só estava de passagem. Não sou intrometido - disse Pedrinho.

- Tenha calma, garoto - disse a mãe das meninas - ninguém vai te fazer mal. Fica tranquilo, somos da paz.

- O que você está fazendo aqui? Perguntou uma das meninas.

Elas nem quiseram saber a resposta. A mãe já foi logo dizendo:

- Nossa, como você é magrinho! Deve estar com fome.

- Sim, estou com muita fome - retrucou Pedrinho.

- Então vem com a gente, que também vamos comer.

Pedrinho estava com tanta fome que se esqueceu de tudo o que passou e foi logo avançando em todos os quitutes até não aguentar mais de tanto comer.

Passaram o dia comendo, cada minuto vinha um doce diferente e no fim do dia um belo sorvete de creme com cobertura de marshmallow.

Pois Pedrinho comeu tanto que deu tanto sono que dormiu ali mesmo, no pé da árvore.

No dia seguinte, aquele cheirinho de café! Pedrinho se levantou e viu uma mesa repleta de deliciosos pãezinhos e bolos recheados.

Pedrinho não resistiu e não parou mais de comer. Ficara muito tempo na floresta sem comer e, agora, com todos aqueles doces Irresistíveis, todas aquelas delícias, ainda mais na companhia de pessoas tão amáveis!

No dia seguinte, a mesma coisa. Milk de chocolate e manjar de calda caramelada, na hora do café da manhã. Ao meio dia, no almoço, mais alimentos de toda sorte. No lanche da tarde, bolos e quindins. E a noite, lá vêm mais iguarias! 

Todo o vilarejo vivia dançando, cantando, e fazendo seus quitutes, felizes, sempre alegres. Pedrinho até se esqueceu do infinito. A todo instante vinha uma coisa gostosa. Pedrinho já estava se acomodando.

- Quem bom, Pedrinho, agora está mais gordinho - disse a mãe das meninas - todos aqui tem muita afeição por você. Se quiser, pode ficar morando aqui.

Pedrinho agradeceu muito e parou e pensou.

Aí Pedrinho se deu conta que ia comer tanto e ficar tão pesado que a sua pipa não iria aguentar seu peso e, assim, não poderia voltar mais para a sua casa.

Quando estava de noitinha, como sempre, trouxeram mais comida, justamente o bolo que mais gostava: chocolate com castanhas e confeitos coloridos.

Pedrinho pensou na mãe e no pai e no irmãozinho. Como estariam sentindo a falta dele!

- Como esse bolo é atraente, mas tenho que ir! Preciso ir embora. Mas como vou falar isso para as irmãs, tão bondosas? Vão ficar chateadas. Não quero magoá-las. Aqui é tão aconchegante, mas tenho que ir embora... Já sei o que vou fazer!

Quando elas dormiram serenamente, Pedrinho saiu de mansinho. Pegou uns confeitos, pôs no bolso, e pegou também sua pipa. Ante de ir, deixou uma mensagem por escrito num papel:

“Sinto muito deixar vocês, mas tenho que ir embora. Meus pais devem estar preocupados comigo. Agradeço de coração! Seus doces maravilhosos são os melhores que já comi. Deixo esta flor como gratidão. Obrigado, vocês são maravilhosas”.

Pedrinho então refletiu consigo mesmo:

- Só quando elas acordarem vão ler este bilhete. Vão ficar triste, mas entenderão.

Novamente na floresta, não se via nada, era uma escuridão! Mesmo assim Pedrinho continuou andando à noite inteira. Sonolento, dormiu ali mesmo, na grama.

Só acordou com os raios de sol muito forte do meio dia.

Levantou sossegado, pois passou uma noite tranquila. Tirou os confeitos que tinha no bolso, comeu e continuou até que chegou à margem de um rio assustador. Era um rio imenso, com muita turbulência e uma cachoeira gigantesca, que impedia qualquer pessoa de chegar do outro lado.

Pedrinho pensou em voltar. Mas passar por toda a floresta outra vez?

- Como vou atravessar este rio?

Pedrinho começou a chorar tão alto quando ouviu um sussurro, de uma voz suave:

- Ei, não chores, que vou te ajudar.

Pedrinho ficou espantado, perplexo e confuso. Quando viu uma linda sereia; metade mulher, metade peixe, de cabelos aloirados e com rabo azulado.



- Você é uma sereia? Perguntou Pedrinho.

- Sim. Ouvi o teu choro e vim te ajudar.

- Preciso atravessar este rio, mas não vou conseguir. Ele é muito grande e tem uma correnteza muito forte.

- Mas o que vai fazer do outro lado? Perguntou a sereia.

- Estou procurando o fim do infinito.

- O fim do infinito? A seria ficou quieta, não comentou nada, apenas disse: - Vamos que vou te ajudar atravessar o rio.

No começo, Pedrinho ficou com medo de cair na água, mas não havia outra saída e resolveu tentar.

- Segure bem firme e não tenha medo.

E assim Pedrinho o fez e numa rapidez incrível a sereia levou Pedrinho para o outro lado da margem do rio.

Assim que atravessou aquele rio tão violento, sentiu Pedrinho um grande alívio e ficou tão satisfeito que agradeceu tanto a linda e gentil dando-lhe um forte abraço de despedida.

- Você está bem? Perguntou a seria.

- Estou ótimo. Obrigado.

- Adeus – disse a sereia – tome cuidado.

Pedrinho de longe ainda ouviu o canto suave e melodioso da bela sereia.

Já era bem de tardinha, já estava escurecendo, e Pedrinho andava com sua inseparável pipa oscilando ao vento.

Anoiteceu.

A noite estava bem escura, um nevoeiro só, e no meio da mata, de longe, Pedrinho viu uma luzinha acesa e uma fumaça saindo de uma chaminé de uma cabana.

Pedrinho pensou: “Quem estaria a estas horas da madrugada acordado?

Lembrou-se do rei extravagante, caprichoso e grosseiro. Também lembrou daqueles bolos recheados... Hum! Que delícia!

Não seria melhor esperar amanhecer para ver quem é?

E cansado não tardou muito para dormir. Acordou só então com o dia claro.

Levantou com fome. Comeu os últimos e poucos confeitos que restaram.

Curioso foi olhar de onde vinha aquela luz na madrugada e, para seu espanto, era uma casinha que ainda saía fumaça pela chaminé.

- Desta vez não vou entrar. Vou dar uma espiadela pela janela. Por via das dúvidas, vou bem devagarinho e aí olhar pelo vidro da janela.

Pedrinho se assustou com o que viu. Um caldeirão de água fervendo, uma bagunça para todo o lado, ratos, moscas esverdeadas e, no centro da sala, sentada numa cadeira de balanço, uma velha encurvada, com um nariz bem cumprido, unhas enormes e um corvo no ombro dela. Por toda a casa, uma enorme quantidade de aranhas pretas, outras com listas vermelhas, amarelas, azuis, e teias que iam de uma parede à outra, cobrindo todo o teto. Era uma bruxa.



- Ih! Vou ter que sair daqui o quanto antes. Na certa é uma bruxa, vou virar comida.

Pedrinho agachou e foi saindo silenciosamente. Ah! Pedrinho nem percebeu a bruxa atrás dele.

- Peguei o danado! Disse a bruxa, com os olhos vidrados e concentrados, boca salivando, às gargalhadas. Segurava Pedrinho com suas unhas enormes. Ha! Ha! Ha! Ha! Hoje vou dar boa comida para meus adoráveis bichinhos.

Pedrinho ficou aterrorizado, desesperado. Pensou que ia virar almoço de aranha. Havia aranha por todo lugar, dentro e fora da casa. Até as árvores estavam cobertas de teias de aranha.

- Me largue! Me largue! Gritou Pedrinho, se esforçando para sair.

Para a sorte dele, a ponta da sua pipa espetou a bruxa. Espetou com tanta força que ela deu um grito horrível, soltando Pedrinho.

Pedrinho saiu correndo e, com a ponta de sua pipa, desvencilhou-se das teias, arrebentando-as todas.

Correu por uma longa distância, o dia todo até chegar noite.

Já estava tão escuro quando Pedrinho tropeçou numa cobra.

- Ai! Ai! Exclamou a cobra. Veja aonde pisa.

- Você é uma cobra?! E você fala?

- Sim, eu falo. Sou uma cascavel.

- Desculpe por ter pisado em você. Estava escuro e eu não vi.

Os primeiros raios de sol surgiam. O dia já clareava e já se sentia aquele ar de alfazema da manhã.

- Quem é você? Disse a cobra.

- Sou Pedrinho.

- O que está fazendo aqui?

- Eu vim procurar o fim do infinito.

- O infinito tem fim? Disse a cobra. Mas o infinito não tem fim.

- Tem sim! Exclamou Pedrinho.

- Eu sou o infinito - disse a cobra.

- Infinito!!! Exclamou Pedrinho. Você é apenas uma cobra. 

Ao dizer isso, o menino deu uma risadinha.

- Você está rindo? Eu sou mesmo o infinito - indagou a cobra.

Nesse momento chegou o sapo, o macaco, a tartaruga, o cavalo e os demais animais da floresta.

- Como estava dizendo, veja como sou o infinito. Coloco minha cabeça no meu rabo e aí viro uma roda. E se você entrar nessa roda, vai andar, vai andar, vai andar, vai andar... e nunca vai parar, nunca vai encontrar um fim. Portanto, sou o infinito.



- Você é uma cobra, como posso acreditar?

- Pode acreditar - disse o sapo - a cobra está certa. Se entrar na roda, nunca vai encontrar um fim. Vai correr, vai correr... E quanto mais longe você for, vai sempre chegar ao mesmo lugar.

- Ah! mas se você dobrar - indagou Pedrinho - aí vai ter um fim.

- Se eu dobrar – disse a cobra – também nunca vai encontrar o fim. Olha só: você começa e termina no mesmo lugar. Roda que nem pião e assim por diante e, portanto, você pode voltar para casa, pois encontrou o infinito.



O gato, a coruja, a tartaruga, todos os bichos presentes concordaram com a cobra.

- Pode acreditar - novamente falou o sapo - isto é aritmética. São cálculos.

Passou um elefante, com seu filhotinho, e cumprimentou os animais e Pedrinho:

- Bom dia, meus amigos!

Pedrinho, fascinado, perguntou:

- Todos os animais aqui falam?

- Sim, todos nós falamos.

- E se eu fosse um pouquinho mais adiante na floresta? Indagou Pedrinho.

- Vai acabar chegando na aldeia dos anõezinhos – disse o sapo.

- Dos anõezinhos!!! Exclamou Pedrinho.

Ai Pedrinho pensou: “É então verdade, vou ficar rodando, rodando, rodando e nunca chegar num fim. Vou encontrar o fim e aí recomeço tudo outra vez”.

Aí Pedrinho falou para a cobra.

- Cobra, você tem razão, preciso voltar para a casa, mas como vou voltar se a minha pipa está quebrada?

Então Pedrinho pediu para o cavalo levá-lo, porque ele corre bastante.

- Não posso - respondeu o cavalo - é longe e perigoso.

O burro falou:

- Não olhe para mim. Eu nem pensar.

A tartaruga falou:

- E eu ando muito devagar.

O macaco falou:

- É preciso ter muito espírito de aventura para ir.

- E agora - Pedrinho falou - não tenho saída.

Pedrinho começou a chorar, e não parava mais. Chorou tão alto que chamou a atenção de umas gaivotas que ali passavam.

As gaivotas ouviram o choro e desceram.

- Que choro é este? Perguntaram.

- O que está fazendo aqui, menino? Como veio parar neste lugar?

- Vim procurar o infinito.

- Onde é sua casa? Perguntou a cobra, que tinha subido no galho de uma árvore, com seu chocalho na cauda.
- Nem sei mais onde fica - disse Pedrinho chorando.

O sapo falou:

- Veio procurar o infinito e agora não sabe mais voltar?!!! Agora, não adianta se lamentar.

- Mas nós sabemos – responderam as gaivotas – sempre voamos por cima casa dele. Ele está sempre empinando a sua pipa. Pare de chorar que vamos te levar.

Pedrinho ficou feliz de saber que ia voltar para sua casa.

- Vamos reunir todas as gaivotas e juntas puxaremos você pelo ar até a sua casa. Pegue sua pipa e aí vamos.

- Obrigado – disse Pedrinho aos bichos. Você é a melhor cobra que já conheci.

Pedrinho aparentava muito cansado.

E assim voaram, levando Pedrinho amarrado à rabiola da pipa até a sua casa. 

Pedrinho estava tão cansado, fatigado, que adormeceu. As gaivotas o deixaram dormindo em baixo da árvore e voaram felizes.

- Pedrinho, acorda – disse sua mãe – está na hora do banho. Você dormiu embaixo da árvore.

- Puxa, dormi?

Olhou para o céu e viu as gaivotas ainda voando entre as nuvens.

- Mãe! Estas gaivotas me salvaram. Caí no infinito, era outro lugar bem longe, não conseguia mais sair de lá e elas me trouxeram até aqui. Elas sabiam onde eu morava. Também a cobra foi muito gentil. Falou que ela era o infinito, demonstrou-me isso matematicamente, e eu acreditei. Outra coisa: todos os animais no infinito falam.

- De onde tirou essa ideia, meu filho, se eu vi você dormir o tempo todo embaixo desta árvore? Você sonhou. Criou tudo na sua imaginação.

- Então eu sonhei, mãe? Mas e os anõezinhos, a floresta pegajosa, o rei mal humorado, as irmãs e suas guloseimas, a linda sereia e sua voz melodiosa, a bruxa e suas aranhas famintas, a sábia cobra e seu amigos animais, as gaivotas que me trouxeram...???

- Tem perguntas que não têm respostas, Pedrinho.

- Mãe, de onde vem este cheiro de bolo saindo do forno?

- Então, justamente por isso que vim te acordar. Eu fiz aquele bolo de chocolate com castanhas de caju e confeitos coloridas que você tanto gosta.


E Pedrinho e sua mãe foram para casa.


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