Por Nilza Monti Pires
José e Miguel eram dois
amiguinhos inseparáveis, moravam na mesma rua, saíam sempre juntos, na escola,
nas brincadeiras e nos passeios.
Combinavam em tudo apesar de
José ser muito alto com as pernas bem longas, enquanto Miguel, ao contrário,
era baixinho com as pernas curtas demais.
![]() |
Desenho de Annina Ramona |
O dia amanheceu ensolarado,
o sol da primavera brilhava, no alto um azul limpíssimo e os dois garotos
resolveram dar uma volta pelas redondezas.
Ao passar por uma das ruas
arborizadas do bairro, viram um lindo gramado e lá havia um grupinho de meninos
jogando bola.
José e Miguel tiveram a
mesma ideia, um olhou para o outro e um deles falou:
- Vamos, vamos perguntar se
podemos jogar com eles?
- Claro!
Chegando perto dos garotos
perguntaram:
- Ei, podemos jogar com
vocês?
Quando os meninos viram José
e Miguel, todos deram uma risadinha.
- O problema - disse um dos
garotos, chamado Renato - é que você tem as pernas muito compridas, em dois passos
chega no gol, e o seu amigo tem as pernas curtas demais, para chegar no gol vai
levar uma eternidade.
José e Miguel ficaram
tristes e desanimados. Resolveram ir embora.
De repente a terra tremeu. Uma
descarga elétrica na atmosfera, causando um grande estrondo, assustador,
instantaneamente abriu no chão um grande buraco, uma enorme abertura pegando
José e Miguel e os outros meninos desprevenidos, arremessando todos para o
fundo da terra.
Eles rolaram, giraram, rodopiaram,
dando várias voltas, e uma chuva repentina formou em torno deles uma grande
bolha transparente, levando-os cada vez mais longe, onde caíram numa fenda
muito profunda.
Quando a bolha parou, todos
estavam assustados e, ao saírem da bolha, ficaram amedrontados.
- Aonde será que a gente foi
parar?
- Sei lá, aqui está muito
escuro, não estou enxergando nada, acho que vai ser difícil sair daqui - disse
André, um dos meninos da turminha.
Enquanto isso José nesse
momento estava preocupado com suas longas pernas, pois foi muito sacudido,
espremido e esmagado, mas, ao se levantar, percebeu que nada tinha acontecido.
- Ufa! - exclamou aliviado.
- Que bom que todos estão
bem, mas como vamos sair daqui, não estou vendo nada - disse Renato aflito.
- Aqui que não podemos ficar
– disse com ansiedade Léo, outro dos amiguinhos - tá muito escuro!
- Eu tenho no meu bolso uma
lanterninha ultravioleta - disse Miguel. Mas com tantas viravoltas... Vou ver
se ainda está no meu bolso. Por sorte a lanterninha não caiu, pessoal - gritou
- e ainda acende!
- Que bom!!! - gritaram
todos entusiasmados.
- Agora é só coragem - disse
José.
Miguel pegou sua pequena
lanterna luminosa, acendeu e surpreenderam-se com o que viram:
Era um grande túnel, tão
perfeito, colorido, com vários tons de azul, amarelo, verde, branco,
vermelho... Era limpíssimo e sem nenhum inseto.
- Nunca pensei encontrar um
túnel tão grande e tão bonito.
- Nem eu.
E assim começaram a andar
pelo longo túnel colorido por várias horas até que mais adiante viram uma
claridade.
- Que sorte, enfim uma saída
neste caminho subterrâneo.
Ao chegarem perto da saída,
viram que era muito alta.
- Mas que saída alta –
lamentou um dos meninos.
José então com suas pernas
longas pôde ver afinal aonde tinham saído.
Assim que José colocou a
cabeça para fora exclamou:
- Não é possível o que estou
vendo, é incrível! - disse espantado.
- O que é?!!! - responderam
todos, curiosos.
- Dinossauros!!! Muitos
dinossauros!!!
- Está ficando doido? Está
vendo demais, quer nos enganar?
- É verdade, juro, não estou
brincando.
André começou a rir:
- Essa é boa, os dinossauros
existiram há mais de 200 milhões de anos.
- Deve ser uma miragem - disse
Miguel - você bateu a cabeça e pirou de vez.
- Estou falando sério, são
muito grandes!
- Veja - disse Léo - aqui na
parede tem até uma escadinha. Dá para subir!
Todos muito curiosos subiram
para certificar se eram mesmo dinossauros.
- Caramba, é verdade! - para
surpresa de todos.
A euforia foi grande quando
viram os dinossauros.
- Que legal, adoro
dinossauros. Vamos até lá? – disse Miguel.
- Está louco, olha só os
dentes do dinossauro. Afiadíssimos!
- Quem tem coragem de ir até
lá e passar por esses enormes bichos? – interrogou Renato.
- E se a gente chegar um
pouco mais perto? – concordou Miguel.
- Pensa que é que nem nos
filmes que os dinossauros correm atrás, não pegam ninguém e ainda por cima são
bonzinhos?!!! – retrucou André.
- Eu que não vou até lá, não
quero ser comida de dinossauro.
- O melhor mesmo é usar o
bom senso e voltar de onde viemos, pelo mesmo buraco - disse o sensato Renato.
Todos concordaram e
novamente Miguel acendeu sua lanterninha luminosa e lá foram caminhando pelo
grande túnel confortável. José com suas pernas longas não tinha nenhuma
dificuldade em andar nele.
Depois de andar bastante,
sentaram-se um pouco para descansar e viram logo mais adiante outra claridade.
- Vejam, a luz do sol -
gritou um dos garotos.
- O que são esses desenhos
na parede da caverna? - perguntou Léo.
- Acho que eram dos homens
das cavernas - respondeu José.
- Que bom, desta vez a saída
é fácil, já dá para sair direto.
- Nossa, quantos macacos,
parece o planeta dos macacos! - exclamou Renato.
- Vejam, estão conversando e
andando de pé. São mesmo os homens das cavernas, da pré-história!
- Será que são os nossos
antepassados? – disse Léo, brincando.
- Os historiadores -
argumentou André -, baseados na teoria da evolução, provam que seriam nossos
antepassados.
- Vamos ver o que eles estão
falando, estou curioso – disse Miguel.
- Que ideia é essa! Estes
primatas são selvagens e se nos vissem iriam nos matar. Parecem inteligentes,
porém somos estranhos para eles - desse José.
Então resolveram voltar pelo
grande túnel esculpido, de parede lustrada e sem nenhum bicho peçonhento. Andaram
por alguns quilômetros até encontrarem uma outra saída.
Mas ao saírem do túnel
ficaram ainda mais surpresos ao verem as pirâmides do Egito.
- Nossa, as pirâmides do
Egito. Então estamos no túnel do tempo!
- Estão construindo a
pirâmide de Quéops, conhecida como a grande pirâmide. Ela é uma das sete
maravilhas do mundo antigo. Li que a pirâmide de Quéops foi construída no ano
1270 a 1300 antes de Cristo – explicou André.
- Estes homens que estão
trabalhando agora não sabem que essa obra genial virou atração turística –
confirmou José.
- É verdade, por incrível
que pareça, teremos que voltar para o ano 2019 para ver de perto essa grande
pirâmide.
- Vamos até lá! - exclamou
novamente Miguel.
- Lá só tem múmias - disse Léo
- e eu não pretendo encontrar nenhuma delas.
- Agora está deserto, silencioso, vamos até lá admirar de perto as pirâmides?
Estavam distraídos quando
ouviram um grito abafado.
- É um grito da Múmia - disse
José.
- Eu não falei - respondeu Léo
- que era a múmia!
E aí todos correram desesperados
para o túnel.
- Que medo, que grito
abafado...
No final todos estavam rindo
e felizes. Pareciam estar gostando desta aventura.
Miguel teve a seguinte
ideia:
- Quem sabe se na próxima saída
encontraremos o pico do Everest, para escalar aquelas altíssimas montanhas cobertas de
gelo?
- Pelo jeito estão gostando
de ficar no túnel - replicou Renato - mas nossa intenção é voltar para casa.
Novamente a pequena lanterna
luminosa de Miguel foi útil na escuridão do túnel brilhante, colorido e
agradável.
Caminharam por um bom tempo,
com a luz difusa da lanterninha.
Num certo momento, começaram
a descer uma enorme rampa, que os levava mais para o fundo da terra,
encontrando uma rocha por onde saía muita água.
- Nossa, aqui é o fundo do
mar!
- Como vamos passar por aqui
se está tudo inundado? - questionou André.
- Então, vamos voltar -
disse Renato.
- Se retornarmos, voltaremos
para o passado – André ponderou.
- Como vamos atravessar esse
mar? - indagou José preocupado.
- Vai ser impossível sair
daqui - conclui André - tem água para todos os lados e pelo azul escuro do mar,
acho que essa região é a mais profunda do oceano. São as fossas Marianas, no
abissal oceânico.
- Xiiii, é complicado –
indagou Léo.
- Sim, conforme a extensão e
a profundidade não vai ter mais jeito de sair daqui – disse José.
- Não vamos esmorecer –
falou Renato.
- Mas como vamos sair daqui?
– disse Léo.
- Já sei como sair daqui -
respondeu Miguel. - Eu trouxe no meu bolso a bolha transparente. É só assoprar e
entraremos nela.
- A bolha transparente!!! -
exclamaram todos.
- Ela mesmo - disse Miguel.
- Mas será que ela é forte o
suficiente - argumentou André - para aguentar a pressão do fundo do mar?
- Temos que arriscar – José
retrucou.
- E se a bolha estourar -
questionou Léo.
- Ela é forte e vai aguentar
- Miguel respondeu com convicção.
Todos sopraram a bolha
transparente, entraram um por um nela e lá foram entre as cachoeiras no
profundo mar azul.
Contentes, alegres e
satisfeitos, com o bom êxito da bolha, que deu ótimos resultados, boiando entre
as ondas volumosas, agitadas, no meio do oceano.
Estavam numa euforia só,
pois pela bolha transparente era possível avistar todo o fundo do mar, o lindo
mundo aquático, com suas cores mágicas e peixes coloridos, corais de luzes e
algas flutuantes, nem parecia real, coisas incríveis da natureza.
De repente, da alegria virou
um pesadelo. Um enorme tubarão passou bem na frente da bolha, parou, observou.
Por sorte, o tubarão passou de raspão e foi embora.
- Puxa, escapamos por um
fio. Num piscar de olhos e todos nós seríamos devorados – falou José muito
aliviado.
Depois de várias horas,
sendo sacudidos pelas ondas gigantescas, que fazia a bolha balançar e rodar que
nem parafuso, os meninos já não aguentavam mais. Finalmente, a bolha flutuante,
depois de muitos obstáculos, elevou-se à superfície, atracando na areia da
praia.
- A bolha já parou -
gritaram - estamos em terra firme!
Assim que saíram da bolha, viram um imenso deserto, com um sol escaldante, e então ficaram perplexos com uma
vastidão tão grande.
- Que lugar é este - indagou
José - será o deserto do Saara?
- Curioso, parece terra de
ninguém – um dos meninos comentou.
- Nossa, o que é aquilo, um
vulto? Vem em nossa direção – disse André.
- É um homem - disse Miguel
- está vindo com seu cavalo pomposo.
- De onde surgiu essa figura?
- rebateu Léo.
- Olá garotos, tudo bem? Vocês
apareceram na minha tela.
- Na sua tela? - falou José
engasgado. - Da onde você é? Sua pele é verde...
- Sim, sou daqui mesmo, vim
atrás de vocês. Sei controlar suas mentes.
José ficou meio desconfiado
e perguntou:
- Por que seu cavalo tem
muitos os olhos?
- Não são olhos – respondeu
o homem esverdeado - são botões magnéticos, que detectam alvos inimigos e
também captam sinais com exatidão, que até podem manipular as pessoas. É uma
inteligência artificial.
- Então, isso não é um
cavalo, é uma máquina?
- Exatamente - disse o
estranho homem.
- Mas aqui é um deserto – indagou
André - não estou vendo nada. Onde estão as casas?
- Realmente aqui ninguém tem
casa. Esta máquina é minha casa. Basta apertar um dos botões e vai aparecer
tudo o que eu quiser.
- Essa máquina é um robô? –
perguntou Miguel.
- Sim. Aqui era muito
poluído, houve uma grande mudança climática, tudo virou um deserto e o sol ainda continua escaldante... Mas o que
vocês vieram fazer aqui, meninos?
- A bolha nos trouxe aqui.
Precisamos voltar para casa - disse Renato temeroso e olhando furtivamente para
os seus amigos.
- Tá certo vou ajudar -
disse o esverdeado - mas antes vou pedir um favor. Se me fizerem, deixarei
vocês livre, senão largarei vocês à sua sorte.
- O que devemos fazer? –
Miguel perguntou.
- Vem comigo. Está vendo
aquela árvore cheia de frutos?
- Sim, é uma macieira.
- Aqui só existe essa árvore,
é a única neste planeta e eu nunca comi uma fruta. Quero experimentar.
- Credo, só tem uma árvore?
Caramba!
- Então, preciso de você que
tem as pernas longas e do pequenininho.
- Eu? - disse José.
- Eu? – disse Miguel.
- Você tem as pernas longas
e pode erguer o seu amiguinho de pernas curtas. Ele pode andar entre os galhos
e alcançar e pegar para mim todas as frutas.
José indagou:
- Você que tem um robô, com uma
tecnologia incrível e outras mil coisas, e não consegue alcançar e pegar aquelas
frutas?
- É verdade, minha máquina
tem raciocínio exato, mas não consegue pegar as frutas porque suas mãos não são
flexíveis que nem a de vocês.
Então José e Miguel fizeram
um acordo com aquele homem incomum, pegariam as frutas e ficaram livres.
O homem esverdeado aceitou a
proposta.
José ficou temeroso de não alcançar
o galho e Miguel pegar as maçãs. Mas chegando pertinho ergueu Miguel, que subiu
no galho e conseguiu pegar as frutas. Assim José ficou aliviado.
E Miguel foi pegando uma a
uma e deu para o homem as tão desejadas maçãs.
Assim que o homem esverdeado
pegou uma maçã, deu uma mordida e exclamou:
- Hummm, que delícia! –
disse, ao dar uma abocanhada - Que sabor, que fruta suculenta, joia rara!
Todos ficaram admirados,
nunca tinham visto alguém que nunca tinha comido uma fruta.
- Nunca comi uma coisa igual
- murmurou os esverdeado, com satisfação. - E pensar que neste planeta já teve
muitas árvores com saborosas frutas.
- Ainda bem que gostou das
maçãs - disse José, olhando para os seus amigos.
E esperaram ele comer até
não aguentar mais.
- Obrigado meninos – disse o
homem incomum - não sei como agradecer. Mas, como eu prometi, entrem nesta
geringonça, a bolha do tempo, que vou mandar vocês para as suas casas.
Todos os meninos se
despediram abraçando o homem esverdeado, tão esquisito e misterioso. Então,
agradeceram, deram adeus e entraram na bolha transparente.
Ele chegou perto da bolha,
deu um adeus emocionado, deu um forte assoprão e a bolha transparente começou a
girar dando numerosas voltas, caindo direitinho no buraco do tempo, rodando,
rolando, parecia o fim do mundo, até que parou.
- A bolha parou - gritaram
todos felizes.
Ao saírem, disseram:
- Vejam, é a nossa pracinha!
- Olha o relógio, continua
no mesmo horário!
- Engraçado – disse André -
passaram milhões de anos, desde a época dos dinossauros e aqui continua tudo
igual!
- Verdade! Aquele
homem-máquina seria um ser humano do futuro, do ano 3001, ou um extraterrestre?
– indagou Renato.
- Talvez fosse do planeta
Marte ou do cosmo? Seria um androide? - Léo questionou.
- Será que fomos abduzidos?
– perguntou André, intrigado.
- Sei lá! – falou Miguel.
- Olha, Miguel, o seu
cachorro Fernando vem correndo em sua direção abanando o rabo feliz por te ver.
- Que alegria ver meu
cachorro! Vou abraçá-lo, que saudades!
- Então estamos de volta à
pracinha e ao campinho. Até pareceu um conto de fadas – José concluiu.
- Ei pessoal – gritou André
- o dia está claro, a hora continua no mesmo horário e a bola está no mesmo
lugar. Vamos jogar!
Nisso, José e Miguel foram
saindo de fininho.
Os meninos olharam os dois e
chamam:
- Ei, Miguel e José, onde
vocês pensam que vão? Venham jogar bola com a gente!
- Legal, vamos jogar bola -
gritou José, e com um sorriso travesso, dá uma piscadinha para Miguel.
E foram jogar bola.
Nenhum comentário:
Postar um comentário