segunda-feira, 1 de abril de 2019

A Bolha do Tempo

Por Nilza Monti Pires

José e Miguel eram dois amiguinhos inseparáveis, moravam na mesma rua, saíam sempre juntos, na escola, nas brincadeiras e nos passeios.

Combinavam em tudo apesar de José ser muito alto com as pernas bem longas, enquanto Miguel, ao contrário, era baixinho com as pernas curtas demais.

Desenho de Annina Ramona

O dia amanheceu ensolarado, o sol da primavera brilhava, no alto um azul limpíssimo e os dois garotos resolveram dar uma volta pelas redondezas.

Ao passar por uma das ruas arborizadas do bairro, viram um lindo gramado e lá havia um grupinho de meninos jogando bola.

José e Miguel tiveram a mesma ideia, um olhou para o outro e um deles falou:

- Vamos, vamos perguntar se podemos jogar com eles?

- Claro!

Chegando perto dos garotos perguntaram:

- Ei, podemos jogar com vocês?

Quando os meninos viram José e Miguel, todos deram uma risadinha.

- O problema - disse um dos garotos, chamado Renato - é que você tem as pernas muito compridas, em dois passos chega no gol, e o seu amigo tem as pernas curtas demais, para chegar no gol vai levar uma eternidade.

José e Miguel ficaram tristes e desanimados. Resolveram ir embora.

De repente a terra tremeu. Uma descarga elétrica na atmosfera, causando um grande estrondo, assustador, instantaneamente abriu no chão um grande buraco, uma enorme abertura pegando José e Miguel e os outros meninos desprevenidos, arremessando todos para o fundo da terra.

Eles rolaram, giraram, rodopiaram, dando várias voltas, e uma chuva repentina formou em torno deles uma grande bolha transparente, levando-os cada vez mais longe, onde caíram numa fenda muito profunda.


Quando a bolha parou, todos estavam assustados e, ao saírem da bolha, ficaram amedrontados.

- Aonde será que a gente foi parar?

- Sei lá, aqui está muito escuro, não estou enxergando nada, acho que vai ser difícil sair daqui - disse André, um dos meninos da turminha.

Enquanto isso José nesse momento estava preocupado com suas longas pernas, pois foi muito sacudido, espremido e esmagado, mas, ao se levantar, percebeu que nada tinha acontecido.

- Ufa! - exclamou aliviado.

- Que bom que todos estão bem, mas como vamos sair daqui, não estou vendo nada - disse Renato aflito.

- Aqui que não podemos ficar – disse com ansiedade Léo, outro dos amiguinhos - tá muito escuro!

- Eu tenho no meu bolso uma lanterninha ultravioleta - disse Miguel. Mas com tantas viravoltas... Vou ver se ainda está no meu bolso. Por sorte a lanterninha não caiu, pessoal - gritou - e ainda acende!

- Que bom!!! - gritaram todos entusiasmados.

- Agora é só coragem - disse José.

Miguel pegou sua pequena lanterna luminosa, acendeu e surpreenderam-se com o que viram:

Era um grande túnel, tão perfeito, colorido, com vários tons de azul, amarelo, verde, branco, vermelho... Era limpíssimo e sem nenhum inseto.


- Nunca pensei encontrar um túnel tão grande e tão bonito.

- Nem eu.

E assim começaram a andar pelo longo túnel colorido por várias horas até que mais adiante viram uma claridade.

- Que sorte, enfim uma saída neste caminho subterrâneo.

Ao chegarem perto da saída, viram que era muito alta.

- Mas que saída alta – lamentou um dos meninos.

José então com suas pernas longas pôde ver afinal aonde tinham saído.

Assim que José colocou a cabeça para fora exclamou:

- Não é possível o que estou vendo, é incrível! - disse espantado.

- O que é?!!! - responderam todos, curiosos.

- Dinossauros!!! Muitos dinossauros!!!


- Está ficando doido? Está vendo demais, quer nos enganar?

- É verdade, juro, não estou brincando.

André começou a rir:

- Essa é boa, os dinossauros existiram há mais de 200 milhões de anos.

- Deve ser uma miragem - disse Miguel - você bateu a cabeça e pirou de vez.

- Estou falando sério, são muito grandes!

- Veja - disse Léo - aqui na parede tem até uma escadinha. Dá para subir!

Todos muito curiosos subiram para certificar se eram mesmo dinossauros.

- Caramba, é verdade! - para surpresa de todos.

A euforia foi grande quando viram os dinossauros.


- Que legal, adoro dinossauros. Vamos até lá? – disse Miguel.

- Está louco, olha só os dentes do dinossauro. Afiadíssimos!

- Quem tem coragem de ir até lá e passar por esses enormes bichos? – interrogou Renato.

- E se a gente chegar um pouco mais perto? – concordou Miguel.

- Pensa que é que nem nos filmes que os dinossauros correm atrás, não pegam ninguém e ainda por cima são bonzinhos?!!! – retrucou André.

- Eu que não vou até lá, não quero ser comida de dinossauro.

- O melhor mesmo é usar o bom senso e voltar de onde viemos, pelo mesmo buraco - disse o sensato Renato.

Todos concordaram e novamente Miguel acendeu sua lanterninha luminosa e lá foram caminhando pelo grande túnel confortável. José com suas pernas longas não tinha nenhuma dificuldade em andar nele.

Depois de andar bastante, sentaram-se um pouco para descansar e viram logo mais adiante outra claridade.

- Vejam, a luz do sol - gritou um dos garotos.

- O que são esses desenhos na parede da caverna? - perguntou Léo.

- Acho que eram dos homens das cavernas - respondeu José.

- Que bom, desta vez a saída é fácil, já dá para sair direto.

- Nossa, quantos macacos, parece o planeta dos macacos! - exclamou Renato.


- Vejam, estão conversando e andando de pé. São mesmo os homens das cavernas, da pré-história!

- Será que são os nossos antepassados? – disse Léo, brincando.

- Os historiadores - argumentou André -, baseados na teoria da evolução, provam que seriam nossos antepassados.

- Vamos ver o que eles estão falando, estou curioso – disse Miguel.

- Que ideia é essa! Estes primatas são selvagens e se nos vissem iriam nos matar. Parecem inteligentes, porém somos estranhos para eles - desse José.

Então resolveram voltar pelo grande túnel esculpido, de parede lustrada e sem nenhum bicho peçonhento. Andaram por alguns quilômetros até encontrarem uma outra saída.

Mas ao saírem do túnel ficaram ainda mais surpresos ao verem as pirâmides do Egito.


- Nossa, as pirâmides do Egito. Então estamos no túnel do tempo!

- Estão construindo a pirâmide de Quéops, conhecida como a grande pirâmide. Ela é uma das sete maravilhas do mundo antigo. Li que a pirâmide de Quéops foi construída no ano 1270 a 1300 antes de Cristo – explicou André.

- Estes homens que estão trabalhando agora não sabem que essa obra genial virou atração turística – confirmou José.


- É verdade, por incrível que pareça, teremos que voltar para o ano 2019 para ver de perto essa grande pirâmide.

- Vamos até lá! - exclamou novamente Miguel.

- Lá só tem múmias - disse Léo - e eu não pretendo encontrar nenhuma delas.

- Agora está deserto, silencioso, vamos até lá admirar de perto as pirâmides?

Estavam distraídos quando ouviram um grito abafado.

- É um grito da Múmia - disse José.

- Eu não falei - respondeu Léo - que era a múmia!

E aí todos correram desesperados para o túnel.

- Que medo, que grito abafado...

No final todos estavam rindo e felizes. Pareciam estar gostando desta aventura.

Miguel teve a seguinte ideia:

- Quem sabe se na próxima saída encontraremos o pico do Everest, para escalar aquelas altíssimas montanhas cobertas de gelo?

- Pelo jeito estão gostando de ficar no túnel - replicou Renato - mas nossa intenção é voltar para casa.

Novamente a pequena lanterna luminosa de Miguel foi útil na escuridão do túnel brilhante, colorido e agradável.

Caminharam por um bom tempo, com a luz difusa da lanterninha.

Num certo momento, começaram a descer uma enorme rampa, que os levava mais para o fundo da terra, encontrando uma rocha por onde saía muita água.

- Nossa, aqui é o fundo do mar!


- Como vamos passar por aqui se está tudo inundado? - questionou André.

- Então, vamos voltar - disse Renato.

- Se retornarmos, voltaremos para o passado – André ponderou.

- Como vamos atravessar esse mar? - indagou José preocupado.

- Vai ser impossível sair daqui - conclui André - tem água para todos os lados e pelo azul escuro do mar, acho que essa região é a mais profunda do oceano. São as fossas Marianas, no abissal oceânico.

- Xiiii, é complicado – indagou Léo.

- Sim, conforme a extensão e a profundidade não vai ter mais jeito de sair daqui – disse José.

- Não vamos esmorecer – falou Renato.

- Mas como vamos sair daqui? – disse Léo.

- Já sei como sair daqui - respondeu Miguel. - Eu trouxe no meu bolso a bolha transparente. É só assoprar e entraremos nela.

- A bolha transparente!!! - exclamaram todos.

- Ela mesmo - disse Miguel.

- Mas será que ela é forte o suficiente - argumentou André - para aguentar a pressão do fundo do mar?

- Temos que arriscar – José retrucou.

- E se a bolha estourar - questionou Léo.

- Ela é forte e vai aguentar - Miguel respondeu com convicção.

Todos sopraram a bolha transparente, entraram um por um nela e lá foram entre as cachoeiras no profundo mar azul.


Contentes, alegres e satisfeitos, com o bom êxito da bolha, que deu ótimos resultados, boiando entre as ondas volumosas, agitadas, no meio do oceano.

Estavam numa euforia só, pois pela bolha transparente era possível avistar todo o fundo do mar, o lindo mundo aquático, com suas cores mágicas e peixes coloridos, corais de luzes e algas flutuantes, nem parecia real, coisas incríveis da natureza.

De repente, da alegria virou um pesadelo. Um enorme tubarão passou bem na frente da bolha, parou, observou. 


Por sorte, o tubarão passou de raspão e foi embora.

- Puxa, escapamos por um fio. Num piscar de olhos e todos nós seríamos devorados – falou José muito aliviado.

Depois de várias horas, sendo sacudidos pelas ondas gigantescas, que fazia a bolha balançar e rodar que nem parafuso, os meninos já não aguentavam mais. Finalmente, a bolha flutuante, depois de muitos obstáculos, elevou-se à superfície, atracando na areia da praia.

- A bolha já parou - gritaram - estamos em terra firme!

Assim que saíram da bolha, viram um imenso deserto, com um sol escaldante, e então ficaram perplexos com uma vastidão tão grande.


- Que lugar é este - indagou José - será o deserto do Saara?

- Curioso, parece terra de ninguém – um dos meninos comentou.

- Nossa, o que é aquilo, um vulto? Vem em nossa direção – disse André.

- É um homem - disse Miguel - está vindo com seu cavalo pomposo.


- De onde surgiu essa figura? - rebateu Léo.

- Olá garotos, tudo bem? Vocês apareceram na minha tela.

- Na sua tela? - falou José engasgado. - Da onde você é? Sua pele é verde...

- Sim, sou daqui mesmo, vim atrás de vocês. Sei controlar suas mentes.

José ficou meio desconfiado e perguntou:

- Por que seu cavalo tem muitos os olhos?

- Não são olhos – respondeu o homem esverdeado - são botões magnéticos, que detectam alvos inimigos e também captam sinais com exatidão, que até podem manipular as pessoas. É uma inteligência artificial.

- Então, isso não é um cavalo, é uma máquina?


- Exatamente - disse o estranho homem.

- Mas aqui é um deserto – indagou André - não estou vendo nada. Onde estão as casas?

- Realmente aqui ninguém tem casa. Esta máquina é minha casa. Basta apertar um dos botões e vai aparecer tudo o que eu quiser.

- Essa máquina é um robô? – perguntou Miguel.

- Sim. Aqui era muito poluído, houve uma grande mudança climática, tudo virou um deserto e o sol ainda continua escaldante... Mas o que vocês vieram fazer aqui, meninos?

- A bolha nos trouxe aqui. Precisamos voltar para casa - disse Renato temeroso e olhando furtivamente para os seus amigos.

- Tá certo vou ajudar - disse o esverdeado - mas antes vou pedir um favor. Se me fizerem, deixarei vocês livre, senão largarei vocês à sua sorte.

- O que devemos fazer? – Miguel perguntou.

- Vem comigo. Está vendo aquela árvore cheia de frutos?


- Sim, é uma macieira.

- Aqui só existe essa árvore, é a única neste planeta e eu nunca comi uma fruta. Quero experimentar.

- Credo, só tem uma árvore? Caramba!

- Então, preciso de você que tem as pernas longas e do pequenininho.

- Eu? - disse José.

- Eu? – disse Miguel.

- Você tem as pernas longas e pode erguer o seu amiguinho de pernas curtas. Ele pode andar entre os galhos e alcançar e pegar para mim todas as frutas.

José indagou:

- Você que tem um robô, com uma tecnologia incrível e outras mil coisas, e não consegue alcançar e pegar aquelas frutas?

- É verdade, minha máquina tem raciocínio exato, mas não consegue pegar as frutas porque suas mãos não são flexíveis que nem a de vocês.

Então José e Miguel fizeram um acordo com aquele homem incomum, pegariam as frutas e ficaram livres.

O homem esverdeado aceitou a proposta.

José ficou temeroso de não alcançar o galho e Miguel pegar as maçãs. Mas chegando pertinho ergueu Miguel, que subiu no galho e conseguiu pegar as frutas. Assim José ficou aliviado.

E Miguel foi pegando uma a uma e deu para o homem as tão desejadas maçãs.

Assim que o homem esverdeado pegou uma maçã, deu uma mordida e exclamou:

- Hummm, que delícia! – disse, ao dar uma abocanhada - Que sabor, que fruta suculenta, joia rara!

Todos ficaram admirados, nunca tinham visto alguém que nunca tinha comido uma fruta.

- Nunca comi uma coisa igual - murmurou os esverdeado, com satisfação. - E pensar que neste planeta já teve muitas árvores com saborosas frutas.

- Ainda bem que gostou das maçãs - disse José, olhando para os seus amigos.

E esperaram ele comer até não aguentar mais.

- Obrigado meninos – disse o homem incomum - não sei como agradecer. Mas, como eu prometi, entrem nesta geringonça, a bolha do tempo, que vou mandar vocês para as suas casas.

Todos os meninos se despediram abraçando o homem esverdeado, tão esquisito e misterioso. Então, agradeceram, deram adeus e entraram na bolha transparente.

Ele chegou perto da bolha, deu um adeus emocionado, deu um forte assoprão e a bolha transparente começou a girar dando numerosas voltas, caindo direitinho no buraco do tempo, rodando, rolando, parecia o fim do mundo, até que parou.


- A bolha parou - gritaram todos felizes.

Ao saírem, disseram:

- Vejam, é a nossa pracinha!

- Olha o relógio, continua no mesmo horário!

- Engraçado – disse André - passaram milhões de anos, desde a época dos dinossauros e aqui continua tudo igual!

- Verdade! Aquele homem-máquina seria um ser humano do futuro, do ano 3001, ou um extraterrestre? – indagou Renato.

- Talvez fosse do planeta Marte ou do cosmo? Seria um androide? - Léo questionou.

- Será que fomos abduzidos? – perguntou André, intrigado.

- Sei lá! – falou Miguel.

- Olha, Miguel, o seu cachorro Fernando vem correndo em sua direção abanando o rabo feliz por te ver.



- Que alegria ver meu cachorro! Vou abraçá-lo, que saudades!

- Então estamos de volta à pracinha e ao campinho. Até pareceu um conto de fadas – José concluiu.

- Ei pessoal – gritou André - o dia está claro, a hora continua no mesmo horário e a bola está no mesmo lugar. Vamos jogar!


Nisso, José e Miguel foram saindo de fininho.

Os meninos olharam os dois e chamam:

- Ei, Miguel e José, onde vocês pensam que vão? Venham jogar bola com a gente!

- Legal, vamos jogar bola - gritou José, e com um sorriso travesso, dá uma piscadinha para Miguel.

E foram jogar bola.


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