domingo, 1 de dezembro de 2024

A centopeia e o passarinho

A CENTOPEIA
A centopeia
E

O passarinho
O PASSARINHO

Por Nilza Monti Pires

Uma certa centopeia andava despreocupada pela montanha procurando uma frutinha silvestre de cor amarela, cantarolava uma bela canção, feliz e alegre.

O dia estava ensolarado propício para passear, o ar fresco da tarde exalava o perfume das flores.

A centopeia passeando pelas montanhas.

Por um acaso ali passava um faminto passarinho à procura de comida, assim que viu a centopeia mais que depressa voou atrás dela. A centopeia percebendo que o passarinho vinha em sua direção começou a andar com muita rapidez, e o passarinho voou ainda mais depressa. A centopeia, no desespero, aflita não percebeu um enorme buraco bem ali na sua frente, e com a pressa tropeçou e caiu dentro do buraco.

O passarinho faminto foi atrás dela não se importando com o buraco, mas ele não esperava que lá dentro fosse tão profundo.

Quando o passarinho chegou no fundo, estava tudo escuro, não enxergava nada, era uma escuridão total.

A centopeia e o passarinho no buraco.

O passarinho ficou perplexo diante de tanta escuridão e perguntou:

- Centopeia, você está aqui? Não estou vendo nada, está muito escuro.

A centopeia não respondeu por uns instantes, mas depois de algum tempo ela respondeu: 

- Sim, estou aqui. Se você me comer, vai ficar gordo, pesado e não vai poder voar.

O passarinho refletiu e disse:

- Tem razão, pode ficar tranquila que você não é a minha comida preferida, além do mais é grudenta, achatada e gosmenta.

- Obrigada pelo delicado elogio.

O passarinho se sentindo angustiado falou:

- Este buraco é horrível, estou atordoado, espantado e pasmado, disse indignado. Vou embora agora mesmo, esse lugar é inóspito, frio e está cheio de fungos e não vou esperar nem mais um minuto. Quero ficar livre desse buraco.

O buraco escuro e cheio de fingos.

- Poderia me ajudar quando você sair daqui? disse a centopeia.

O passarinho ignorou o que ela disse e começou a voar, voar, voar para sair do buraco, mas era tão estreito, tortuoso e alto que o passarinho voava e nunca chegava lá em cima, ficando tão cansado que retornou ao fundo do buraco.

A centopeia estava se sentindo abandonada. Momentos depois percebeu que o passarinho voltou ofegante. Então a centopeia lhe indagou:

- Você não conseguiu subir?

- Eu não quis subir, fiquei curioso para ver e analisar como era esse buraco, nem tentei subir. Foi só isso.

O buraco é alto e estreito.

- E como é esse buraco? perguntou a centopeia.

- Ele é simples, não é nada difícil sair daqui, pelos meus cálculos é muito fácil.

- Na minha opinião, disse a centopeia, pelos meus cálculos, não está parecendo nada fácil e sim muito complicado.

A centopeia e o passarinho aspiram liberdade.

- Para mim é fácil, disse o passarinho, eu pretendo logo ir embora e você vai ver como é fácil sair daqui.

Assim que o passarinho se recuperou, levantou voo sem nada dizer, deixando a pobrezinha da centopeia sozinha.

Saiu voando numa rapidez incrível, voava, voava, e não saía do lugar, depois de tantas idas e vindas, exausto resolveu voltar.

A centopeia ficou surpresa.

- Você voltou, disse à centopeia, o que aconteceu?

- Sim, voltei, sou curioso e queria somente avaliar quantos metros tem esse buraco, como você sabe, toda cautela e prudência é pouca. Para subir lá em cima do buraco, requer uma atenção milimétrica.

O cálculo do passarinho.

Aí a centopeia falou:

- Esse buraco é muito íngreme, você não está conseguindo sair daqui e fica se fazendo de difícil.

O passarinho ficou irritado e não gostou do que a centopeia falou e disse para ela:

- Algumas centopeias falam demais, ficam zombando e se intrometendo na vida alheia, porque não cuida da sua própria vida?

Mas a centopeia argumentou:

- Oras, você tem asas e não consegue voar até lá em cima e não quer admitir.

- E você, disse o passarinho, que tem 100 pés e não consegue subir nem meio metro.

- É verdade, sou sincera, realmente não consigo subir nessas paredes que são muito escorregadias e deslizam facilmente. Na hora que sobe, logo escorrega.

- Na verdade, estou tentando, disse passarinho, realmente é muito difícil, mas sou forte, astuto e uma hora eu consigo.

- Espero que consiga, se bem que...

- Em vez de me encorajar, fica aí me desdenhando: "se bem que..."

A centopeia e o passarinho batem boca.

- Isto não é verdade e não adianta se aborrecer, chega de ser ranzinza e implicante, temos que achar uma solução para sair daqui.

Passado alguns instantes, o passarinho deu um grito:

- Achei uma solução, centopeia! Olha isto, observe quantas folhas das árvores estão caindo aqui dentro do buraco.

As folhas do outono caem no buraco.

- Sim, é que estamos no outono, disse a centopeia, para mim é a estação mais linda, o chão fica repleto de folhas.

- Não é hora de ficar sonhando, centopeia, essas folhas me deram uma boa ideia. Chegaram em uma boa hora, se elas caírem aqui dentro desse buraco, vão formando camadas e mais camadas, aumentando até chegarem no topo. Aí vamos poder subir. Você concorda?

- Concordo, é uma boa saída mas não quero tirar o seu ânimo, para encher de folhas esse buraco, vai levar mais ou menos uns cem anos.

- Não falei que você só diz coisa negativa, estou me esforçando para achar uma saída...

- Eu também estou me esforçando, fico pensando um modo de sair daqui, mas essas folhinhas são tão pequenas para encher um buraco tão grande como esse, garanto que isso vai levar um bom tempo. Mas sua ideia é ótima, seria a solução para os nossos problemas.

- Ah, centopeia, realmente você tem razão! Agora sim tive uma outra ideia melhor ainda, matei a charada, vou fazer um voo intercalado, pousando em cada lado da parede, uma vez para cá, e outra vez para lá, subindo aos poucos. O que acha?

- Sim, acho que é bem possível subir intercalando entre os lados da parede, é uma ótima ideia, concluiu a centopeia, tentando concordar com o passarinho.

- Ufa! Até que enfim concordou, quero sair daqui, voar para bem longe, se não saímos vamos ficar mofados.

- Agora, com certeza, você falou uma verdade, disse a centopeia.

- Então me aguarde, que vou e volto.

O passarinho voa para escapar do buraco.

E assim o passarinho reuniu todas as suas forças e disse:

- Centopeia, vou tentar novamente, já preparei mentalmente uma lista minuciosa com meus erros e agora vai dar certo, não vou errar.

- Boa sorte, espero que consiga mas não me esquece.

- Você é grudenta, pegajosa, mas gostei de você, não vou esquecer.

Lá foi o passarinho novamente tentar sair do buraco, estava tão afoito para sair que voou com tanta ansiedade que bateu com toda força na parede, caindo direto para o fundo, onde começou a lamentar de dor.

A centopeia assustada perguntou:

- Você está bem? Se machucou?

- Sim, dei uma topada bem forte na parede, não enxergava nada, agora estou machucado e com dor, estava mesmo muito escuro.

- Logo você vai se recuperar, pode acreditar, disse a centopeia.

- Depois do que aconteceu, disse o passarinho, estou desapontado, abalado e desanimado de tudo.

- Você é corajoso e não é qualquer obstáculo que vai fazer você desistir.

Nesse momento, porém, começou uma ventania muito forte, o céu escureceu com nuvens densas e cinzas, e logo em seguida começou a trovejar.

A tempestade.

- Parece que vai cair uma tempestade daquelas, uma chuva pesada, com muita água, disse a centopeia.

O passarinho não respondeu.

E no mesmo instante, começou uma chuva muito forte e, de repente, começou a entrar muita água dentro do buraco. Era tanta chuva que caia, era tanta água e mais água que entrava, que não parava mais.

A centopeia começou a boiar.

O passarinho debilitado e sem forças com as asas molhadas começou a afundar

A chuva não parou, era muita água que caia no buraco e foi assim a noite toda.

Surpreendentemente a chuva começou a inundar o buraco, com a água subindo até saída, transbordando o ponto mais elevado.

Ao amanhecer algumas gotas de água ainda caiam esparsas entre os raios dourados que iluminaram toda a paisagem em um lindo dia de sol.

Ali apareceu a centopeia aliviada e feliz por estar salva e com ela vinha o passarinho que parecia sonolento.

Depois de alguns minutos o passarinho acordou e ficou surpreso não acreditando no que estava vendo. Estava em terra firme!

Maravilhado com a proeza da centopeia foi abraçá-la e falou:

- Estou muito orgulhoso de você, centopeia, muito obrigado por me salvar, peço mil desculpas, posso não ter sido muito simpático, admito, mas fui sincero.

- Não precisa me agradecer, também você salvou minha vida.

- Como assim, não entendo, foi você que me salvou e não eu. Além do mais estou muito curioso de saber como você conseguiu sair do buraco?

- Foi simples, quando você caiu no buraco, não percebeu que havia derrubado um galho de uma árvore lá dentro, que começou a boiar quando choveu e no qual eu me segurei para não me afogar. No fundo do buraco, formou uma espuma grossa, uma babugem lamacenta, que elevou o galho até a borda, por onde eu subi e te resgatei com os meus cem pés.

A centopeia explica como resgatou o passarinho.

- Incrível, estou admirado com sua astúcia, disse o passarinho, estávamos numa situação muito difícil, quase impossível de sair, e você conseguiu. Para ser honesto, jamais eu ia deixar você naquele lugar, como também não gostaria que fosse embora e me deixasse.

Aí a centopeia falou:

- A verdade é que nós nos tornamos amigos.

- É verdade, fomos sinceros um com o outro e na dificuldade nos tornamos unidos e bons amigos.

- Sim, seremos amigos sempre, disse a centopeia.

Finalmente, os dois emocionados se abraçaram e se separaram.

O passarinho voou alegre e feliz num lindo céu azul.

A centopeia e o passarinho estão felizes por terem escapado do buraco.

A centopeia, por sua vez, continuou o seu caminho despreocupadamente cantarolando e procurando a frutinha silvestre de cor amarela, num agradável dia ensolarado de outono.

*****

Créditos:

Ilustrações: Paula Vanessa, Nilza, Jean e Annina

Revisão: Diego, Paula, Nilza e Jean 

Um comentário:

  1. Linda Fábula... Emocionante... Apaixonante. Fiquei encantado com a leveza e a riqueza de detalhes. Prof. Charlles

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