quinta-feira, 15 de abril de 2021

Lembranças de agora de um cárcere privado, por Jean Fecaloma

Jean Fecaloma

Este sou eu, Jean Fecaloma. Há mais de um ano, estou vendo o sol nascer quadrado da janela do meu quarto. Minha rotina se resume em lavar batata, tomar banho de sol (para fotossintetizar vitamina D), lavar batata, traduzir um livro, lavar batata, assistir televisão, lavar batata e dormir. Até com personagens de novela tenho sonhado (assisto desde Malhação até a novela das nove), e pesadelos com o William Bonner são constantes. Ensaiei os passos de Jerusalema e até álcool gel em pão eu passei. Sou inocente. Fui condenado por um crime que não cometi. Os verdadeiros culpados são pessoas, empresas e governos inescrupulosos, que, interessados apenas em benefício próprio e no lucro pelo lucro, na riqueza sem limites, têm devastado o meio ambiente, ateado fogo em florestas e áreas de preservação, caçado animais selvagem, poluído rios e mares, saqueado minérios e minerais, roubado o que sobrou das terras indígenas, causado pandemias e destruído o planeta Terra. Toda a humanidade foi condenada pela ganância irresponsável de quem não respeita a vida nem o futuro. Até quando vamos aceitar?!!! (“Lembranças de agora de um cárcere privado”, Fecaloma).


quinta-feira, 1 de abril de 2021

A história da cachorra abandonada, Violeta

Violeta

As quatro estações do ano

Capa da história da cadelinha abandonada, Violeta

(baseado em fatos reais)

Por Nilza Monti Pires

O sol brilhava naquela manhã agradável de primavera, as nuvens brancas vagavam macias e leves no céu azul.

A beleza das flores dava o seu ar colorido, enfeitando a varanda da casa simples, onde vivia uma viúva e seus três filhos pequenos, no interior de São Paulo, lá pelos lados de Americana.

Era domingo, o dia amanhecia com um brilho intenso e dourado, a viúva, dona Norma, e seus três filhos, Hélio, Raquel e Felipe, estavam reunidos alegremente na pequena varanda que dava para a frente da rua.

A mãe, dona Norma, e os filhos na varanda.

O muro da varanda estava todo coberto por violetas, flores que ornamentavam todo o ambiente, dando uma sensação agradável e prazerosa, onde a família se reunia para conversar, trocar ideias e contar alguns causos. Ali, na varanda, era o lugar de lazer deles, nos domingos, pois não possuíam nenhum recurso financeiro.

Enquanto conversavam animadamente, ouviram um farfalhar de folhas no meio das violetas, um som confuso, despertando a curiosidade das três crianças que imediatamente foram ver o que era.

Surpresos encontraram um cachorrinho que mal tinha acabado de nascer.

Ilustração da cadelinha Violeta no meio a um coração de flores violetas.

- Mãe, olha o que nós encontramos, gritou Felipe.

- É uma cadelinha, respondeu Hélio.

- Que linda! exclamou Raquel.

- Nossa, coitadinha, deixaram aí, disse a mãe, espantada.

- Vamos ficar com ela, disse Raquel, por favor, mãe!

- Não temos condições, ela precisa de muitos cuidados.

- Nós vamos cuidar bem, deixa, mãe, ela é tão pequena, implorou Raquel.

- Veja! ela está com fome, falou Felipe, até está abrindo a boca.

O entusiasmo das crianças era tão grande que a mãe, dona Norma, não teve coragem de dizer não.

- Está bem, concordou.

- Obrigada, mamãe, por deixar a gente ficar com a cachorrinha.

E os três filhos correram para abraçar a mãe, de tanta felicidade.

As crianças estão felizes porque a mãe deixou elas ficarem com cachorra.

- Mãe, disse o Hélio, eu, o Felipe e a Raquel demos o nome de Violeta para ela. O que você acha?

- É um nome muito bonito, ela é tão graciosa como as flores da violeta.

E assim Violeta foi crescendo linda e formosa com seus longos pelos marrom claro e uma mancha de pelos brancos nas costas, que a deixava mais bonita. Era cuidada com todo carinho e amor, era a alegria da casa.

Passado um ano, Violeta estava bem crescida, forte e saudável.

Era primavera novamente, e a família estava reunida na varanda quando recebeu a visita do irmão da dona Norma, o tio Vidigal.

Apareceu num carro luxuoso, ostentando riqueza.

- Que surpresa, disse dona Norma, quanto tempo que não aparece!

- Faz muito tempo mesmo que eu não venho até aqui.

Mal cumprimentou os sobrinhos e foi logo falando para a mãe das crianças.

- Precisamos conversar a sós.

Dona Norma já ficou preocupada.

- Vim até aqui porque recebi várias reclamações sobre o cachorro, e eu sou o dono desta casa, e o meu bom nome não pode ser abalado, sou um homem muito rico e prestigiado e, além do mais, esse cachorro dá muitas despesas e você me paga muito pouco pelo aluguel, vou ter que levar o cão embora.

- Não, por favor, disse dona Norma, o que vou dizer aos meus filhos, eles adoram esse cãozinho.

- Não tem jeito, disse o tio Vidigal, que falou de maneira seca e ríspida, se você for ficar com o cachorro, procura outra casa para morar imediatamente.

Não adiantou nada a súplica de sua irmã, o tio Vidigal não deu a mínima importância para seus apelos, esperou as crianças dormirem, pegou a Violeta nos braços, para levá-la embora.

Tio Vidigal com Violeta nos braços.

A irmã suplicou mais uma vez:

- Por favor, não faça isso!

Mas foi tudo em vão. Despediu da irmã levando Violeta, e ao sair disse friamente:

- Se as crianças perguntarem pela cachorra, diga que ela fugiu.

E lá foi a Violeta para seu destino sem rumo.

A noite estava escura e com uma cerração muito forte, o carro em que estava Violeta ia muito rápido pela estrada, rodava, rodava, rodava muitos quilômetros e muitos quilômetros e cada vez mais Violeta ficava mais e mais longe de casa.

Já estava amanhecendo, ainda o carro rodava e em certo momento o carro parou, o tio Vidigal desceu do carro, pegou a Violeta e a deixou no meio da estrada, abandonando-a à sua própria sorte, numa paisagem inóspita e solitária.

Violeta sozinha e abandonada na estrada.

Violeta ainda correu atrás do carro, mas o carro avançou rapidamente, deixando a cachorrinha para trás.

A coitadinha andava de um lado para o outro, estava desorientada e assustada, e foi se esconder num matinho que ali havia por perto e de tanto medo dormiu.

Neste momento, lá na casa da viúva amanhecia. Violeta sempre acordava as crianças com suas lambidelas.

As crianças assim que acordaram sentiram falta da cadelinha e os três foram procurá-la.

- Mãe, onde está a Violeta?

- Procuramos por toda parte.

A mãe contou a verdade:

- Seu tio Vidigal levou a Violeta.

- Mas por quê? disse Hélio.

- Disse que recebeu muitas reclamações sobre a cachorra, e, além disso, que Violeta dá muita despesa, e que eu pago muito mal o aluguel da casa, e que ele é um homem muito importante, cheio de prestígio e de grande influência, e não podia ficar mal falado, e que era para eu escolher ficar com o cachorro ou procurar imediatamente outro lugar para morar. Na hora fiquei confusa, eu pedi tanto para ficar com a Violeta mas ele não me deu ouvidos.

- Tá certo mãe, você realmente não teve escolha, ele queria que saíssemos da casa, isso foi um pretexto, uma maldade.

- O seu tio Vidigal ficou muito obcecado por dinheiro, tornou-se arrogante, pretensioso, vaidoso demais, e foi inflexível aos meus pedidos.

- Falou pelo menos para onde ele levaria a Violeta? perguntou Raquel.

- Não me disse nada, saiu às pressas levando a cachorra.

As crianças ficaram muito tristes, deprimidas e magoadas com o tio.

As crianças choram porque o tio Vidigal levou Violeta embora.

Enquanto isso, a Violeta ficou encolhida o dia inteiro sem sair daquele lugar, cansada, choramingava bastante, temerosa, não saía daquele cantinho de jeito nenhum, e acabou dormindo novamente até o dia seguinte.

Acordou com muita fome, pois até aquele momento não tinha comido nada, resolveu sair para procurar comida, sem encontrar nada, e só comeu algumas plantinhas, só isso, não sabia procurar o que comer.

Violeta então começou a farejar, farejar, farejar, e voltou para estrada onde foi deixada e começou a correr, correr, correr, queria voltar para casa, mal podia imaginar que o percurso era longo e difícil.

Violeta correndo à procura de casa

Passado algum tempo, o verão estava começando muito quente, a alta temperatura ardia, um calor intenso, aquele perfume agradável da primavera desapareceu, mas Violeta não desistia, queria voltar para casa, e corria quilômetros e mais quilômetros, exausta, parou para descansar, comeu algumas cascas secas e sementes de fruta e por sorte veio a chuva de verão formando poças de água pelo chão, onde Violeta bebeu até se fartar. Foi um alívio.

Já estava anoitecendo, uma escuridão terrível, Violeta ainda estava molhada da chuva, sentia-se insegura, tinha medo e choramingava de tristeza e solidão, mas acabou dormindo.

Na manhã seguinte, ao caminhar encontrou casualmente uma casinha abandonada no meio do mato, se aproximou devagarinho, mas não tinha ninguém, encontrou alguns restos de comida, e comeu avidamente, e ficou satisfeita, sentindo-se mais forte, e logo saiu para continuar sua jornada.

Assim passaram os dias, sempre andando, andando, andando, até que em certo ponto se deparou com um rio fundo, com uma forte correnteza, que a assustava, pois a velocidade da água era muito rápida e forte.

Violeta então parou, ficou observando indecisa, receosa, andava pra lá e pra cá, mas a saudade das crianças e a vontade de voltar para a casa era tão grande que resolveu enfrentar assim mesmo. Pulou na água.

Violeta se atira no rio e luta contra a correnteza para chegar na outra margem do rio.

A correnteza era tão forte que arrastou Violeta com muita rapidez nas águas volumosas do rio, às vezes, ela sumia na água, outras vezes, rolava para cima e para baixo.

Mas logo adiante num trecho, o rio ficou surpreendentemente estreito e pouco profundo. A sorte da Violeta é que surgiu uma grande abertura num lugar onde as águas desaparecem, um sumidouro, e aí o acesso à margem ficou fácil, já que quase não tinha água, e Violeta saiu com tranquilidade, conseguindo se salvar.

Depois desse desafio, cansada, esgotada, foi dormir.

Lá pelos lados de Americana, na casa da viúva, conversam na varanda as crianças e a mãe: lamentavam a falta da Violeta.

- Que saudades da Violeta, disse Raquel que, ao lembrar, vinham lágrimas nos seus olhos.

- Eu também sinto falta dela, gostaria de saber se ela está bem e feliz, disse Felipe.

- Eu daria tudo para saber onde está Violeta, o tio Vidigal foi maldoso, tirou ela de nós, foi embora e nem deixou a gente se despedir, sem dizer aonde levaria a Violeta, disse Hélio, lamentando-se.

Conversa vai, conversa vem, o Hélio se lembrou de uma coisa e falou:

- Mãe, vai ter um concurso na escola e o prêmio vai ser em dinheiro, vou me inscrever.

 - Que ótimo, meu filho, sobre qual seria o assunto?

- Vou lá amanhã para saber mais detalhes.

Violeta dormia profundamente depois de passar por um grave perigo.

Passaram dois meses, Violeta sempre andando, às vezes corria pelas estradinhas sinuosas.

O tempo foi passando, até que começou a queda gradativa da temperatura e pelo amarelar das folhas em queda das árvores indicava o início do outono.

Enquanto Violeta andava, andava, andava, avistou uma cidadezinha, e viu vários cachorros derrubando uma lata de lixo de um restaurante e todos começaram a comer.

Violeta avista outros cães abandonados.

Violeta estava com muita fome, se aproximou para comer também, mas ela não era do grupo.

Assim que ela chegou mais perto, um dos cachorros avançou com muita fúria, mordendo a pobre Violeta.

Um outro cachorro que estava lá defendeu Violeta, atacando ferozmente o outro cão.

Os dois cães rosnam um para o outro.

Os dois cachorros então se atracaram, começaram a brigar, mas o defensor da Violeta saiu ganhando do briguento.

Violeta saiu correndo, desajeitada, grunhindo, e o cachorro que a salvou foi atrás dela para fazer amizade. Ele era tão abandonado quanto ela.

Violeta foi mordida só de raspão, se tornou amiga do cachorro que a livrou e a defendeu de tamanho perigo. Os dois partilhavam o mesmo sofrimento: eram sozinhos.

Violeta e seu novo amigo tentam voltar para casa.

Ficaram muito amigos, e o cachorro que vivia só a seguia pela estrada e a cada quilômetro percorrido Violeta se sentia mais e mais perto de sua casa.

Os dias foram passando mais suaves para Violeta, agora tinha um amigo, mas não desistiria de voltar para sua casa.

Sempre andando, andando, andando, com seu amigo, não podia parar, tinha que chegar a qualquer custo.

Os meses foram passando, começaram a cair pequenas gotinhas de garoa durante a madrugada, uma chuva muito miúda formava poças de água no caminho, a temperatura baixava, anunciando o início do inverno.

Violeta e seu amigo se protegem do frio.

Violeta continuava o seu caminho, sempre perseverante, mesmo com o frio intenso, agora se sentia mais fraca, não tinha muita comida e o inverno estava um dos piores dos últimos anos, de tanto frio.

Violeta não estava acostumada com tanto frio, já não corria tanto, se sentia cansada, debilitada.

Graças a seu amigo, que trazia a pouca comida que encontrava, e sempre a estimulava a prosseguir em sua jornada, Violeta não desistia, seguia sempre em frente.

No entanto, lá na casa da viúva, Hélio chegou feliz da vida e gritou:

- Mãe, ganhei o concurso, agora temos o dinheiro para comprar uma casa.

Todos pularam de alegria.

- Agora teremos nossa própria casa, disse Hélio.

Sentiram uma certa tristeza, justamente agora Violeta não estava lá.

- Parabéns, meu filho, disse dona Norma, estou muito orgulhosa.

Todos abraçaram Hélio, felizes e contentes.

- Vamos hoje mesmo à imobiliária, disse a mãe.

E aí saíram todos alegres.

Chegando na imobiliária, o vendedor mostrou todas as casas que estavam à venda e, para a surpresa de todos, inclusive a casa em que eles estavam morando, a casa do tio Vidigal.

A casa do tio Vidigal está à venda.

Não acreditaram que a casa estava à venda, ficaram admirados, por que será que o tio Vidigal não nos avisou?

- Vamos comprar essa casa, não precisamos nem mudar, disse Raquel para a mãe, nós gostamos tanto dessa casa!

Compraram a casa e saíram alegres e satisfeitos.

Certa manhã, Violeta acordou com o chilrear dos passarinhos, viu umas florzinhas brotando. Eram violetas!

Sentiu o perfume das flores, um aroma agradável, o sol brilhava, e Violeta lembrou de sua casa, das flores que cobriam toda a varanda. Principiava a primavera.

Os dois cães conseguem voltar para a cidade onde mora a família da dona Norma.

Violeta estava enfraquecida, abatida, faltavam-lhe forças, mas sentiu que estava perto de sua casa.

Mais que depressa acordou seu amigo, latiu, latiu, latiu, e começou a correr, mesmo cansada, corria sem parar. Uma força de ânimo inexplicável renovou suas energias.

Sentia o cheiro das violetas cada vez mais perto.

Num belo domingo, o sol brilhava naquela manhã agradável de primavera, nuvens brancas vagavam macias e leves no céu azul, a viúva e seus filhos conversavam na varanda coberta por violetas, lembrando-se de quando na mesma época, a dois anos atrás, acharam a cadelinha Violeta.

A mãe perguntou ao Hélio:

- Qual foi mesmo o assunto que fez você ganhar o prêmio?

Quando o Hélio ia falar, ouviram vários latidos, estranharam e foram ver.

- Vejam essa cachorra latindo e abanando o rabo para nós, até parece a Violeta, disse Felipe.

- É a violeta, disse Raquel entusiasmada.

- Mas ela é diferente, é escura e não tem a mancha branca, disse a mãe.

- É sujeira, disse Hélio, olha como ela está feliz, até está chorando, é a Violeta!

- Vejam, tem outro cachorro, disse Raquel, veio com ela.

Os dois cães encontram a casa da família da dona Norma.

Violeta latia, latia, latia, queria entrar mas não queria deixar seu amigo que a salvou de tantos perigos, ela ia até seu amigo e latia, latia, latia, e olhava para eles, e latia, latia, latia.

- O que estão esperando, disse a mãe, vão dar um banho neles.

E aí os três levaram os dois cachorros para casa alegremente.

- É Violeta, não falei, olha a mancha branca. Nossa, que alegria!

- Por onde teria andado nesse ano todo para estar tão suja e fraca?

Deram um banho também no outro cachorro e se surpreenderam com a beleza dele.

- Como podem abandonar um cachorro tão lindo, disse Raquel.

Que grande alívio, Violeta voltou para casa!

Num domingo, a família estava reunida ao lado dos dois cachorros quando de repente chega o tio Vidigal.

Tio Vidigal mal vestido.

Estava sem o carro e mal vestido, ao avistar a Violeta ficou surpreso e assustado.

Quando Violeta viu o tio Vidigal saiu correndo, chorando, e foi se esconder.

Surpresa de ver o irmão, a dona Norma falou:

- O que veio fazer por estas redondezas?

- Vendi a casa. Aí interrompeu bruscamente a conversa e por um instante ficou pensativo.

Dona Norma estranhou a atitude dele.

 O tio Vidigal estava aflito e perturbado e perguntou:

- A cachorra que saiu correndo quando me viu é a Violeta?

- Sim, ela mesma, chegou muito magra, fraca, suja de poeira, de lama, estava irreconhecível.

O tio Vidigal ficou atônito, nervoso e confuso, então disse:

- Não é possível, vocês estão me enganando, levei a cachorra para muitos quilômetros daqui, muito longe, impossível ela ter voltado, deixei a cachorra numa estrada deserta, estreita e distante, e fui embora.

- Ela apareceu aqui depois de um ano, ficamos muito surpresos, não esperávamos, disse dona Norma.

O tio Vidigal ficou agitado, inquieto, abalado e começou a chorar.

- Quero que vocês me perdoem, fui cruel, arrogante, traiçoeiro, por isso fui castigado, perdi todo o dinheiro que eu tinha, fiquei na miséria, depois do que eu fiz nunca fiquei em paz, o remorso me acompanhou, por favor, me perdoem por ter feito tamanha crueldade.

A viúva e as crianças ficaram perplexas, nunca imaginavam que o tio largaria a Violeta na estrada.

O tio Vidigal se despediu da família de cabeça baixa, humilhado, saiu às pressas desorientado, com a roupa gasta pelo uso e a pé, nem terminou de contar sobre a venda da casa.

A mãe e as crianças tentaram impedir que ele fosse embora, queriam explicar que tinham comprado a casa. Em vão. Tio Vidigal deu as costas e partiu.

Perdoamos, disse dona Norma, mas não teve jeito, a vergonha dele foi muito grande.

Tio Vidigal nunca pensou que eles iriam descobrir sua atitude tão vil.

Assim que o tio saiu, Violeta voltou do esconderijo e latiu, latiu, latiu.

- Ninguém vai levar mais você, Violeta, disse Raquel, dando um beijo na cachorra.

Violeta latiu novamente e foi fazer carinho em cada um, feliz, abanando o rabo, e foi até seu amigo que estava dormindo tranquilo.

Os dois cachorros descansam tranquilos em frente da casa da dona Norma e família.

Alegria voltou naquela casa.

- Meu filho, disse a mãe para o Helio, ainda você não falou sobre o assunto que fez você ganhar o prêmio.

- Era para fazer uma história para uma revista importante, muito famosa, e eu fiz a história da Violeta que acaba de ser contada. Eles adoraram e vão fazer até um filme.

Então Raquel perguntou:

- Como você fez a história da Violeta se ela não estava aqui e terminou a história com ela voltando para casa.

- Mesmo quando a Violeta estava fora, eu sempre tive a esperança de que um dia ela voltaria.

- Mas e o outro cachorro, disse Felipe, você adivinhou?

- Sempre quis ter dois cachorros e meu sonho se realizou.

Hélio narra todos os osbtáculos que foram superados por Violeta.

A família estava reunida sossegada na varanda toda florida, coberta por violetas, pois ainda era primavera.

Violeta estava muito feliz, olhou para eles, foi fazer carinho, latiu, latiu, latiu, abanando o rabo, latindo novamente como se dissesse:

- Voltei para casa.

E os dois cachorros ficaram com eles felizes para sempre.

- E foi assim que eu terminei a história da Violeta, que se passou lá pelos anos de 1950.

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Autora: Nilza Monti Pires

Revisão: Nilza, Paula Vanessa e Jean

Ilustrações: Sabrina Paloma, Annina Ramona e Paula Vanessa

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“Não existe cachorro de rua, existe cachorro abandonado. Se você não puder resgatar um animal (gato ou cachorro), ajude oferecendo água e comida e entre em contato com uma entidade amiga dos animais. Ajude um protetor, compartilhe postagens de animais perdidos ou para serem adotados. Denuncie maus tratos aos animais e, se puder, colabore com uma ONG. Faça a sua parte para minimizar o abandono de animais. Um pouco já é muito”. Recado da Paula Vanessa Pires de Azevedo Gonçalves, professora de história que ama os animais.

Violeta na estrada.

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