Introdução
O Bem-Amado, de Dias Gomes, é uma das obras mais icônicas do teatro e da televisão brasileira. Escrita em 1962 e levada ao palco em 1963, a peça ganhou notoriedade ao ser adaptada para a televisão em 1973, tornando-se a primeira telenovela em cores do Brasil. A obra satiriza o cenário político nacional por meio de personagens caricatos, ambientados na fictícia cidade de Sucupira, onde o prefeito Odorico Paraguaçu tenta inaugurar o “primeiro cemitério da cidade”.
Neste artigo, vamos explorar os principais aspectos da peça e da novela, analisar seus personagens, temas centrais e legado, além de responder às perguntas mais frequentes sobre a obra. Se você se interessa por teatro, crítica social e política brasileira, O Bem-Amado é leitura essencial.
Quem foi Dias Gomes?
Dramaturgo, romancista e crítico do Brasil
Dias Gomes (1922–1999) foi um dos mais importantes autores da dramaturgia brasileira do século XX. Com uma carreira marcada por obras que mesclam crítica social e humor ácido, ele soube capturar as contradições do Brasil com maestria. Além de O Bem-Amado, escreveu peças como O Pagador de Promessas, que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 1962.
Gomes usava o palco e a televisão como ferramentas de denúncia social, valendo-se do grotesco, da ironia e da caricatura para abordar temas como corrupção, autoritarismo e hipocrisia.
Resumo de O Bem-Amado
Trama principal da obra
A peça gira em torno de Odorico Paraguaçu, prefeito de Sucupira, obcecado por inaugurar um cemitério municipal. No entanto, enfrenta um problema inesperado: ninguém morre na cidade. Com isso, ele inicia uma série de manobras para conseguir o “defunto necessário” e, assim, justificar a construção.
A trama é recheada de absurdos e situações cômicas, que servem como espelho das práticas políticas brasileiras: favorecimentos, manipulação da opinião pública, promessas não cumpridas e controle dos meios de comunicação.
Principais personagens
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Odorico Paraguaçu – Prefeito populista e falastrão, símbolo do político oportunista.
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Zeca Diabo – Jagunço contratado por Odorico para “resolver” o problema da falta de mortes.
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As Irmãs Cajazeiras – Doroteia, Dulcineia e Judicéia, viúvas devotas que representam a hipocrisia moral.
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Dirceu Borboleta – Secretário do prefeito, submisso e atrapalhado.
Temas centrais de O Bem-Amado
Crítica à política brasileira
O Bem-Amado é uma sátira direta ao coronelismo, ao clientelismo e à cultura política autoritária que marcaram (e ainda marcam) muitas regiões do Brasil. Odorico representa o político que promete obras públicas não pelo bem comum, mas pela autopromoção e manutenção do poder.
A manipulação da opinião pública
O prefeito utiliza a imprensa local e o discurso populista para convencer os cidadãos de que está “fazendo o melhor para a cidade”. A peça mostra como o discurso oficial pode ser distorcido para justificar ações duvidosas.
Moralismo e hipocrisia social
As Irmãs Cajazeiras simbolizam uma sociedade que se diz moralmente correta, mas que compactua com os desvios de conduta do poder. A dualidade entre aparência e realidade é um dos pilares do humor ácido da obra.
O Bem-Amado na televisão
A primeira novela em cores da TV brasileira
Em 1973, O Bem-Amado foi adaptado para a televisão pela TV Globo, com Paulo Gracindo no papel de Odorico. A novela fez história ao ser a primeira transmitida em cores no país. Com direção de Régis Cardoso, o sucesso foi imediato, consolidando o personagem como ícone cultural.
Sucesso de público e crítica
A adaptação televisiva ampliou o alcance da crítica presente na peça original, mantendo o tom satírico e acrescentando elementos visuais marcantes. A trilha sonora também se tornou célebre, com músicas compostas por Toquinho e Vinícius de Moraes.
Legado e outras versões
Além da novela, O Bem-Amado foi adaptado para minissérie e filme, mantendo-se atual por décadas. A obra também inspirou discussões acadêmicas sobre política, mídia e cultura brasileira.
Por que O Bem-Amado continua atual?
Reflexo de uma política que persiste
A figura do político corrupto, carismático e manipulador, que promete obras duvidosas e age de forma autoritária, ainda está presente no Brasil contemporâneo. Por isso, O Bem-Amado segue sendo uma crítica relevante e mordaz ao cenário político nacional.
Humor como forma de resistência
Dias Gomes utilizava o humor não apenas como entretenimento, mas como instrumento de resistência à censura e à repressão, especialmente durante o regime militar. O riso, em O Bem-Amado, é uma arma poderosa para revelar verdades desconfortáveis.
Estilo e linguagem da obra
Ironia e linguagem rebuscada
Odorico Paraguaçu é conhecido por seu vocabulário pomposo e palavras inventadas. Essa linguagem exagerada é um dos elementos mais marcantes da peça, funcionando como paródia dos discursos políticos vazios. A construção verbal do personagem é uma crítica ao uso da linguagem como ferramenta de manipulação.
Caricatura como estratégia dramática
Todos os personagens são tipos caricatos, com traços exagerados que tornam suas falhas ainda mais visíveis. Essa construção permite que o público identifique comportamentos reais por trás da comédia, tornando a crítica ainda mais eficaz.
Perguntas frequentes sobre O Bem-Amado
Qual é o gênero de O Bem-Amado?
É uma comédia satírica, com forte viés político e social, que mescla elementos do teatro tradicional com o grotesco.
Qual o objetivo de Dias Gomes com essa obra?
Criticar, por meio do riso, as estruturas políticas e sociais do Brasil, especialmente o coronelismo, o autoritarismo e a corrupção.
O Bem-Amado é baseado em fatos reais?
Embora os personagens e a cidade sejam fictícios, a obra é inspirada em práticas políticas comuns no Brasil, especialmente no interior e em pequenas cidades.
Conclusão
O Bem-Amado, de Dias Gomes, é uma obra atemporal, que utiliza o humor e a sátira para fazer uma crítica contundente à política brasileira. Com personagens memoráveis e situações absurdas, a peça revela como o poder pode ser exercido de forma manipuladora, enquanto mantém as aparências de moralidade e progresso.
Ler (ou assistir) O Bem-Amado é uma forma divertida, mas profunda, de refletir sobre as práticas políticas que ainda marcam o cotidiano brasileiro. É também um exemplo brilhante de como a arte pode ser usada para provocar pensamento crítico, mesmo em tempos de censura e repressão.
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