Por J. P. A. Gonçalves
1. Narrativa: questões formais
Antes de entrar no assunto propriamente dito, cabe realizar alguns apontamentos sobre a narrativa do romance “Memorial do Convento”, de José Saramago. Isso se justifica porque é praticamente impossível passar indiferente ao estilo narrativo único das obras de Saramago. Sem se aprofundar muito, no entanto, no aspecto puramente formal, percebe-se de imediato uma ruptura de cunho sintático com a diacrítica, principalmente, no que diz respeito à construção de períodos muito longos das orações, que obriga o leitor a se deter em cada vírgula, em cada ponto final, sem o que perderia toda a compreensão do texto e o efeito vertiginoso provocado pela leitura dos parágrafos. Nenhuma palavra, nenhuma sinalização é por acaso ou é desperdiçada.
Outro recurso muito interessante é a
introdução do diálogo dos personagens dentro destes longos períodos apenas
marcando o início da fala com uma letra maiúscula, dispensando, portanto, as
formas tradicionais de discurso direto e indireto e do uso do travessão para
distinguir os personagens. Assim, o diálogo dos personagens parece se destacar
do texto qual relevo na planície, isto é, sem apresentar ruptura no
desenvolvimento da escrita. Muitas vezes, este diálogo se confunde com a
própria descrição do narrador, que parece, tal como um personagem, presenciar
as cenas descritas por ele mesmo; como se o narrador ora se apresentasse como
um dos personagens, ora como um anônimo que vivencia a trama do livro. Isto
cria um efeito de familiaridade muito grande entre o narrador e coisa narrada,
que se percebe através da estruturação sintática, e que implode com a noção de
tempo passado e presente.
Outro dado que vale a pena ressaltar é a ausência
de pontos de exclamação e interrogação, os quais estão subtendidos a partir da
construção da fala dos personagens e do contexto. Além destes aspectos
apontados, caberia alguma observação também com relação à disposição dos
capítulos, que não recebem título ou numeração. Esse desenvolvimento
estilístico da narrativa produz, paradoxalmente, uma atmosfera misteriosa e, às
vezes, irremediavelmente sarcástica, que emerge da própria complexidade da
criação literária. Neste sentido, Saramago não poupa a religião nem uma visão
otimista sobre o humanismo. Quanto ao narrador, como já se afirmou, ele próprio
um personagem, às vezes, oculto, às vezes, presente; é um narrador onisciente.
Porém, não é um narrador neutro, mas, engajado. Este estilo literário inovador
e, muitas vezes, difícil, caracteriza inexoravelmente a obra de Saramago.
Segundo o professor Horácio Costa (em depoimento em sala de aula, no 1º. sem.
de 2018), em conversa revelada pelo próprio Saramago, tal estilo poderia ser
definido como uma polifonia de múltiplas vozes apreendidas pelo autor que
transcreve tudo aquilo que ouve num fluxo narrativo indeterminado. Finalmente,
apontado por Costa (COSTA, 1999), a obra de Saramago remete a três autores
essenciais da literatura portuguesa do século XIX que, de uma forma ou de
outra, trabalharam o subgênero romance histórico. Um traço comum à obra de
Almeida Garrett é a digressão; a ironia fina reverbera tanto em Saramago como
em Eça de Queirós; e o romance histórico de Alexandre Herculano (COSTA, 1999)
[Nota 1].
PLANO
A - Realidade
Aspectos
históricos sobre os cristãos-novos
Não se sabe ao certo quando os judeus
chegaram à Península Ibérica. De acordo com algumas fontes, já teriam se
estabelecido na região antes mesmo da conquista romana, no século III a.C.
Outras, no entanto, afirmam que os judeus chegaram na península no contexto da
diáspora, depois da destruição do Templo de Jerusalém, pelos mesmos romanos, no
ano de 70 d.C. Com as invasões bárbaras e a conversão dos reinos visigodos ao
cristianismo, os judeus passaram a ser perseguidos e obrigados a se converterem
à fé cristã. Tal situação só teve fim quando os árabes ocuparam a Península Ibérica.
Por ser uma religião aristocrática e guerreira, raros foram os episódios de
intolerância religiosa praticados no período do Islão. Por séculos, os judeus
viveram em paz e puderam desenvolver atividades das mais diversas, como
agricultura, metalurgia, comércio, finanças, filosofia etc. Findada a guerra de
reconquista e expulsos os “infiéis”, o reino de Espanha, constituído por bases
nacionais atreladas ao catolicismo e representado pelo casamento da Rainha
Isabel, de Castela, e do Rei D. Fernando II, de Aragão, passa a perseguir
implacavelmente os judeus através da Inquisição. Estes ou são obrigados a se
converterem ou, quando do Édito de 1492, são finalmente expulsos. Muitos deles
fugiram para Portugal, onde já havia uma presença forte da comunidade judaica.
Embora se ignore a quantidade de emigrados, alguns cálculos estimam em cerca de
120.000 indivíduos ou 20 mil famílias, o que representaria 1/5 da população de
Portugal à época. Segundo António José Saraiva, até a expulsão em Portugal, no
ano de 1496, os judeus não foram molestados (SARAIVA, 1994). Mas, diante de
questões econômicas, já que população judaica era, no geral, mais rica do que a
população local, os reis portugueses se convenceram a instituir a Inquisição em
Portugal como forma de extorquir dinheiro dos ricos comerciantes judeus. Assim,
os judeus foram forçados à conversão em massa, surgindo daí a figura do
cristão-novo em Portugal.
De fato, é consenso que neste país o
interesse financeiro foi a grande mola propulsora da Inquisição e, diante
disso, pesava o interesse dos reis, inclusive, pelo controle do Tribunal do Santo
Ofício. Saraiva chega a citar um autor, cristão-novo, do século XVIII, de nome
Antonio Nunes Ribeiro Sanches, que chegara a afirmar em um documento [Nota 2]
que a Inquisição e a “limpeza de sangue”, isto é, a prática da proibição de
cristãos-novos ocuparem certos cargos no governo e no exército, era uma
verdadeira fábrica de “cristãos-novos” (SARAIVA, 1994). Isso porque muitos
indivíduos e famílias que já há muito haviam perdido qualquer laço com o
judaísmo eram acusados de judaizar pelo simples fato de terem algum antepassado
cristão-novo. Ainda segundo Saraiva, os cristãos-novos desapareceram
definitivamente de Portugal quando das reformas pombalinas, que teriam posto
fim na “fábrica de cristãos-novos”, já que aqueles que antes eram perseguidos
(burgueses) ascendem ao poder no governo liberal de Pombal [Nota 3].
Padre
Bartolomeu Lourenço de Gusmão
Bartolomeu Lourenço nasceu no ano de 1685, em
Santos, Brasil. De família muito católica, filho de Francisco Lourenço
Rodrigues e Maria Álvares, foi irmão do diplomata Alexandre de Gusmão, que se
notabilizou por obter êxito na disputa entre Portugal e Espanha envolvendo
questões fronteiriças nas colônias do Novo Mundo, no chamado Tratado de Madri.
Ambos se destacaram nos estudos, ainda no Colégio de Belém, Bahia, onde
contavam com a proteção do padre jesuíta Alexandre de Gusmão.
Bartolomeu torna-se padre e muda-se para
metrópole e realiza estudos na Universidade de Coimbra. Em abril de 1709, o padre
Bartolomeu Lourenço enviou uma petição [Nota 4] ao rei D. João V solicitando a
patente de um objeto voador inventado por ele: um aeróstato. Bartolomeu inicia
a construção do "instrumento para se andar pelo ar" em maio daquele
mesmo ano. Depois vai para Alcântara, numa quinta oferecida pelo rei e que lhe
serve de fábrica para a invenção. No mês de agosto, o padre realiza cinco
experimentos com pequenos balões, dos quais só os dois últimos foram bem
sucedidos. O mais notório foi realizado dentro do palácio real, diante de
dezenas de testemunhas; porém, o balão pegou fogo antes de atingir quatro
metros de altura, sendo derrubado logo em seguida por funcionários reais, para
evitar que um possível incêndio se alastrasse pelo teto do salão.
Segundo Rodrigo Moura Visoni e João Batista
Garcia Canalle, a famosa passarola surgiu de um desenho [Nota 5] feito por um aluno
do padre Bartolomeu Lourenço, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, filho
primogênito do 3º Marquês de Fontes. Enquanto o padre Bartolomeu Lourenço
trabalhava na quinta, o menino, então com 14 anos, elaborou, com o consentimento
do próprio padre Bartolomeu, o desenho de um pássaro exótico, que seria movido
por magnetismo, no intuito de desviar a atenção dos muitos curiosos que lhe
importunavam. O desenho foi reproduzido em muitas cópias e em várias versões e
rapidamente se espalhou por toda a Europa, tornando o padre Bartolomeu motivo
de chacota. Nascia a alcunha, pejorativa, de “padre voador”.
Ainda de acordo com Visoni e Canalle, anos
mais tarde, o padre Bartolomeu foi denunciado à Inquisição por manter relações
com cristãos-novos e se converter ao judaísmo. A fuga foi bastante desastrada,
e o padre, juntamente como seu irmão, o frei João Álvares de Santa Maria, também
convertido ao judaísmo, partiram a pé para a Espanha. No caminho, o padre
Bartolomeu veio a adoecer gravemente e faleceu aos 38 anos de idade na cidade
de Toledo.
PLANO
B - Ficção
2. Breve
resumo da questão tratada
O elo entre o plano A (realidade) e plano B
(ficcional) é a construção do Convento de estilo barroco da vila de Mafra pelo
rei absolutista D. João V como forma de pagamento de uma promessa. O romance
Memorial do Convento inicia-se com a revelação do frei Antônio de S. José de que,
se o rei D. João V, casado com D. Maria Ana Josefa, construísse um convento na
vila de Mafra, Deus lhe daria o tão desejado sucessor. Assim sendo, D. João V
ordena a construção do convento nesta vila, que é a terra natal de um dos
personagens principais do livro, o soldado Baltasar Mateus, o Sete-Sóis. Este
perdera a mão esquerda na Guerra de Sucessão Espanhola e vai para Lisboa
reivindicar junto ao rei uma pensão compensatória pela mutilação de guerra.
Numa procissão de auto-de-fé inquisitorial, conhece sua futura mulher Blimunda,
filha de uma condenada, e o Bartolomeu Lourenço, o padre voador. Os três são os
personagens principais do romance. Mas, apesar de serem quase anônimos na
multidão, ao contrário do que aponta Lukàcs sobre o personagem no romance
histórico, os três não têm nada de comum. Ao contrário. Blimunda tem a incrível
capacidade de ver por dentro das pessoas quando acorda em jejum; o padre
Bartolomeu Lourenço idealiza a passarola, ou melhor, um avião, que voa por meio
de alquimia; e Baltasar Sete-Sóis, que mesmo sem uma mão, executa a construção
da dita passarola e voa de fato, juntamente com Blimunda e o padre Bartolomeu, na
incrível máquina voadora, o que faria deles os primeiros aviadores da história
da humanidade.
Alquimia
De fato, a passarola inventada pelo padre não
voa graças às leis da moderna aerodinâmica, mas através da alquimia. Eis o
ponto crucial, a máquina levanta voo por meio de um sistema de atração solar no
qual dois cilindros de metal reservam vontades. Sim, vontades. As vontades são
nuvens fechadas dentro das pessoas que só Blimunda pode enxergar. Então, o
padre Bartolomeu encarrega Blimunda a colher vontades para encher os cilindros,
algo que só se cumpre satisfatoriamente quando das mazelas provocadas pela
epidemia de febre amarela em Lisboa. Evidentemente, as ideias do padre
Bartolomeu Lourenço de Gusmão não passariam indiferentes ao Tribunal do Santo
Ofício, que vem a persegui-lo.
Cabala
Bartolomeu também é um herético, ao questionar
a ortodoxia católica para dar crédito ao judaísmo. Isto fica claro quando o
padre diz para Baltasar, em dado momento: “Eu sei do que me acusarão, se a
minha hora chegar, dirão que me converti ao judaísmo, e é verdade”. Neste
sentido, o padre Bartolomeu comete sacrilégio ao renegar o dogma da trindade,
enquanto politeísmo, e proclama em alto e bom som que “Deus é uno em essência e
em pessoa”. Mas o padre vai mais longe e conclui, numa frase que poderia ser
compreendida como extraída da heteroxia judaíca cabalística: “Deus, sim, sim,
se em mim está Deus, e sou Deus, sou-o de modo não trino ou quádruplo, mas uno,
uno com Deus, Deus nós, ele eu, eu ele, Durus
est hic sermo, et quis potest eum audire”. A Cabala surgiu por volta do
século XII, misturando várias crenças místicas com interpretações de códigos
secretos contidos no Velho Testamento, denominado pelos judeus de Torá. Segundo
um autor contemporâneo, de origem judaica: “O salmos nos dizem que a alma é
pura e a cabala acrescente que há um ponto da alma em contato com Deus o tempo
todo” (EIGEN, 2017 p. 21). De certa forma isto vem de encontro com a
interpretação cabalística da Bíblia, pela qual Deus tem dois nomes, Yahweh,
isto é, tetragrama impronunciável YHVH ou por seu substituto “Senhor” (Adonai),
que é singular, e Elohenu, que é plural, portanto, deuses (EIGEN, 2017) [Nota 6]. Portanto, de acordo com a Cabala,
Deus é ao mesmo tempo um e múltiplo e, por isso, mantém um posto contato com
cada coisa existente, já que todo o universo é uma manifestação divina.
Considerações
finais
A construção do personagem padre Bartolomeu
Lourenço de Gusmão no romance Memorial do Convento é bastante interessante já
que, de fato, o seu invento realmente voa em pleno século XVIII. Isto parece
bastante simbólico. Ora, na época a ciência não estava desenvolvida o
suficiente para que a aviação pudesse ser inaugurada. Ainda teríamos que
esperar mais 200 anos para que Santos Dumont inventasse o seu 14 Bis. A única
solução para que um objeto mais pesado que o ar pudesse levantar voo seria
através da alquimia, precursora da química. Neste sentido, o padre Bartolomeu
representaria o progresso diante da obscuridade religiosa e da ferocidade da
Inquisição. Quanto ao judaísmo, de viés cabalístico, adotado pelo padre,
poderia indicar uma aspiração pela liberdade religiosa em uma sociedade plural
e democrática. Bastante sintomático é a longa e exaustiva passagem do romance
que narra o episódio em que os trabalhadores de Mafra têm de ir a Pero Pinheiro
buscar uma pedra enorme de mármore destinada à varanda do convento. Lá, havia
sido construído “um carro que haveria de carregar o calhau, espécie de nau das
índias com rodas”, e que, para puxá-lo, seriam necessários, além dos
trabalhadores, quatrocentos bois e todas as ferramentas para o transporte. O
translado da pedra é bastante conturbado, ocorrendo acidentes e até a morte de
um trabalhador e de alguns bois, que são assustadoramente devorados pela
população faminta dos arredores. A pedra é a antítese da passarola. Saramago
relembra, ironicamente, que o Convento atravessará o tempo pela glória do rei
D. João V, enquanto ninguém se lembrará dos milhares de trabalhadores que
ergueram a construção. Por isso, tem toda razão Horácio Costa ao afirmar que:
“Detrás da alegoria barroca, que estrutura como
um ímã o enredo do romance – pedra e ar, imobilidade e voo, hieratismo e invenção
–, detrás da linguagem de extração não menos barroca que pulsa em Memorial do
Convento, o pensamento saramaguiano segue próximo ao pensamento de Alexandre
Herculano, sistematizador, democratizador, desmitificador”. (COSTA, 1999, p.
102).
BIBLIOGRAFIA
COSTA, H. “José Saramago e a tradição do
romance histórico em Portugal”, in: REVISTA USP, São Paulo, n.40, p. 96-104,
dezembro/fevereiro 1998-99.
EIGEN, Michael. “Cabala e psicanálise”. São
Paulo: Blucher, 2017.
SARAIVA, Antonio José. “Inquisição e
Cristãos-Novos”. Editorial Estampa, 1994.
SARAMAGO, José. “Memorial do Convento”.
Lisboa: Editorial Caminho, 1994.
VISONI, Rodrigo Moura & CANALLE João
Batista Garcia. “Bartolomeu Lourenço de Gusmão: o primeiro cientista brasileiro”,
in: Rev. Brasileira de Ensino de Física, vol. 31, no. 3, São Paulo
julho/setembro, 2009
ANEXOS
[Nota 1]
“José Saramago e a tradição do romance histórico
em Portugal”, Horácio Costa
O recurso à ironia, que é uma característica da
prosa de Saramago, poderia remeter, no contexto da literatura portuguesa, à
ironia fina, tida e havida como uma “marca registrada” de Eça nas letras
lusitanas, que o mestre do Realismo português soube manejar com admirável
habilidade. (p. 2).
O traço estilístico afim entre Saramago e
Almeida Garrett é a digressão. Já em duas de suas crônicas escritas durante a
década dos 70, reunidas no livro Deste Mundo e do Outro (1971, 1ª ed.), Saramago deteve-se sobre a figura e a
obra do poeta, dramaturgo e romancista que, conforme rezam os compêndios,
introduziu o Romantismo em Portugal (com a peça Camões, em 1825). (p. 99).
Como mencionei acima, a relação de José
Saramago com Alexandre Herculano, o grande romancista histórico e historiador português
do século passado, dá-se menos em termos textuais que ideológicos. (...) Como
seu antecessor do Dezenove, o romancista busca a desmitificação do discurso oficial
sobre a história; como aquele, privilegia em seus romances o exame das forças
sociais mais próximas às classes médias e baixas, antes de dedicar-se ao escrutínio
das que detêm o poder. (pp. 100 e 102).
[Nota 2]
“Origem
de denominação de Cristâo-Velho e Cristão-Novo em Portugal, e as causas da
continuação desses nomes, como também da cegueira judaica, com o método para se
extinguir em poucos anos esta diferença entre os mesmos súditos e cegueira
judaica, tudo para aumento da religião católica e utilidade do Estado”
(Citado por Saraiva, 1994, p. 121).
[Nota 3]
“E porque é que o acontecimento só se deu sob
o governo de Pombal? Porque com ele sobem ao poder os próprios que a Inquisição
perseguia e os seus aliados. Sobe ao poder a burguesia mercantil e a elite
esclarecida que via no comércio a base da propriedade das nações. Até então
essa burguesia crescera em luta com a sociedade tradicional que se agarrava
cada vez mais desesperadamente ao mito. O governo pombalino, que se formou
muitos dos letrados da Revolução Liberal de 1820, marca o momento da mutação
qualitativa que arranca o poder, ou a sombra do poder, à nobreza tradicional.
Por isso o mito dos Cristão-Novos se desvaneceu sem deixar rasto” (SARAIVA,
1994, p. 210).
[Nota 4]
A solicitação foi deferida por alvará de 19
de Abril de 1709, guardado na Torre do Tombo:
"Senhor, diz Bartolomeu Lourenço que ele
tem descoberto um instrumento para se andar pelo ar, da mesma sorte que pela
terra, e pelo mar, e com muito mais brevidade, fazendo-se muitas vezes duzentas
e mais léguas de caminho por dia, no qual instrumento se poderão levar os
avisos de mais importância aos exércitos e terras muito remotas quase no mesmo
tempo em que se resolverem: em que interessa Vossa Majestade muito mais que
nenhum dos outros Príncipes pela maior distância do seu domínio, evitando-se
desta sorte os desgovernos das conquistas, que procedem em grande parte de
chegar muito tarde a notícia deles a Vossa Majestade. Além do que poderá Vossa
Majestade mandar vir todo o precioso delas muito mais brevemente e mais seguro.
Poderão os homens de negócio passar letras de cabedais com a mesma brevidade.
Todas as Praças sitiadas poderão ser socorridas tanto de gente como de munições
e víveres a todo o tempo, e retirar-se delas as pessoas que quiserem sem que o
inimigo o possa impedir. Descobrir-se-ão as Regiões que ficam mais vizinhas aos
Pólos do Mundo, sendo da Nação Portuguesa a glória deste descobrimento que
tantas vezes têm intentado, inutilmente, os estrangeiros."
"Hei por bem fazer-lhe mercê ao
Suplicante de lhe conceder o privilégio de que, pondo por obra o invento, de
que trata, nenhuma pessoa de qualidade que for, possa usar dele em nenhum tempo
deste Reino e suas Conquistas, com qualquer pretexto, sem licença do
Suplicante, ou de seus herdeiros."
[Nota 5]
Original no acervo da Torre do Tombo, em
Lisboa:
[Nota
6]
“Eis aqui uma pequena coisa que os Keller me
ensinaram. Perguntei a eles, no sh’ma,
porque há dois nomes para Deus, Yahweh e Elohenu (Sh’ma Yisroel, Adonai Elohenu, Adonai Echad: Ouve, Oh Israel, o
Senhor é nosso Deus, o Senhor é um. Adonai, Senho, é o substituto oral da
grafia YHVH, o mistério infinito, indivisível). Eles me disseram que um é
singular e o outro plural. YHVH – adonai, senhor – singular. Elohenu, plural,
deuses”. (EIGEN, 2017, p. 21).
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