sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Bartolomeu de Gusmão e o Memorial do Convento

Por J. P. A. Gonçalves

1. Narrativa: questões formais

Antes de entrar no assunto propriamente dito, cabe realizar alguns apontamentos sobre a narrativa do romance “Memorial do Convento”, de José Saramago. Isso se justifica porque é praticamente impossível passar indiferente ao estilo narrativo único das obras de Saramago. Sem se aprofundar muito, no entanto, no aspecto puramente formal, percebe-se de imediato uma ruptura de cunho sintático com a diacrítica, principalmente, no que diz respeito à construção de períodos muito longos das orações, que obriga o leitor a se deter em cada vírgula, em cada ponto final, sem o que perderia toda a compreensão do texto e o efeito vertiginoso provocado pela leitura dos parágrafos. Nenhuma palavra, nenhuma sinalização é por acaso ou é desperdiçada.


Outro recurso muito interessante é a introdução do diálogo dos personagens dentro destes longos períodos apenas marcando o início da fala com uma letra maiúscula, dispensando, portanto, as formas tradicionais de discurso direto e indireto e do uso do travessão para distinguir os personagens. Assim, o diálogo dos personagens parece se destacar do texto qual relevo na planície, isto é, sem apresentar ruptura no desenvolvimento da escrita. Muitas vezes, este diálogo se confunde com a própria descrição do narrador, que parece, tal como um personagem, presenciar as cenas descritas por ele mesmo; como se o narrador ora se apresentasse como um dos personagens, ora como um anônimo que vivencia a trama do livro. Isto cria um efeito de familiaridade muito grande entre o narrador e coisa narrada, que se percebe através da estruturação sintática, e que implode com a noção de tempo passado e presente.

Outro dado que vale a pena ressaltar é a ausência de pontos de exclamação e interrogação, os quais estão subtendidos a partir da construção da fala dos personagens e do contexto. Além destes aspectos apontados, caberia alguma observação também com relação à disposição dos capítulos, que não recebem título ou numeração. Esse desenvolvimento estilístico da narrativa produz, paradoxalmente, uma atmosfera misteriosa e, às vezes, irremediavelmente sarcástica, que emerge da própria complexidade da criação literária. Neste sentido, Saramago não poupa a religião nem uma visão otimista sobre o humanismo. Quanto ao narrador, como já se afirmou, ele próprio um personagem, às vezes, oculto, às vezes, presente; é um narrador onisciente. Porém, não é um narrador neutro, mas, engajado. Este estilo literário inovador e, muitas vezes, difícil, caracteriza inexoravelmente a obra de Saramago. Segundo o professor Horácio Costa (em depoimento em sala de aula, no 1º. sem. de 2018), em conversa revelada pelo próprio Saramago, tal estilo poderia ser definido como uma polifonia de múltiplas vozes apreendidas pelo autor que transcreve tudo aquilo que ouve num fluxo narrativo indeterminado. Finalmente, apontado por Costa (COSTA, 1999), a obra de Saramago remete a três autores essenciais da literatura portuguesa do século XIX que, de uma forma ou de outra, trabalharam o subgênero romance histórico. Um traço comum à obra de Almeida Garrett é a digressão; a ironia fina reverbera tanto em Saramago como em Eça de Queirós; e o romance histórico de Alexandre Herculano (COSTA, 1999) [Nota 1].

PLANO A - Realidade

Aspectos históricos sobre os cristãos-novos

Não se sabe ao certo quando os judeus chegaram à Península Ibérica. De acordo com algumas fontes, já teriam se estabelecido na região antes mesmo da conquista romana, no século III a.C. Outras, no entanto, afirmam que os judeus chegaram na península no contexto da diáspora, depois da destruição do Templo de Jerusalém, pelos mesmos romanos, no ano de 70 d.C. Com as invasões bárbaras e a conversão dos reinos visigodos ao cristianismo, os judeus passaram a ser perseguidos e obrigados a se converterem à fé cristã. Tal situação só teve fim quando os árabes ocuparam a Península Ibérica. Por ser uma religião aristocrática e guerreira, raros foram os episódios de intolerância religiosa praticados no período do Islão. Por séculos, os judeus viveram em paz e puderam desenvolver atividades das mais diversas, como agricultura, metalurgia, comércio, finanças, filosofia etc. Findada a guerra de reconquista e expulsos os “infiéis”, o reino de Espanha, constituído por bases nacionais atreladas ao catolicismo e representado pelo casamento da Rainha Isabel, de Castela, e do Rei D. Fernando II, de Aragão, passa a perseguir implacavelmente os judeus através da Inquisição. Estes ou são obrigados a se converterem ou, quando do Édito de 1492, são finalmente expulsos. Muitos deles fugiram para Portugal, onde já havia uma presença forte da comunidade judaica. Embora se ignore a quantidade de emigrados, alguns cálculos estimam em cerca de 120.000 indivíduos ou 20 mil famílias, o que representaria 1/5 da população de Portugal à época. Segundo António José Saraiva, até a expulsão em Portugal, no ano de 1496, os judeus não foram molestados (SARAIVA, 1994). Mas, diante de questões econômicas, já que população judaica era, no geral, mais rica do que a população local, os reis portugueses se convenceram a instituir a Inquisição em Portugal como forma de extorquir dinheiro dos ricos comerciantes judeus. Assim, os judeus foram forçados à conversão em massa, surgindo daí a figura do cristão-novo em Portugal.

De fato, é consenso que neste país o interesse financeiro foi a grande mola propulsora da Inquisição e, diante disso, pesava o interesse dos reis, inclusive, pelo controle do Tribunal do Santo Ofício. Saraiva chega a citar um autor, cristão-novo, do século XVIII, de nome Antonio Nunes Ribeiro Sanches, que chegara a afirmar em um documento [Nota 2] que a Inquisição e a “limpeza de sangue”, isto é, a prática da proibição de cristãos-novos ocuparem certos cargos no governo e no exército, era uma verdadeira fábrica de “cristãos-novos” (SARAIVA, 1994). Isso porque muitos indivíduos e famílias que já há muito haviam perdido qualquer laço com o judaísmo eram acusados de judaizar pelo simples fato de terem algum antepassado cristão-novo. Ainda segundo Saraiva, os cristãos-novos desapareceram definitivamente de Portugal quando das reformas pombalinas, que teriam posto fim na “fábrica de cristãos-novos”, já que aqueles que antes eram perseguidos (burgueses) ascendem ao poder no governo liberal de Pombal [Nota 3].

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão

Bartolomeu Lourenço nasceu no ano de 1685, em Santos, Brasil. De família muito católica, filho de Francisco Lourenço Rodrigues e Maria Álvares, foi irmão do diplomata Alexandre de Gusmão, que se notabilizou por obter êxito na disputa entre Portugal e Espanha envolvendo questões fronteiriças nas colônias do Novo Mundo, no chamado Tratado de Madri. Ambos se destacaram nos estudos, ainda no Colégio de Belém, Bahia, onde contavam com a proteção do padre jesuíta Alexandre de Gusmão.

Bartolomeu torna-se padre e muda-se para metrópole e realiza estudos na Universidade de Coimbra. Em abril de 1709, o padre Bartolomeu Lourenço enviou uma petição [Nota 4] ao rei D. João V solicitando a patente de um objeto voador inventado por ele: um aeróstato. Bartolomeu inicia a construção do "instrumento para se andar pelo ar" em maio daquele mesmo ano. Depois vai para Alcântara, numa quinta oferecida pelo rei e que lhe serve de fábrica para a invenção. No mês de agosto, o padre realiza cinco experimentos com pequenos balões, dos quais só os dois últimos foram bem sucedidos. O mais notório foi realizado dentro do palácio real, diante de dezenas de testemunhas; porém, o balão pegou fogo antes de atingir quatro metros de altura, sendo derrubado logo em seguida por funcionários reais, para evitar que um possível incêndio se alastrasse pelo teto do salão.

Segundo Rodrigo Moura Visoni e João Batista Garcia Canalle, a famosa passarola surgiu de um desenho [Nota 5] feito por um aluno do padre Bartolomeu Lourenço, D. Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes, filho primogênito do 3º Marquês de Fontes. Enquanto o padre Bartolomeu Lourenço trabalhava na quinta, o menino, então com 14 anos, elaborou, com o consentimento do próprio padre Bartolomeu, o desenho de um pássaro exótico, que seria movido por magnetismo, no intuito de desviar a atenção dos muitos curiosos que lhe importunavam. O desenho foi reproduzido em muitas cópias e em várias versões e rapidamente se espalhou por toda a Europa, tornando o padre Bartolomeu motivo de chacota. Nascia a alcunha, pejorativa, de “padre voador”.

Ainda de acordo com Visoni e Canalle, anos mais tarde, o padre Bartolomeu foi denunciado à Inquisição por manter relações com cristãos-novos e se converter ao judaísmo. A fuga foi bastante desastrada, e o padre, juntamente como seu irmão, o frei João Álvares de Santa Maria, também convertido ao judaísmo, partiram a pé para a Espanha. No caminho, o padre Bartolomeu veio a adoecer gravemente e faleceu aos 38 anos de idade na cidade de Toledo.

PLANO B - Ficção

2. Breve resumo da questão tratada

O elo entre o plano A (realidade) e plano B (ficcional) é a construção do Convento de estilo barroco da vila de Mafra pelo rei absolutista D. João V como forma de pagamento de uma promessa. O romance Memorial do Convento inicia-se com a revelação do frei Antônio de S. José de que, se o rei D. João V, casado com D. Maria Ana Josefa, construísse um convento na vila de Mafra, Deus lhe daria o tão desejado sucessor. Assim sendo, D. João V ordena a construção do convento nesta vila, que é a terra natal de um dos personagens principais do livro, o soldado Baltasar Mateus, o Sete-Sóis. Este perdera a mão esquerda na Guerra de Sucessão Espanhola e vai para Lisboa reivindicar junto ao rei uma pensão compensatória pela mutilação de guerra. Numa procissão de auto-de-fé inquisitorial, conhece sua futura mulher Blimunda, filha de uma condenada, e o Bartolomeu Lourenço, o padre voador. Os três são os personagens principais do romance. Mas, apesar de serem quase anônimos na multidão, ao contrário do que aponta Lukàcs sobre o personagem no romance histórico, os três não têm nada de comum. Ao contrário. Blimunda tem a incrível capacidade de ver por dentro das pessoas quando acorda em jejum; o padre Bartolomeu Lourenço idealiza a passarola, ou melhor, um avião, que voa por meio de alquimia; e Baltasar Sete-Sóis, que mesmo sem uma mão, executa a construção da dita passarola e voa de fato, juntamente com Blimunda e o padre Bartolomeu, na incrível máquina voadora, o que faria deles os primeiros aviadores da história da humanidade.

Alquimia

De fato, a passarola inventada pelo padre não voa graças às leis da moderna aerodinâmica, mas através da alquimia. Eis o ponto crucial, a máquina levanta voo por meio de um sistema de atração solar no qual dois cilindros de metal reservam vontades. Sim, vontades. As vontades são nuvens fechadas dentro das pessoas que só Blimunda pode enxergar. Então, o padre Bartolomeu encarrega Blimunda a colher vontades para encher os cilindros, algo que só se cumpre satisfatoriamente quando das mazelas provocadas pela epidemia de febre amarela em Lisboa. Evidentemente, as ideias do padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão não passariam indiferentes ao Tribunal do Santo Ofício, que vem a persegui-lo.

Cabala

Bartolomeu também é um herético, ao questionar a ortodoxia católica para dar crédito ao judaísmo. Isto fica claro quando o padre diz para Baltasar, em dado momento: “Eu sei do que me acusarão, se a minha hora chegar, dirão que me converti ao judaísmo, e é verdade”. Neste sentido, o padre Bartolomeu comete sacrilégio ao renegar o dogma da trindade, enquanto politeísmo, e proclama em alto e bom som que “Deus é uno em essência e em pessoa”. Mas o padre vai mais longe e conclui, numa frase que poderia ser compreendida como extraída da heteroxia judaíca cabalística: “Deus, sim, sim, se em mim está Deus, e sou Deus, sou-o de modo não trino ou quádruplo, mas uno, uno com Deus, Deus nós, ele eu, eu ele, Durus est hic sermo, et quis potest eum audire”. A Cabala surgiu por volta do século XII, misturando várias crenças místicas com interpretações de códigos secretos contidos no Velho Testamento, denominado pelos judeus de Torá. Segundo um autor contemporâneo, de origem judaica: “O salmos nos dizem que a alma é pura e a cabala acrescente que há um ponto da alma em contato com Deus o tempo todo” (EIGEN, 2017 p. 21). De certa forma isto vem de encontro com a interpretação cabalística da Bíblia, pela qual Deus tem dois nomes, Yahweh, isto é, tetragrama impronunciável YHVH ou por seu substituto “Senhor” (Adonai), que é singular, e Elohenu, que é plural, portanto, deuses (EIGEN, 2017) [Nota 6]. Portanto, de acordo com a Cabala, Deus é ao mesmo tempo um e múltiplo e, por isso, mantém um posto contato com cada coisa existente, já que todo o universo é uma manifestação divina.

Considerações finais

A construção do personagem padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão no romance Memorial do Convento é bastante interessante já que, de fato, o seu invento realmente voa em pleno século XVIII. Isto parece bastante simbólico. Ora, na época a ciência não estava desenvolvida o suficiente para que a aviação pudesse ser inaugurada. Ainda teríamos que esperar mais 200 anos para que Santos Dumont inventasse o seu 14 Bis. A única solução para que um objeto mais pesado que o ar pudesse levantar voo seria através da alquimia, precursora da química. Neste sentido, o padre Bartolomeu representaria o progresso diante da obscuridade religiosa e da ferocidade da Inquisição. Quanto ao judaísmo, de viés cabalístico, adotado pelo padre, poderia indicar uma aspiração pela liberdade religiosa em uma sociedade plural e democrática. Bastante sintomático é a longa e exaustiva passagem do romance que narra o episódio em que os trabalhadores de Mafra têm de ir a Pero Pinheiro buscar uma pedra enorme de mármore destinada à varanda do convento. Lá, havia sido construído “um carro que haveria de carregar o calhau, espécie de nau das índias com rodas”, e que, para puxá-lo, seriam necessários, além dos trabalhadores, quatrocentos bois e todas as ferramentas para o transporte. O translado da pedra é bastante conturbado, ocorrendo acidentes e até a morte de um trabalhador e de alguns bois, que são assustadoramente devorados pela população faminta dos arredores. A pedra é a antítese da passarola. Saramago relembra, ironicamente, que o Convento atravessará o tempo pela glória do rei D. João V, enquanto ninguém se lembrará dos milhares de trabalhadores que ergueram a construção. Por isso, tem toda razão Horácio Costa ao afirmar que:

“Detrás da alegoria barroca, que estrutura como um ímã o enredo do romance – pedra e ar, imobilidade e voo, hieratismo e invenção –, detrás da linguagem de extração não menos barroca que pulsa em Memorial do Convento, o pensamento saramaguiano segue próximo ao pensamento de Alexandre Herculano, sistematizador, democratizador, desmitificador”. (COSTA, 1999, p. 102).

BIBLIOGRAFIA

COSTA, H. “José Saramago e a tradição do romance histórico em Portugal”, in: REVISTA USP, São Paulo, n.40, p. 96-104, dezembro/fevereiro 1998-99.

EIGEN, Michael. “Cabala e psicanálise”. São Paulo: Blucher, 2017.

SARAIVA, Antonio José. “Inquisição e Cristãos-Novos”. Editorial Estampa, 1994.

SARAMAGO, José. “Memorial do Convento”. Lisboa: Editorial Caminho, 1994.

VISONI, Rodrigo Moura & CANALLE João Batista Garcia. “Bartolomeu Lourenço de Gusmão: o primeiro cientista brasileiro”, in: Rev. Brasileira de Ensino de Física, vol. 31, no. 3, São Paulo julho/setembro, 2009

ANEXOS

[Nota 1]

“José Saramago e a tradição do romance histórico em Portugal”, Horácio Costa

O recurso à ironia, que é uma característica da prosa de Saramago, poderia remeter, no contexto da literatura portuguesa, à ironia fina, tida e havida como uma “marca registrada” de Eça nas letras lusitanas, que o mestre do Realismo português soube manejar com admirável habilidade. (p. 2).

O traço estilístico afim entre Saramago e Almeida Garrett é a digressão. Já em duas de suas crônicas escritas durante a década dos 70, reunidas no livro Deste Mundo e do Outro (1971, 1ª  ed.), Saramago deteve-se sobre a figura e a obra do poeta, dramaturgo e romancista que, conforme rezam os compêndios, introduziu o Romantismo em Portugal (com a peça Camões, em 1825). (p. 99).

Como mencionei acima, a relação de José Saramago com Alexandre Herculano, o grande romancista histórico e historiador português do século passado, dá-se menos em termos textuais que ideológicos. (...) Como seu antecessor do Dezenove, o romancista busca a desmitificação do discurso oficial sobre a história; como aquele, privilegia em seus romances o exame das forças sociais mais próximas às classes médias e baixas, antes de dedicar-se ao escrutínio das que detêm o poder. (pp. 100 e 102).

[Nota 2]

Origem de denominação de Cristâo-Velho e Cristão-Novo em Portugal, e as causas da continuação desses nomes, como também da cegueira judaica, com o método para se extinguir em poucos anos esta diferença entre os mesmos súditos e cegueira judaica, tudo para aumento da religião católica e utilidade do Estado” (Citado por Saraiva, 1994, p. 121).

[Nota 3]

“E porque é que o acontecimento só se deu sob o governo de Pombal? Porque com ele sobem ao poder os próprios que a Inquisição perseguia e os seus aliados. Sobe ao poder a burguesia mercantil e a elite esclarecida que via no comércio a base da propriedade das nações. Até então essa burguesia crescera em luta com a sociedade tradicional que se agarrava cada vez mais desesperadamente ao mito. O governo pombalino, que se formou muitos dos letrados da Revolução Liberal de 1820, marca o momento da mutação qualitativa que arranca o poder, ou a sombra do poder, à nobreza tradicional. Por isso o mito dos Cristão-Novos se desvaneceu sem deixar rasto” (SARAIVA, 1994, p. 210).

[Nota 4]

A solicitação foi deferida por alvará de 19 de Abril de 1709, guardado na Torre do Tombo:

"Senhor, diz Bartolomeu Lourenço que ele tem descoberto um instrumento para se andar pelo ar, da mesma sorte que pela terra, e pelo mar, e com muito mais brevidade, fazendo-se muitas vezes duzentas e mais léguas de caminho por dia, no qual instrumento se poderão levar os avisos de mais importância aos exércitos e terras muito remotas quase no mesmo tempo em que se resolverem: em que interessa Vossa Majestade muito mais que nenhum dos outros Príncipes pela maior distância do seu domínio, evitando-se desta sorte os desgovernos das conquistas, que procedem em grande parte de chegar muito tarde a notícia deles a Vossa Majestade. Além do que poderá Vossa Majestade mandar vir todo o precioso delas muito mais brevemente e mais seguro. Poderão os homens de negócio passar letras de cabedais com a mesma brevidade. Todas as Praças sitiadas poderão ser socorridas tanto de gente como de munições e víveres a todo o tempo, e retirar-se delas as pessoas que quiserem sem que o inimigo o possa impedir. Descobrir-se-ão as Regiões que ficam mais vizinhas aos Pólos do Mundo, sendo da Nação Portuguesa a glória deste descobrimento que tantas vezes têm intentado, inutilmente, os estrangeiros."

"Hei por bem fazer-lhe mercê ao Suplicante de lhe conceder o privilégio de que, pondo por obra o invento, de que trata, nenhuma pessoa de qualidade que for, possa usar dele em nenhum tempo deste Reino e suas Conquistas, com qualquer pretexto, sem licença do Suplicante, ou de seus herdeiros."

[Nota 5]

Original no acervo da Torre do Tombo, em Lisboa:


[Nota 6]

“Eis aqui uma pequena coisa que os Keller me ensinaram. Perguntei a eles, no sh’ma, porque há dois nomes para Deus, Yahweh e Elohenu (Sh’ma Yisroel, Adonai Elohenu, Adonai Echad: Ouve, Oh Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um. Adonai, Senho, é o substituto oral da grafia YHVH, o mistério infinito, indivisível). Eles me disseram que um é singular e o outro plural. YHVH – adonai, senhor – singular. Elohenu, plural, deuses”. (EIGEN, 2017, p. 21).


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