quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Rogue One: hoje não tem estreia!!!


por Paula Vanessa

Enquanto muitos adoraram o Episódio VII de Star Wars e estão ansiosos para assistir o novo filme Rogue One, eu ainda estou decepcionada com o que vi no ano passado.  Só agora, depois de ter passado muito tempo, passada a tristeza e a decepção, é que resolvi escrever. Pode parecer um tema desatualizado, mas o que escrevo são justamente motivos que me farão não ir ao cinema hoje.

Acredito ainda que muitos daqueles que gostaram do mencionado episódio são do tipo de “pessoa bate-palmas”: toca o hino, bate palmas; casamento, bate palmas; votação no senado, bate palmas... Não querem estar por fora, não querem estar associados ao passado e querem demonstrar que estão bem informados e abertos para todo tipo de inovação. E quem não gostou não tem o direito de dizê-lo, porque senão corre o risco de ser banido da “comunidade Star Wars”.

Quando passar a histeria, provocada pelo retorno de mais um episódio da saga, e a vontade de rever o filme na telona, vai ser possível dizer: “não gostei”. Com certeza, vai ter um monte de gente afirmando que “O Despertar da Força” decepcionou. Pois, se a intenção era que o filme representasse uma ruptura com os episódios anteriores, ele deveria romper mesmo. Mas não foi o que aconteceu. Velhas histórias foram recontadas com “novos personagens”: o jovem Jedi seduzido pelo lado negro da força ou, então, o mestre decepcionado que some para um lugar inacessível.

Quando fui ao cinema no ano passado, desejava assistir um bom filme, com uma história emocionante e efeitos especiais fantásticos, mas, principalmente, para me integrar a um grande encontro mundial de rebeldes, de siths, de seres galáticos. Fui ao cinema participar do grande “rito de passagem” dessa epopeia moderna da sétima arte, onde a velha geração entrega para a nova o bastão que um dia pertencera aos deuses do Olimpo.

É por isso que o novo filme da série, Rogue One, me entristece muito, porque hoje eu gostaria de voltar aos cinemas em busca de novas alianças e não apenas para ver mais um capítulo da “novela Star Wars”. Não me sinto com forças para assistir esse filme depois do episódio VII... e esse número já é bem pesado para nós brasileiros... “O Despertar da Força” despertou em mim – e o trocadilho não é mera distração – muita tristeza pelo fato da história ter sido enlatada e vendida por comerciantes gananciosos. Pois, o único objetivo do vendedor é vender, não importa o quê e como, mas o produto tem de ser vendido.

Sob esta lógica mercantil, agora poderemos comprar Star Wars todo ano!!!!!!

Tudo bem, sabemos que esse é o mundo em que vivemos. Podemos não estar de acordo, mas isso não nos isenta da condição de cúmplices! Também somos consumidores insaciáveis!!!

Mas a saga Star Wars não poderia ter sido consumida pela vaidade de poucos e a ânsia pelo lucro dos novos proprietários da franquia (!).

Seria de bom alvitre se, pelo menos, a identidade dos fãs fosse preservada no filme.

Se a marca estampada na mercadoria, ao menos tivesse a nossa cara, teríamos saídos satisfeitos do cinema. Para comprar, temos que nos identificar com o produto. Mas, se a nova franquia reduz todo o ritual que envolve a série em uma mercadoria, os comerciantes deveriam ter pensado nisso antes de entregar o filme para um egocêntrico rodar!!!

Não é de hoje que nós humanos gostamos de contar e recontar histórias de heróis míticos. Não é privilégio da “sociedade do espetáculo” reviver os feitos dos deuses e semideuses, espelhar suas posturas, interpretar suas falas, imitar seus gestos. Desde muito tempo, outras narrativas tiveram vida própria e não dependiam apenas do talento do seu criador. Sempre contavam com a empatia de um público receptor que vou chamar aqui de comuns, ou seja, nós, os espectadores. Foram os comuns que consagraram Homero, transmitindo por milênios seu nome e sua genialidade. São os comuns que contam, recontam, vivem e recriam seus versos, eternizando o próprio Homero.

Já na Pré-história, na Idade do Bronze, circulavam histórias fascinantes como a de uma personagem que era atraída para o lado negro. O pessoal lá das cavernas contava a história do ”Ferreiro e do Diabo”, um tipo de Darth Vader, ao gosto dos comuns daquela época. Comum em latim é COMMUNIS, significa “ato de repartir deveres entre todos”. MUNUS, em latim significa ofício, obrigação e, ainda, dom, recompensa. A etimologia da palavra pode nos sugerir que são os comuns que transformam o dom em uma tarefa a ser compartilhada por e para todos. Ao se reapropriarem da historia, dão a ela significados subjetivos que lhes trarão uma sensação de pertencimento, de familiaridade, ao recontá-la sempre como se fosse parte de suas próprias trajetórias. E assim ela atravessa décadas, séculos, enfim, milênios.

Voltando aos nossos tempos, à série Star Wars, para que haja uma identificação com uma narrativa, uma empatia para com ela, supõe-se que todos os comuns revivam um momento em que Carrie Fisher, Mark Hamill e Harrison Ford aparecem juntos. Tal cena, em 2015, após décadas de “Guerra nas Estrelas”, seria antológica, lendária, única. Unir as três personas juntas, naquele momento em que gerações foram ao cinema participar de um “rito de passagem”, seria como se fosse uma forma de permitir que os comuns de nosso tempo se familiarizassem com os novos episódios da série. Unir tais personagens não seria repetir um enredo antigo, mas lhes dar um espaço respeitoso entre os novos protagonistas, até mesmo para que as primeiras gerações pudessem ter um sentimento de reconhecimento. Seria um momento de um grande reencontro, uma festa de confraternização. Depois de tantos anos, seria um reencontro de proporções mundiais... Mas alguém resolveu boicotar...

Tais personagens, eu os chamo de “personas” porque, em algum momento da trajetória desse nosso mundo, onde o real se confunde com o virtual, estes atores se transformaram em heróis, tanto quanto às personagens a que deram vida. São pessoas que se transformaram em personagens. Por isso, havia grande expectativa para que, atuando juntas, promovessem a união dos laços que atariam diferentes gerações. Personas que esperavam ser vistas. Esperavam estar juntas e poderiam realmente ter protagonizado no episódio VII um agradável happy hour.

Acredito que seria uma unanimidade, entre todos os fãs, assistir na telona a princesa Leia, Luke Skywalker, Han Solo (e até o Chewbacca) juntos em ação! Mas não! Deixaram estes personagens muito distantes uns dos outros e de nós, os comuns! Por exemplo, o Luke foi parar bem longe, em cima de um penhasco! Bem no alto e na pontinha... prestes a cair...

Esta última e enfadonha cena me faz lembrar aquela perguntinha infame que circulava às vésperas da estreia do episódio VII: por que o Luke não aparece no cartaz do filme? Porque simplesmente ele não aparece no filme!! Como bem disse minha filha: “Quem espirrou no final do filme não conseguiu ver o Luke Skywalker”.

Acredito, inclusive, que, se houvesse um pouco de sensibilidade da parte dos produtores, bastava apenas uma cena para estabelecer uma experiência vivida em comum pelas diferentes gerações presentes nos cinemas. Eu escolheria uma cena em que Luke, Han e Léia se abraçam no filme “Guerra nas Estrelas”, que depois virou “Star Wars: Uma Nova Esperança”. No final do filme quando os Rebeldes destroem a Estrela da Morte, Luke e Han saem de suas naves, se reencontram com Léia, e, abraçados, comemoram a vitória. Poderia haver esse abraço no episódio VII, que teria o valor de uma comemoração simbólica pela vitória da saga sobreviver por mais de 30 anos. O que se viu, no entanto, não foi um reencontro nem uma vitória, pois estes não foram levados em consideração pelo diretor nem pelos comerciantes de “O Despertar da Força”.

Seria uma cena memorável se os três heróis aparecessem unidos e depois cada um tomasse seu próprio rumo... Porque nós humanos não somos eternos... De fato, o filme é uma ficção, mas nós somos de carne e osso.

Porém somos nós, de carne e osso, que tornamos real a ficção.

Neste sentido, os três atores deveriam ter sido mais aproveitados pela produção; deveriam ter maior participação, já que são gente e não efeitos especiais. Sem dúvida, não são mais jovens. Mas continuam ótimos atores e os legítimos elos para dar continuidade à trilogia. Pena que não foi assim...

Todos estariam representados, personas e comuns, todos teriam se identificado. Se estes pudessem ter vivenciado a atuação dessas personas, que iriam abrir o caminho para a épica estelar no século XXI.

Para aqueles que no passado foram jovens e envelheceram juntos com seus heróis, e para aqueles que hoje são jovens e estão prontos a pegar o bastão dessa odisseia, a confraternização dos três heróis teria sido gratificante para o público em geral.

Não quero aqui sustentar um saudosismo empedernido. Todos esperavam novas personagens, pelos quais uma nova trama teria início, dando seguimento à aventura. Mas todos queriam ver seus heróis unidos celebrando a continuidade da trama.

O que me parece que rolou, no entanto, foi o fato de a vaidade humana em parceria com a ganância almejar produzir um “filme polêmico” e, por consequência, atraente para o mercado. Sim, qualquer polêmica, desde que desse o que falar. Os novos donos da franquia queriam ganhar muito dinheiro e os responsáveis pela filmagem queriam entrar para a história da sétima arte. Aí veio a falta de sensibilidade do diretor, roteirista, produtor, detentor dos direitos autorais, ou sei lá quem mais, ao se deter em um artifício óbvio, porém, não menos apelativo: matar um dos heróis e gerar polêmica com isso. Fácil, muito fácil, mas pouco inteligente.

Assim, mataram o Han Solo sob o pretexto de que, para se aliar ao lado negro da força, seu filho, Kylo Ren, teria de tomar uma atitude bem perversa para que assim justificasse sua opção pelo mal. Então o “novo Vader” mataria seu próprio pai, se tornaria extremamente maléfico...

A indignação foi total. Grande foi a decepção na sala de cinema em que eu estava. Houve até que fosse embora!

A saga tinha ficado incompleta, parou em “Star Wars: O Retorno de Jedi”. Ainda estamos aguardando o episódio VII, pois aquele de 2015 não fez jus às expectativas dos comuns. Ou então, reivindicamos “Star Wars: O Retorno de Han Solo”.

Ao deixar a sala de cinema, passei o ano todo pensando em várias hipóteses para explicar tão grande desapontamento em relação ao episódio em tela e só me veio uma palavra: vaidade. Vaidade igual àquela que fez Narciso cair no lago ao se admirar no espelho d’água. Pensei: o autor tem a oportunidade de se consagrar como sendo aquele quem criou o elo entre as gerações, o Homero do mundo pós-moderno, e se transforma em alguém indigno de ser laureado por elas. Realmente, que tipo de cara é escalado para dirigir um filme que é, mesmo antes de ser filmado, um sucesso de bilheteria e ainda assim consegue decepcionar?!!! Um filme que por si só tem o potencial de se tornar um sucesso retumbante, mas que, em suas mãos, não passou de um fragoroso fracasso. Não dá para entender. Só mesmo pensando em termos de vaidade. Vaidade que impediu o diretor de dar os méritos aos verdadeiros protagonistas da história e ao mestre da saga: George Lucas. Realmente, o novo diretor não queria ser lembrado como aquele que deu continuidade a série; queria, ao contrário, ter brilho próprio como um inovador. Mas não é fácil brilhar sem a empatia dos comuns. São os comuns que transformam um criador em gênio... Àquela pessoa de ego inchado, faltou-lhe generosidade e, principalmente, humildade.

O diretor queria uma ruptura a qualquer custo numa tentativa de se sobressair, a cima, da própria série. Não conseguiu. Talvez, queria dar um “up” em sua fama, a qualquer preço, mesmo que isso custasse o desapreço total pela saga, pelos fãs e, principalmente, pela herança das “gerações Star Wars”. Quis entrar para a história pela porta da frente, causar, impactar.

Impactante foi a sua burrice...

A verdade é que o filme não trouxe nada de inovador. Foi um patchwork das trilogias anteriores – e acredito que, realmente, era assim que tinha que ser. Mas nenhum dos fãs gostaria que o episódio VII representasse uma ruptura com os anteriores. Ao contrário, os fãs queriam matar a nostalgia e assistir a substituição dos antigos protagonistas pelos novos, numa transição continua que a todos contemplasse. Por isso, as referências, que são as cenas, as falas ou indicações que nos remetem aos acontecimentos anteriores, teriam de ser imprescindíveis.

Muitas cenas que, inclusive, deveriam desempenhar esta função de ganchos no episódio VII, embora muito aplaudidas pelos fãs, não cumpriram esse papel. Havia muitos outros momentos celebres que poderiam ter sidos usados como ótimas “referencias” e foram ignorados. Apesar desta falta, tudo certo, o público estava digerindo bem, e, como foi dito, aplausos foram arrancados no auditório, porque tínhamos a ideia de que era “um filme de passagem”.

Um “filme de passagem” é como um “rito de passagem”: ocorre um sacrifício, há uma grande comemoração e os mais velhos cedem lugar a uma nova geração, que será responsável pela condução do futuro.

A comunidade Star Wars toda estava lá, na esperança de experimentar a transformação intrínseca à Star Wars a partir de uma nova linguagem, feita por novos interlocutores.

Na minha opinião, a ideia que motivou a construção do personagem que representaria o novo vilão também foi de muito mal gosto. Que coisa mais doentia, um vilão parricida!!! Desnecessário apelar tanto para construção do mau. Existem tantos perfis nefastos que causam repulsa e poderiam a contento compor a personagem. Basta ter um pouco de criatividade e encontrar uma que dê bastante aversão. Se o problema era falta de inspiração, bastava entrar em um site de pesquisa da internet e digitar “10 passos para se criar um vilão”. Acho que teria saído coisa melhor daí. Um pouco de sadismo e de cinismo, e pronto! Kylo Ren já poderia ter ficado muito tenebroso.

É totalmente inconsistente o fato de o vilão ser um parricida, para lhe conferir legitimamente maléfica, quando descobrirmos que os novos personagens exibem destreza com o sabre de luz mesmo sem o treinamento necessário dos primeiros episódios. Mas apesar disso, ninguém estava se importando se a Rey sabia usar a Força sem ao menos ter sido preparada para isso por um Yoda; ou ainda muito menos para o fato de um Storm Trooper lutar com um sabre de luz tão facilmente como Luke; ou para os remendos dos filmes anteriores justificarem a Resistência etc. O que se esperava era apenas um “O filme de passagem” que pudesse dar continuidade a essa história que encantou tantas gerações ao redor do mundo, tantos comuns que transformaram “Star Wars” na “Odisséia” do Mundo Contemporâneo.

Não é exagero da minha parte. Os novos personagens estavam sendo bem aceitos por um público receptivo e até muito celebrados. Como já disse, havia uma necessidade de transmitir a tradição da saga para as novas gerações. Todos queriam novos Rebeldes, novos clones, novos Jedis, novos Palpatines, novos Landos, novos mestres... Estava valendo tudo. Ou, quase tudo...

Eu, particularmente, gostei muito quando a Rey e o Finn, em fuga, procuram uma nave e partem com a sucata mais incrível da galáxia: a Millennium Falcon. Gostei da cena em que Han, ao recuperar a Millennium, diz ao Chewie: “Estamos em casa”.

Se eu pudesse dar um pitaco no filme, colocaria o George Lucas de mecânico, consertando uma  X-Wing, ao estilo Hitchcock. Eu o aplaudiria de pé!!!
  
Tudo porque, para mim, havia um entendimento de que é necessário uma transformação para se adequar as linguagens do mundo de hoje, passados 30 anos desde que fora rodado o primeiro filme. Para dar continuidade, seriam necessários novos interlocutores engajados nessa empreitada.

Ao deixar passar a oportunidade de juntar os heróis da saga, o filme redundou em frustração, assim como todos os outros que levarão o nome Star Wars da franquia Disney. Matar Han Solo foi matar a vontade de voltar aos cinemas para assistir uma história de muito tempo atrás, ocorrida numa galáxia muito, muito distante...

Como retornar ao cinema para assistir Darth Vader na nova produção da série, Rogue One? Qualquer um pode vestir aquela capa e aquele elmo e atuar como essa personagem!!! Não é como o Luke, a Léia ou o Han!!!

Por que eu assistiria narrativas paralelas se não me identifiquei com o “episódio VII”? Até mesmo porque sei que Vader é um grande vilão e, como tal, será insuperável...

Por fim, após esse desabafo, aconselho a todos irem aos Shoppings Centers e passarem bem longe das salas de cinema. Quem sabe, nestes tempos natalinos, não será mais interessante tirar uma foto com Papai Noel (personagem de outra história que atravessa gerações!!!) e talvez pedir de Natal uma ratoeira... 

domingo, 20 de novembro de 2016

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domingo, 30 de outubro de 2016

Presidenta ou presidente? Gênero não pode ser neologismo

Por Zarina Monti Airumã

A posse da ministra Carmem Lúcia ao posto da presidência do supremo tribunal federal gerou polêmica nas redes sociais. Isso porque ao ser interrogada sobre qual forma verbal gostaria de ser chamada, presidenta ou presidente, a ministra respondeu com empáfia: “Eu fui estudante e sou amante da língua portuguesa e acho que o cargo é de presidente, não é não?” Ato contínuo, a figura mais bizarra daquele “egrégio tribunal” (Nota 1), Gilmar Mendes, emendou: “Ontem até dizem que teve uma presidenta inocenta”.

(Nota 1: As aspas em “egrégio tribunal” não é porque acredito que a suprema côrte é um instrumento de justiça, mas que o judiciário brasileiro, por seu protagonismo político, pôs por terra, de uma vez por todas aqui no Brasil, a teoria dos três poderes de Montesquieu).

Após a declaração infeliz da presidente do stf Carmem Lúcia, houve uma enxurrada de comentários de internautas em fóruns de discussão que expunham, um atrás do outro, inúmeros registros da palavra presidenta em textos que iam desde Machado de Assis a Camilo Castelo Branco.

Já os fascistas, que exibem orgulhosamente uma ignorância atroz, embora se creem muito cultos (!!!), como era de se esperar, rejubilaram com a ministra.

Tal episódio, que poderia passar por trivial, esconde uma questão muito mais profunda do que parece.

Ao aproximarmos superficialmente da questão, a declaração de Carmem Lúcia demonstra, a princípio, que ela teria corrigido tardiamente Dilma Rousseff quando esta, ao ser eleita ao cargo da presidência da república, optou por ser chamada de presidenta, assim mesmo, no feminino.

Atravessando a superfície, numa análise mais detida da frase da atual presidente do stf, duas coisas sobressaem: primeiro, que ela, Carmem Lúcia, foi estudante (verbo no passado) e não é mais; e, segundo, que a ministra é uma amante bem infiel da língua portuguesa. Pois, além de manifestar uma visão simplista sobre a linguagem, rigorosamente, presidente não é cargo mas, sim, que preside [adjetivo] ou título [substantivo] de quem exerce o cargo da presidência. Como então o cargo não é presidente e, sim, função de quem preside, não acarretaria maiores constrangimentos dizer cargo de presidenta. Em o “cargo é de presidente”, o substantivo presidente está no genitivo regido pela preposição de antecedida pelo verbo ser, por significar possuidor do cargo. Logo, o cargo (é do ou é da) pertence ao presidente ou à presidenta. Pois é, ministra, achou errado!

Quanto a intervenção de Gilmar Mendes, vale o velho ditado: insistir em um erro é burrice.

Afora os deslizes gramaticais, se o cargo é de presidente, a mulher que o ocupa é, evidentemente, a presidenta.

De fato, a palavra presidenta é recorrente, na língua portuguesa, desde pelo menos o início do século XIX. (Ver referências no fim do texto). No francês, no espanhol e no galego, muito antes disso.

Se, no entanto, os anos de 1800 pareçam relativamente recentes, é bom lembrar que a generalização da palavra presidente como chefe de Estado também é recente. Data, obviamente, da vigência do presidencialismo.

A origem é latina e literalmente significa “estar à frente”. Os romanos, a partir da era cristã, utilizavam-na para designar genericamente governante de província ou outras funções na magistratura. Na república de Veneza, o vocábulo ganhou vitalidade, mas só a partir da independência dos EUA, no século XVIII, a partir de uma releitura idealizada da frugalidade romana, tornou-se de uso corrente o sentido supracitado.

(A título de curiosidade, o Dicionário de Etimologia da Língua Portuguesa Pedro Machado registra do ano de 1457, “calisto terceiro era presidente na Ygreja”, Desc. I, p. 545; e “havendo quinze anos, um mês e sete dias que presidia na Igreja de Deus”, Frei Bernardo de Brito, Monarquia Lusitana VI, cap. II, século XVI. “Presidência” data do século XVII. Ao que parece, o termo no português era empregado no jargão eclesiástico, para se referir ao papado).

Mas se para nós a palavra presidente no feminino causa estranheza, o que não ocorreria o mesmo com a palavra governanta, é porque o contexto social até os dias de hoje impediu a mulher de ocupar funções de liderança, como a presidência de qualquer coisa.

Isso porque a linguagem é um reflexo da composição social. Governanta, no caso, era uma funcionária que se empregava numa casa de família para educar crianças. Governante é o chefe de Estado, o mandatário, o comandante etc. O significante é o mesmo, mas o conteúdo ideologicamente distinto.

A mulher, nas sociedade patriarcais, sempre ocupou posições inferiores, geralmente ligadas a tarefas domésticas. Portanto, o respectivo contexto sociológico sempre determinou as distinções de gênero em sociedade, relegando aos escalões inferiores a condição da mulher, refletindo na linguagem, que foi forjada com o selo masculino. A neutralidade da linguagem, por isso, dissimula uma ideologia fortemente machista, de séculos e mais séculos de violência, dominação e opressão.

Ora, em um mundo em que até bem pouco tempo as mulheres tiveram de se organizar e lutar por seus direito, como sufrágio universal, ou seja, conquistar o direito de votar em um presidente (!!!), o grande equívoco foi acreditar que a presidenta Dilma Rousseff teria inventado um neologismo, criado para marcar o ineditismo do fato de uma mulher se tornar autoridade máxima da república.

No Brasil, por exemplo, dos 36 presidentes, apenas um é mulher: Dilma Rousseff. (Nota-se a desinência masculina marcando coletividade ou sempre dissimulada pela neutralidade). Assim, como a palavra presidenta poderia soar bem aos ouvidos acostumados a ouvir palavras denominando homens sempre mandando em tudo? Como poderia a palavra presidenta ser de uso disseminado se, até bem pouco tempo atrás, as mulheres sequer podiam votar?

Mas, ainda que presidenta fosse um neologismo, seria extremamente justificável a novidade ortográfica, e a recusa em chamá-la pelo termo, apoiando-se numa suposta ortodoxia, por parte de setores reacionários, indica apenas uma tendência social refratária a mudanças.

Ainda assim, muitos saíram em defesa da presidente do supremo tribunal, argumentando que o stf não era ambiente para experiencialismos linguísticos, como o uso de neologismos. (Como se aquele ambiente fosse uma casa respeitável!)

Nada mais falacioso.

Ora, em termos rigorosos, qual palavra da língua portuguesa não é neologismo? Ou alguém acredita em um etéreo mundo das ideias de palavras e regras gramaticais puras, eternas, e imutáveis?

Na verdade, como é bem sabido, a língua portuguesa é, como todas as línguas neolatinas, derivada do latim vulgar, isto é, o latim mal falado, popular, contaminado por barbarismos e estrangeirismos, e de maneira alguma é a flor do Lácio; é um de seus filhos bastardos.

Toda a língua tem uma natureza plástica, contraditória, mutável. Se não fosse assim, os europeus e os indianos ainda falariam o mesmo idioma, o indo-europeu.

A língua portuguesa não é diferente. Ela se transformou, ao longo do tempo (diacronia), está em constante variação (sincronia) e será uma língua distinta no futuro. Tal fenômeno é bem conhecido entre os linguistas e é inevitável.

Mas não é preciso ir tão longe. O neologismo “você”, por exemplo, formado por aglutinação do pronome de tratamento “vossa mercê”, hoje é tão “natural” que nenhum gramático, por mais purista ou saudosista que seja, interditaria o seu uso sob pena de cometer erro gravíssimo.

Portanto, a norma culta é uma ficção. Um arquétipo que só encontra respaldo nos livros de gramática. Funciona como um lastro e, de certa forma, como um segregador social quando alguma circunstância obriga o seu uso, geralmente restrito à escrita, em provas de concurso público, editoras etc.

No dia a dia, entretanto, assim como no trânsito, ninguém respeita as regras (gramaticais). Porém, diferentemente do trânsito, onde as infrações das normas podem acarretar acidentes gravíssimos, o estrito cumprimento da gramática normativa inviabilizaria a plena fluência da comunicação, já que a fala é regida por outras leis.

Há, sem dúvida, um descompasso entre a gramática e a língua viva. Aquela sempre chega atrasada e de tempos em tempos tem de ser atualizada, ou melhor, corrigida pelo uso coloquial!

Um caso clássico disso foi imortalizado por Oswald de Andrade no poema Pronomiais: “Dê-me um cigarro; Diz a gramática; do professor e do aluno; E do mulato sabido; Mas o bom negro e o bom branco; Da nação brasileira; Dizem todos os dias; Deixa disso camarada; Me dá um cigarro”. Hoje, a gramática se rendeu ao uso vulgar e consagrou como correto a colocação pronominal um tanto idiossincrática do brasileiro, que outrora ou em terra lusitana seria pecado gramatical (Nota 2).

(Nota 2: O referido pronome de tratamento “você” também foi assimilado normativamente pela gramática portuguesa, embora no português brasileiro ocasionou um grande estrago, com a supressão da segunda pessoa, bem como sua respectiva conjugação verbal, que caiu em desuso, a desestabilização dos demonstrativos “este” e “esse” etc.).

Aliás, um dos primeiros exercícios do curso de linguística é mostrar como os defensores da norma culta cometem erros grosseiros de português. Os exemplos são numerosos. Tais exercícios, além de proporcionar boas gargalhadas em sala de aula, é uma espécie de batismo de fogo para os estudantes, que são alertados a atentarem para a complexidade da língua, de evitar preconceitos linguísticos, eivados por questões de classe social, regionais, de gênero etc.

Mas o que subjaz toda esta discussão, no entanto, é uma questão política e não linguística.

Quando Dilma Rousseff foi eleita, ela procurou no vernáculo (e encontrou) uma designação que melhor qualificava o fato, inédito no Brasil, de um mulher comandar a presidência da república. Tal ato estava repleto de simbolismo, demarcava o empoderamento da mulher em posições tradicionalmente reservadas a homens.

A palavra presidenta, então, virou questão de honra para os conservadores. Estes sempre demonstraram má vontade e recusa em atender o pedido da presidenta. (Jamais tiveram a delicadeza de um Lewandowski). Chamavam-na reiteradamente de presidente, numa clara atitude provocativa e afrontosa. Mais do que um representante dos Partidos dos Trabalhadores, o que lhes causava ojeriza era o fato de uma mulher chegar ao poder.

Por isso, Carmem Lúcia ao optar pela forma supostamente neutra, no entanto, carregada de sentidos implícitos machistas, escreveu mais uma passagem vergonhosa, dentre muitas, na anedótica história brasileira, fazendo jus ao complô de conspiradores golpistas que, ao assaltarem o poder, rebaixaram todas as mulheres (e negros também) a cargos de segundo escalão no governo.

Carmem Lúcia abdicou de sua condição de mulher.

Ao querer de modo sutil humilhar Dilma, a ministra acabou por patentear solenemente toda a sua mediocridade. Com seu cinismo maldoso, apenas exibiu a prepotência dos tolos.

Dilma passou incólume pelo escândalo de corrupção que atingiu todos os partidos, inclusive o Partido dos Trabalhadores. Ela se tornou um incômodo para a classe política. Foi vítima de um pacto nacional pela corrupção que envolveu os três poderes, todas as instituições brasileiras, os setores empresariais e a própria sociedade.

As manifestações e os panelaços não eram, afinal, contra a corrupção; eram contra a corrupção de um partido, contra um projeto de poder de longa duração, contra a “ditadura comunista”, contra a “revolução bolivariana”, contra o Foro de São Paulo, contra a PEC das domésticas etc., etc., etc.

A missão dos usurpadores foi trazer de volta a paz dos corruptos. A sociedade civil, numa atitude cúmplice, de quem também age nas sombras, se comportou como o avestruz, que põe a cabeça dentro de um buraco para não ver o perigo.

A estrutura social do Brasil mais parece com a do Ancien Régime. Os ricos e poderosos isolados do resto do povo, numa espécie de Palácio de Versalhes de cristal, inventaram um Estado que é um Leviatã às avessas.

Antes de terminar, gostaria de mencionar que o radical da palavra ministro vem da palavra latina “mininus”, isto é, pequeno, parvo, menor.

A associação fortuita do nome de Carmen Lucia ao do grande escritor Machado de Assis é a maior glória que poderia ter sido alcançada pela atual presidente do stf, ainda que tal associação abra um abismo entre eles e revele a monumental pequenez da ministra.

Num país em que Josés Dias são elevados à categoria de sumidades intelectuais (vide FHC), não é difícil de entender MINIstros como Carmem Lúcia.

Carmem Lúcia ou Machado de Assis é uma questão de escolha. É uma decisão cultural e ao mesmo tempo política, entre o retrocesso e os avanços sociais. Eu fico com Machado de Assis. Mas também com Clarice Lispector, Virginia Woolf, Simone de Beauvoir, Laura Esquivel, Emily Brontë, etc. ,etc., etc.

Em tempo: numa pesquisa rápida na internet, separei alguns registros de presidenta. Todos estão linkados e podem ser encontrados nos seguintes sites: “Discórdia Gramatical” (excelentes artigos) e “dicionarioegramatica.com” (um prato cheio para que gosta de estudar a língua portuguesa):

Diccionario portatil portuguez-frances e francez-portuguez (1812), de Domingos Borges de Barros, diplomata e senador brasileiro (p. 347): Presidenta, s.f. président.

Gazeta de Lisboa registra, numa edição de 1818: uma corveta chamada “Presidenta”.

Historias de meninos para quem não for creança, de António Lobo de Barbosa Ferreira Teixeira (1835), faz menção a uma marquesa como “presidenta”:

Otim literario em fórma de soliloquios, de José Agostinho de Macedo, tomo III (1841): “(...) e a presidenta das gritadoras da escólas de Athenas…”

Revista Popular de Lisboa (1851) também se referia à “presidenta” de uma reunião.

Archivo pittoresco  (1858), jornal de Lisboa: “Como presidenta ia a madre Maria Espírito Santo (...)”

Dicionário Caldas Aulete (1881) de Antônio Feliciano de Castilho.

Tradução da obra As Sabichonas (Les Femmes Savantes), do dramaturgo francês Molière, por meio do escritor português Antonio Feliciano de Castilho, em 1872: “Mais gratidão lhe devo, immortal presidenta” (p. 128); “À nossa presidenta, e às minhas sócias, peço se dignem perdoar-me o intempestivo excesso” (p. 153); “Nada, nada! Escusa, presidenta, de insistir mais” (p. 230).

Dicionário de Português-Alemão de Michaëlis (1876).

O Universo Ilustrado (1878) menciona “presidenta”.

Anos depois, no Brasil, Machado de Assis utilizaria o vocábulo em Memórias Póstumas de Brás Cubas(publicada pela primeira vez em 1881): “Na verdade, um presidente, uma presidenta, um secretário, era resolver as cousas de um modo administrativo”.

Dicionário Cândido de Figueiredo (1899): "Presidenta, f. (neol.) mulher que preside; mulher de um presidente. (Fem. de presidente.)"

Vocabulário oficial da língua portuguesa, elaborado em 1912 por Gonçalves Viana.

Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras desde a sua primeira edição, em 1932; no Dicionário da Academia Brasileira de Letras; e estava já no primeiro Vocabulário Ortográfico sancionado pela Academia de Lisboa, de Portugal, em 1912 (o vocabulário integral pode ser acessado aqui).

Vocabulário do português por Rebelo Gonçalves (1966).