terça-feira, 1 de março de 2022

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Por Nilza Monti Pires

Na beira de um riacho, cercado por miúdas flores brancas, rosadas e azuladas, um lugar agradável por suas flores delicadas e verdes folhagens.

Ali morava uma família de cigarras, elas viviam sempre contentes e felizes, ainda mais agora com a cigarrinha que acabara de nascer.

A mãe da nova cigarrinha tinha um costume, uma mania muito interessante: nas noites quando aparecia a lua com seu brilho prateado, ela levava o seu bebê para ensinar uma bela canção sobre a claridade do luar que tanto admirava, e assim deu o nome ao seu bebê de Lua.

Quando a noite caía, lá ia a jovem mãe levando a Cigarrinha Lua para contemplar o luar e ensinar a linda música que cantava.


As outras cigarras não se importavam e viam com bons olhos aquela mania da Cigarra Mãe levando o seu bebê e até achavam graça.

Assim foram passando os dias até o fim de outono.

Numa noite de inverno, o vento soprava frio e gelado, e as nuvens escuras anunciavam uma grande tempestade.

O vento era tão violento e impiedoso que até de longe se ouvia os murmúrios da floresta, e as folhas das árvores voavam por toda a parte. A tempestade veio tão forte que o volume da água da chuva corria por quilômetros, destruindo a casinha das cigarras, levando tudo por água abaixo.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

E assim foi durante a noite toda, e ao amanhecer a chuva continuava miúda e constante.

Estava tudo revirado, havia lama por toda parte.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Desesperada, a jovem Cigarra Mãe procurava ansiosa por sua filha, a Cigarrinha Lua, mas era tudo em vão, não a encontrava de jeito nenhum, mas mesmo assim insistia em procurar. Estava amargurada de não encontrar a sua filha.

Muito distante dali a Cigarrinha Lua estava viva, tinha sido levada pelo vento.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Quando a tempestade passou a Cigarrinha Lua tentou procurar sua mãe, mas percebeu que estava muito longe de sua casa, ficou desesperada e começou a chorar.

Naquela noite fazia muito frio, já estava escuro e terrivelmente gelado.

Entretanto, por ali passava uma Formiga Noturna, que se deparou com a cigarrinha perdida.

- Está chorando? perguntou a Formiga Noturna.

- Sim, respondeu a Cigarrinha Lua, não estou vendo ninguém da minha família, estou perdida, desorientada. Você sabe onde fica este lugar que estamos?

- Eu não sei, também estou procurando minha família, a tempestade destruiu todo o formigueiro onde eu morava.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

- Estou com frio e muito medo, disse a Cigarrinha Lua.

- Encontrei um lugar muito bom, estou indo para lá, quer ir também? perguntou a Formiga Noturna.

- Eu gostaria, mas não consigo andar nem voar, acho que uma das minhas asas está quebrada.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

- Então vou te ajudar, disse a Formiga Noturna, sou uma formiga grande e posso te carregar.

Assim a Formiga Noturna levou a Cigarrinha Lua nas costas.

Quando as duas chegaram, a Formiga Noturna estava muito cansada, mas o lugar encontrado era quente e confortável, ficava num buraco no tronco oco de uma árvore.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

A Cigarrinha Lua olhou demoradamente e veio lembranças de um lugar querido: a sua casa.

- O que achou daqui? questionou a Formiga Noturna, interrompendo o pensamento da Cigarrinha Lua.

- Achei ótimo, muito bom, fiquei muito feliz mas ao mesmo tempo estou triste porque não vou poder voar por causa da minha asa quebrada.

- Vou dar um jeito na sua asa quebrada, disse a Formiga Noturna.

- O que você vai fazer? perguntou a Cigarrinha Lua, com uma certa desconfiança.

- Pode deixar, eu tenho as minhas habilidades. A minha saliva é bem grudenta e seca como uma cola. Vou cuspir na ponta das suas asas, que vão ficar bem presas até você ficar curada.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

- E até quando ficarei assim?

- Até quando terminar o inverno.

A Cigarrinha Lua foi dormir tranquila e satisfeita.

No dia seguinte acordou bem melhor, suas asas estavam presas e não estavam mais caídas, já não sentia mais dor, estava feliz e animada, conseguia andar, coisa que não fazia antes.

- Que bom que está feliz, disse a Formiga Noturna, agora é só esperar o inverno passar.

- Não sei como te agradecer, falou a Cigarrinha Lua, enquanto caminhava, ainda sem firmeza, num zigue-zague para cá e para lá.

Quando a noite chegou o frio ainda era intenso e congelante e a Formiga Noturna se preparava para sair.

- Vai sair nesse frio? indagou a Cigarrinha Lua.

- Sim, passo as noites andando, gosto de ver a lua, as estrelas, e sentir o perfume do alecrim, por isso sou uma formiga noturna, e também para tornar mais leve meu sofrimento de não encontrar minha família.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Entretanto, os dias foram passando, o frio continuava interminável, tudo parecia adormecido e a Cigarrinha Lua já caminhava pequenas distâncias sem tropeço e sem dificuldade. Ansiava por voar, para encontrar sua mãe, mas não tinha certeza se isso ia acontecer novamente. Sentia muito medo e seus olhos distantes encheram de lágrimas.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Um belo dia o sol apareceu retraído entre as nuvens.

A Formiga Noturna ficou alegre, pois era um indício de dias melhores que estavam por chegar.

Certo dia ela convidou a Cigarrinha Lua para dar um passeio e, no meio do caminho, falou:

- Em breve vou separar as suas asas presas e você vai poder voar.

A Cigarrinha Lua ficou muito feliz com a notícia e ao mesmo tempo ficou temerosa e disse:

- Será que vai dar certo?

- Sei que vai dar certo, respondeu com segurança, no começo terá algumas dificuldades mas depois tudo vai correr bem.

Os dias foram se tornando cada vez mais quentes, o céu estava azul, o sol parecia forte e poderoso, tudo florescia, as flores começavam a desabrochar. Era o início da primavera.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

No dia seguinte, a Formiga Noturna chegou perto da Cigarrinha Lua e falou:

- Fiz os meus cálculos matemáticos e hoje vou separar as suas asas.

- Então é hoje?

- Sim, exatamente hoje.

- Hoje vai ser o dia mais feliz da minha vida!

E assim com muito cuidado a Formiga Noturna separou com facilidade as duas asinhas presas da cigarrinha.

- Agora você está livre, vai poder voar novamente, disse a Formiga Noturna.

- Que bom! Agora vou poder voar, disse alegremente a Cigarrinha Lua, e as duas comemoraram.

Realmente, no começo, a Cigarrinha Lua tinha certa dificuldade ao tentar voar, às vezes, ela caía, mas com o tempo já dava pequenos saltos e depois de alguns dias voava muito bem, ia pra cá e pra lá.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Uma noite de primavera, no céu as estrelas brilhavam, e entre as nuvens se exibia vaidosamente a lua, iluminando toda escuridão.

A noite estava agradável e o luar inebriante, por um momento a Cigarrinha Lua sentiu vontade de cantar, lembrou da sua mãe que a levava para ensinar uma bela canção e pensou: “Onde estaria minha mamãe neste momento sob o luar de prata?” Subiu num tronco bem alto e começou a cantar a linda melodia que sua mãe ensinou.

O canto da Cigarrinha Lua era tão lindo, tão suave que se podia ouvir nos quatro cantos da floresta.

Todos os animais paravam para ouvir e apreciar o seu belo canto, até a Formiga Noturna se surpreendeu e resolveu parar para escutar.

Era tão alto seu canto que se ouvia bem lá distante, chamando a atenção da Cigarra Mãe que ficou surpresa e confusa.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

- Essa é a minha música, pensou a Cigarra Mãe, será que estou sonhando, só pode ser minha filha cantando ao luar.

Respirou fundo e mais que depressa saiu voando em direção ao som familiar. Não tinha dúvida, era Cigarrinha Lua.

Voou com muita rapidez, que instantaneamente chegou lá, e ao ver sua filhinha cantando ao luar seus olhos se encheram de lágrimas e de alegria ao mesmo tempo.

A Cigarrinha Lua ao ver sua mãe nem acreditou, correu para abraçá-la, e por um longo tempo abraçadas ficaram.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

- Que bom ter te encontrado, todos estão te esperando, agora podemos ir para casa, disse a Cigarra Mãe.

- Como esperei por este momento, disse Cigarrinha Lua, mas tenho uma amiga que me salvou e não posso deixar de ajudar, porque ela está perdida também.

- Onde ela está agora, porque quero agradecer, disse a Cigarra Mãe.

- Ela é uma Formiga Noturna, a tempestade levou ela para longe da família e, por isso, está muito triste.

- Vamos convidá-la para morar com a gente, inclusive, perto de casa tinha uma formiga procurando desesperadamente por sua filha, até procurávamos juntas, disse a Cigarra Mãe. Será que não é a sua amiga?

Logo que a Formiga Noturna chegou, a Cigarra Mãe falou:

- Primeiramente quero te agradecer por ter salvo a vida da minha filha. Lá onde eu moro tem uma formiga que procura por sua filha, acho que pode ser você.

- Sim, pode ser e é o meu maior desejo reencontrar minha mãe, seria muita alegria. Mas deve ser bem longe daqui e eu ando muito lentamente, e nem sei quando vou chegar lá.

Aí, a Cigarrinha Lua falou:

- Você me carregou quando eu estava com a asa quebrada, agora sou eu que vou carregar você.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

E lá se foram embora, voando. Chegando a Formiga Noturna viu a sua mãe, e ficou tão feliz, e as duas choraram, e ficaram abraçadas com muita alegria.

- Eu tinha certeza que eu ia te encontrar, disse a mãe da Formiga Noturna, esperei muito por este momento!

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Quando a noite caiu, iluminou o luar com seu clarão reluzente, a Formiga Noturna saiu para dar o seu passeio e ver as estrelas do céu, enquanto a Cigarrinha Lua saiu para cantar uma bela Sonata ao Luar. As duas amigas nunca mais se separaram.

A Cigarrinha Lua e a Formiga Noturna

Texto: Nilza Monti Pires

Ilustrações: Paula Vanessa, Sabrina Paloma e Annina Ramona

Revisão: Nilza Monti Pires, Paula Vanessa, Diego e Jean

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