Por Nilza Monti Pires
Na beira de um riacho, cercado por miúdas flores brancas, rosadas e azuladas, um lugar agradável por suas flores delicadas e verdes folhagens.
Ali morava uma família de cigarras,
elas viviam sempre contentes e felizes, ainda mais agora com a cigarrinha que
acabara de nascer.
A mãe da nova cigarrinha
tinha um costume, uma mania muito interessante: nas noites quando aparecia a lua
com seu brilho prateado, ela levava o seu bebê para ensinar uma bela canção
sobre a claridade do luar que tanto admirava, e assim deu o nome ao seu bebê de
Lua.
Quando a noite caía, lá ia a
jovem mãe levando a Cigarrinha Lua para contemplar o luar e ensinar a linda
música que cantava.
Assim foram passando os dias
até o fim de outono.
Numa noite de inverno, o vento soprava frio e gelado, e as nuvens escuras anunciavam uma grande tempestade.
O vento era tão violento e
impiedoso que até de longe se ouvia os murmúrios da floresta, e as folhas das árvores
voavam por toda a parte. A tempestade veio tão forte que o volume da água da
chuva corria por quilômetros, destruindo a casinha das cigarras, levando tudo
por água abaixo.
E assim foi durante a noite
toda, e ao amanhecer a chuva continuava miúda e constante.
Estava tudo revirado, havia
lama por toda parte.
Muito distante dali a Cigarrinha
Lua estava viva, tinha sido levada pelo vento.
Quando a tempestade passou a
Cigarrinha Lua tentou procurar sua mãe, mas percebeu que estava muito longe de
sua casa, ficou desesperada e começou a chorar.
Naquela noite fazia muito
frio, já estava escuro e terrivelmente gelado.
Entretanto, por ali passava
uma Formiga Noturna, que se deparou com a cigarrinha perdida.
- Está chorando? perguntou a
Formiga Noturna.
- Sim, respondeu a Cigarrinha
Lua, não estou vendo ninguém da minha família, estou perdida, desorientada. Você
sabe onde fica este lugar que estamos?
- Eu não sei, também estou
procurando minha família, a tempestade destruiu todo o formigueiro onde eu
morava.
- Estou com frio e muito
medo, disse a Cigarrinha Lua.
- Encontrei um lugar muito
bom, estou indo para lá, quer ir também? perguntou a Formiga Noturna.
- Eu gostaria, mas não
consigo andar nem voar, acho que uma das minhas asas está quebrada.
- Então vou te ajudar, disse
a Formiga Noturna, sou uma formiga grande e posso te carregar.
Assim a Formiga Noturna
levou a Cigarrinha Lua nas costas.
Quando as duas chegaram, a Formiga
Noturna estava muito cansada, mas o lugar encontrado era quente e confortável,
ficava num buraco no tronco oco de uma árvore.
A Cigarrinha Lua olhou
demoradamente e veio lembranças de um lugar querido: a sua casa.
- O que achou daqui?
questionou a Formiga Noturna, interrompendo o pensamento da Cigarrinha Lua.
- Achei ótimo, muito bom,
fiquei muito feliz mas ao mesmo tempo estou triste porque não vou poder voar
por causa da minha asa quebrada.
- Vou dar um jeito na sua
asa quebrada, disse a Formiga Noturna.
- O que você vai fazer? perguntou
a Cigarrinha Lua, com uma certa desconfiança.
- Pode deixar, eu tenho as
minhas habilidades. A minha saliva é bem grudenta e seca como uma cola. Vou
cuspir na ponta das suas asas, que vão ficar bem presas até você ficar curada.
- E até quando ficarei
assim?
- Até quando terminar o
inverno.
A Cigarrinha Lua foi dormir
tranquila e satisfeita.
No dia seguinte acordou bem
melhor, suas asas estavam presas e não estavam mais caídas, já não sentia mais
dor, estava feliz e animada, conseguia andar, coisa que não fazia antes.
- Que bom que está feliz,
disse a Formiga Noturna, agora é só esperar o inverno passar.
- Não sei como te agradecer,
falou a Cigarrinha Lua, enquanto caminhava, ainda sem firmeza, num zigue-zague para
cá e para lá.
Quando a noite chegou o frio
ainda era intenso e congelante e a Formiga Noturna se preparava para sair.
- Vai sair nesse frio?
indagou a Cigarrinha Lua.
- Sim, passo as noites
andando, gosto de ver a lua, as estrelas, e sentir o perfume do alecrim, por
isso sou uma formiga noturna, e também para tornar mais leve meu sofrimento de
não encontrar minha família.
Entretanto, os dias foram
passando, o frio continuava interminável, tudo parecia adormecido e a Cigarrinha
Lua já caminhava pequenas distâncias sem tropeço e sem dificuldade. Ansiava por
voar, para encontrar sua mãe, mas não tinha certeza se isso ia acontecer
novamente. Sentia muito medo e seus olhos distantes encheram de lágrimas.
Um belo dia o sol apareceu
retraído entre as nuvens.
A Formiga Noturna ficou
alegre, pois era um indício de dias melhores que estavam por chegar.
Certo dia ela convidou a Cigarrinha
Lua para dar um passeio e, no meio do caminho, falou:
- Em breve vou separar as
suas asas presas e você vai poder voar.
A Cigarrinha Lua ficou muito
feliz com a notícia e ao mesmo tempo ficou temerosa e disse:
- Será que vai dar certo?
- Sei que vai dar certo, respondeu com segurança, no começo terá algumas dificuldades mas depois tudo vai correr bem.
Os dias foram se tornando
cada vez mais quentes, o céu estava azul, o sol parecia forte e poderoso, tudo
florescia, as flores começavam a desabrochar. Era o início da primavera.
No dia seguinte, a Formiga Noturna
chegou perto da Cigarrinha Lua e falou:
- Fiz os meus cálculos
matemáticos e hoje vou separar as suas asas.
- Então é hoje?
- Sim, exatamente hoje.
- Hoje vai ser o dia mais feliz da minha vida!
E assim com muito cuidado a Formiga
Noturna separou com facilidade as duas asinhas presas da cigarrinha.
- Agora você está livre, vai
poder voar novamente, disse a Formiga Noturna.
- Que bom! Agora vou poder
voar, disse alegremente a Cigarrinha Lua, e as duas comemoraram.
Realmente, no começo, a Cigarrinha
Lua tinha certa dificuldade ao tentar voar, às vezes, ela caía, mas com o tempo
já dava pequenos saltos e depois de alguns dias voava muito bem, ia pra cá e pra
lá.
Uma noite de primavera, no
céu as estrelas brilhavam, e entre as nuvens se exibia vaidosamente a lua,
iluminando toda escuridão.
A noite estava agradável e o
luar inebriante, por um momento a Cigarrinha Lua sentiu vontade de cantar,
lembrou da sua mãe que a levava para ensinar uma bela canção e pensou: “Onde
estaria minha mamãe neste momento sob o luar de prata?” Subiu num tronco bem
alto e começou a cantar a linda melodia que sua mãe ensinou.
O canto da Cigarrinha Lua
era tão lindo, tão suave que se podia ouvir nos quatro cantos da floresta.
Todos os animais paravam
para ouvir e apreciar o seu belo canto, até a Formiga Noturna se surpreendeu e
resolveu parar para escutar.
Era tão alto seu canto que
se ouvia bem lá distante, chamando a atenção da Cigarra Mãe que ficou surpresa
e confusa.
- Essa é a minha música,
pensou a Cigarra Mãe, será que estou sonhando, só pode ser minha filha cantando
ao luar.
Respirou fundo e mais que
depressa saiu voando em direção ao som familiar. Não tinha dúvida, era Cigarrinha
Lua.
Voou com muita rapidez, que
instantaneamente chegou lá, e ao ver sua filhinha cantando ao luar seus olhos
se encheram de lágrimas e de alegria ao mesmo tempo.
A Cigarrinha Lua ao ver sua
mãe nem acreditou, correu para abraçá-la, e por um longo tempo abraçadas
ficaram.
- Que bom ter te encontrado,
todos estão te esperando, agora podemos ir para casa, disse a Cigarra Mãe.
- Como esperei por este
momento, disse Cigarrinha Lua, mas tenho uma amiga que me salvou e não posso
deixar de ajudar, porque ela está perdida também.
- Onde ela está agora,
porque quero agradecer, disse a Cigarra Mãe.
- Ela é uma Formiga Noturna,
a tempestade levou ela para longe da família e, por isso, está muito triste.
- Vamos convidá-la para
morar com a gente, inclusive, perto de casa tinha uma formiga procurando
desesperadamente por sua filha, até procurávamos juntas, disse a Cigarra Mãe. Será
que não é a sua amiga?
Logo que a Formiga Noturna
chegou, a Cigarra Mãe falou:
- Primeiramente quero te
agradecer por ter salvo a vida da minha filha. Lá onde eu moro tem uma formiga
que procura por sua filha, acho que pode ser você.
- Sim, pode ser e é o meu
maior desejo reencontrar minha mãe, seria muita alegria. Mas deve ser bem longe
daqui e eu ando muito lentamente, e nem sei quando vou chegar lá.
Aí, a Cigarrinha Lua falou:
- Você me carregou quando eu
estava com a asa quebrada, agora sou eu que vou carregar você.
E lá se foram embora,
voando. Chegando a Formiga Noturna viu a sua mãe, e ficou tão feliz, e as duas
choraram, e ficaram abraçadas com muita alegria.
- Eu tinha certeza que eu ia
te encontrar, disse a mãe da Formiga Noturna, esperei muito por este momento!
Quando a noite caiu, iluminou o luar com seu clarão reluzente, a Formiga Noturna saiu para dar o seu passeio e ver as estrelas do céu, enquanto a Cigarrinha Lua saiu para cantar uma bela Sonata ao Luar. As duas amigas nunca mais se separaram.
Texto: Nilza Monti Pires
Ilustrações: Paula Vanessa,
Sabrina Paloma e Annina Ramona
Revisão: Nilza Monti Pires, Paula Vanessa, Diego e Jean
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