sexta-feira, 15 de abril de 2022

"Eu Versos Eu" - (Parte 2) - Antologia

 Antologia poética

11.

Esperança

É como um beija-flor

Nos dias cinzentos

Sempre aparece

Diante da nossa janela

 

12.

Chega!

Está tudo acabado

Entre mim e ela

Acabado o que nem começou!

Mas como?

O coração ainda bate por ela

O Sol ainda brilha por ela

As Luas iluminam por ela

E as Estrelas...

Ah! As Estrelas enfeitam a noite

Por ela, só por ela

Mas meus sonhos terminam

Apesar da saudade

Tudo acabado!

Quantos planos

Quanta felicidade, substantivo coletivo

Tudo em vão, roubado

 

Justamente quando eu colhia rosas

E fazia um buquê

Uma eu separei

Para prender em seus cabelos negros

 

Perdeu-se tudo em mim

O futuro que só eu vi

Num presente de sonhos

Agora, não sei para onde ir (fugir)

Mas vou (fujo)

Sem saber o que fazer

Sem entender

Vou

Levado pelo meu corpo

Vou

No vazio

Quando a vejo

Reflito:

Eu a perdoaria

Um milhão de vezes

Por isso, estou esperando

Volta, meu amor

 

13.

Certa vez, um ônibus

Seguindo, monótono

Ritmando, ponto a ponto

Tracejando, compassado

Subitamente, interferência

Uma parada, bruscamente

Olhos assustados

Um forte barulho, metal batendo

Em algum lugar, batendo batendo

Apreensão, passageiros entreolhando-se

Ruído intenso, alto, mais alto, a cada passo

O impasse não passa

Redobram visões, atentas

Aumenta a ansiedade, insuportável insuportavelmente

O espaço vazio, vertendo espiral sem fim

Na perspectiva noturna, escuridão ao redor

Dentro, luzes tristes tristemente

O que é?

Um cego

Entrou pela saída

Diz em voz alta:

“Meus amados

Ajudem o ceguinho

A comprar seu arroz-feijão

A cegueira não é dia nem noite

É deriva em céu sem estrelas

Nem escuro nem claro

(se bem que eu não sei realmente

o que é escuridão ou claridade)

A mim mesmo, eu nunca vi

Sou cego de nascença

Mas vejo como sou

Sou música refletida no espelho

Melodia do fundo do mundo

Fronteira dissonante

Harmonia discordante

Meus amados

Abrirei meus olhos, amanhã, ao acordar

No peito, carrilhão de sinos

Pulsa, movido por arranjo de cordas

Nada verei com os olhos

Sou dia, fui noite

E o mundo que vejo é bonito demais

Meus amados

Aqui vou eu de coletivo em coletivo

Trabalhador, hoje desempregado

Pai de família, como muitos de vocês

E se hoje peço, não é porque quero

É por precisão

Por favor, ajudem o ceguinho

A comprar arroz-com-feijão”.

À medida que passava, o homem recebia esmolas, e agradecia:

“Deus lhe pague!”

 

À noite chorei

Chorei

Chorei

Eu vi Deus com o meu coração.

Então, sorri

 

14.

Madrugada: a cidade dorme no horizonte.

 

Amor, amor

Onde está?

Diga-me

 

Meu amor!

 

Onde está, que não vem?

 

De olhos fechados

Sinto um beijo

 

Beijos sentidos

 

Beijos sonhados

 

Amor, amor

Por que não vem!

 

De olhos fechados

Sinto seu beijo

 

Beijos sentidos

Beijos sonhados

 

Eu sinto seus lábios

Molhados nos meus

 

É você?

Está aí?

 

Então, você realmente veio?

 

Amor, amor!

 

Beijos sentidos

Beijos sonhados

 

Beijos molhados

 

Beijos sonhados

 

Amor, amor

 

Por que não vem?

 

15.

Não, não há vestígios

Não há pegadas

Não há marcas

O passado é só uma sombra

Mas o tempo não passou de fato

Apenas imaginei

Hipóteses

Um beijo

O tempo

Paixão

 

16.

Sou o meio do Universo

 

Existe o Universo

Existe um universo

Dentro de mim

Dentro do Universo

 

Sou o meio, uma fina superfície

A divisória entre dois abismos

Dois infinitos

Um dentro do outro

 

Sou um fim num sem fim

 

O meio de dois Universos

 

Eu único

Eu versos

 

17.

Agradeço a Deus

Pelo céu azul

Agradeço

Pelo vento

A dançar as flores

Agradeço

Pela névoa

Pelo céu azul escuro da noite

Pelas nuvens discretas

Agradeço as estrelas cadentes

E pedidos e desejos atendidos

Agradeço

O trovão

As nuvens cinzas

Eu também agradeço

Agradeço

A tempestade

As lágrimas

A água

Agradeço

- Muito obrigado!

Pelos sorrisos

Agradeço

Um feixe de luz

As estrelas do céu

A estrada

Pela qual sigo eu sempre

 

Obrigado, Senhora

 

18.

Em um piscar de olhos

E estou apaixonado

Como pode?

 

Sem saber porquê

Eu amo você

 

E nós inventamos nossa própria língua

O nosso idioma

E só nós nos entendemos

Sim, de repente, e estou apaixonado

 

Como pode?

Como podemos ser tão íntimos

Se eu nem sequer a conheço

Estrangeira do meu mundo

Chegou não sei de onde

Nunca nem mesmo nos falamos

E eu a amo tanto

O vento suave acariciando seus cabelos

Eram minhas rudes mãos

A flor que beijava com ternura

Eram meus lábios úmidos

Os seus dias maravilhosos

Foram também os meus

E a canção sussurrando, que ouvia

Era minha voz

Dizendo baixinho

No seu ouvido

Eu amo você

 

19.

Olho você e as estrelas

Imagino que você é mais bonita

Foram palavras que cantei

E repeti apaixonado

Lembro do seu rosto, agora

E percebo que as estrelas são mais bonitas

Brilham eternamente

Porém, procuro um amor

Que dure mais que as estrelas

 

20.

Se eu dissesse que não houve

Dias perfeitos, estaria mentindo

E que nesses dias

As cores, as plantas, os bichos

Contavam segredos só para mim

E que nestes dias perfeitos

Toquei nas estrelas

E que, nos dias perfeitos

O otimismo transbordou

O mundo inteiro

Se eu dissesse que não houve

Dias perfeitos, estaria mentindo

 

Dias perfeitos

Existem