sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Feliz 2021 com Olavo Bilac: O cometa

Esse ano que passou provavelmente não deverá deixar muitas saudades a ninguém. Há um ano, quando as primeiras informações sobre um novo vírus identificado na cidade de Wuhan, com potencialidade para provocar uma pandemia global, passaram a ser veiculadas pelos principais noticiários, ninguém podia imaginar que, um ano depois, estaríamos comemorando o ano novo confinados em nossas casas e confraternizando com os nossos familiares através de videochamada. Afinal, em pleno século XXI, com os avanços sem precedentes da técnica e tecnologia, um cenário sombrio de grandes epidemias parecia ter ficado no passado. Aquilo que parecia improvável tornou-se uma triste realidade e o mundo agradecido aplaudiu os esforços incansáveis dos heróis que tanto salvaram vidas: os profissionais de saúde. Mas, apesar de contabilizarmos tantas tristezas, temos motivos para começar este ano com esperança. As vacinas foram desenvolvidas com uma rapidez inaudita e, muito em breve, a vida voltará ao normal.

Para abrir o ano de 2021, transcrevemos o soneto O cometa, do grande poeta brasileiro Olavo Bilac.

Feliz Ano Novo!!!

Dos editores do blog Verso, Prosa & Rock’n’Roll

O cometa 

Um cometa passava... Em luz, na penedia,

Na erva, no inseto, em tudo uma alma rebrilhava;

Entregava-se ao sol a terra, como escrava;

Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia...


Assolavam a terra o terremoto, a lava,

A água, o ciclone, a guerra, a fome, a epidemia;

Mas renascia o amor, o orgulho revivia,

Passavam religiões... E o cometa passava.

 

E fugia, riçando a ígnea cauda flava...

Fenecia uma raça; a solidão bravia

Povoava-se outra vez. E o cometa voltava...

 

Escoava-se o tropel das eras, dia a dia:

E tudo, desde a pedra ao homem, proclamava

A sua eternidade! E o cometa sorria...


BILAC, Olavo. Tarde. In: Antologia: Poesias. São Paulo: Martin Claret, 2002. (Coleção a obra-prima de cada autor).