Por Nilza Monti Pires
Aninha era uma menina amável e muito bondosa. Nasceu e cresceu num vilarejo perto de um rio ao pé de uma floresta.
Morava
com seu avô de quem ela gostava muito.
Aninha
tinha dois amiguinhos, o Hamster, um roedor de hábitos noturnos, que andava
solto pela casa, e uma gatinha chamada Gigi.
Quando
Aninha ia para a escola, sempre levava sua flauta doce e ia tocando pelo
caminho, entre as árvores gigantescas e cheio de flores e cores, acompanhada
pelo belo canto dos alvoroçados passarinhos, que a seguiam como sempre, e
também todos os animais corriam agitados e alegres fazendo uma grande algazarra
para ver a menina tocando uma linda melodia na sua pequena flauta.
Ao
passar pelo Rio das Águas Claras, cheio de orquídeas agarradas aos imensos troncos
das árvores, sentindo o perfume agradável de alfazema exalado pelas flores,
avistou bem à beira do rio uma estátua branca que nunca tinha antes visto por
ali, bem na margem do rio.
Chegando
perto da estátua ficou deslumbrada e perplexa de tanta beleza e tanta perfeição.
Ao chegar frente a frente com a estátua, Aninha não se conteve e exclamou:
E
na mesma hora a estátua respondeu:
-
Você também é bonita e talentosa, pois toca maravilhosamente bem.
-
Obrigada, disse Aninha. Mas o que está fazendo neste lugar tão isolado? Nunca
vi você por aqui!
-
Eu sou uma estátua que veio da França.
-
Da França!!! Como veio parar aqui nesse lugar tão distante?
-
Surgiu um imprevisto e me deixaram aqui provisoriamente mas logo virão me
buscar.
-
E para onde você vai?
-
Sei que vou enfeitar um jardim mas não sei aonde, por enquanto não posso
aparecer por lá, pois vai ser uma surpresa. É isso o que eu sei.
Aninha
estava tão emocionada que acabou esquecendo as horas, mas os seus amiguinhos
estavam atentos.
-
Aninha, já está ficando tarde, vai perder a aula, disse a gatinha Gigi.
-
Ah! Preciso ir embora, já estou atrasada, tenho que ir. Antes posso te dar um
abraço?
-
Claro! Não me esquece, disse a estátua, quero ouvir sua linda melodia novamente.
-
Não vou te esquecer, é tão linda e formosa!
Aninha
deu um abraço carinhoso, um beijo e continuou o seu caminho tocando a flauta
muito contente e feliz.
Quando
Aninha voltou para casa, os seus amiguinhos já estavam esperando.
-
Tenho uma coisa muito importante para te dizer, disse o Hamster.
O
roedor pensou um pouco e depois falou:
-
Tenho dois desafios para você.
-
Dois desafios para mim? respondeu a Aninha.
-
Sim, dois desafios.
-
E quais são esses desafios? murmurou Aninha intrigada.
-
O primeiro desafio, respondeu o Hamster, você vai ter que ficar do meu tamanho
e virar um ratinho.
Aninha
teve um impacto e retrucou:
-
Espera aí, vou ter que ficar do seu tamanho e ainda virar um ratinho?
-
Exatamente! disse Hamster.
-
E qual é o segundo desafio? indagou Aninha preocupada, arregalando os olhos.
-
No segundo desafio, você vai ter que tocar a flauta mágica, mas não aqui!
-
Tocar a flauta, isso é bom, mas aonde eu vou tocar? disse Aninha surpresa.
-
Na festa da Rainha Onça Pintada I.
-
Na festa da Rainha Onça Pintada I? exclamou Aninha, com certa ironia.
-
Sim, é só uma noite, uma passada rápida, voltaremos antes do amanhecer. A
Rainha Onça Pintada I vai dar uma grande festa. Vai ter muitos convidados
famosos e vão adorar ouvir sua música e você vai gostar de ir também.
-
Hum, não posso sair daqui, preciso ficar com meu vovô.
-
Garanto que o seu avozinho nem vai perceber.
-
Mesmo assim estou temerosa, disse Aninha.
-
Sabe, Aninha, disse Hamster, vou contar uma coisa: estou com muita pena da
Rainha Onça Pintada I. Ela anda muito aborrecida.
-
Aborrecida, por quê?
-
Porque ela está cansada de muitas lutas, está ficando velha e quer descansar. Também
quer passar o seu reino para o seu filho. Ela falou que a selva não pode ficar
sem um reinado que governe todos os animais.
-
Mas se o filho vai governar... Oras, a Rainha Onça Pintada I não precisa ficar
aborrecida!
-
O pior de tudo é que seu filho não quer ser rei. Ele está desanimado e indiferente,
sei lá, ele é muito cabeçudo.
-
E por que eu tenho que tocar na festa?
-
Porque a música faz milagre e, como você toca em sua flautinha encantada
maravilhosas melodias, o filho da rainha vai ouvir e vai sentir um grande
estímulo. Garanto que ele vai se animar e vai deixar de ser teimoso e
irredutível, e não vai ter mais desculpas ardilosas para não reinar.
-
Mas eu acho arriscado, estou sem coragem, disse Aninha.
-
Sei que é difícil, porém, eu combinei com a rainha que você iria e ela preparou
uma grande festança, com deliciosos quitutes, uvas, amoras, açaí, um verdadeiro
banquete.
-
Tá certo, disse Aninha. Quando vai ser a festa?
-
É hoje à noite. Vamos embora quando escurecer. Vai ser uma jornada e tanto e
você vai virar um ratinho.
-
De que jeito vou virar um ratinho?
-
É muito simples, vou usar o meu raciocínio lógico, um número atômico, subtrair
em frações matemáticas e transmitir esses sinais por ondas magnéticas para o
seu cérebro.
-
Puxa, que complicado esses números e sinais abstratos. Será que vai dar certo?
Por que eu não posso ir como eu sou?
-
Infelizmente não vai poder, porque você é muito grande e vamos ter que passar
num caminho que tem uma grade quadrada muito pequena e com buracos bem
miudinhos.
-
Mas e a minha gatinha Gigi? Ela é bem gordinha, não quero deixar meu bichano
aqui.
-
Sim, também vou, respondeu a Gigi. Não precisa ficar encucada nem preocupada,
vou passar tranquila pela grade, meus bigodes indicam o tamanho certo do buraco
a ser atravessado. Ainda bem que nunca foram cortados, senão eu não teria noção
espacial! Pode deixar que eu vou atravessar com tanta precisão, enquanto estou
correndo eu faço os cálculos, e vou passar de forma astuta em segundos. Viu só?
-
Eu não entendo nada desta lógica dialética, disse Aninha, só quero que vocês
usem o bom senso e sejam menos vaidosos.
Quando
anoiteceu o Hamster chamou Aninha e falou baixinho:
-
Eu e a Gigi já estamos prontos e já podemos ir. O vovô já está dormindo.
-
Estou preocupada. E se eu não voltar a ser gente novamente? disse Aninha.
-
Não precisa se preocupar, meu cérebro já programou tudo, o encanto vai acabar
quando chegarmos à festa, e você vai ter que virar gente para tocar a flauta.
-
Está certo, então vamos! disse Aninha.
-
Preparada para virar um rato?
-
Sim, estou preparada.
-
Agora vou falar os números atômicos.
-
Que números são esses? perguntou a Gigi.
-
É segredo. São números exatos, precisos e é isso. Então, concentre-se já,
Aninha. Lá vai: XXX-005-ZÁS-XXX-004-TRÁS Três, Dois, Um, Já!!!
Houve
uma explosão e uma grande fumaça cinzenta invadiu toda a sala e a Aninha virou
um ratinho junto com a sua pequena flauta.
-
Deu certo, gritou o Hamster radiante, meus cálculos deram certo!!!
-
Nossa! exclamou a Gigi, parecia uma explosão nuclear! Que cálculo certeiro,
inacreditável!
-
Agora temos que ir, disse o Hamster, quero ser pontual como é do meu costume.
E
aí os três correram rápido demais, passando velozmente pela pequena grade
quadrada que estava no meio do caminho. Ofegantes, pararam numa fonte de água
doce para beber um pouco d'água.
-
É só dar um gole, disse o Hamster, não podemos perder tempo.
Mais
adiante, no caminho, tinha uma moita cheia de espinhos, ao passar Aninha sente
uma picadinha.
-
Ai!!! gritou Aninha, senti um espinho me espetando. Por que você não me avisou
dessa touceira? falou indignada.
-
Ué, você não tem espírito de aventura? É só um pequeno trecho!
Assim
que passaram dos espinheiros, Aninha parou e pensou... E aí se deu conta e
falou:
-
Ei, Hamster, você disse que iríamos à festa da Rainha Onça Pintada I.
-
Sim, a Rainha Onça Pintada I é muito minha amiga. Sempre vou lá. Mas o que tem
a festa?
-
A festa é na Amazônia! indagou Aninha.
-
E é para lá que vamos.
-
Você está doido, lembra que temos que atravessar o rio Amazonas, e é muito
longe, estamos há quilômetros de distância, e o rio Amazonas é enorme, e vai
levar dias para chegar lá.
-
Fica tranquila, o maior peixe do mundo de água doce, o Pirarucu, vem nos buscar
e levar até lá.
-
Aonde vamos nos segurar, ele não é um Transatlântico!
-
Pode deixar que ele tem suas habilidades. Vamos entrar na boca dele e suas guelras
vão nos segurar... Um transatlântico é chinfrim perto dele!
-
Mas mesmo assim vai demorar muito para chegar lá.
-
Ele é muito ágil e sabe de um atalho que chega rapidinho. Ele é meu amigão e
sempre me leva lá.
-
Só quero ver, disse Aninha.
A
Gigi ficou espantada com um peixe tão grande, pois o peixe era sua comida
preferida.
-
Que bom que já está aqui amigão, disse o Hamster.
-
Sim, como combinamos, amigo. Podem entrar na minha boca que levarei vocês com
segurança. Sou vigoroso e adoro ir até Amazônia, pois lá é a minha casa.
Todos
entram na boca do peixe, que numa rapidez pegou um atalho pela corrente fria
de um afluente do rio Amazonas, cheio de curvas, num zigue-zague só, nas ondas
da poderosa pororoca, o Pirarucu, com sua façanha e proeza, chega pontualmente.
Aninha
ficou surpresa, pois chegaram muito rápido e, quando desceram, era só alegria e
satisfação.
-
Oi, amigão, disse o Hamster, para o peixe Pirarucu, não quer ir à festa com a
gente?
-
Não, prefiro ficar por aqui, adoro essas bandas. Não esqueça, antes do amanhecer,
voltarei para levar vocês de volta.
-
Obrigado, amigão, estaremos de volta antes do sol nascer.
-
Onde é a festa? perguntou Aninha.
-
É bem no topo da montanha. Temos que escalar. As onças pintadas adoram as
montanhas e a festa é lá bem no alto.
E
assim subiram a montanha escorregadia.
Aninha
já estava cansada.
-
Poxa, não chega nunca, disse Aninha, ainda se eu fosse gente, subiria num
instante, mas como rato tenho as perninhas muito curtas.
-
Aninha para de reclamar, disse o Hamster. Veja, já chegamos!
-
Nossa, os vaga-lumes estão iluminando a festa, disse a Gigi.
-
Que lindo e engraçado, é um inseto que tem luz... Ei, Hamster, chegamos à festa
e ainda sou um rato. Eu não iria virar gente?
-
Calma, Aninha, ainda não é hora, tenha paciência.
A
festa estava muito animada e cada vez chegava mais convidados de todos os
cantos da terra.
Lá
avistaram a Rainha Onça Pintada I, sentada no trono acenando para que todos
entrassem. Os portões começaram a se abrir.
-
Pode entrar o primeiro convidado, disse a Rainha Onça Pintada I, e se
apresentar.
-
Eu sou o escaravelho, Majestade, sou um besouro sagrado egípcio, dou muita
sorte, pois sou considerado o símbolo da sorte.
-
Ótimo, pode entrar e seja bem-vindo.
A
Rainha Onça Pintada I acenou a cabeça para o outro convidado entrar.
-
Majestade, eu também sou um besouro, um besouro-rinoceronte, o inseto
considerado o mais forte do mundo. Vim prestigiar a festa.
-
Agradeço sua presença, falou a Rainha Onça Pintada I. Pode entrar o próximo.
-
Eu sou bicho-preguiça, durmo o dia todo, desci da minha árvore preferida, a
Umbaúba, para ver a coroação de seu filho, o futuro Rei.
Logo
em seguida entrou o outro convidado.
-
Eu sou a cobra surucucu, estou muito curiosa para ver a coroação do novo rei,
moro numa floresta densa e vim me arrastando até aqui.
-
Obrigada, disse a rainha. Gritou: O próximo!
-
Agora somos nós, disse o Hamster.
Neste
momento a Aninha começou a crescer, crescer, até virar gente.
A
Gigi miou feliz de ver a Aninha gente outra vez.
-
Eu falei que meu raciocínio lógico não falha, falou entusiasmado o Hamster. Sou
um gênio, sempre acerto!
-
Próximo! gritou novamente a rainha.
Mas
a rainha quando viu o Hamster abriu um grande sorriso.
-
Eu sabia que você viria, meu grande amigo!
-
Vossa Majestade, é com grande prazer que estou aqui. Como prometi trouxe a
flautista e a sua inseparável gatinha Gigi.
-
Que alegria, meus caros, sejam bem-vindos.
A
rainha chamou o Hamster de lado e foi conversar com ele.
-
Vou confessar, disse a rainha, estou muito triste, magoada, desanimada, fiz
esta linda festa como você sugeriu e meu filho não quer sair do seu aposento,
está apático, insatisfeito e recusa ser Rei. Está muito teimoso.
-
E agora? disse o Hamster. E esses convidados importantes, que vieram de longe
para ver a coroação do seu filho?
-
É isso que está me preocupando, o que vou dizer a eles, que estou velha
cansada, não consigo mais lutar... Isso vai ser um grande desgosto para mim.
-
Sim, realmente, é constrangedor dizer que o filho da rainha não quer ser rei. Mas
como eu prometi, trouxe a flautista com sua flauta mágica.
-
Nem sei como agradecer, meu amigo.
E
assim a rainha continuou recebendo os convidados.
A
festa estava um sucesso, animada com muita fartura, sobremesas finas, tudo
excelente.
Mas
faltava o filho da rainha.
-
Ei, Aninha, pode tocar sua flauta doce, disse o Hamster.
Aninha
pegou sua pequena flauta e começou a tocar uma linda música. De repente,
surpreendentemente, apareceu o filho da rainha, elegante com seu traje esmerado.
Queria ver quem estava tocando tão bela melodia.
-
Não resisti, disse o filho da rainha, senti tão disposto e animado que vim ver
quem tocava essa agradável melodia. Estou feliz por conhecer uma menina cheia
de talento e simpatia.
A
Rainha Onça Pintada I, quando viu o seu filho aparecer na festa, sua felicidade
foi imensa e deu um grande suspiro de alívio.
De
repente no meio da festa, ouviram um barulho de bater de dentes muito forte e
constante. Eram queixadas bem nervosas, que batiam os dentes sem parar, cada
vez mais forte. Eram muitas, centenas, com seus dentes afiadíssimos, com seus
olhos assustadores e fixos para atacar todos que estavam na festa.
Todos
os convidados pararam de dançar, apavorados e desesperados, corriam para todos
os lados, atropelando um aos outros.
Quando
as selvagens queixadas iam dar o golpe final e atacar, o jovem Príncipe Jaguar,
filho da Rainha Onça Pintada I, arrojado, audaz, estufou o peito e deu um
tamanho rugido, tão alto, terrível e poderoso, que a terra estremeceu com muita
intensidade.
E
aí formou um vendaval, uma ventania, um assovio agudo do vento muito forte, as
árvores balançavam quase até o chão, as folhas voavam se espalhando pelos ares.
Quando
as queixadas perceberam a ira e a força do jovem Príncipe Jaguar, ficaram
apavoradas e suplicaram pedindo clemência.
O
jovem Príncipe Jaguar mostrou sua nobreza, sua descendência ilustre, das
classes dos Nobres, e perdoou as arruaceiras queixadas.
As
queixadas agradeceram e reverenciaram que ali tinha um novo rei e fugiram num
só fôlego.
Aí
voltou a paz e a tranquilidade. E a festa continuou animada.
A
Rainha Onça Pintada I, enaltecendo a coragem de seu filho, nomeou-o como o novo
Rei Jaguar II e todos brindaram felizes.
-
Viva o novo Rei! gritaram.
Em
certo momento da festa, a gatinha Gigi chama a Aninha, que ainda tocava sua
flauta animada, e fala baixinho:
-
Estou preocupada, Aninha, já está quase clareando o dia, precisamos ir embora o
mais rápido possível.
-
É verdade temos que ir já, vamos chamar o Hamster.
-
Ei, Hamster, cutucou Aninha, você está dormindo, precisamos ir embora, esqueceu
que temos que voltar antes do dia clarear.
-
É mesmo! Comi exageradamente, falou o Hamster ainda sonolento, acabei pegando no sono.
Aí o Hamster lembrou:
-
Nossa, temos que ir embora! Vamos nos despedir da nossa amiga rainha.
Encontraram
o jovem novo rei rodeado pelos convidados, que faziam fila para cumprimentá-lo, pela coragem de enfrentar tão grande perigo e pela vitória sobre as queixadas.
Aí
o Hamster falou:
-
Temos que ir embora. Se ficarmos na fila para cumprimentar o Rei Jaguar II, não vai dar
tempo. Já já vai clarear o dia. Vamos nos despedir apenas da nossa velha amiga,
a Rainha Onça Pintada I.
Assim
que viram a rainha, o Hamster disse para ela:
-
Estamos indo embora. Ficamos muito felizes por seu filho valente e destemido. É
um rei digno de Vossa Majestade.
-
Eu agradeço a vocês três, disse a rainha, agora estou muito contente e
satisfeita. Você tinha razão, a Aninha com sua flauta mágica fez meu filho o meu
sucessor. Estou velha, cansada e nunca enfrentaria aquelas queixadas
baderneiras. Quero presentear Aninha com este raminho de pequenas florzinhas
azuis.
-
São lindas, obrigado, adorei, disse Aninha.
-
Adeus, minha amiga rainha, disse o Hamster, assim que pudermos, voltaremos.
Manda nossos comprimentos para o seu filho.
E assim foram embora.
E
no meio do caminho Aninha disse:
-
Ei, Hamster, esqueceu que eu tenho que virar um ratinho.
-
É mesmo, estava tentando lembrar que eu tinha uma coisa para ser feita... Mas, Aninha,
não estou conseguindo lembrar os números atômicos...
-
Como assim não consegue lembrar?
-
Acho que estou ficando velho.
-
Tenta lembrar, disse Aninha aflita.
-
Estou tentando mas os números aritméticos estão incorretos!
-
Usa o seu raciocínio lógico, disse Aninha apreensiva, já está clareando o dia.
-
Dá mais um tempo, Aninha, acho que eu dormi demais.
Aí
a gatinha Gigi vendo a angústia de Aninha falou:
-
Hamster, esses números atômicos não seriam por acaso XXX-005-ZÁS-XXX-004-TRÁS
Três, Dois, Um, Já?!!!
Ao
falar isso houve uma explosão, uma grande fumaceira e Aninha virou um ratinho.
-
Como você descobriu minha fórmula secreta? questionou o Hamster, desconfiado e
curioso.
-
É simples, usei o bom senso e solucionei o problema com facilidade.
A
alegria da Aninha foi imensa:
-
Obrigada, agradeceu beijando a Gigi com carinho. Que alívio, você foi muito
espertinha!
-
Agora temos que ir embora bem rapidinho, disse o Hamster.
E
assim fizeram tudo de volta, desceram a montanha, o peixe Pirarucu já estava
esperando, passaram pelo espinheiro, não viram a estátua, que não estava mais
lá – no local de antes –, passaram pela grade e conseguiram chegar antes do sol
nascer.
Estavam
tão cansados, exaustos e ofegantes, que dormiram na sala quando Aninha foi
acordada pelo seu avô.
-
Acorda, Aninha, o dia já amanheceu.
Aninha
acordou assustada, olhou para suas mãos, seus pés e ficou aliviada. Já não era
mais um rato.
-
Que bom te ver avozinho, levantou e abraçou ele com carinho.
-
Que felicidade, Aninha, ontem eu saí e comprei um casaco vermelho para você, veio
com um broche de bichinho, espero que goste.
-
Que lindo, vou experimentar!
-
Vou te ajudar, disse o vovô. Nossa um espinho na sua roupa! Espera, vou tirar.
-
Um espinho, vovô? Obrigada por tirar. Eu também trouxe um presente para colocar no
seu jardim.
-
Que lindas flores, são miosótis. Sempre quis ter no meu jardim. Na primavera o
meu jardim vai ficar lindo. Onde você as encontrou?
-
É segredo, vovô.
Depois
de regar as flores, o vovô chamou a Aninha.
-
Aninha, no Jardim da Luz haverá uma grande festa, vamos até lá?
-
Que festa é essa vô?
-
Vão comemorar a inauguração de uma linda estátua que veio da França, estão
fazendo suspense, gostaria de ver.
-
Uma estátua que veio da França! Claro, vou pôr o meu casaco vermelho e vamos já,
vovozinho.
Aninha
deu uma piscada para o Hamster e a Gigi.
Assim,
lá foram eles ver a estátua numa alegria só.
Quando
chegaram tinha realmente uma grande festa.
Lá
estava a estátua num pedestal.
A
estátua ouviu o som da flauta e reconheceu logo a Aninha e deu um grande
sorriso.
-
Sabia que vocês viriam me ver, estou muito feliz, disse a estátua.
-
Eu também, respondeu Aninha. E estou ainda mais contente, pois este jardim é o
caminho da minha escola e aí vou poder te ver todos os dias.
-
Que bom, disse a estátua sorrindo, mas da próxima vez me convida para a próxima
aventura.
-
Claro, que vou te convidar, disse Aninha.
Depois
de algum tempo, todos estavam felizes, mas já anoitecia quando foram embora.
-
Vozinho, perguntou a Aninha, você viu a estatua conversando comigo?
-
Desculpe, minha netinha, eu estava distraído.
Aninha
então sorriu para os seus dois amiguinhos e foi tocando sua flauta mágica pelo
caminho entre as árvores gigantescas cheias de flores.
*****
Ilustrações: Sabrina Paloma (Aninha, Rainha Onça, Pirarucu, Queixada e Estátua), Annina Ramona (Gigi, Hamster e Menina Rato); Paula Vanessa (Vovô, Escaravelho e casaco vermelho); e Jean (Jaguar).
Revisão: Nilza, Diego, Paula Vanessa e Jean.
Nota
dos editores do blog: A Floresta Amazônica é um patrimônio da humanidade, vital
para a sobrevivência do planeta, da fauna e da flora. Coube aos brasileiros a
missão honrosa de cuidar e proteger a floresta, mas os recentes desastres
ambientais e incêndios na Amazônia reacenderam um alerta de que não estamos
fazendo direito nosso dever de casa. A data 29 de novembro é o Dia Internacional da Onça
Pintada e durante todo o mês de novembro haverá homenagens ao maior felino das Américas
para nos lembrar de que devemos preservar o meio ambiente e a fauna silvestre
que está em risco de extinção.
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