segunda-feira, 1 de maio de 2023

Aline, a esposa de Renoir, contra a indústria da moda

 

Pierre-Auguste Renoir

Pierre-Auguste Renoir nasceu pobre, no ano de 1841, em Limoges, na França. Aos 13 anos de idade, o garoto já manifestava um talento artístico para o desenho e a pintura, o que fez com que seus pais os tirassem da escola e o empregassem como aprendiz de ilustrador numa fábrica de louças.

Mais tarde, o rapaz arrumou outro emprego e passou a ganhar a vida pintando leques, persianas e imagens de santos. Enquanto trabalhava, economizava dinheiro para se matricular em uma escola de arte, objetivo alcançado quando completou 21 anos.

Embora Renoir demonstrasse um desprezo pelos cânones e outras tolices acadêmicas, aprendeu com seus professores os princípios básicos da arte que seriam utilizados, por ele, como um “trampolim” para dar asas a seu gênio e assim pintar de uma maneira extremamente original que o eternizaria.

Inspirado por um intenso sentimento lírico, o pintor preferia trabalhar ao ar livre, onde as cores eram mais ricas e livres de convenções. Indiferente às tendências de época, menosprezava as cores da moda. Em vez disso, demonstrava grande apreço por cores brilhantes, incandescentes, profundas e naturais. Renoir criou um estilo próprio, marcado por cores fortes, texturas e linhas harmônicas, que, juntamente com a obra de outros artistas, ficaria conhecido como impressionismo.

Tendo encontrado sua identidade estética, Renoir se tornou um talentoso artista. Todavia, sua vida de pintor pobre pouco se alterara. Mas sua sorte começaria a mudar quando recebeu uma encomenda de Madame Charpentier, esposa de um dos mais ricos editores de Paris e famosa por suas recepções no salão de sua casa. Os 1.750 francos que ganhou para pintar quatro retratos da família Charpentier foram uma quantia excepcional para a época, o que tirou Renoir do sufoco.

O quadro Madame Charpentier e suas filhas, exposto no luxuoso salão, foi visto por gente de fortuna e renome, como Guy de Maupassant, Emile Zola, Gustave Flaubert e Stéphane Mallarmé, gabaritando a obra para a grande exposição anual do Salão de Paris.

Então, outras encomendas começaram a pipocar. Tais trabalhos permitiam a Renoir pagar suas contas, enquanto pintava quadros que o tornariam célebre. Após três anos, Renoir ganhou o suficiente para melhorar de vida e, finalmente, realizar seu sonho de se casar com sua amada Aline Victorine Charigot, uma costureira, vinte anos mais nova do que ele, que já posara de modelo para algumas de suas pinturas, como na obra Le Déjeuner des canotiers, de 1881 (ela é a mulher da esquerda brincando com o cachorro).

Pierre-Auguste Renoir

Aline nasceu em 23 de maio de 1859, no seio de uma família de agricultores. Quando ainda era bebê, seu pai partiu para a América e sua mãe se mudou, deixando Aline aos cuidados de uma tia e um tio. A menina amava as artes, tocava piano e decorava seu quarto com pinturas de artistas famosos. Aos 15 anos de idade, no entanto, foi ao encontro da mãe em Montmartre, Paris, onde conseguiu arrumar um trabalhou de costureira.

Aos 20, Aline conheceu o quarentão Renoir. Casa-se com ele e dá à luz a três filhos, que seriam retratados pelo pintor em muitas cenas da vida familiar.

A biógrafa de Renoir, Barbara White, descreve a aparência da mulher de La Baigneuse Blonde, de 1881, como “rotunda”. Aline fora a modelo, que Renoir, influenciado pela pintura renascentista (particularmente os afrescos de Rafael), deu cores e formas na tela.

É provável que as formas robustas da jovem tenham inspirado o artista em seu ideal feminino: corpulenta, sadia, seios e cintura grandes – símbolo de saúde e fertilidade para Renoir.

Aline Victorine Charigot é uma prova que a beleza não cabe em um único padrão estético ditado pela tirânica indústria da moda.

Seja feliz do jeito que você é. Se não fizer mal aos outros, vai em frente! O gênio de Renoir agradece.