quinta-feira, 15 de abril de 2021

Lembranças de agora de um cárcere privado, por Jean Fecaloma

Jean Fecaloma

Este sou eu, Jean Fecaloma. Há mais de um ano, estou vendo o sol nascer quadrado da janela do meu quarto. Minha rotina se resume em lavar batata, tomar banho de sol (para fotossintetizar vitamina D), lavar batata, traduzir um livro, lavar batata, assistir televisão, lavar batata e dormir. Até com personagens de novela tenho sonhado (assisto desde Malhação até a novela das nove), e pesadelos com o William Bonner são constantes. Ensaiei os passos de Jerusalema e até álcool gel em pão eu passei. Sou inocente. Fui condenado por um crime que não cometi. Os verdadeiros culpados são pessoas, empresas e governos inescrupulosos, que, interessados apenas em benefício próprio e no lucro pelo lucro, na riqueza sem limites, têm devastado o meio ambiente, ateado fogo em florestas e áreas de preservação, caçado animais selvagem, poluído rios e mares, saqueado minérios e minerais, roubado o que sobrou das terras indígenas, causado pandemias e destruído o planeta Terra. Toda a humanidade foi condenada pela ganância irresponsável de quem não respeita a vida nem o futuro. Até quando vamos aceitar?!!! (“Lembranças de agora de um cárcere privado”, Fecaloma).


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