quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Guia Completo das Escolas Literárias: O que é, resumo e linha do tempo

Dante Tringali, Escolas Literárias - Desde A Idade Media Até O Modernismo No Século XX, da Editora MUSA. 1994.

As escolas literárias são capítulos fundamentais da história da literatura. Elas representam diferentes maneiras de compreender, narrar e interpretar o mundo, marcadas por transformações sociais, culturais e históricas. Para quem busca entender melhor o universo literário, este artigo traz um guia completo, abordando as escolas literárias no Brasil e na Europa, com suas características, principais autores e a linha do tempo que demarca seus períodos.

A literatura é um espelho das transformações culturais, sociais e políticas de cada época, e as escolas literárias surgem como uma expressão de manifestações artísticas de uma dada conjuntura histórica. Por meio delas, podemos compreender como os escritores dialogaram com o seu tempo e como essas produções continuam a ressoar na atualidade.

Nota-se, todavia, que as diferentes escolas literárias arroladas neste artigo são apenas um produto cultural tipicamente eurocêntrico e não refletem manifestações textuais e literárias de outras civilizações, com produções específicas e não menos riquíssimas.

Antes de prosseguir, cabe alertar para o fato de que este resumo apresenta uma finalidade introdutória e não substitui um estudo mais aprofundado sobre o tema. Para este fim, indicamos começar o livro do professor da USP Dante Tringali Escolas Literárias - Desde A Idade Media Até O Modernismo No Século XX, da Editora MUSA, disponível na Amazon (Associado Amazon - "link patrocinado"), disponível na Amazon.


a) Índice

- O que são escolas literárias?

- Escolas Literárias: Características

- Linha do Tempo com Resumo Explicativo

- A Relação entre Autor, Obra e Leitor

- Perguntas Frequentes sobre Escolas Literárias

- Conclusão


b) O que são escolas literárias?

Escolas literárias são agrupamentos que reúnem obras literárias com características semelhantes, como estilos de escrita, temas recorrentes e influências culturais. Essas correntes surgem em determinados contextos históricos, refletindo ideais, mudanças sociais e as experiências humanas da época. Segundo Terry Eagleton, “a literatura é um produto da história e, ao mesmo tempo, uma ferramenta para reinterpretá-la” (1983, p. 52).

Escolas Literárias: Cronologia

As principais escolas literárias

1.   Trovadorismo (século XII-XIV): Marcado pelas cantigas e pela oralidade.

2.   Humanismo (século XV-XVI): Transição entre a Idade Média e o Renascimento.

3.   Classicismo (século XVI): Influência greco-romana, equilíbrio e perfeição formal.

4.   Barroco (século XVII): Dualidade entre o espiritual e o material.

5.   Arcadismo (século XVIII): Valorização da simplicidade bucólica e do racionalismo.

6.   Romantismo (século XIX): Exaltação do eu, do nacionalismo e da emoção.

7.   Realismo e Naturalismo (século XIX): Representação objetiva da realidade.

8.   Parnasianismo (século XIX): Foco na forma e na estética.

9.   Simbolismo (século XIX-XX): Subjetividade e espiritualidade.

10. Modernismo (século XX): Ruptura com tradições, experimentação e nacionalismo.

Essas escolas compõem a espinha dorsal da literatura ocidental e influenciaram fortemente a literatura brasileira, portuguesa e europeia.


c) Escolas Literárias: Características

Trovadorismo: A origem da literatura portuguesa

O Trovadorismo é considerado o marco inicial da literatura em língua portuguesa, destacando-se pelas cantigas. Essas obras, muitas vezes acompanhadas de música, refletem o universo feudal e dividem-se em cantigas líricas (de amor e de amigo) e satíricas (de escárnio e maldizer).

Classicismo: O equilíbrio renascentista

Inspirado pelo Renascimento, o Classicismo é marcado pela busca do equilíbrio, harmonia e perfeição formal. Luís de Camões, com Os Lusíadas, é seu maior representante em língua portuguesa.

Barroco: Conflito e exuberância

O Barroco é uma escola literária de contrastes. Caracteriza-se pelo uso abundante de figuras de linguagem, com temas que oscilam entre a salvação e o pecado. Gregório de Matos é um dos principais nomes do Barroco no Brasil.

Romantismo: O eu em evidência

O Romantismo trouxe à tona a subjetividade, o nacionalismo e a idealização amorosa. No Brasil, destaca-se José de Alencar, autor de Iracema.

Realismo e Naturalismo: A visão crítica da sociedade

Esses movimentos rejeitam a idealização romântica e buscam retratar a realidade de forma crua e objetiva. Machado de Assis, com Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, é um dos maiores nomes do Realismo brasileiro.

Simbolismo: O misticismo poético

No Simbolismo, a linguagem é subjetiva, carregada de simbolismos e musicalidade. No Brasil, Cruz e Sousa destacou-se com obras como Broquéis.

Modernismo: A ruptura e a renovação

O Modernismo foi um movimento de ruptura com as tradições, introduzindo inovações temáticas e formais. Ivan Junqueira explica que “o Modernismo marca a consolidação de uma literatura brasileira independente, plural e moderna” (2001, p. 72). A Semana de Arte Moderna, realizada em 1922, foi o grande marco desse movimento.


d) Linha do Tempo com Resumo Explicativo

Eis uma lista das principais escolas literárias organizadas em uma linha temporal, com uma breve descrição de cada uma. Tais tendências são amplamente conhecidas e adaptados em contextos culturais específicos. Portanto, as escolas literárias têm paralelos em outras literaturas ao redor do mundo.  Elas refletem as correntes estéticas e culturais que influenciaram a literatura ao longo da história:

1. Trovadorismo (Século XII ao XIV)

  • Característica da literatura medieval europeia.
  • Literatura medieval marcada pela poesia lírica e narrativa.
  • Principais gêneros: cantigas de amor, de amigo, de escárnio e de maldizer.
  • Exemplo: Cantigas de Amigo (tradicional na Península Ibérica).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Chrétien de Troyes (Lancelot, ou le Chevalier de la Charrette).
    • Ingleses: Geoffrey Chaucer (The Canterbury Tales).

2. Humanismo (Século XV)

  • Transição entre a Idade Média e Modernidade.
  • Movimento europeu, precursor do Renascimento
  • Valorização do homem e do antropocentrismo.
  • Exemplo: Fernão Lopes (cronista português).
  • Autores em outras línguas:
    • Italianos: Francesco Petrarca (sonetos, precursor do Renascimento).
    • Ingleses: Thomas More (Utopia).

3. Classicismo (Século XVI)

  • Influência do Renascimento e da cultura greco-romana.
  • Harmonia, equilíbrio e universalismo.
  • Exemplo: Luís de Camões (Os Lusíadas).
  • Autores em outras línguas:
    • Italianos: Dante Alighieri (A Divina Comédia), Ludovico Ariosto (Orlando Furioso).
    • Espanhóis: Garcilaso de la Vega.
    • Ingleses: Edmund Spenser (The Faerie Queene).

4. Barroco (Século XVII)

  • Contraste entre o teocentrismo e o antropocentrismo.
  • Movimento universal, com destaque para contraste e exagero.
  • Linguagem rebuscada, antíteses e paradoxos.
  • Exemplo: Gregório de Matos (poesia barroca brasileira).
  • Autores em outras línguas:
    • Espanhóis: Luis de Góngora, Francisco de Quevedo.
    • Ingleses: John Donne (poesia metafísica), John Milton (Paradise Lost).

5. Arcadismo (Século XVIII)

  • Retorno à simplicidade e à idealização da vida no campo.
  • Influência do Neoclassicismo e da busca pela racionalidade.
  • Exemplo: Tomás Antônio Gonzaga (Marília de Dirceu).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Voltaire (Candide), Jean-Jacques Rousseau (Confissões).
    • Ingleses: Alexander Pope (The Rape of the Lock).

6. Romantismo (Século XIX)

  • Subjetividade, exaltação do eu, nacionalismo e emoção.
  • Movimento global que variava entre nacionalismo e subjetividade.
  • Dividido em três gerações (indianista, ultrarromântica e social).
  • Exemplos: José de Alencar (Iracema), Gonçalves Dias (Canção do Exílio).
  • Autores em outras línguas:
    • Ingleses: Lord Byron, Percy Shelley, Mary Shelley (Frankenstein).
    • Franceses: Victor Hugo (Os Miseráveis), Alexandre Dumas (O Conde de Monte Cristo).
    • Alemães: Johann Wolfgang von Goethe (Os Sofrimentos do Jovem Werther).

7. Realismo (Final do Século XIX)

  • Representação objetiva e crítica da sociedade.
  • Universal, com análise crítica da sociedade.
  • Personagens complexos e análise psicológica.
  • Exemplo: Machado de Assis (Dom Casmurro).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Gustave Flaubert (Madame Bovary), Honoré de Balzac (A Comédia Humana).
    • Russos: Liev Tolstói (Anna Karenina), Fiódor Dostoiévski (Crime e Castigo).

8. Naturalismo (Final do Século XIX)

  • Desdobramento do Realismo com ênfase na ciência.
  • Desdobramento do Realismo com base no determinismo.
  • Determinismo biológico e social.
  • Exemplo: Aluísio Azevedo (O Cortiço).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Émile Zola (Germinal).
    • Estadunidenses: Stephen Crane (The Red Badge of Courage).

9. Parnasianismo (Final do Século XIX)

  • Valorização da forma perfeita e linguagem refinada.
  • Movimento mais restrito a algumas regiões (França e Brasil).
  • Temática impessoal, foco em "arte pela arte".
  • Exemplo: Olavo Bilac (Via Láctea).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Théophile Gautier, Leconte de Lisle.

10. Simbolismo (Final do Século XIX e início do Século XX)

  • Linguagem subjetiva, musicalidade e misticismo.
  • Universal, com temas místicos e subjetivos.
  • Reação ao cientificismo do Realismo/Naturalismo.
  • Exemplo: Cruz e Sousa (Broquéis).
  • Autores em outras línguas:
    • Franceses: Charles Baudelaire (As Flores do Mal), Arthur Rimbaud (Iluminações).
    • Belgas: Maurice Maeterlinck.

11. Pré-Modernismo (Início do Século XX)

  • Transição entre o Simbolismo e o Modernismo.
  • Transições literárias em diversas culturas.
  • Temas sociais e regionais, retrato do Brasil real.
  • Exemplos: Euclides da Cunha (Os Sertões), Lima Barreto (Triste Fim de Policarpo Quaresma).
  • Autores em outras línguas:
    • Estadunidensas: Mark Twain (As Aventuras de Huckleberry Finn), Jack London (O Chamado Selvagem).

12. Modernismo (Século XX)

  • Ruptura com as formas tradicionais e busca de inovação.
  • Movimento global, com variações locais.
  • Autores em outras línguas:

1.   Estadunidenses: T.S. Eliot (The Waste Land), F. Scott Fitzgerald (O Grande Gatsby).

2.   Irlandeses: James Joyce (Ulisses).

3.   Alemães: Franz Kafka (A Metamorfose).

  • Dividido em três fases no Brasil:

1.   Fase Heroica (1922-1930): Semana de Arte Moderna. Exemplo: Oswald de Andrade (Manifesto Antropófago).

2.   Fase de Consolidação (1930-1945): Regionalismo e questões sociais. Exemplo: Graciliano Ramos (Vidas Secas).

3.   Fase Pós-1945: Diversificação de estilos. Exemplo: Clarice Lispector (A Hora da Estrela).

13. Pós-Modernismo (Segunda metade do Século XX em diante)

  • Mistura de estilos, fragmentação narrativa, intertextualidade.
  • Mistura de estilos e experimentação.
  • Reflexão sobre a condição humana e a globalização.
  • Exemplos: José Saramago (Ensaio sobre a Cegueira).
  • Autores em outras línguas:
    • Argentinos: Jorge Luis Borges (Ficções).
    • Estadunidenses: Don DeLillo (White Noise), Thomas Pynchon (O Arco-Íris da Gravidade).
    • Italianos: Italo Calvino (Se um Viajante numa Noite de Inverno).


e) A Relação entre Autor, Obra e Leitor

Uma das questões centrais no estudo das escolas literárias é a interação entre o autor, a obra e o leitor. Para Jauss, a literatura só ganha vida na recepção do leitor: “a obra literária não é um objeto estático, mas um evento dinâmico que se realiza na leitura” (JAUSS, 1994, p. 35). Essa visão coloca o leitor como peça-chave na construção do significado das escolas literárias, destacando como cada geração revisita e reinterpreta os textos.

Ivan Junqueira complementa essa ideia ao afirmar que “os movimentos literários são construções coletivas, que envolvem tanto os escritores quanto os leitores e críticos” (JUNQUEIRA, 2001, p. 102). Assim, as escolas literárias não são imposições arbitrárias, mas reflexos de um diálogo contínuo entre diferentes agentes culturais.

Escolas Literárias e a Sociedade

As escolas literárias não apenas refletem a sociedade; elas frequentemente a criticam e a transformam. Ivan Junqueira sugere que “a literatura é, ao mesmo tempo, um espelho e um martelo: ela reflete a realidade, mas também a molda” (JUNQUEIRA, 2001, p. 139). Esse duplo papel é evidente em movimentos como o Realismo, que expôs as hipocrisias da sociedade burguesa, e o Modernismo, que desafiou convenções artísticas e culturais.


f) Perguntas Frequentes sobre Escolas Literárias

O que é escolas literárias?

São categorias que organizam as obras literárias com base em características comuns, como estilo, temas e contexto histórico.

Quantas escolas literárias existem?

Embora a quantidade possa variar dependendo do critério de classificação, geralmente são reconhecidas dez escolas principais.

Por que estudar as escolas literárias?

Estudar as escolas literárias ajuda a compreender como a literatura reflete e influencia as mudanças históricas, sociais e culturais.


Conclusão

As escolas literárias são a chave para entender a literatura em sua profundidade histórica e cultural. Como Dante Tringali aponta, “os movimentos literários não apenas narram a história; eles a recriam através da arte” (1994, p. 89). Conhecer as escolas literárias no Brasil, em Portugal e na Europa é essencial para qualquer apreciador ou estudioso da literatura.

Com base em uma linha do tempo bem estruturada, as características de cada escola ajudam a decifrar os contextos e as mensagens das obras literárias. Afinal, a literatura é um reflexo da sociedade, mas também uma ferramenta para transformá-la.

Se você deseja aprofundar seus estudos ou tem dúvidas sobre as escolas literárias, deixe seu comentário abaixo. Compartilhe este conteúdo com outros apaixonados por literatura e continue explorando esse universo fascinante!

Bibliografia

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