Esse ano que passou provavelmente não deverá deixar muitas saudades a ninguém. Há um ano, quando as primeiras informações sobre um novo vírus identificado na cidade de Wuhan, com potencialidade para provocar uma pandemia global, passaram a ser veiculadas pelos principais noticiários, ninguém podia imaginar que, um ano depois, estaríamos comemorando o ano novo confinados em nossas casas e confraternizando com os nossos familiares através de videochamada. Afinal, em pleno século XXI, com os avanços sem precedentes da técnica e tecnologia, um cenário sombrio de grandes epidemias parecia ter ficado no passado. Aquilo que parecia improvável tornou-se uma triste realidade e o mundo agradecido aplaudiu os esforços incansáveis dos heróis que tanto salvaram vidas: os profissionais de saúde. Mas, apesar de contabilizarmos tantas tristezas, temos motivos para começar este ano com esperança. As vacinas foram desenvolvidas com uma rapidez inaudita e, muito em breve, a vida voltará ao normal.
Para abrir o ano de 2021, transcrevemos o soneto O cometa, do grande poeta brasileiro Olavo Bilac.
Feliz Ano Novo!!!
Dos editores do blog Verso, Prosa & Rock’n’Roll
O cometa
Um
cometa passava... Em luz, na penedia,
Na
erva, no inseto, em tudo uma alma rebrilhava;
Entregava-se
ao sol a terra, como escrava;
Ferviam sangue e seiva. E o cometa fugia...
Assolavam
a terra o terremoto, a lava,
A
água, o ciclone, a guerra, a fome, a epidemia;
Mas
renascia o amor, o orgulho revivia,
Passavam
religiões... E o cometa passava.
E
fugia, riçando a ígnea cauda flava...
Fenecia
uma raça; a solidão bravia
Povoava-se
outra vez. E o cometa voltava...
Escoava-se
o tropel das eras, dia a dia:
E
tudo, desde a pedra ao homem, proclamava
A
sua eternidade! E o cometa sorria...
BILAC,
Olavo. Tarde. In: Antologia: Poesias.
São Paulo: Martin Claret, 2002. (Coleção a obra-prima de cada autor).