terça-feira, 4 de julho de 2023

"Eu versos eu" - (Parte 14) - Antologia

 

Antologia poética

61.

Oi chuva

Hoje a noite faz frio

Chuva, faça-me um favor

Cante uma canção de ninar

Obrigado

Boa noite

 

62.

A que ponto cheguei

Humilhado pelo amor

Fui seu servo mais fiel

Entreguei-lhe minha vida

Sacrifiquei-me em seu nome

Beijei o chicote, derramei meu sangue

Fiz do amor o meu verdugo

Beijei seus pés implorando punição

Idolatrei o sofrimento

Sorri da minha desonra

Desgraça e loucura

Invoquei a tristeza

Deleite-me com minhas lágrimas

Descansei numa cama de pregos

E me extasiei com pontas afiadas

Perfurando minha pele

Perdi toda minha juventude

Atrás de uma miragem, o amor

Perdi tudo

Amei de verdade

Quase morri

Abracei com o calor de meu corpo

Uma estátua gélida

Marmórea

Mas, hoje

Eu me libertei

 

63.

Certa pessoa

Entrou em minha casa

Varreu a sala

Limpou o banheiro

Regou as plantas

Lavou a louça

Arrumou a cama

Limpou o vidro da janela

Enfim, mal pude expressar

Minha gratidão

Mas a generosidade

Tem um preço

Às vezes, caro demais

 

64.

Eu amo você

E este amor

É resistência

À minha solidão

Eu amo você

E este amor

É feitiço

Do meu coração

Eu amo você

E este amor

É essência

Da minha vida

Eu amo você

E este amor

É perdido

É minha ferida

Para sempre

Para sempre

Volta

Por favor

Volta

Estou esperando

Sempre, sempre

Sempre esperando

 

65.

Cheguei tão cansado

Tão magoado

Tão desesperado

Nesta noite

Não há estrelas

Nem há Lua

Não há nuvens

Não há céu

Não há nada

Apenas eu

Só eu

Eu

Só eu

Tão desesperado

Tão magoado

Tão triste

Nesta noite

Sem estrelas

Sem Lua

Sem nuvens

Sem céu

Sem nada

Eu

Apenas eu

Para onde vou

Eu

 

66.

Não sei ganhar dinheiro

Também não sei amar

 

67.

Eu não penso com meu pensamento

Eu penso com meu sentimento

Não consigo ser racional

E calcular cada lance da minha vida

Como um jogo de xadrez

Impetuosamente, derrubo as peças

Jogo no chão

Atiro-as longe

Meu mundo é caos

Girando, girando

Rodamoinho devastador

Sou um fundamentalista fanático

Um louco aprisionado dentro de mim

Saudade, soledade

Ciúme, zelo

Crime

Às vezes alguém me diz

Você é inteligente, tem capacidade

Eu respondo: não quero nada disso

Quero andar sob o sol e sentir o vento

Quero ser feliz

E quero amar

Porque na verdade sou infeliz

Algo que descobri muito cedo e finjo esquecer

 

68.

A vida passa tão depressa

Que nunca deixamos

De ser criança

 

69.

Amor maior amor

Nunca houve

Maior que o meu

Tortura, dor

Amor, sou seu

Amor maior amor

Nunca houve

Maior que o meu

Veneno, que mata

Amor, sou eu

Sou nada

Sem você

Sou acaso

Sem sentido

Me diz o que é vida

Pois morrer eu sei

Suplico, imploro

Diga-me, diga-me

É fantasia, eu sei

O mundo não existe

Porque a vida

Não pode ser tão triste


70.

A vida é sem querer

Viver é tudo querer

 

De repente, eu

Me vi, aqui

 

Sem nada entender

 

Se não é

Eu sou

Se de fato

De mim

Nada sobrou

Pois, se é

De fato

Assim

Não sou

 

Resoluto

Sou

Absoluto