segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Benvenuto Cellini, o gênio aventureiro

Benvenuto Cellini nasceu em Florença no ano de 1500, filho de Giovanni Cellini, fabricante de instrumentos musicais, de quem herdou a habilidade manual, e Maria Lisabetta Granacci. O patriarca Giovanni queria seu filho músico e, por isso, os dedinhos ágeis do menino sobre as notas da flauta arrancavam lágrimas de alegria dos olhos paternos. A depender da vontade do pai, o futuro de Cellini já estava traçado trabalhando ao seu lado na oficina.

Retrato de Benvenuto Cellini

Realmente, Cellini era muito talentoso e, quando adulto, chegou a ser músico do Papa. Mas, desde a infância, Cellini gostava mesmo era do barulho dos martelos nas bigornas, do resfolegar dos foles, das faíscas que os rebolos tiravam das gemas brutas, do flamejar das brasas produzidas pela forja dos artesões nas ourivesarias.

Assim, para escapar das admoestações de seu pai, o rapaz costumava fugir para cidades vizinhas e passar meses fora de casa trabalhando como aprendiz de ourives. Aos 19 anos, partiu a pé para Roma, onde se dizia que o Papa dava dinheiro aos artistas como as fontes da cidade brotavam água.

Em Roma ganhou muito dinheiro e dentro de pouco tempo montou sua própria oficina. Mas um tiro certeiro de pistola daria início a uma sequência de aventuras que marcaram a conturbada vida de Cellini.

Em 1527, Roma estava sitiada. O Imperador Carlos V, da Áustria, ameaçava a cidade. Suas tropas eram comandadas pelo Duque de Bourbon, o Condestável da França.

Cellini montava guarda como sentinela voluntário quando viu os inimigos se aproximarem com uma escada de mão para escalar as muralhas da cidade e invadi-la. Cellini então apontou o arcabuz para o líder do grupo e bummm, atirou! A historiografia narra que naquele dia o Condestável foi morto por um sentinela anônimo. Teria sido Benvenuto Cellini? Se nos fiarmos nas palavras do próprio, sim!

Terminada a guerra, Cellini se tornou gravador da Casa da Moeda do Vaticano. Quando seu irmão foi morto numa briga de rua, o arrojado ourives não só jurou vingança como fez justiça com as próprias mãos.

Em 1537, fui aprisionado por ordem papal, conseguindo fugir pouco tempo depois sem muito sucesso, pois acabou preso novamente. Nesse meio tempo, Francisco I, da França, manifestou o desejo de nomear Cellini como ourives real. Um cardeal influente moveu os cordões junto ao Papa e Cellini foi liberto e transportado para a corte mais luxuosa da Europa. Foi nessa época que Cellini forjou o celebrado saleiro de ouro.

Em 1545, após algumas intrigas palacianas, envolvendo uma amante do rei, Cellini foi obrigado a regressar para Florença. Tornou-se então protegido do Duque Cosimo de Medici, notável patrono das artes. Cosimo sugeriu a Cellini que fizesse uma estátua do herói mitológico grego que matou a Medusa, o lendário Perseu. Empreendimento dos mais difíceis já realizado por um artista em toda a história, Cellini cuidou detalhadamente da tarefa monumental que o colocaria entre os maiores escultores de todos os tempos. A estátua de Perseu foi colocada no centro de Florença, onde ainda hoje se encontra.

Ao longo de sua vida, saíram de suas laboriosas mãos exóticos anéis, camafeus, broches, facas e punhais marchetados, jarros, cintos de prata para noivas, armas etc. Com sua arte, sustentou não apenas seus pais como também uma irmã viúva e seus seis filhos, jovens estudantes de arte e modelos e até uma família necessitada com a qual não tinha parentesco algum.

No século XVII, a descoberta de uma obra prima da literatura renascentista revelaria mais uma faceta do artista genial: Autobiografia, escrita por Cellini. O manuscrito ficou perdido por quase um século mas quando foi publicado contagiou a Europa como uma febre alucinante. Goethe traduziu a obra para o alemão, Berlioz compôs uma ópera chamada Benvenuto Cellini e Alexandre Dumas citou-a em Ascanius, além de se inspirar nas narrativas autobiográficas do ourives aventureiro para criar o personagem D’Artagnan, de Os Três Mosqueteiros.

Cellini, um gênio completo.