Benvenuto Cellini nasceu em Florença no ano de 1500, filho de Giovanni Cellini, fabricante de instrumentos musicais, de quem herdou a habilidade manual, e Maria Lisabetta Granacci. O patriarca Giovanni queria seu filho músico e, por isso, os dedinhos ágeis do menino sobre as notas da flauta arrancavam lágrimas de alegria dos olhos paternos. A depender da vontade do pai, o futuro de Cellini já estava traçado trabalhando ao seu lado na oficina.
Realmente, Cellini era muito
talentoso e, quando adulto, chegou a ser músico do Papa. Mas, desde a infância,
Cellini gostava mesmo era do barulho dos martelos nas bigornas, do resfolegar dos
foles, das faíscas que os rebolos tiravam das gemas brutas, do flamejar das
brasas produzidas pela forja dos artesões nas ourivesarias.
Assim, para escapar das
admoestações de seu pai, o rapaz costumava fugir para cidades vizinhas e passar
meses fora de casa trabalhando como aprendiz de ourives. Aos 19 anos, partiu a
pé para Roma, onde se dizia que o Papa dava dinheiro aos artistas como as
fontes da cidade brotavam água.
Em Roma ganhou muito
dinheiro e dentro de pouco tempo montou sua própria oficina. Mas um tiro certeiro
de pistola daria início a uma sequência de aventuras que marcaram a conturbada
vida de Cellini.
Em 1527, Roma estava sitiada.
O Imperador Carlos V, da Áustria, ameaçava a cidade. Suas tropas eram
comandadas pelo Duque de Bourbon, o Condestável da França.
Cellini montava guarda como
sentinela voluntário quando viu os inimigos se aproximarem com uma escada de
mão para escalar as muralhas da cidade e invadi-la. Cellini então apontou o
arcabuz para o líder do grupo e bummm, atirou! A historiografia narra que
naquele dia o Condestável foi morto por um sentinela anônimo. Teria sido
Benvenuto Cellini? Se nos fiarmos nas palavras do próprio, sim!
Terminada a guerra, Cellini se
tornou gravador da Casa da Moeda do Vaticano. Quando seu irmão foi morto numa
briga de rua, o arrojado ourives não só jurou vingança como fez justiça com as
próprias mãos.
Em 1537, fui aprisionado por
ordem papal, conseguindo fugir pouco tempo depois sem muito sucesso, pois acabou
preso novamente. Nesse meio tempo, Francisco I, da França, manifestou o desejo
de nomear Cellini como ourives real. Um cardeal influente moveu os cordões
junto ao Papa e Cellini foi liberto e transportado para a corte mais luxuosa da
Europa. Foi nessa época que Cellini forjou o celebrado saleiro de ouro.
Em 1545, após algumas intrigas
palacianas, envolvendo uma amante do rei, Cellini foi obrigado a regressar para
Florença. Tornou-se então protegido do Duque Cosimo de Medici, notável patrono
das artes. Cosimo sugeriu a Cellini que fizesse uma estátua do herói mitológico
grego que matou a Medusa, o lendário Perseu. Empreendimento dos mais difíceis
já realizado por um artista em toda a história, Cellini cuidou detalhadamente
da tarefa monumental que o colocaria entre os maiores escultores de todos os
tempos. A estátua de Perseu foi colocada no centro de Florença, onde ainda hoje
se encontra.
Ao longo de sua vida, saíram
de suas laboriosas mãos exóticos anéis, camafeus, broches, facas e punhais
marchetados, jarros, cintos de prata para noivas, armas etc. Com sua arte,
sustentou não apenas seus pais como também uma irmã viúva e seus seis filhos, jovens
estudantes de arte e modelos e até uma família necessitada com a qual não tinha
parentesco algum.
No século XVII, a descoberta
de uma obra prima da literatura renascentista revelaria mais uma faceta do
artista genial: Autobiografia,
escrita por Cellini. O manuscrito ficou perdido por quase um século mas quando
foi publicado contagiou a Europa como uma febre alucinante. Goethe traduziu a
obra para o alemão, Berlioz compôs uma ópera chamada Benvenuto Cellini e Alexandre Dumas citou-a em Ascanius, além de se inspirar nas narrativas autobiográficas do
ourives aventureiro para criar o personagem D’Artagnan, de Os Três Mosqueteiros.
Cellini, um gênio completo.
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