sexta-feira, 15 de julho de 2022

"Eu versos eu" - (Parte 5) - Antologia

 

antologia

41.

Este ponto que vai

Em movimento inercial

Numa dada direção vetorial

Sou eu

Aquele ponto

Que vem, passa rente

Em sentido oposto

Constante, sem parar, sem parar

É ela

Que tanto amo

É ela

Que tanto me ama

Passa, passa por mim

E se afasta, e se afasta

Cada vez mais

Cada vez mais...

Ah, desgraça!

Dia aziago

Ai coração

Por um triz

Eu quase sou feliz

 

42.

Como são surpreendentes

Os caminhos da vida

Quando tudo parecia o fim

De repente

Olha lá

Susto e alívio

E nós simplesmente

Conseguimos

Parecia até brincadeira

Tanto eram as risadas

 

Rir

Sorrir

Rir muito

E esquecer

Apenas sorrir

E cravar o nosso olhar

Um no outro, o nosso olhar

E amarrar os nossos braços

Com nó de marinheiro

Quem quiser dizer

Que o diga

Palavras

Ou

Emudeça

E diga com os olhos

Amar o mar o mar amor

 

Eu, por exemplo

Tenho confiança, certeza e convicção

Na bondade de Deus

Isso é o que eu queria dizer

E fico contente

Por alguém escutar

 

43.

De que adianta procurar Deus, Yuri

Nos confins do Universo

Em mundos insondáveis

Na escuridão extrema

Se Deus está

Em nossos corações

 

44.

O céu estrelado

A noite não tem pressa

As ondas se rendem

Na orla da praia

Bolhas murmuram

Na mansidão do mar

Nada me ocupa agora

Apenas tênues pensamentos

Tenho sono

Mas ficarei acordado

E aproveitarei cada instante

Sem qualquer preocupação

Tranquilo a ouvir o barulho das águas

A pintura do mar

A brisa molhada

O mundo é minha morada

 

45.

Apaga-se a luz

 

EU

 

Sou boca

Sou beijos

Sou língua

Nudez

Sou pele

Sou braços e mão

Sou pernas, abraço

Sou sensação

Desejo

Volúpia

Instinto

Sou bicho

Sou anjo

Sou corpo

Desgovernados

 

NÓS

 

Somos boca

Beijos

Língua

Nudez

Somos pele

Braços e mão

Pernas, abraço

Somos

Sensação

Desejo

Volúpia

Instinto

Bichos

Deuses

Somos corpos

Em confronto

 

Sou

 

SONHOS

 

Somos

 

De novo, de novo

De novo, de novo

 

46.

Meus amigos se vangloriam

De suas conquistas amorosas

Contam seus troféus

Tão fácil; levianos

 

Eu não tenho nada pra contar

Porque se eu conquistasse

O meu amor

Seria como descobrir

Um novo mundo

 

47.

Quando conseguir resolver os meus problemas

Serei o homem mais feliz do mundo

Sei disso com certeza absoluta

Não quero ser você ou qualquer outro

Não posso ser outro além de mim mesmo

Não posso ser outro em outro lugar

Acordar num corpo outro

Numa outra pessoa, num outro

Tenho de ser eu sempre eu

Olhar para o espelho e ver a prisão que sou eu

Sentir minhas lágrimas, não suas

As suas eu sinto nas minhas

Por isso tenho esta certeza de ser sempre

E viver em minha inteiridade, una e total

Não posso desistir de mim mesmo nunca

Abandonar meus sonhos, ideais e paixão

Simplesmente não posso me abandonar

É a minha vida

Sou eu

Eu

Poroso

Sem contorno

Quando eu morrer, o mundo irá comigo

Nada existiria se não fosse por mim

Sou eu quem inventou a realidade

Sem mim nada é

Mas se tudo depende de mim

A minha loucura dá sentido a tudo

Eu sou o homem mais feliz do mundo

 

48.

Tenho medo do mundo

Dos meus fantasmas

Em toda parte

Nos objetos

Nas árvores

Em um motorista

Em uma secretária

Em um bancário

Em uma garçonete

Enfim, em tudo e todos

Tenho medo

E tento fugir

Encontrar um canto

Para me esconder

Em algum lugar isolado

Escuro

 

O que estou fazendo comigo?

Acorrentei minha própria liberdade

É angustiante

Triste, tudo perde o sabor, a cor

Autopunição, flagelo

Me sinto um trapo

Amedrontado

Pela minha mente

Torno gigantes

Pequenos problemas

Sinto-me fraco

Tenho medo de olhares

Todos os olhares

São incontáveis

São intoleráveis

Fujo

Estou no fundo do poço

Mas a partir de agora

Consagro um pacto

Comigo mesmo

Tenho de sobreviver

Faço um compromisso com a vida

Pois viver é superar

Superar a si mesmo

Superar as dificuldades

E recomeçar tudo outra vez

Dar um passo atrás

Para depois seguir em frente

Tenho de sobreviver

Eu pago minhas dívidas

Com a própria vida

 

49.

Eu que não dou uma flor

A quem não reconhece

A beleza de uma flor

E não sabe cuidar

Numa jarra de cristal

Eu que não dou uma flor

A quem não vai retribuir

Com um beijo uma flor

Ou com um muito obrigado

 

Amor, amor, amor, amor

 

50.

Abro os olhos

E me encontro perdido

Confuso

Sobre mim mesmo

Sobre a vida

O Universo

O vento a soprar

As flores

Os galhos, que sacodem

Tudo é tão dramático!

Em cada lugar

Em cada momento

Em cada átomo

Em cada infinito

Em cada íntimo

Algo está acontecendo

Em alta tensão

Tão assustador

Tudo por um fio

Nuvens cobrem o céu, devagar

Trovoadas

Algo está acontecendo

Em alta tensão

Movimento

Já vi e ouvi

Tudo isso antes

Conheço a natureza

Observando a mim mesmo

Aprendo com ela

Quem sou

 

51.

Olhos as estrelas

Não para procurar constelações

Não para saber seus nomes

 

Mas para namorar a vida

 

52.

Chove uma nuvem

Em mim

 

53.

Daqui a pouco

Abrirei meus olhos

E estará quase amanhecendo

Motores

Automóveis, ônibus

Anunciam o fim da madrugada

Vejo o céu

Quase claro

Não consegui dormir

Sequer um segundo

Foram horas de angústia

De ansiedade

Eterna tragédia noturna

A luta contra a vigília

Correnteza de pensamentos

Percorrendo meu corpo

Maremoto

E que solidão me aflige

E ninguém pode me ajudar

Quem vai saber

Eu só queria dormir

Aqui, sozinho, na cama

Não consigo, outra vez

Emoção

Ouço ruídos

Portas de ferros, rangendo

Cadeados, destrancando

Explosões, latas, caindo

Impacto, motores

Buzinas, guindastes

Aço, passo, passos

O sol triunfante

Enchendo de luz, o mundo

Dádiva luminosa

Amanhece, clareando

Que bom

Ainda posso escutar

Os passarinhos: sabiá, pardal

Tico-tico, o sebinho

A cantar neste mundo

Mar-de-motores

 

54.

Nunca nenhuma mulher

Disse para mim

Eu te amo

Nenhuma mulher ama um farrapo

Nenhuma mulher ama um trapo

Nenhuma mulher ama um punk

Nunca ouvi

Eu te amo

Na voz doce

De uma mulher

Nenhuma mulher ama um farrapo

Nenhuma mulher ama um trapo

Nenhuma mulher ama um punk

Nem tive atenção

Minha falta nunca fez falta

Nenhuma mulher

Cobrou satisfação, explicações

Com quem eu estava

Onde eu estava

Nunca fiz diferença

 

Se a solidão me causava tristeza

Se eu sofria

Ninguém se importava

Como se eu não existisse

Como se eu não fosse nada

Nunca

Ninguém

Nenhuma

Nenhuma mulher

 

Será que realmente existe amor neste mundo

Ou é tudo ilusão?

Eu que tanto amo

 

Nenhuma mulher

Disse eu te amo

 

55.

É preciso

Ter boa vontade

Disposição

Estar feliz

Liberdade

E querer

Para se apaixonar

É preciso

Sonhar

Para amar

 

56.

Meus sentimentos

E pensamentos

São nuvens

Turbulentas

Instabilidades

Infinitas

 

57.

Não sei nem dizer

O que eu senti

Suei frio

Talvez, medo

Muito medo, ou muito mais do que isso

Por pouco não chorei

Clamei, clamei, por Deus

Pensei: não volto pra casa

Mas Deus estava comigo

E me ouviu

E atendeu o meu clamor

E pude seguir

Rezei ao chegar em casa

Me emociono ainda ao lembrar

 

58.

Meus pensamentos

São furacões

Furacões

Devastadores

 

59.

O que tento fazer, às vezes

É tentar descrever

O que estou sentindo

Quais emoções

Provocadas pelo pensamento

Sinto nestes momentos

E, de vez em quando, entendê-las

 

Agora sinto um grande vazio

 

Uma grande fraqueza

Desilusão, da vida

E incerteza

Como se a esperança

Não importasse

O mundo se torna amedrontador

Tenho medo

Refugio-me em mim mesmo

Esconderijo escondido

Em mim mesmo

Me escondo

Tranco todas as portas

E ninguém pode entrar

E lá dentro, me encontro, chorando

Em mim mesmo

 

 

Descrevo escrevendo

Meus sentimentos

Mas não posso nunca esquecer

De esperar a esperança

É ela que anima estas páginas

Neste lugar escuro

Aos poucos, vou iluminando

Seus segredos

E, talvez, encontre uma saída

Mas as portas estão trancadas

Por fora

E somente eu tenho as chaves

 

Existe um lugar bonito

Bem perto daqui

Além das paredes

Se a luz da esperança apagar

Estarei perdido, estarei

Só sempre só

Sozinho aqui

Quem poderia apagar a luz?

Eu

Somente, eu

A luz, as chaves, o conhecimento

Tudo está em minhas mãos

Só preciso ter fé, muita fé

Nunca desistir

Vou conseguir

Deus me protege

 

Eu assopro

E apago a luz

 

60.

Estou à deriva

Numa tempestade

O céu cai em mim

As ondas explodem

Em mim

Arrastado no meio

Do sem fim