21.
Perder
um amor
Não
é só perder
A
certeza da sua presença
É
perder uma época da vida
Relegar
a eternidade ao passado
-
Não me deixe
O
que está fazendo
Não
consegue entender
Que
o amor é tudo
Numa
vida em que somos nada
E
como são bonitos os dias coloridos
O
céu azul eu-e-você
A
relva verde nossos-sorrisos
A
rosa roseira seu-olhar
O
mar amarelo o meu-amar
Pôr-do-sol
E
nas placas escritas, nossos nomes
Por
onde eu sempre ando
Como
pode alguém abandonar amor
É
difícil dar valor ao amor
Quando
nos julgamos deuses
Ora,
mas para quem estou falando
Sozinho
aqui, desesperado
Talvez,
o curso natural das coisas
É
assim mesmo
Você
ainda é novo
Vai
conhecer outra pessoa
Até
mais bonita, até melhor
É
difícil pra mim, aceitar
Triste
fatalismo
Nada
posso fazer
Hoje,
esperei todo o dia
A
noite toda
Até
o relógio na parede
Repreendeu-me
a teimosia
Você
nunca vem
Já
o sol entra pelas frestas da janela
Outro
dia, de novo
Ela
faltou não por causa da chuva
Pois
nem a queda de um asteroide
Atrasaria
o nosso encontro de amor
Então
pergunto
O
que restou
Voltei
para casa, a pé
Você
sabe como sou
Segui
o mesmo caminho de sempre
Repisei
nas mesmas pegadas, pisadas ontem
De
repente, a igreja
Que
representou o nosso amor
No
altar em que depositei esperança
Estava
lá ainda, a esperar
Desconexa,
côncava e convexa
Ou
foi apenas a sua lembrança
Saudade
Andando
sob a chuva
Pensando
nos intrusos do amor
Pessoas
estranhas
Que
agora fazem parte da minha vida
Um
novo período, um tempo novo
Talvez
uma grande paixão
Que
eu não quero
Pode
ser que este meu desespero
Venha
de uma visão trágica da vida
Então,
quero sentir bem a chuva
Os
pingos gelados
Que
molham o meu corpo
Para
sentir bem o que é viver
Enfim,
chego a algum lugar
A
tristeza me espera solene
Impregnada
em cada átomo
Nos
Infinitos do mundo
Nas
paredes, tijolos, e móveis
Nas
roupas, luzes, e sombras
Ou
sou eu que sou átomo espalhado
Em
cada coisa, todas as coisas
Partículas
infinitas no cosmo
Sem
tempo espaço
Ah,
ajude-me, alguém
Ajude-me
Pegue
na minha mão e tire-me daqui
Eu
não sei o caminho
Por
Deus, socorro
Uma
luz
Espere,
uma luz
Tudo
está claro
Eu
posso saber
Um
amor não é suficiente
É
preciso compartilhá-lo
22.
Já
escrevi uma vez
Que
queria escrever
Versos-cristais
Lapidados
Brilhantes
Simétricos,
métricos
Em
cada sílaba
Como
não consigo
Deixo
bruto
Minha
escrita dissonante
Trêmula
Como
um vulcão, o meu coração
23.
D’agora
em dantes, só escrevo sonetos clássicos
Ritmo,
métrica, som, forma conteúdo
Diligência,
rigor, trabalho sobretudo
Quimeras
entalhadas em meus versos mágicos
Partiu
Quebrou
Inspiração
Indomável
Impaciente
Indulgente
Insurgente
Rebelde
Redondilhas
quadradas
Quadradilhas
redondas
Regras
Disciplina
Grades
Palavras
Cárcere
Da
alma
Escrevo
Reação
em cadeia
Dominó
bomba atômica
Explosão
implosão
Espírito
matéria
Corpo
pensamento
Não!
Não
passo de um mau ator
Poeta,
então
Tenha
dó
Não
sei representar
A
minha vida
O
meu papel
Papelão
No
papel
Os
meus versos
Sei
que existe presunção
Daqueles
pequenos que sonham em ser grandes
E
que de grande mesmo só a presunção
Polemicas
à parte
Volto
às voltas
Tonto
fico
Tarefa
de escrever
Eu
mesmo
Porém,
nenhuma palavra me cabe
Que
tal falácia
Palavra
preferia por nove
Dentre
dez intelectuais
Talvez
porque nenhuma palavra
Os
defina melhor do que sua preferida
Ato
falho
Deselegância
Grosseria
Arcaísmo
O
soneto saiu pior que a emenda
Falta
uma silaba poética
A
tônica está fora de lugar
Trovador,
bardo, poeta, vate, picareta
Mau
poeta nunca se emenda
O
que me resta é descrever despretensiosamente
Sem
saber onde quero chegar com isso
E
disso resulta muita pergunta
De
ordem existencial inclusive
Mas
sou um adepto da desordem
Eu
não preciso de forma
Nem
molde
Sou
um pouco às avessas
Isto
é pós-modernidade
Pós!
Pós! Pós! Pós! Pós! Pós
Pós
por falta de outra palavra
Impossibilidade
de escrever poesia
24.
Os
olhos mais lindos que eu vi
Não
eram azuis, verdes, castanhos, negros
Eram
os seus, que me fizeram apaixonar
25.
Agora
que você foi embora
Que
seguiremos destinos opostos
Desejo-lhe
uma vida feliz
Quanto
a mim, desengano-me
De
qualquer boa esperança
Não
me console
Não
me chame de amigo
Pois
a partir de agora somos inimigos
Não
posso aceitar serenamente
E
bater no peito e dizer: a vida continua
Sim,
porque só a tristeza merece acabar
Você
era minha Dulcinea
A
princesa mais linda de todo o mundo
Aldonza
Lorenzo
Minha
amada e doce prostituta
Que
amo tanto
Amo
mais do que tudo
Amo
demais
Fiel
a esse amar
Mas
o que posso fazer
Convencê-la
de que me ama também
Ou
devo esperar sua piedade
A
renúncia de sua vida
Eu
já renunciei a minha
Abandonei
tudo
Pra
viver a aventura de amar
Venci
moinhos
Que
eram gigantes
Venci
Golias
E
me tornei rei de um império
Do
tamanho de uma noz
Por
amar tanto você
25.
Nosso
amor impossível
Um
infinito nos separa
Metafísica
indizível
Para
onde você foi
Não
está aqui
Esqueci
como você era
Preciso
te ver novamente
Quando
Não
sei
Onde
Não
sei
Não
sei de onde ou quando
Eu
te conheço
Talvez,
não passe de ilusão
Se
existe realmente
Diga-me,
meu amor
Quem
é você
Você
é deste mundo
Ou
do meu
Tenho
a impressão
De
ouvir sua voz
Você
enfim veio
Amor,
amor
Jurei
que não ia mais chorar
Não
são lágrimas não
Não
são lágrimas essas lágrimas
Eu
estou bem
Coisa
passageira
Qual
é o tamanho do universo
Dentro
de mim não tem fim
Hoje
vou sair
Vou
a uma festa
Vai
ter muita gente, amigos
E
garotas também
Vou
encher a cara
Usar
drogas
Cair
entorpecido
Eu
posso me sentir só
Sem
você
Apesar
de tudo, eu vou
Não,
não posso mais suportar
A
imagem do seu rosto
Outras
pessoas são como fotografias
Lembro-me
de cada detalhe
Mas
você
Por
que eu não consigo me lembrar
Preciso
te ver novamente
Agora
Preciso
te ver
Senão
eu enlouqueço
Seja
lá onde você está
Apareça
Volte
Agora
Eu
preciso que você escute
Que
eu te amo
Só
isso
Você
não tem saída
Ou
meu amor, ou meu amor
Olhe
as pessoas como estão tristes
Apegadas
à mentira
Quem
quer viver assim
Alguém
precisa dizer a elas
Que
a felicidade não é uma mentira
As
ruas estão escuras
Apenas,
vou
A
cada passo, luzes se acendem
Sou
vigiado
Sou
suspeito
Inimigo
da sociedade
E
sou de fato inimigo
Você
de novo
Não
consigo recordar a imagem do teu rosto
E
no entanto é tão insuportável
Preciso
te reencontrar
Para
me completar, juntar meus cacos
Preciso
encontrar
O
futuro
Porque
o presente é
Tirânico,
despótico
Imutável,
eterno
Estou
preso a você, meu amor
Me
solta, me deixe
Estou
preso a você, meu amor
Pra
sempre, pra sempre
Não
posso te perder
Por
que me beijou enquanto eu dormia
E
fugiu antes mesmo de eu acordar
Ainda
posso sentir teu beijo, teu gosto
Gosto
de você
Ainda
posso sentir
26.
A
taxonomia médica
Classificaria
meus sentimentos
De
transtorno depressivo
Ou
tristeza profunda
Um
especialista psiquiátrico
Esconderia
uma camisa de força
Debaixo
da mesa
E
na ocasião apropriada
Zás!
Pronto. Pego. Preso
Mas,
doutor, eu só estou
Apaixonado
Tristeza
patológica uma ova
Me
olham com espanto
Como
um rato de laboratório
Alguns
têm compaixão
Outros,
brutal indiferença
Medicamentos
psicotrópicos
Remédios,
terapias
Internação,
solidão
Tratamento,
lamentos, choque elétrico
Mas,
doutor, eu só estou
Apaixonado
Querem
acabar com meu amor
Anestesiando
minhas quimeras
Meus
instintos, meus impulsos
Impossível
Há
um incêndio em meu coração
Tirem
as mãos de mim, hipócritas
Deixem-me
em paz, assassinos
Assassinos,
assassinos de alma
Acabar
com meu amor
Como
se fosse doença vulgar
Não
encostem as mãos em mim
Fora
daqui, sumam daqui
Doutor,
doutor, eu só estou
Apaixonado
Eu
nunca fiz mal a ninguém
Nunca
prejudiquei alguém
Sempre
procuro fazer o bem
Sou
gentil e leal também
Bem
ajudo sem olhar a quem
Vou
e volto, sempre, vai-e-vem
Faço
conta e conto de um a cem
E
no fim sempre tem um porém
Agora
basta, basta de tanto “em”
Rima
sem nem
E
por quê
Ufa!
Até que enfim
Fim
Doutor,
doutor, eu só estou
Apaixonado
Patologia
paranoica
Fobia
obsessiva
Medo
de viver
Medo
de gostar
Medo
do amor
Medo
da paixão
Medo
de amar
Medo
de ser feliz
Medo
de amar loucamente
Doutor,
eu só estou
Apaixonado,
doutor
Contrariando
o bom-senso
Contrariando
os bons costumes
Contrariando
a moral
Contrariando
as regras
Contrariando
os regulamentos
Contrariando
a ordem
Contrariando
o pudor
Contrariando
o dever
Contrariando
o dever-ser
Contrariando
recomendações
Contrariando
conselhos
Doutor,
eu só estou
Apaixonado
27.
Enfim
Manchei
O
meu amor
Tão
puro quanto água na fonte
Com
sangue
Manchei
Meu
grande amor
Nem
puro
Nem
grande
Ousou
meu coração
A
bater por outro amor
E
assim o antigo
Foi
profanado pelo novo
Impossível
um
Amor
absoluto
Total
e infinito
Um
novo amor
Tão
indesejado
Tão
odiado
Manchou
com sangue
Meu
grande amor
No
meu peito
Um
vazio, dentro dum vazio
Um
vazio cheio
De
vazio
Solidão
Meu
amor
Não
é mais o amor da minha vida
Vida
medíocre
Apenas
engrandecida pelo amor
Sou
igual a todo mundo agora
Um
namorado vulgar
Nem
sonhador nem romântico
Nem
lunático
Não
sou mais único
Se
Deus me desse mais uma chance
Mas,
não
Quero
ir, então, ao cadafalso
Condenado
à pena capital
Não
há pecado mais abjeto
Crime
mais pérfido
Que
o meu
Eu
manchei de sangue
Meu
grande amor impossível
Com
um novo amor possível
Se
pudesse voltar ao dia de ontem
E
fazer tudo diferente
Amar
como louco
Mas,
não
Fui
pequeno
Egoísta
Não
me arrependo, no entanto
Eu
quis manchar o meu amor
Quis
vê-lo sangrar
Traí-lo
Maldito
sou
Não
mereço perdão
Amor,
amor, me perdoa
Me
perdoa
Meu
grande amor
Me
perdoa
Por
favor
28.
Quando
a conheci
Li
traição no fundo de seus olhos
Obscurecida
pela paixão
Quase
ilegível
Depois
me abandonou
Traiu
e depois voltou
Magoado,
repudiei
Arrependido
Procurei,
procurei
E
depois reencontrei
Distante
O
destino, movido de acasos
Trouxe
você de volta
Mas
não nos olhamos
Encostamos
um num outro
Esbarramos
Sem
querer
Roçando
nossas mãos
E
nossas peles sentiram saudades
Procurando
prazer
Dissimulados
Inocentes
e magoados
O
meu desejo ímpio
Aprisionou-me
em seu
Amor
29.
As
luzes de Natal
Enfeitam
toda a cidade
O
que posso dizer
Feliz
Natal
30.
Neste
ano
Vi
todos os meus sonhos
Afundarem