A Formiguinha
Vagarosa
Autora: Nilza Monti
Pires
Ilustrações: Sabrina Paloma e Annina Ramona
Em um
formigueiro viviam as formiguinhas sempre alegres e tranquilas.
Mas
quando o inverno estava para chegar, as formiguinhas ficavam muito ansiosas e
intranquilas com os obstáculos diários que o inverno traz, pois além dessas
incertezas ainda tinham que armazenar alimentos para a comunidade por vários
meses.
Elas iam
bem depressa, pois achavam seu trabalho árduo e cansativo.
Entretanto,
havia entre elas uma formiguinha muito vagarosa, andava bem devagar.
Todas as
formiguinhas achavam muita graça da morosidade dela, enquanto todas já voltavam
para o formigueiro, ela ainda estava indo, apesar de vagarosa, era muito
laboriosa e assídua no seu trabalho.
- Ei! Irmãzinha –
perguntou ironicamente - porque andas tão devagar?...
A formiguinha
vagarosa respondeu:
- Ando devagar para
olhar o lindo céu azul com seus flocos de nuvens brancas. Paro um pouco para
escutar o canto dos pássaros, vejo as árvores verdes, também saboreio umas
frutinhas que encontro pelo caminho, vou tateando lentamente o chão com minhas
seis patinhas e minhas anteninhas saindo do buraco que encontro e ainda respiro
esse ar tão agradável... Isto é extremamente recompensador.
E todas riam: Ah, ah,
ah!
- É uma formiguinha
sonhadora...
- É uma detalhista,
repara em tudo, respondeu a outra.
- Bom temos que ir... Estamos cansadas e queremos chegar logo.
Mas a formiguinha vagarosa era muito calma, nunca se irritava com
nada e assim continuou andando bem tranquila sentindo o calor do sol,
afastando-se despreocupadamente.
Certa manhã, como de costume, as
formiguinhas saíam logo cedo, pois cada uma tem que cumprir um papel muito
importante dentro da colônia onde vive.
E como sempre acontecia, quando estavam voltando, encontraram a
formiguinha vagarosa ainda no meio do caminho.
Ei, formiguinha vagarosa, saiu bem cedinho e ainda está aí? Veja o
céu está ficando mais escuro, vem muita chuva, é melhor voltar senão a chuva vai
te pegar e ainda andas tão devagar... Ah! ah! – riu a formiguinha.
- Com certeza vai chover muito – disse a Formiguinha Vagarosa –
mas ainda não terminei o meu trabalho. Aliás!... Uma chuvinha não é tão ruim –
falou serenamente.
- Uma chuvinha?! – respondeu a outra. Está ameaçando um temporal!
- É verdade o temporal está chegando - disse a Formiguinha
Vagarosa.
- Então acho melhor você voltar.
- Não posso interromper, tenho que cumprir minha tarefa, não gosto
de deixar as coisas pela metade e mal feitas.
- Então vá depressa, em todo caso é preciso ter muito cuidado –
aconselhou – o caminho vai ficar perigoso.
A
Formiguinha Vagarosa agradeceu e continuou o seu caminho, bem sossegada.
Logo
depois começou uma ventania muito forte, os galhos das árvores envergavam e
alguns quebraram, as folhas voavam para todos os lados, o vento assobiava
produzindo um som agudo e prolongado, os animais fugiam apavorados, as formigas
de medo largaram toda a comida que traziam.
De
repente um brilhante risco cruza o céu em ziguezagues iluminando a escuridão e
logo em seguida um grande estrondo.
A chuva
começou a cair impiedosamente, mal se via qualquer coisa pela frente.
- Vamos
correr mais que depressa para o formigueiro – disse uma das formiguinhas – vem
vindo um furacão, ele levanta poeira e a lama desmorona tudo o que encontra
pela frente.
E a chuva continua implacável.
As
formigas chegaram com muito sacrifício ao formigueiro, e preocupadas com a
demora da Formiguinha Vagarosa, pois a cada minuto a chuva piorava mais:
- Coitada
da Formiguinha Vagarosa, aonde poderia estar numa tempestade como essa?
- Pois é,
não quero nem pensar, tentamos persuadi-la, mas foi tudo em vão, queixou a
formiga.
- Pois eu
avisei que deveria voltar, ela anda tão devagar.
Assim
lamentando o destino da Formiguinha Vagarosa, nem perceberam a água invadindo o
formigueiro numa rapidez incrível.
- Olha – gritou uma
das formigas – a água está cobrindo todo o formigueiro!
- Que horror!
- Vamos sair logo
daqui.
- Não dá mais, tem
muita água acumulada, vamos nos afogar, a água está entrando depressa demais.
E assim a água cobriu
todo o formigueiro deixando as formigas ao desamparo, cansadas de ficar boiando
num vai e vem das águas, que estava acabando com suas forças já debilitadas
pela fome e pelo cansaço.
O desespero era
grande e já não tinham mais esperança de sobreviver.
- Vamos nos afogar...
tem muita água!
- Socorro! – gritavam
as formiguinhas.
E assim o desespero
era cada vez maior.
Quando de repente
surgiu por encanto, no meio daquele aguaceiro, em cima de uma folha gigante a
Formiguinha Vagarosa.
Vendo
as suas irmãzinhas se afogando gritou:
-
Aguenta mais um pouco, espera mais um pinguinho que estou chegando, vou salvar
todas vocês, fique calmas.
- Todas
ficaram espantadas, nem acreditaram no que viram.
- Não é
possível!!!
- É a Formiguinha
Vagarosa, ela está viva e veio nos salvar. Graças a Deus!
- Veja
que astúcia, numa folha gigante!! – a outra exclamou.
- Como
ela é engenhosa...
As formiguinhas não cabiam em si
de tanta alegria.
E assim foram todas salvas.
- Graças a você, Formiguinha Vagarosa, que estamos são e salvas.
Pedimos desculpas pela nossa ironia.
Não foi nada – disse a Formiguinha Vagarosa com otimismo de sempre.
- Me diga como você teve essa ideia genial descobrindo essa folha
gigante?
- É muito simples, usando a minha criatividade, meus sensores de
vibração, meus sensores químicos e eletromagnéticos.
- Você é um gênio – disse uma das formiguinhas com entusiasmo.
E dali por diante a Formiguinha Vagarosa era muito respeitada por
suas ideias.
E assim a Formiguinha Vagarosa ia andando com seus pensamentos.
- Imagine! – riu satisfeita – É incrível, me consideram um gênio
só porque salvei todas com uma simples folhinha!