quarta-feira, 1 de julho de 2015

A Formiguinha Vagarosa

A Formiguinha Vagarosa

Autora: Nilza Monti Pires
Ilustrações: Sabrina Paloma e Annina Ramona



Em um formigueiro viviam as formiguinhas sempre alegres e tranquilas.


Mas quando o inverno estava para chegar, as formiguinhas ficavam muito ansiosas e intranquilas com os obstáculos diários que o inverno traz, pois além dessas incertezas ainda tinham que armazenar alimentos para a comunidade por vários meses.


Todos os dias, logo de manhãzinha saíam de sua toca bem apressadas, pois (a jornada era longa) o caminho era longe e árduo. Sentiam-se inseguras e com medo das desagradáveis surpresas que encontravam no meio do caminho. 



Elas iam bem depressa, pois achavam seu trabalho árduo e cansativo.

Entretanto, havia entre elas uma formiguinha muito vagarosa, andava bem devagar.

Todas as formiguinhas achavam muita graça da morosidade dela, enquanto todas já voltavam para o formigueiro, ela ainda estava indo, apesar de vagarosa, era muito laboriosa e assídua no seu trabalho.

- Ei! Irmãzinha – perguntou ironicamente - porque andas tão devagar?...

A formiguinha vagarosa respondeu:

- Ando devagar para olhar o lindo céu azul com seus flocos de nuvens brancas. Paro um pouco para escutar o canto dos pássaros, vejo as árvores verdes, também saboreio umas frutinhas que encontro pelo caminho, vou tateando lentamente o chão com minhas seis patinhas e minhas anteninhas saindo do buraco que encontro e ainda respiro esse ar tão agradável... Isto é extremamente recompensador.

E todas riam: Ah, ah, ah! 

- É uma formiguinha sonhadora...

- É uma detalhista, repara em tudo, respondeu a outra.

- Bom temos que ir... Estamos cansadas e queremos chegar logo.


Mas a formiguinha vagarosa era muito calma, nunca se irritava com nada e assim continuou andando bem tranquila sentindo o calor do sol, afastando-se despreocupadamente.

Certa manhã, como de costume, as formiguinhas saíam logo cedo, pois cada uma tem que cumprir um papel muito importante dentro da colônia onde vive.


E como sempre acontecia, quando estavam voltando, encontraram a formiguinha vagarosa ainda no meio do caminho.


Ei, formiguinha vagarosa, saiu bem cedinho e ainda está aí? Veja o céu está ficando mais escuro, vem muita chuva, é melhor voltar senão a chuva vai te pegar e ainda andas tão devagar... Ah! ah! – riu a formiguinha.

- Com certeza vai chover muito – disse a Formiguinha Vagarosa – mas ainda não terminei o meu trabalho. Aliás!... Uma chuvinha não é tão ruim – falou serenamente.

- Uma chuvinha?! – respondeu a outra. Está ameaçando um temporal!

- É verdade o temporal está chegando - disse a Formiguinha Vagarosa.

- Então acho melhor você voltar.

- Não posso interromper, tenho que cumprir minha tarefa, não gosto de deixar as coisas pela metade e mal feitas.


- Então vá depressa, em todo caso é preciso ter muito cuidado – aconselhou – o caminho vai ficar perigoso.
A Formiguinha Vagarosa agradeceu e continuou o seu caminho, bem sossegada.

Logo depois começou uma ventania muito forte, os galhos das árvores envergavam e alguns quebraram, as folhas voavam para todos os lados, o vento assobiava produzindo um som agudo e prolongado, os animais fugiam apavorados, as formigas de medo largaram toda a comida que traziam.

De repente um brilhante risco cruza o céu em ziguezagues iluminando a escuridão e logo em seguida um grande estrondo.

A chuva começou a cair impiedosamente, mal se via qualquer coisa pela frente.


- Vamos correr mais que depressa para o formigueiro – disse uma das formiguinhas – vem vindo um furacão, ele levanta poeira e a lama desmorona tudo o que encontra pela frente.
E a chuva continua implacável.

As formigas chegaram com muito sacrifício ao formigueiro, e preocupadas com a demora da Formiguinha Vagarosa, pois a cada minuto a chuva piorava mais:

- Coitada da Formiguinha Vagarosa, aonde poderia estar numa tempestade como essa?

- Pois é, não quero nem pensar, tentamos persuadi-la, mas foi tudo em vão, queixou a formiga.

- Pois eu avisei que deveria voltar, ela anda tão devagar.


Assim lamentando o destino da Formiguinha Vagarosa, nem perceberam a água invadindo o formigueiro numa rapidez incrível.
- Olha – gritou uma das formigas – a água está cobrindo todo o formigueiro!

- Que horror!

- Vamos sair logo daqui.

- Não dá mais, tem muita água acumulada, vamos nos afogar, a água está entrando depressa demais.

E assim a água cobriu todo o formigueiro deixando as formigas ao desamparo, cansadas de ficar boiando num vai e vem das águas, que estava acabando com suas forças já debilitadas pela fome e pelo cansaço.

O desespero era grande e já não tinham mais esperança de sobreviver.

- Vamos nos afogar... tem muita água!

- Socorro! – gritavam as formiguinhas.

E assim o desespero era cada vez maior.


Quando de repente surgiu por encanto, no meio daquele aguaceiro, em cima de uma folha gigante a Formiguinha Vagarosa.


Vendo as suas irmãzinhas se afogando gritou:

- Aguenta mais um pouco, espera mais um pinguinho que estou chegando, vou salvar todas vocês, fique calmas.

- Todas ficaram espantadas, nem acreditaram no que viram.

- Não é possível!!!

- É a Formiguinha Vagarosa, ela está viva e veio nos salvar. Graças a Deus!

- Veja que astúcia, numa folha gigante!! – a outra exclamou.

- Como ela é engenhosa...


As formiguinhas não cabiam em si de tanta alegria.

E assim foram todas salvas.

- Graças a você, Formiguinha Vagarosa, que estamos são e salvas. Pedimos desculpas pela nossa ironia.

Não foi nada – disse a Formiguinha Vagarosa com otimismo de sempre.

- Me diga como você teve essa ideia genial descobrindo essa folha gigante?

- É muito simples, usando a minha criatividade, meus sensores de vibração, meus sensores químicos e eletromagnéticos.

- Você é um gênio – disse uma das formiguinhas com entusiasmo.

E dali por diante a Formiguinha Vagarosa era muito respeitada por suas ideias.

E assim a Formiguinha Vagarosa ia andando com seus pensamentos.


- Imagine! – riu satisfeita – É incrível, me consideram um gênio só porque salvei todas com uma simples folhinha!