11.
Vão-se
os anos
E
eu ainda te amo
Vai-se
a vida
Sem
sentido perdida
E
eu ainda te amo
Chega
de versos sem métrica
Chega
de versos sem rima
Chega
de versos
Tenho
vinte e oito anos
E
já me sinto cansado
Da
vida
Mas
Olha,
aquele estrelinha
Perto
do horizonte
Só
pode ser, só pode ser
A
esperança
12.
Meus
olhos
Quando
te olham
Devem
ser tristes
Como
o céu
De
noite
Infinito
De
algum modo
Devem
dizer
Eu
sei que dizem
Que
a minha paixão
Por
você
Ainda
vive
E
a falta
Não
é de seus beijos
Não
é de seu corpo
Mas
do seu amor
Procuro
você
Nos
lugares
Em
que frequentávamos
E
só encontro sua lembrança
13.
Quem
disse que o corpo é matéria
Não
o sinto, parece vácuo
Feito
de vazio
Minha
alma é a única realidade concreta
Única
certeza em um mundo
Feito
de sonho
14.
Meus
pensamentos
São
como catapultas:
Lançam
para os céus
Meus
próprios
Pensamentos
Que
se repartem
Em
infinitas
Constelações
Por
eles mesmos inventadas
E
a beleza do universo
De
infinitas estrelas
Consola
minha solidão miserável
Esqueço
das tristezas telúricas
E
concluo, refletidamente
Que
não voltem mais
E
assim
Um
corpo machucado
Pelo
próprio coração
Refugia-se
em pensamento distante
15.
Eu
não tenho filhos
Talvez
porque perdi
O
meu grande amor
Além
do quê, estou
Tão
pobre que ser
Pai
agora seria uma
Irresponsabilidade
mas
tenho sobrinhos
crianças
de colo ainda
uma
tem dois anos
outro
apenas um
Eu
admiro meus irmãos
16.
Como
a vida é triste
Esteja
com Deus, Luiz
17.
A
realidade é o todo
Incompleto
Faltando
sempre
É
uma figura geométrica
Inconcebível
Simetria
assimétrica
Mesmo
que o que
Escrevo
Redunda
redundâncias
Em
todos os sentidos
Sensentidos,
em todas
E
nenhuma
A
felicidade é um pouco
Um
pouco de tudo
De
um pouco
Conforme
a lei do valor
Um
carro vale mais que
Uma
bicicleta
Mas
isso é discutível
O
amor, que não cabe
Nessa
lei
Vale
mais que um carro
Mas
isso é discutível
A
vida vale mais
Do
que um carro
Uma
bicicleta, amor, juntos
Mas
isso
Isso
também é discutível
Sexta-feira,
à noite
Vou
sair
Desisti
de tentar
Descrever
o vazio
Que
se sente
Nesta
cidade, à noite
Enormes
edifícios
Cobrem
o horizonte
Montanhas
de tijolo
Ferros,
arames
Erguidos
por pessoas de carne e osso
Resta
ainda um pouco de céu
Esmaecido
pela fumaça eterna
Caminho
até um ponto de ônibus
Espero
Vem
o veículo, motorrosnando
Entro
As
ruas e construções passam
Pela
janela
Desço
Vou
a pé
Ao
invés de pegar o metrô
Para
economizar 25 centavos
Última
moeda
Nos
bolsos furados vazios
Da
minha calça
Paro
numa grande avenida
No
ponto de ônibus
Há
muita gente à minha volta
Diria:
Pessoas impessoais
Se
é que a expressão
Não
é banal
Mas,
de fato, não são pessoas
Realmente
não são pessoas
Não
são senão fantasias
Não
Escuto
risadas atrás de mim
Uma
moça que conversa
Com
a amiga
Uma
luminosidade intensa
E
colorida num relógio público
Com
uma propaganda estampada
Horas
Marca
vinte
Outro,
adiante, dezenove
Em
qual confiar
No
adiantado da hora
Ou
no da hora atrasada
Temperatura
Um:
treze graus
Outro:
dezenove
Imagino:
se houvesse
Um
anúncio de aquecedor
Um
terceiro
Informaria
temperaturas
Invernais
Um
lugar comum
Como
tantos nesta cidade
Luzes
é que não faltam
Nem
pessoas impessoais de carne e osso
Numa
confusão de andares
Paralá-paracá
paracá-paralá
Subindo-descendo
Arranha-céus
de incontáveis
Andares
Formas
Vazias
Multidões
Passos,
andares
Sem
ritmo
Movimento,
movimento
Caótico
Promessas
e festas
Sorriso
nos jovens
Promessas
de felicidade
Ah,
hoje eu encontro
O
amor da minha vida
Logo
vem a manhã
Logo
vem a desilusão
Muita
solidão nesta noite
Ser
é não ser
Se
Shakespeare me concedesse a
Licença
poética de trocar a conjunção
Pelo
verbo de ligação
E
assim tem fim a oposição
Na
conjunção
Mas
a língua portuguesa admite
Pequena
variação
O
ser não é estar
O
ser está ou não está
Ser
sem ser
Estar
ou não estar
Na
cidade, só contradição
É
e não é: existo não existo
Está
e não está: sou não sou
Tudo
ao mesmo tempo
Milhares
de carros passam na avenida
Com
faróis acesos
Um
rapaz se joga entre eles
Driblando
a carga mirada
Corre,
para, dá um passo, adiante
Corre,
para, dá um passo, atrás
Enfim,
chega no outro lado
Voou
o Ícaro do asfalto
Ao
meu lado, a moça
Conta
a história de sua vida
Idêntica
a inúmeras outras
O
namorado, pronome ele e tal
Repete,
repete originalmente
Até
parece que ninguém tem
A
menor criatividade em viver
Vive-se
aquilo que se vive
Tudo
igual
Igual
aos outros
Exatamente
igual
E
nada mais do que igual
Um
homem desafia os automóveis
Em
alta velocidade
Estufa
o peito e se atira aos dragões de ferro
Olha,
orgulhoso, feroz
Olha
ameaçadoramente
Triunfante,
atravessa a avenida
Como
se ele, feito de carne e osso, fosse feito de ferro
O
ferro dos carros, do ônibus e caminhões
Passou.
Agora
Uma
ambulância
Grita
aflita
Apita
Pede
licença
Passando
por cima
Grita
Para
o ferro dos carros, do ônibus e caminhões
Parados
no farol vermelho
Passa
ambulância, grita meu coração aflito
Passa,
enfim
Boa
sorte
O
ônibus
Vem
vem-vindo indo
Com
meus desejos
Subo
Inacreditavelmente
Três
pessoas embarcam
O
cobrador
Sem
os dentes da frente
Conversa
sobre poesia
Trovadorismo,
classicismo, romantismo
Penso
nos versos que escrevo
Em
noites de insônia
Versos
livres
Versos
fáceis
Versos
prosa
Prosa
virada
Vertical
prosa
Versificada
Vertida
Vertiginosa
Vertigem
Vórtice
Voltagem
Universos
Inversos
Multiverso
Verso
Retos
Para
baixo
Restos
Caindo
Sem
fim
Não
é poesia
Não
tem valor literário
Poesia
sem poesia
Não
sou poeta
Souversos
Quem
sabe, poesia moderna
Para
redimir pecados
Amigo,
você também é poeta
O
modernismo e seus versos livres
Hoje
tão antigos como o barroco
O
mundo de agora expulsou a poesia
Hoje
todo mundo é poeta
Depois
do modernismo
O
pós-modernismo o
Pós-moderno
Pós-poesia
o
Pós-poeta
Vem
antes do moderno
O
pós
Não
é moderno
É
depois
E
não significa nada
Apenas
por falta
De
outra palavra melhor
É
o ciclo natural
O
dinheiro é o valor supremo
O
deus moderno
O
deus pós-moderno
Que
não é nada somente
Onipotente
Apesar
da profunda desconfiança
Que
tenho sobre meus versos
Continuo
escrevendo
Espelho
de letras
Estes
meus versos
Escrevo
para encontrar
Uma
metáfora que caiba em mim
Tal
qual truque
O
segredo por trás da mágica
Escrevo
para me enxergar
Versos
passados
Sentidos
como agora
Dentro
da noite da minha vida
Abdico
de todos os sentidos
Minhas
sensações
Rebelam-se
Pensar,
não
Melhor
deixar
O
ônibus
Conduzir
a minha vida
O
meu destino
18.
Jogo
de espelhos
eu
olho
para
este
espelho
espelho
esse
olha
para
mim
Espelho
Eu
Visto
no
Infinito
Nisto
Nisso
Infinito
Visto
em
Mim...
Espelho
Eu
Neste
Espelho
Nesse
Eu
Eu
este-esse
não-Eu
este
eu-tu esse
espelho
os olhos-teus
e
vejo nos meus-olhos eus
neles
um outro
primeira-segunda
pessoas
espelha
tu-eu no espelho
espelhas-me
se te-espelho
espelho-me
em espelhos
você:
terceira pessoa
Eu
plural-só
Nós
singular-amor
eu
Infinitos
em
mim
me
ver-só
rever
seres
em
ti
se...
Somos
um
Eu
versos
Eu
Jogos
de espelho
19.
Não
há nada de errado
Com
a promiscuidade
Mas
com o desrespeito
O
libertino pode ser digno
O
moralista sem caráter
Como
costuma acontecer
O
problema é
Que
as pessoas
Não
sabem discernir
Promiscuidade
e desrespeito
Por
desconhecerem a semântica
Ou
por pura hipocrisia
Como
costuma acontecer
20.
Medíocre
É
a palavra preferida
Dos
medíocres
Medíocre
É
a palavra preferida
Dos
professores universitários
Nada
mais piegas
Do
que a palavra
Piegas
Nada
mais piegas
Do
que eu
Coisas
da vida
Coisas
vocabulares
Eu?
Eu
não sei
Eu
queria voltar
Pra
casa
Cair
nos braços
Da
minha mãe
E
chorar
E
confessar como é difícil
Viver
Mas
sei que não é isso
Que ela quer ouvir de um filho