sábado, 2 de setembro de 2023

Edelweiss – A Flor do Amor

Por Nilza Monti Pires

Vitral com a flor edelweiss

Numa aldeia nos confins de uma terra distante havia um castelo muito antigo cercado por montanhas, cachoeiras e muito verde, um lugar charmoso.

Lá moravam muitos habitantes, porém, tinha um morador muito orgulhoso, era um homem de poucas palavras, apesar de tudo era um bom homem, também muito preocupado com sua filha, que era muito bonita, diziam que era a mais bela da aldeia.

Enquanto isso, lá no castelo, o rei mandou chamar o seu único filho, o príncipe George, para conversar.

O rei disse:

- Amanhã, George, você vai com os súditos visitar todas as nossas propriedades, logo, logo, irá governar todas essas terras. Por enquanto, para não chamar atenção, vai vestir uma roupa simples, igual a dos aldeões, e os seus súditos vestirão roupa semelhante à sua, para não serem reconhecidos. E outra coisa, quando retornar, irá conhecer sua futura esposa, uma princesa de um outro reino.

- Sim, concordou o príncipe.

No dia seguinte, o príncipe e os seus súditos pegaram os cavalos e lá foram para a aldeia. Chegando no vilarejo, o príncipe ficou surpreso de ver tanta gente, pois pensava que era um lugar despovoado, com pouquíssimas pessoas; pois o castelo e seus arredores eram tão grandes que o príncipe mal saia de lá.

Inicialmente o príncipe e os súditos procuraram um lugar para alojar os cavalos e depois foram passear pela aldeia. Tudo era novidade, as casas coloridas, as pessoas andando de todos os lados. Ao longo do dia, enquanto caminhava, num certo momento, uma jovem desatenta quando passava distraída pelo príncipe tropeçou dando-lhe um encontrão, caindo nos braços do príncipe, que agarrou a jovem numa fração de tempo, para ela não cair.

Quando olhou de frente para a jovem, o príncipe ficou sem palavras, perturbado com a beleza da moça. Olhares se cruzaram, entre eles, foi algo inesperado, uma paixão repentina. Ficaram algum tempo abraçados quando a mãe da aldeã os viu e logo interferiu.

- Vamos Alíssia, já está tarde, agradece o moço.

Alíssia ficou envergonhada, e agradeceu.

 O príncipe olhou nos olhos dela e disse:

- Você será minha futura esposa.

Ela olhou para ele e sorriu levemente com o canto da boca.

Quando ela foi embora, o príncipe ficou parado, pensativo, não conseguia refletir.

Um dos súditos viu o príncipe transtornado e tentou persuadi-lo a deixar o local.

- Preciso ir atrás dela, retrucou o príncipe.

- Ela já foi embora, desapareceu muito rápido.

- Preciso encontrá-la, para onde ela foi? Ouvi a mãe dela chamar Alíssia.

- Agora ficou tarde, sua Alteza, não é bom incomodar as pessoas na aldeia, eles se recolhem cedo e talvez o pai dela não iria gostar.

O príncipe, aborrecido, enfim concordou.

Regressando para o castelo, o príncipe chegou eufórico, ansioso para falar com o rei.

- Pai, acabei de encontrar minha futura esposa.

- Como assim, disse o rei, você encontrou a princesa?

- Encontrei uma linda jovem que mora na aldeia, vou amanhã mesmo pedi-la em casamento.

- Mas meu filho, mal conhece esta jovem e já quer casar! É uma moça simples da aldeia, não é da nobreza. Além disso, o seu casamento com a princesa Caroline, já está marcado, assim você será proprietário de mais terras e será mais poderoso ainda.

- Dei minha palavra para essa jovem, e amanhã vou falar com o pai dela.

- Você ficou enfeitiçado, já disse não é vantajoso nem conveniente para você, eu me casei com a sua mãe, nem sabia como ela era, só na hora do casamento a conheci, e até hoje estamos juntos e felizes.

- Meu caso é diferente, me apaixonei a primeira vista, foi algo inesperado.

- Você é teimoso, está com uma ideia fixa, amanhã você vai pensar melhor.

Cansado o rei foi dormir.

Logo que amanheceu o príncipe saiu às pressas, vestiu as mesmas roupas do dia anterior, ao modo dos aldeões, e foi até o vilarejo. Ali perguntou onde morava uma jovem chamada Alíssia, e todos a conheciam pela sua beleza e mostraram onde ela morava.

O príncipe estava ansioso por rever Alíssia. Bateu na porta.

Quando um aldeão abriu a porta, viu o rapaz.

- Bom dia, o que deseja, falou em tom ríspido.

- Bom dia, senhor, desculpe o incômodo, ontem enquanto caminhava, conheci sua filha, fiquei encantado, vim aqui para pedi-la em casamento.

O aldeão percebeu que era um rapaz educado e resolveu conversar.

- Está certo, meu rapaz, quais são seus planos para se casar com minha filha e, se razoáveis, quando gostaria de se casar.

- Hoje mesmo!

- Hoje mesmo? O aldeão ficou perplexo e completou: É o seguinte, meu rapaz, as coisas não são assim. Mas está bem, não sei se você vai aceitar as minhas exigências, fiz uma promessa, quem quisesse casar com minha filha teria que buscar uma flor branca no alto da montanha, onde nasce a flor edelweiss, porque isso significa para mim um gesto de amor eterno.

- Claro! Sem dúvida, eu trarei essa flor imediatamente, disse príncipe.

- Outra coisa. Em segundo lugar, minha filha Alíssia tem que te aceitar. Já vieram diversos moços querendo casar com ela mas ela nunca aceitou.

- Espero que ela me aceite, vou ficar muito feliz.

Então o aldeão chamou Alíssia.

- Minha filha este jovem veio aqui pedir sua mão em casamento. Você aceita? Depende só da sua vontade.

Quando Alíssia olhou para o jovem, os dois se conectaram dominados pela paixão. Ela disse sim.

- Eu quero me casar com ele.

A resposta que Alíssia deu com tanta rapidez surpreendeu o aldeão.

- Então está tudo acertado, meu rapaz, assim que você trouxer a flor edelweiss, faremos o casamento.

Retornando para o castelo, o príncipe foi logo avisar o rei.

- Pai, preciso falar com você urgentemente.

- Sim, mas por onde andou, estávamos todos à sua procura, preocupados.

- Fui pedir em casamento a jovem Alíssia.

- Mas meu filho, você ficou dominado pela paixão, já marquei seu casamento com a princesa Caroline e contratei até uma grande festança.

- Já me decidi que vou casar com Alíssia e ela aceitou casar comigo.

- Quem não gostaria de casar com o príncipe, dono de todas as terras?!

- Ela nem sabe que sou o príncipe, e, além do mais, o pai dela fez uma promessa, que para casar com sua filha, o pretendente teria que buscar uma flor branca, a edelweiss, no alto da montanha.

- Que absurdo, esse aldeão ficou doido! Buscar uma flor branca no alto da montanha, numa mata fechada e muito perigosa, que mal dá para subir?! Muitos tentaram, mas não conseguiram escalar uma montanha, porque as suas encostas são muito íngremes.

- Mas tenho que ir senão o pai dela não aprovará o casamento.

- Ainda tem é essa! Como esse aldeão se atreve a pedir uma coisa dessa, oposto à razão, ao bom senso, será que não sabe das consequências de subir no alto da montanha para pegar uma simples flor.

- É a promessa, não tem jeito, disse príncipe.

- Então vou falar com ele, para pelo menos convencê-lo a tirar essa ideia extravagante da cabeça. E aí marcaremos a data.

- Sim, está bem, quero me casar o quanto antes, estou muito ansioso.

Assim o Rei vestiu suas melhores vestes para intimidar o aldeão e fazê-lo desistir desse casamento insensato.

Lá foi o rei com sua comitiva real chamando a atenção do povoado. Todos começaram a acompanhar o rei, curiosos, querendo saber o que estava acontecendo.

Chegando à casa do aldeão, ordenou a um dos seus vassalos a bater na porta.

- Quem está aí? gritou o aldeão.

- É Sua Majestade, o rei, disse o arauto.

O aldeão achou que era uma brincadeira e abriu a porta irritado. Ao abrir a porta, ficou surpreso de ver a comitiva real. Pensou: “O que será que o rei veio fazer aqui?”

- Seja bem-vindo Majestade, em que posso servi-lo?

- Vim falar sobre o meu filho.

- Seu filho?

- Meu filho veio aqui esta manhã.

- Aqui, Majestade, não veio nenhum príncipe e sim o moço da aldeia.

- Esse moço é o príncipe George! Quero saber por que meu filho, para casar com sua filha, precisa subir numa montanha perigosa e trazer uma flor?

- Fiz uma promessa para mim mesmo. Eu e minha esposa esperamos vários anos para ter uma filha e já estávamos ficando velhos, e aí resolvi fazer uma promessa para Nossa Senhora: se tivesse uma filha eu subiria no alto da montanha e traria uma flor branca, a edelweiss. Eu subi na montanha, colhi a flor, coloquei no altar da santa e nasceu essa flor especial que é minha filha, Alíssia, a nossa alegria.

- Mas meu filho não fez essa promessa! Ele não pode ser arriscar, subindo numa montanha tão alta, pois será o futuro rei e, além do mais, já está comprometido com uma princesa, logo vai se casar. E vocês estão nos causando aborrecimentos e problemas para o meu reino.

- Nós não sabíamos nem imaginávamos que o moço vestido de aldeão era seu filho, o príncipe George, e tampouco que ele estava comprometido. Estou muito ofendido com essa desconsideração, essa ofensa. Iremos partir em três dias.

O rei saiu satisfeito, conseguiu o que queria, mandá-los embora.

Quando voltou para o castelo o príncipe estava aflito, esperando o seu retorno.

- Deu certo pai, conheceu o aldeão?

- Infelizmente não deu certo, esse é aldeão é muito arrogante, insolente e atrevido, quando soube que você era o príncipe, sentiu-se enganado e traído, e não quis mais conversar. Insisti, mas foi tudo em vão.

O príncipe ficou muito decepcionado, não esperava essa resposta.

Aquele entusiasmo virou tristeza, ficou deprimido, receoso de ter que renunciar a sua amada Alíssia.

- Eu vou até lá! disse o príncipe.

- Não vá, porque o pai dela disse para você não aparecer mais por lá.

- Mas Alíssia tinha aceitado casar comigo!

- Mas o pai dela não aceitou, desistiu.

Era tarde da noite, o príncipe estava inconformado, não conseguia dormir, esperou clarear o dia, vestiu suas melhores roupas, chamou seus súditos, e lá foram com a carruagem real pedir novamente Alíssia em casamento, para mostrar sua lealdade.

Chegando no vilarejo, todo povoado indiscretamente curioso passou a seguir o príncipe, querendo ver aonde ele ia.

Chegando na casa da Alíssia mandou um dos seus súditos bater na porta.

Quem atendeu foi o aldeão, que ficou surpreendido em ver o príncipe:

- Bom dia, Alteza.

- Bom dia, vim aqui para conversar.

- Infelizmente não temos nada para conversar, já temos muitos aborrecimentos, minha filha chora o dia inteiro e está muito infeliz.

- Vim aqui como o príncipe pedir Alíssia em casamento.

- Sua Alteza tem uma noiva e vai casar em breve. Deixe minha filha em paz! Estamos até deixando a cidade.

- Por favor, não se vão, não tenho nenhuma noiva, quero me casar com Alíssia, ela é a mulher que eu amo, não sei viver sem ela. Sou um homem de palavra e já tínhamos acertado tudo.

O aldeão viu a insistência dele e falou:

- Sim, é verdade, também dei minha palavra, realmente já estava tudo combinado. Então está bem, vamos esperar os três dias e aí nós partimos, como prometi para o rei.

- Vou agora mesmo buscar a flor. A sua promessa é a minha promessa também..

O povo que estava assistindo aplaudiu com entusiasmo e lá se foi o príncipe, com acessórios de alpinista nas costas.

Passaram dois dias, nada do príncipe. O povo inteiro esperando. O aldeão já estava preocupado.

Alíssia estava angustiada, não conseguia nem se manter em pé.

O povo apreensivo já estava ficando desanimado: Será que o príncipe desistiu?

No terceiro dia, o povo já estava indo embora.

Alíssia estava desassossegada e num impulso falou para o povo:

- Por favor, não vão embora, meu coração disse que ele já está vindo!

Mal Alíssia acabou de falar essas palavras, lá vinha o príncipe com a flor branca, a edelweiss. O rosto da jovem Alíssia iluminou, cheio de alegria. Correu para os braços de seu amado.

Os dois se abraçaram, o príncipe se ajoelhou em frente de Alíssia e pediu:

- Quer casar comigo?

- Sim, com todo meu amor, respondeu Alíssia.

- Eis que então entrego essa linda flor edelweiss para a minha futura esposa.

O povo inteiro aplaudiu, gritavam: Viva o amor! A algazarra era tamanha, um alvoroço só, que se ouvia até no castelo.

O rei estava triste, com a falta do filho, mas, ao ouvir tanto barulho, foi às pressas ver o que estava acontecendo.

Chegando no vilarejo, viu seu filho sendo aclamado pelo povo, sentiu orgulho e uma alegria imensa, e foi abraçar o príncipe.

O rei chegou perto do casal e disse:

- Estou muito feliz por você, meu filho, teve força de vontade e conquistou o que queria. Vou confessar um segredo, que até hoje não te contei, sua mãe também era filha de aldeões, e eu me apaixonei por ela, todos foram contra, mas eu lutei pelos meus sonhos. Quando a gente quer, a gente consegue! Sou um rei feliz, e por ser feliz, sou rei um generoso e justo.

- Não entendo porque fez tudo aquilo para que eu desistisse da mulher que eu amo, me fazendo sofrer muito.

- Foi uma estratégia, coloquei você à prova para lutar pelo que queria, para ser um rei competente e determinado, digno de ser meu sucessor, feliz com a mulher que ama. Se você fosse infeliz, não seria um rei generoso. Tudo não teria valor. Só tem uma coisa que eu não fiz: buscar uma flor no alto da montanha!

- Provei então que vou ser um rei feliz e leal para o meu povo. Só tem mais uma coisa, adorei subir na montanha.

Os dois riram e se abraçaram e também foram abraçar o aldeão.

- Atenção que o rei vai falar, gritou o arauto.

- Meu filho, o príncipe George, vai se casar com esta linda jovem e haverá uma grande festa no palácio e todos vocês estão convidados.

O povo aplaudiu com grande alegria e gritavam: Viva o rei!

No dia do casamento todos estavam muito felizes, os noivos estavam radiantes, Alíssia trajava um vestido de um branco precioso, e segurava em suas mãos uma flor branca, a edelweiss.

Chegou o padre para celebrar o casamento. O príncipe George e, agora, princesa Alíssia juraram amor eterno.

Depois das formalidades religiosas o padre pronunciou:

- Príncipe George e princesa Alíssia, eu vos declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.

Assim que os noivos se beijaram, o povo aplaudiu calorosamente, mas o que todos esperavam era a hora da noiva jogar o buquê.

Alíssia então pegou o buquê de flores brancas edelweiss, virou de costas e jogou para a multidão e por sorte caiu nas mãos da princesa Caroline, que ficou extremamente feliz.

George e Alíssia foram felizes para sempre!

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Créditos:

Ilustrações: Sabrina Paloma, Paula Vanessa e Nilza

Revisão: Diego, Paula Vanessa, Nilza e Jean