Por Nilza Monti Pires
Numa aldeia nos confins de uma terra distante havia um castelo muito antigo cercado por montanhas, cachoeiras e muito verde, um lugar charmoso.
Lá moravam muitos
habitantes, porém, tinha um morador muito orgulhoso, era um homem de poucas
palavras, apesar de tudo era um bom homem, também muito preocupado com sua
filha, que era muito bonita, diziam que era a mais bela da aldeia.
Enquanto isso, lá no
castelo, o rei mandou chamar o seu único filho, o príncipe George, para
conversar.
O rei disse:
- Amanhã, George, você vai
com os súditos visitar todas as nossas propriedades, logo, logo, irá governar
todas essas terras. Por enquanto, para não chamar atenção, vai vestir uma roupa
simples, igual a dos aldeões, e os seus súditos vestirão roupa semelhante à
sua, para não serem reconhecidos. E outra coisa, quando retornar, irá conhecer
sua futura esposa, uma princesa de um outro reino.
- Sim, concordou o príncipe.
No dia seguinte, o príncipe
e os seus súditos pegaram os cavalos e lá foram para a aldeia. Chegando no
vilarejo, o príncipe ficou surpreso de ver tanta gente, pois pensava que era um
lugar despovoado, com pouquíssimas pessoas; pois o castelo e seus arredores eram tão
grandes que o príncipe mal saia de lá.
Inicialmente o príncipe e os
súditos procuraram um lugar para alojar os cavalos e depois foram passear pela
aldeia. Tudo era novidade, as casas coloridas, as pessoas andando de todos os
lados. Ao longo do dia, enquanto caminhava, num certo momento, uma jovem
desatenta quando passava distraída pelo príncipe tropeçou dando-lhe um encontrão, caindo nos braços do
príncipe, que agarrou a jovem numa fração de tempo, para ela não cair.
Quando olhou de frente para
a jovem, o príncipe ficou sem palavras, perturbado com a beleza da moça.
Olhares se cruzaram, entre eles, foi algo inesperado, uma paixão repentina.
Ficaram algum tempo abraçados quando a mãe da aldeã os viu e logo interferiu.
- Vamos Alíssia, já está
tarde, agradece o moço.
Alíssia ficou envergonhada,
e agradeceu.
O príncipe olhou nos olhos dela e disse:
- Você será minha futura
esposa.
Ela olhou para ele e sorriu
levemente com o canto da boca.
Quando ela foi embora, o
príncipe ficou parado, pensativo, não conseguia refletir.
Um dos súditos viu o
príncipe transtornado e tentou persuadi-lo a deixar o local.
- Preciso ir atrás dela,
retrucou o príncipe.
- Ela já foi embora,
desapareceu muito rápido.
- Preciso encontrá-la, para
onde ela foi? Ouvi a mãe dela chamar Alíssia.
- Agora ficou tarde, sua
Alteza, não é bom incomodar as pessoas na aldeia, eles se recolhem cedo e
talvez o pai dela não iria gostar.
O príncipe, aborrecido,
enfim concordou.
Regressando para o castelo,
o príncipe chegou eufórico, ansioso para falar com o rei.
- Pai, acabei de encontrar
minha futura esposa.
- Como assim, disse o rei,
você encontrou a princesa?
- Encontrei uma linda jovem que mora na aldeia, vou amanhã mesmo pedi-la em casamento.
- Mas meu filho, mal conhece
esta jovem e já quer casar! É uma moça simples da aldeia, não é da nobreza.
Além disso, o seu casamento com a princesa Caroline, já está
marcado, assim você será proprietário de mais terras e será mais poderoso
ainda.
- Dei minha palavra para
essa jovem, e amanhã vou falar com o pai dela.
- Você ficou enfeitiçado, já
disse não é vantajoso nem conveniente para você, eu me casei com a sua mãe, nem
sabia como ela era, só na hora do casamento a conheci, e até hoje estamos
juntos e felizes.
- Meu caso é diferente, me
apaixonei a primeira vista, foi algo inesperado.
- Você é teimoso, está com uma ideia fixa, amanhã você vai pensar melhor.
Cansado o rei foi dormir.
Logo que amanheceu o
príncipe saiu às pressas, vestiu as mesmas roupas do dia anterior, ao modo dos
aldeões, e foi até o vilarejo. Ali perguntou onde morava uma jovem chamada Alíssia,
e todos a conheciam pela sua beleza e mostraram onde ela morava.
O príncipe estava ansioso
por rever Alíssia. Bateu na porta.
Quando um aldeão abriu a
porta, viu o rapaz.
- Bom dia, o que deseja,
falou em tom ríspido.
- Bom dia, senhor, desculpe
o incômodo, ontem enquanto caminhava, conheci sua filha, fiquei encantado, vim
aqui para pedi-la em casamento.
O aldeão percebeu que era um
rapaz educado e resolveu conversar.
- Está certo, meu rapaz,
quais são seus planos para se casar com minha filha e, se razoáveis, quando
gostaria de se casar.
- Hoje mesmo!
- Hoje mesmo? O aldeão ficou
perplexo e completou: É o seguinte, meu rapaz, as coisas não são assim. Mas
está bem, não sei se você vai aceitar as minhas exigências, fiz uma promessa, quem
quisesse casar com minha filha teria que buscar uma flor branca no alto da
montanha, onde nasce a flor edelweiss, porque isso significa para mim um gesto
de amor eterno.
- Claro! Sem dúvida, eu
trarei essa flor imediatamente, disse príncipe.
- Outra coisa. Em segundo
lugar, minha filha Alíssia tem que te aceitar. Já vieram diversos moços
querendo casar com ela mas ela nunca aceitou.
- Espero que ela me aceite,
vou ficar muito feliz.
Então o aldeão chamou Alíssia.
- Minha filha este jovem
veio aqui pedir sua mão em casamento. Você aceita? Depende só da sua vontade.
Quando Alíssia olhou para o
jovem, os dois se conectaram dominados pela paixão. Ela disse sim.
- Eu quero me casar com ele.
A resposta que Alíssia deu
com tanta rapidez surpreendeu o aldeão.
- Então está tudo acertado,
meu rapaz, assim que você trouxer a flor edelweiss, faremos o casamento.
Retornando para o castelo, o
príncipe foi logo avisar o rei.
- Pai, preciso falar com
você urgentemente.
- Sim, mas por onde andou,
estávamos todos à sua procura, preocupados.
- Fui pedir em casamento a
jovem Alíssia.
- Mas meu filho, você ficou
dominado pela paixão, já marquei seu casamento com a princesa Caroline e
contratei até uma grande festança.
- Já me decidi que vou casar
com Alíssia e ela aceitou casar comigo.
- Quem não gostaria de casar
com o príncipe, dono de todas as terras?!
- Ela nem sabe que sou o
príncipe, e, além do mais, o pai dela fez uma promessa, que para casar com sua
filha, o pretendente teria que buscar uma flor branca, a edelweiss, no alto da
montanha.
- Que absurdo, esse aldeão
ficou doido! Buscar uma flor branca no alto da montanha, numa mata fechada e
muito perigosa, que mal dá para subir?! Muitos tentaram, mas não conseguiram
escalar uma montanha, porque as suas encostas são muito íngremes.
- Mas tenho que ir senão o
pai dela não aprovará o casamento.
- Ainda tem é essa! Como
esse aldeão se atreve a pedir uma coisa dessa, oposto à razão, ao bom senso, será
que não sabe das consequências de subir no alto da montanha para pegar uma
simples flor.
- É a promessa, não tem
jeito, disse príncipe.
- Então vou falar com ele,
para pelo menos convencê-lo a tirar essa ideia extravagante da cabeça. E aí
marcaremos a data.
- Sim, está bem, quero me
casar o quanto antes, estou muito ansioso.
Assim o Rei vestiu suas
melhores vestes para intimidar o aldeão e fazê-lo desistir desse casamento
insensato.
Lá foi o rei com sua
comitiva real chamando a atenção do povoado. Todos começaram a acompanhar o rei,
curiosos, querendo saber o que estava acontecendo.
Chegando à casa do aldeão,
ordenou a um dos seus vassalos a bater na porta.
- Quem está aí? gritou o
aldeão.
- É Sua Majestade, o rei,
disse o arauto.
O aldeão achou que era uma
brincadeira e abriu a porta irritado. Ao abrir a porta, ficou surpreso de ver a
comitiva real. Pensou: “O que será que o rei veio fazer aqui?”
- Seja bem-vindo Majestade,
em que posso servi-lo?
- Vim falar sobre o meu
filho.
- Seu filho?
- Meu filho veio aqui esta
manhã.
- Aqui, Majestade, não veio
nenhum príncipe e sim o moço da aldeia.
- Esse moço é o príncipe
George! Quero saber por que meu filho, para casar com sua filha, precisa subir numa
montanha perigosa e trazer uma flor?
- Fiz uma promessa para mim
mesmo. Eu e minha esposa esperamos vários anos para ter uma filha e já
estávamos ficando velhos, e aí resolvi fazer uma promessa para Nossa Senhora:
se tivesse uma filha eu subiria no alto da montanha e traria uma flor branca, a
edelweiss. Eu subi na montanha, colhi a flor, coloquei no altar da santa e
nasceu essa flor especial que é minha filha, Alíssia, a nossa alegria.
- Mas meu filho não fez essa
promessa! Ele não pode ser arriscar, subindo numa montanha tão alta, pois será o
futuro rei e, além do mais, já está comprometido com uma princesa, logo vai se
casar. E vocês estão nos causando aborrecimentos e problemas para o meu reino.
- Nós não sabíamos nem
imaginávamos que o moço vestido de aldeão era seu filho, o príncipe George, e
tampouco que ele estava comprometido. Estou muito ofendido com essa
desconsideração, essa ofensa. Iremos partir em três dias.
O rei saiu satisfeito,
conseguiu o que queria, mandá-los embora.
Quando voltou para o castelo
o príncipe estava aflito, esperando o seu retorno.
- Deu certo pai, conheceu o
aldeão?
- Infelizmente não deu
certo, esse é aldeão é muito arrogante, insolente e atrevido, quando soube que
você era o príncipe, sentiu-se enganado e traído, e não quis mais conversar. Insisti,
mas foi tudo em vão.
O príncipe ficou muito
decepcionado, não esperava essa resposta.
Aquele entusiasmo virou
tristeza, ficou deprimido, receoso de ter que renunciar a sua amada Alíssia.
- Eu vou até lá! disse o
príncipe.
- Não vá, porque o pai dela
disse para você não aparecer mais por lá.
- Mas Alíssia tinha aceitado
casar comigo!
- Mas o pai dela não
aceitou, desistiu.
Era tarde da noite, o
príncipe estava inconformado, não conseguia dormir, esperou clarear o dia,
vestiu suas melhores roupas, chamou seus súditos, e lá foram com a carruagem
real pedir novamente Alíssia em casamento, para mostrar sua lealdade.
Chegando no vilarejo, todo povoado
indiscretamente curioso passou a seguir o príncipe, querendo ver aonde ele ia.
Chegando na casa da Alíssia
mandou um dos seus súditos bater na porta.
Quem atendeu foi o aldeão,
que ficou surpreendido em ver o príncipe:
- Bom dia, Alteza.
- Bom dia, vim aqui para
conversar.
- Infelizmente não temos nada
para conversar, já temos muitos aborrecimentos, minha filha chora o dia inteiro
e está muito infeliz.
- Vim aqui como o príncipe
pedir Alíssia em casamento.
- Sua Alteza tem uma noiva e
vai casar em breve. Deixe minha filha em paz! Estamos até deixando a cidade.
- Por favor, não se vão, não
tenho nenhuma noiva, quero me casar com Alíssia, ela é a mulher que eu amo, não
sei viver sem ela. Sou um homem de palavra e já tínhamos acertado tudo.
O aldeão viu a insistência
dele e falou:
- Sim, é verdade, também dei
minha palavra, realmente já estava tudo combinado. Então está bem, vamos esperar
os três dias e aí nós partimos, como prometi para o rei.
- Vou agora mesmo buscar a
flor. A sua promessa é a minha promessa também..
O povo que estava assistindo
aplaudiu com entusiasmo e lá se foi o príncipe, com acessórios de alpinista nas
costas.
Passaram dois dias, nada do
príncipe. O povo inteiro esperando. O aldeão já estava preocupado.
Alíssia estava angustiada,
não conseguia nem se manter em pé.
O povo apreensivo já estava
ficando desanimado: Será que o príncipe desistiu?
No terceiro dia, o povo já
estava indo embora.
Alíssia estava
desassossegada e num impulso falou para o povo:
- Por favor, não vão embora,
meu coração disse que ele já está vindo!
Mal Alíssia acabou de falar
essas palavras, lá vinha o príncipe com a flor branca, a edelweiss. O rosto da
jovem Alíssia iluminou, cheio de alegria. Correu para os braços de seu amado.
Os dois se abraçaram, o
príncipe se ajoelhou em frente de Alíssia e pediu:
- Quer casar comigo?
- Sim, com todo meu amor,
respondeu Alíssia.
- Eis que então entrego essa
linda flor edelweiss para a minha futura esposa.
O povo inteiro aplaudiu,
gritavam: Viva o amor! A algazarra era tamanha, um alvoroço só, que se ouvia
até no castelo.
O rei estava triste, com a
falta do filho, mas, ao ouvir tanto barulho, foi às pressas ver o que estava
acontecendo.
Chegando no vilarejo, viu
seu filho sendo aclamado pelo povo, sentiu orgulho e uma alegria imensa, e foi
abraçar o príncipe.
O rei chegou perto do casal
e disse:
- Estou muito feliz por
você, meu filho, teve força de vontade e conquistou o que queria. Vou confessar
um segredo, que até hoje não te contei, sua mãe também era filha de aldeões, e
eu me apaixonei por ela, todos foram contra, mas eu lutei pelos meus sonhos. Quando
a gente quer, a gente consegue! Sou um rei feliz, e por ser feliz, sou rei um generoso
e justo.
- Não entendo porque fez
tudo aquilo para que eu desistisse da mulher que eu amo, me fazendo sofrer
muito.
- Foi uma estratégia,
coloquei você à prova para lutar pelo que queria, para ser um rei competente e
determinado, digno de ser meu sucessor, feliz com a mulher que ama. Se você fosse
infeliz, não seria um rei generoso. Tudo não teria valor. Só tem uma coisa que
eu não fiz: buscar uma flor no alto da montanha!
- Provei então que vou ser
um rei feliz e leal para o meu povo. Só tem mais uma coisa, adorei subir na
montanha.
Os dois riram e se abraçaram
e também foram abraçar o aldeão.
- Atenção que o rei vai
falar, gritou o arauto.
- Meu filho, o príncipe
George, vai se casar com esta linda jovem e haverá uma grande festa no palácio
e todos vocês estão convidados.
O povo aplaudiu com grande
alegria e gritavam: Viva o rei!
No dia do casamento todos
estavam muito felizes, os noivos estavam radiantes, Alíssia trajava um vestido
de um branco precioso, e segurava em suas mãos uma flor branca, a edelweiss.
Chegou o padre para celebrar
o casamento. O príncipe George e, agora, princesa Alíssia juraram amor eterno.
Depois das formalidades
religiosas o padre pronunciou:
- Príncipe George e princesa
Alíssia, eu vos declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva.
Assim que os noivos se
beijaram, o povo aplaudiu calorosamente, mas o que todos esperavam era a hora
da noiva jogar o buquê.
Alíssia então pegou o buquê
de flores brancas edelweiss, virou de costas e jogou para a multidão e por
sorte caiu nas mãos da princesa Caroline, que ficou extremamente feliz.
George e Alíssia foram felizes para sempre!
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Créditos:
Ilustrações: Sabrina Paloma, Paula Vanessa e Nilza
Revisão: Diego, Paula Vanessa, Nilza e Jean