91.
Pensei
que amava você
Mas
você não era mesmo você
A
biologia me pregou uma peça
Química
ardilosa ilusionista
O
amor, quintessência da reprodução
Quando
dei por mim
Era
escravo
De
um instinto cego
Prisioneiro
de uma armadilha
Sublime
Enquanto
o amor esgueirava
Como
um sonho
Pela
minha alma
Esperança
vazia
Mas
quem explica minha dor
Que
arrebata minha vida
E
aniquila cada átomo de realidade
Quem
explica este estado de coisas
Sonho
dentro de sonho
Caos
na lógica
Nada
Só
o amor
Porque
tudo é falso
Tudo
é mentira
Sem
amor
92.
Procurei
uns versinhos
Mas,
perdidos, não achei
Caíram
num abismo
De
lembrança
Procuro
meu amor
Mas,
desaparecido, não achei
Caiu
num abismo
De
lembrança
Sinto-me
só
Tenho
tido pesadelos
93.
Devo
escrever qualquer coisa
Porque
preciso escrever
Qualquer
coisa verdadeira
Primeiro,
o amor não existe
Segundo,
se existisse, seria eterno
Terceiro,
se alguém, por ventura
Dissesse
sinceramente eu amo você
Tal
decreto seria imprescritível e irrevogável
E
a sentença: pena capital, prisão perpétua, tortura, confinamento
Enfim,
quarto e último, decorre de todas as premissas
O
fato de que quase sempre o amor não é correspondido
94.
Eu
amei tanto
Que
odiei
Cometi
um equivoco
Dentre
incontáveis
Fui
egoísta
Deixei
que minha mesquinhez
Magoasse
quem eu mais amava
Fui
extremamente injusto
Feri,
machuquei, feri
Quis
destruir
Com
meu amor
Enlouquecido,
esmurrei a porta
Quebrei
a janela
Virei
a mesa
Desmoronei-me
Desnorteado
fugi
Entre
uma multidão tumultuosa
O
céu desabava
O
fim do mundo
E
de repente seu olhar mudo
Você
ainda me amava
95.
É
tão estranho dizer isto
Naquela
noite de aflição
Não
naquela
Mas
numa outra que não lembro
Seu
olhos me engoliam
Como
um aspirador de pó
Se
meu espírito não estivesse
Grudado
na matéria
Onde
eu estaria agora
96.
Ela
está se casando
O
padre diz por dizer
Se
alguém, aqui presente
For
contra esta união
Fale
ou cale-se para sempre
Eu
tenho tanta coisa a dizer
Mas
me calo
Instantes
depois
Braços
dados com o marido
A
noiva passa pela passarela
Sorrindo,
sorrindo
Então,
passa e sorri para mim
E,
em seguida, desaparece pela porta da igreja
Os
convidados seguem felizes
O
padre desce do altar e vai embora
Só
restou eu, sentado, magoado
Agora
que estou só
Pergunto-me
Por
que me calei
Por
que me calei
Vou
embora
97.
Dizem
que meus olhos são tristes
Ninguém
sabe por quê
Eu
sei
É
porque são o espelho da vida
98.
Ela
foi embora
Como
a deixei partir
Éramos
três
Eu,
ela e o desencontro
99.
Eu
sei que estou perdido
Sei
também que não tenho objetivo
Sei
que sou triste
E
não tenho a cabeça no lugar
Mas
posso provar que sou bom
100.
Se
um dia eu te magoei
Saiba
que eu me magoei
Mil
vezes mais
Peço
perdão
Volta
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