Alguns
versos de Castelo Hanssen
Minuto
Tu
disseste “espere-me um minuto”,
e
eu fiquei solitário a esperar.
Um
minuto é um espaço diminuto
das
voltas que os ponteiros tem a dar.
Os
minutos, pingando lentamente
do
relógio à parede do meu quarto
aos
poucos transbordaram minha mente,
meu
coração, já de minutos farto.
Minutos
e horas foram se seguindo,
quantos
foram não tenho na lembrança,
e
eu medito, tentando não chorar:
Como machuca
o tempo se esvaindo,
como
é breve um minuto de esperança,
como
é longo um minuto a esperar!
Olhos
Estes
olhos que a terra há de comer,
e
que a noite infinita devorou,
ainda
buscam, fitando o Infinito
a
estrela que em Belém certa noite brilhou.
Era uma
estrela errante, e conduzia
reis,
mendigos e pastores,
servos
e senhores,
a
uma gruta, onde aos olhos dos bichos,
e
do amor de um casal de peregrinos
nasceu
um menino.
Essa
estrela inda brilha entre núvems
desse
céu poluído,
a
mostrar que o amor não morreu nem morrerá,
está
apenas escondido.
E quem
olhar com os olhos da bondade,
do
coração que diz sempre a verdade,
embora
cego há de ver:
Todos
os dias nascem milhões de crianças,
em
cada criança que nasce, nasce uma esperança,
não
deixemos morrer.
Estátua
de Poeta
Quem
sempre tomou no lombo
ser
estátua? que perfídia!
O
prêmio que vem dos pombos
é
o mesmo que vem da mídia.
Reforma
Ortográfica
A Reforma
Ortográfica
do
Português engessado
ensina.
de forma prática
a
gente a escrever errado.
Cantor de
banheiro
“Quem
canta os males espanta”
é
o ditado do povinho,
Mas
quem não sabe e canta
espanta
mais o vizinho.
Meu
“saite”
Eu tenho
um sítio bem pequenininho
esquisitinho,
que se chama “saite”
Neste
meu sítio novo, sem porteira
galo
não canta nem cachorro late,
não
tem siquer um pé de bananeira,
ou
de goiaba, caqui ou abacate.
Não tem
corguinho pra pescar traíra,
nem
cachoeira para se banhar,
o
sol não brilha lá praquelas bandas,
quando
é de noite lá não tem luar,
não
tem casinha branca de varanda
pra
tocar viola de papo pro ar.
Não tem
galinha pra botar um ovo,
não
tem chiqueiro pra engordar um leitão,
não
tem terreiro pra formar uma roça,
pra
plantar milho, mandioca ou feijão,
pra
botar um mastro, pra fazer fogueira
Pra
festejar as noites de São João.
Lá só tem
rato que se chama “mause”,
e
outras porqueiras que eu não sei o nome,
e
um tal de vírus, que quando aparece
bem
depressinha meu trabalho some.
Isso
pra mim é coisa do capeta,
ou
da caipora, saci ou lobisomem.
Eu sinto
muito, meus caros amigos,
mas
eu não posso convidar vocês
pra
conhecerem minha propriedade,
vou
explicando logo de uma vez:
Sou
brasileiro, com muita honra,
mas
lá só entra quem souber inglês.
Aristides
Castelo Hanssen é um talentoso escritor da cidade de Guarulhos (SP);
autodidata, é autor de sete livros publicados. De poesia são Canção pro sol voltar, A flor que Drumond
viu nascer no asfalto, Um cego fita o
horizonte e Fragmentos de memória.
De crômicas, Conserta-se
mundos e fundos, e uma peça teatral, em versos, Geremias Gemebundo.
Também é fundador do Colégio Brasileiro de
Poetas de Mauá, do grupo literário Letraviva de
Guarulhos e da Academia
Guarulhense de Letras. É presidente honorário da Sociedade Guarulhense
de Cultura Artística.
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