domingo, 2 de agosto de 2015

Versos de Castelo Hanssen

Alguns versos de Castelo Hanssen 

Minuto




Tu disseste “espere-me um minuto”,

e eu fiquei solitário a esperar.

Um minuto é um espaço diminuto

das voltas que os ponteiros tem a dar.



Os minutos, pingando lentamente

do relógio à parede do meu quarto

aos poucos transbordaram minha mente,

meu coração, já de minutos farto.



Minutos e horas foram se seguindo,

quantos foram não tenho na lembrança,

e eu medito, tentando não chorar:


Como machuca o tempo se esvaindo,

como é breve um minuto de esperança,

como é longo um minuto a esperar!




Olhos


Estes olhos que a terra há de comer,

e que a noite infinita devorou,

ainda buscam, fitando o Infinito

a estrela que em Belém certa noite brilhou.


Era uma estrela errante, e conduzia

reis, mendigos e pastores,

servos e senhores,

a uma gruta, onde aos olhos dos bichos,

e do amor de um casal de peregrinos

nasceu um menino.


Essa estrela inda brilha entre núvems

desse céu poluído,

a mostrar que o amor não morreu nem morrerá,

está apenas escondido.


E quem olhar com os olhos da bondade,

do coração que diz sempre a verdade,

embora cego há de ver:

Todos os dias nascem milhões de crianças,

em cada criança que nasce, nasce uma esperança,

não deixemos morrer.



Estátua de Poeta


Quem sempre tomou no lombo

ser estátua? que perfídia!

O prêmio que vem dos pombos

é o mesmo que vem da mídia.



Reforma Ortográfica


A Reforma Ortográfica

do Português engessado

ensina. de forma prática

a gente a escrever errado.



Cantor de banheiro


“Quem canta os males espanta”

é o ditado do povinho,

Mas quem não sabe e canta

espanta mais o vizinho.



Meu “saite”


Eu tenho um sítio bem pequenininho

esquisitinho, que se chama “saite”

Neste meu sítio novo, sem porteira

galo não canta nem cachorro late,

não tem siquer um pé de bananeira,

ou de goiaba, caqui ou abacate.


Não tem corguinho pra pescar traíra,

nem cachoeira para se banhar,

o sol não brilha lá praquelas bandas,

quando é de noite lá não tem luar,

não tem casinha branca de varanda

pra tocar viola de papo pro ar.


Não tem galinha pra botar um ovo,

não tem chiqueiro pra engordar um leitão,

não tem terreiro pra formar uma roça,

pra plantar milho, mandioca ou feijão,

pra botar um mastro, pra fazer fogueira

Pra festejar as noites de São João.


Lá só tem rato que se chama “mause”,

e outras porqueiras que eu não sei o nome,

e um tal de vírus, que quando aparece

bem depressinha meu trabalho some.

Isso pra mim é coisa do capeta,

ou da caipora, saci ou lobisomem.


Eu sinto muito, meus caros amigos,

mas eu não posso convidar vocês

pra conhecerem minha propriedade,

vou explicando logo de uma vez:

Sou brasileiro, com muita honra,

mas lá só entra quem souber inglês.




Aristides Castelo Hanssen é um talentoso escritor da cidade de Guarulhos (SP); autodidata, é autor de sete livros publicados. De poesia são Canção pro sol voltarA flor que Drumond viu nascer no asfaltoUm cego fita o horizonte e Fragmentos de memória. De crômicas, Conserta-se mundos e fundos, e uma peça teatral, em versos, Geremias Gemebundo. Também é fundador do Colégio Brasileiro de Poetas de Mauá, do grupo literário Letraviva de Guarulhos e da Academia Guarulhense de Letras. É presidente honorário da Sociedade Guarulhense de Cultura Artística.



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