Para Nilza
Quem no mundo saberá ternuras
Ébrias, tíbias, languescentes
Senão estes teus olhos
Nilza meiga? –
Vaníssima ilusão, ópio de agora!
Que boca rirá sangue e pérola
Nesta pureza de infância
De tua face de pétala,
De tua face de nata,
Destas duas pintas negras
Que me vencem, Deus do céu,
Que me arrebatam!
Não importa o riso
Que terás para meus versos
Porque vivemos o tempo do anti-verso:
Poetas não são mais,
Só os autores se leem
E as Musas dançam “twist”...
Não me importa o riso
Que terás para meus versos.
Qu importa é o sorriso que me deste,
Quando ninguém nos via,
E por um instante eternamente breve
A sinceridade foi possível.
Palavra de honra
Ainda há lírios nas campinas,
Nilza meiga!
Em plena era de jatos,
Dramas eletrônicos e bombas,
Há lírios vergando ao vento...
Este rubro e terno cravo,
Que te darei,
Consegui-o durante os sonhos bons
De uma limpa e morna madrugada
Quando em tudo, em tudo
Havia Nilza:
Nilza pelos espaços,
A brisa dizendo Nilza
Nas sombras verdes das ramagens.
E no cristal azul do lago
Era Nilza que a Lua falava...
Mas... ora... vês?
Foi a luz destas lágrimas imbecis
Que vi o silêncio denso entre nós dois,
A negação integral de eu falar,
De me sentires...
O alheamento inconsciente é teu,
É a tua a ausência, ausência, ausência...
E a culpa, de que é?
Não faz mal,
Mesmo depois de quieta a minha voz,
Os roseirais perfumarão o mundo...
(Paulo Azevedo -1962)
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