domingo, 15 de outubro de 2017

I fought the law - de Bobby Fuller ao Clash


“I Fought the Law” é uma composição de Sonny Curtis, guitarrista da banda de Buddy Holly The Crickets. No entanto, a canção só se tornou famosa com a versão de Bobby Fuller Four, quando esteve nas paradas das dez mais tocadas do ano de 1966. No Brasil e no mundo, a música ficou conhecida nos anos 80, com a versão feita pelo Clash. Em 2004, a versão de Bobby Fuller foi ranqueada pela revista Rolling Stone na posição de 175ª. da lista das 500 maiores músicas de rock de todos os tempos.


A música é sobre um cara que vai para a cadeia após explodir um cofre para roubar. Desde então, a expressão do refrão "I Fought the Law” (lutei contra a lei) acabou entrando para o léxico da língua inglesa norte-americano. A música também apareceu em muitos filmes, programas de TV, anúncios publicitários e até videogames.

Os Crickets gravaram “I Fought the Law” pela primeira vez em 1959, depois do acidente aéreo de Buddy Holly.

Em 1963, foi lançada por Paul Stefen & The Royal Lancers.

Em 1964, Sammy Masters gravou a canção com o título completo: "I Fought the Law (And the Law Won)". E finalmente o sucesso de Bobby Fuller Four.

O Clash gravou I Fought the Law em 1979, depois de ouvir a versão de Fuller. Mas eles tornaram a música mais sombria, mudando a letra "Eu abandonei minha garota" para "Eu matei minha garota". Esta versão os fez conhecidos nos EUA quando foi parar nas paradas musicais em 26 de julho de 1979.

A música também foi gravada por muitos outros artistas, dentre eles, Richard Clapton, She Trinity, The Rattles, Beatsteaks, Ducks Deluxe, Sam Neely , Viper, Bryan Adams, John Cougar Mellencamp, Johnny Cash, Bruce Springsteen, Roy Orbison, Tom Petty, Social Distortion, Stiff Little Fingers, Mike Ness, Waylon Jennings, Gary Allan, Green Day, Alvin and the Chipmunks, Ska-P, the Jolly Boys, Grateful Dead, Stray Cats, Mary’s Danish, Claude François, Mano Negra, the Big Dirty Band, Lolita No. 18, The Brian Jonestown Massacre, Attaque 77, Die Toten Hosen, Status Quo, Nanci Griffith, La Vida Bohème, Anti-Flag, Chumbawamba, Tsuyoshi Kawakami and His Moodmakers, the Airborne Toxic Event, The Bad Shepherds, Johnny Marr etc.

domingo, 1 de outubro de 2017

Carimã, a quiniquinau

1. O conto “Carimã, a quiniquinau”, de Visconde de Taunay, tem em comum, às obras comentadas em aula, a escolha do protagonista entre o elemento indígena. O índio aparece como representante da conciliação nacional, que, na verdade, é uma alegoria para justificar o conflito de interesses entre os grupos sociais divergentes. Neste sentido, o mito fundador na literatura brasileira do projeto nacional é constituído sob a metáfora do herói indígena congregador das contradições políticas, embora deixando intacta a estrutura social. Por isso, o índio sempre aparece aliado ao branco, seja nas lutas entre portugueses e estrangeiros (franceses, holandeses, espanhóis), ou nas lutas internas entre portugueses e brasileiros ou entre partidos locais. No caso de “Carimã”, o protagonista, Pacalalá, índio da tribo quiniquinau, luta ao lado dos brasileiros contra os “castelhanos”, no contexto da Guerra do Paraguai. Conflito deveras conhecido, envolvendo os países da tríplice aliança – Brasil, Argentina e Uruguai – e o Paraguai de Solano Lopes, e que resultou em um genocídio em terras paraguaias. Várias características do romantismo podem ser destacadas em “Carimã, a quiniquinau”, como o medievalismo, na analogia do índio com o cavaleiro medieval, cujos valores são a coragem, a força, a lealdade, a verdade, a justiça, o desprendimento etc.; o mito “rousseauniano do bom selvagem”; as descrições da natureza em tom sublime; e o grotesco quando do enterro de Pacalalá por sua mãe, Carimã.

2. O foco narrativo é em terceira pessoa de tipo narrador onisciente. Porém, o narrador não assume um tom distante e frio. Ao contrário, ele toma partido, em tom ufanista, e participa como “expectador apaixonado” dos acontecimentos narrados, ao exaltar as virtudes dos personagens brasileiros, que são aguerridos, heroicos e incutem admiração até mesmo nos adversários paraguaios. Há também forte carga emocional e comiseração ao descrever as mazelas por que sofrem os brasileiros acossados pelas tropas paraguaias e também nas descrições dos povoados e vilas devastados e em ruínas. Escreve Taunay: “No meio da grita das mulheres, do chorar das crianças, das lamentações dos fracos, do vozear dos índios, dos conselhos desencontrados, das discussões calorosas, aqueles que deviam tomar providências para o bem geral e assumir a responsabilidade de uma resolução imediata, quer no sentido de resistência, quer no de pronta retirada, perderam a cabeça e deixaram-se arrastar pelo movimento da população, que, a 6 de janeiro, em peso abandonou Miranda na mais extraordinária confusão”.

3. Pacalalá tem em comum com os demais líderes indígenas do romantismo gonçalvino e alencarino o fato, já salientado acima, de possuir constituição física extraordinária ao lado de um caráter extremamente virtuoso, de integridade moral inquestionável, e também a pureza imbuída na ideia da inocência do “bom selvagem”. Sobre ele, escreve Taunay: “Tinha ele pouco mais de 20 anos; mas era um soberbo índio, cor de cobre vermelho, com feições angulosas, maçãs do rosto salientes, dentes acerados, olhos pequenos e inteligentes, queixo acentuado e denunciando energia”. A mim, me lembrou muito a resignação, a valentia e o heroísmo de Peri, este quase um sobre-humano.

4. A igreja é representada pelo vigário de Miranda, o frei capuchino Marianno Bagnaia. Frei Bagnaia é o elo entre as populações indígenas e brancas nas terras brasileiras, e dada sua posição, embora quase sempre desprestigiada, não mede esforços para trazer a paz entre as nações contendoras, ao buscar a compaixão para os seus dos inimigos invasores. No entanto, a principal característica do frei é descrita na obstinação por construir, com magros rendimentos e condições adversas, a igreja de Miranda. “Havia na vila uma razão que o atraía com força irresistível: era a igreja matriz que construíra com grande trabalho, empregando nela os seus magros vencimentos e tudo quanto conseguia da caridade dos fregueses”. Esta foi totalmente destruída, levando a ira do frei, que acabou preso por isso, e, por conseguinte, malogrando de uma vez por todas as frágeis possibilidades de diplomacia na região.

5. Diante do assédio das tropas paraguaias lideradas pelo comandante Resquin à vila de Miranda, aparecem comunidades indígenas, como as dos terenos, laianos (nação chané), quiniquinaus, guanás, guaicurus e cadiuéos, em busca de armas para defesa própria e da comunidade, através da guerra de emboscadas. Tal atitude, não é por acaso. Para os índios, os “castelhanos” eram inimigos históricos. Porém, nem todos os grupos indígenas se aliaram aos brasileiros, como fora o caso dos quiniquinaus, guanás e laianos. Os terenos evitaram a luta e se isolaram, enquanto os cadiuéos passaram a atacar ambos os lados do conflito. Mas, de fato, o que levou os índios a entrarem no conflito foram questões territoriais que os ligavam à região. Conforme escreve Taunay: “Os terenos, em número talvez superior a três mil indivíduos, estavam estabelecidos ao Naxedaxe, a seis léguas da vila, no Ipêgue, a sete e meia; e na Aldeia Grande, a três: os quiniquinaus no Agaxi, a sete léguas N. E.: os guanás, no Eponadigo e no Lauiád; os laianos, a meia légua – estes todos da nação chané. Dos guaicurus havia aldeamentos no Lalima e perto de Nioac. Quanto aos cadiuéos moravam em Amagalobida e Nabileke, também chamado Rio Branco”. Evidentemente, no conto, o grupo indígena de maior destaque é quiniquinau, já que os protagonistas Pacalalá e sua mãe Camirã pertencem a esta etnia.

6. Pacalalá é um exemplo e admirado por todos. Diante da invasão das tropas estrangeiras, e na ausência de um chefe capaz para liderar brasileiros e portugueses, Pacalalá, apesar de muito jovem, “pouco mais de 20 anos”, é eleito o líder da resistência. Antes da guerra, Pacalalá defendia os interesses dos índios perante o assédio dos brancos, tendo sempre êxito, pois contava com a admiração e o respeito de brancos e índios. Sua mãe sentia por ele um imenso orgulho, mas sempre com muita discrição. Como descreve Taunay: “Camirã tinha orgulho em ser mãe daquele filho, orgulho imenso, mas oculto no ádito de sua alma. Não só por índole, como pelos costumes dos seus, nunca deixara transparecer a afeição intensa que sentia por ele, nunca correra ao seu encontro ou o abraçara, quanto mais beijá-lo ou tecer-lhe elogios!” Ao saber, da morte do filho em combate, Carimã se veste de muda tristeza e vai ao encontro do corpo insepulto do filho para render-lhe homenagens através de um enterro digno, libertando, então, a alma de Pacalalá que estava presa ao corpo. E, assim, Carimã põe fim a própria vida ao se sacrificar junto à cova de Pacalalá. Neste caso, a atitude da índia é muito diferente do velho tupi, pai de I-Juca Pirama, que só se concilia com o filho ao mandá-lo de volta ao ritual de sacrifício feito pelos índios timbiras quando então I-Juca Pirama redime-se ao provar sua bravura dizimando os guerreiros inimigos.

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