quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Como usar o dito cujo sem errar

Hoje em dia, quase nenhum falante de português-brasileiro usa mais o pronome relativo “cujo”. Ultimamente, entre nós, o “que” se tornou uma espécie de tapa-buracos para tudo, tanto na modalidade oral, como também na escrita. Porém, nem sempre o “que” resolve toda a parada e seu uso exagerado não é recomendável, pelo menos estilisticamente. Em certos contextos, prova de redação ou concurso público, a norma culta faz-se necessário e é bom estar preparado para usar bem o “dito cujo”.



No blog Verso, Prosa & Rock’n’Roll, ensinaremos a usar o “dito cujo” de uma maneira que você não vai errar mais.

1. Começamos pela origem do tal “cujo”, que vem do latim cuius e era usado pelos romanos do mesmo modo como usamos o nosso “cujo”.

Aliás, cada um faz o que bem entender com o “cujo”, desde que faça direito, para não se arrepender depois.

2. O “dito cujo” pertence a classe de palavras dos pronomes.

a) O pronome é palavra que substitui ou modifica um nome. Exemplo:

- A cachorrinha comeu toda a ração.
- Ela comeu toda a ração.

Os pronomes podem ser pessoais, possessivos, demonstrativos etc.

b) O “dito cujo”, assim como o “que”, é um pronome relativo.

Relativo é de relação, ou seja, relaciona ou substitui um termo já expresso, chamado antecedente, na oração.

?????????????

Calma! Chegaremos lá...

Vejamos como o relativo funciona com o abusado “que”.

- Entrou na sala o homem de chapéu que eu vi no dia de ontem.

O “que” se refere ao/ ou repete o termo antecedente “o homem de chapéu”:

- Entrou na sala o homem de chapéu. Eu vi o homem de chapéu ontem.

Portanto, o uso do pronome relativo é uma estratégia inteligente para construir frases sem precisar repetir o mesmo termo.

ATENÇÃO! O “CUJO” NÃO É SINÔNIMO DE “QUE”!!!

- O político que eu não votei foi preso.
- O político cujo eu não votei foi preso. [O político cujo político eu não votei...].

Apesar da minha sincera intenção, a frase está ERRADA, e deu no que deu.

NUNCA FALE OU ESCREVA DA FORMA ACIMA!!!

Também é ERRADO: cujo qual, cujo que etc.

c) A função do “cujo” na oração é de genitivo, isto é, indica ideia de posse, e sempre relaciona dois substantivos diferentes, o termo antecedente e o termo consequente. O termo antecedente, que vem antes do “cujo”, é sempre o possuidor, e o consequente, a coisa possuída.

Para facilitar o “dito cujo”, este relativo sempre substitui as palavras dono de, dona de, donos de, donas de; dele, dela, deles, delas; que tem, que tinha etc., subtendidas na oração.

- O homem cujo carro vermelho...
- O homem dono do carro vermelho...
- O homem do carro vermelho... (O carro vermelho é dele, do homem)
- O homem que tem o carro vermelho...

d) O “dito cujo” flexiona em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural):

- cujo, cuja, cujos e cujas.

Sendo assim, dispensa o artigo depois dele.

ERRADO: cujo o, cuja a, cujos os e cujas as. (NUNCA FAÇA ISSO!!!)

ERRADO: à cuja – pois não cabe a crase, já que o artigo feminino já está flexionado no cuj-a.

e) O “dito cujo” sempre concorda com o substantivo consequente.

- A moça cujo livro comprei...
- A moça cuja roupa comprei...

f) Finalmente, o uso do “dito cujo” deve respeitar a regência verbal, o que faz com que pode ou não haver preposição antes dele.

A regência é tema que tem a ver com a transitividade dos verbos.

Os verbos transitivos diretos são aqueles que necessitam de um objeto direto para completar o seu sentido, isto é, dispensam uma preposição entre o verbo e o objeto:

- Eu amo você = Eu amo o quê? Eu amo quem? Você.

Os verbos transitivos indiretos são aqueles que necessitam de um objeto indireto para completar o seu sentido, isto é, há preposição entre o verbo e o objeto:

- Eu preciso de você = Eu preciso de quê? Eu preciso de quem? De você.

Mas não se preocupe com isso, no dia a dia, quase sempre acertamos a regência verbal, pois ninguém diz, por exemplo, “eu acredito você”, mas “eu acredito em você”, etc.


Observação: Não confundir os artigos a, o, as, os com preposições.
Mas se você ainda está achando tudo isso um pouco complicado, os exemplos abaixo vão dissipar todas as suas dúvidas.

Lembre-se, pintou uma dúvida, preste bem atenção na lógica da estrutura das frases tal como nós analisamos a seguir e depois tente repetir a mesma operação. Vai dar certo!

A
Verbo “saber”, no caso transitivo direto:
Gosto muito deste compositor cujas músicas sei todas.
Gosto muito deste compositor. As músicas dele, eu sei todas.
Gosto muito deste compositor. Eu sei todas as músicas dele.
Gosto muito deste compositor. Eu sei as músicas dele.

B
 Verbo “saber”, no caso transitivo indireto: 
O jornal de cujas notícias eu já sabia muito antes acabou falindo.
O jornal acabou falindo. As notícias dele, eu já sabia de muito antes.
O jornal acabou falindo. Eu já sabia das notícias dele muito antes. (de + as)

C
Qual será o animal cujo nome a autora não quis escrever?
Qual será o animal? O nome dele [do animal] a autora não quis escrever.
Qual será o animal? A autora não quis escrever o nome dele.

D
No colégio tive muitos amigos, de cujos nomes nem me lembro mais.
No colégio tive muitos amigos. Dos nomes deles, nem me lembro mais. 
No colégio tive muitos amigos. Nem me lembro dos nomes deles. (d+os = dos) 

E
O homem, cuja inteligência é superior, vai destruir o planeta.
O homem vai destruir o planeta. A inteligência dele é superior.
O homem vai destruir o planeta. É superior a inteligência dele.

F
Era ela a mulher cuja beleza admirávamos.
Era ela a mulher. A beleza dela nós admirávamos.
Era ela a mulher. Nós admirávamos a beleza dela.

G
A planta a cujos benefícios ele recorrera era medicinal.
A planta era medicinal. Aos benefícios dela, ele recorrera.
A planta era medicinal. Ele recorrera aos benefícios dela.
A planta era medicinal. Ele recorrera a [cuj] os benefícios dela.

H
É esta a casa de praia cujas chaves ontem lhe entreguei.
É esta a casa de praia. As chaves dela ontem lhe entreguei.
É esta a casa de praia. Ontem lhe entreguei as chaves dela.

I
Conheço o juiz sob cuja proteção ficou a pobre criança.
Conheço o juiz. Sob a proteção dele ficou a pobre criança. 
Conheço o juiz. A pobre criança ficou sob a proteção dele.

J
Trata-se de um clube a cujos sócios me incluo há anos.
Trata-se de um clube. Aos sócios deles, eu me incluo há anos.
Trata-se de um clube. Eu me incluo aos sócios deles.

K
É a torre de cujo mirante se avista o mar.
É a torre. Do mirante dela se avista o mar.
É a torre. Avista-se o mar do mirante dela.

L
Aquela é a empresa a cuja diretora me refiro.
Aquela é a empresa. À diretora dela, me refiro.
Aquela é a empresa. Eu me refiro à diretora dela. (Crase)

M
Esta é a funcionaria com cujas ideias todos concordam.
Esta é a funcionaria. Com as ideias delas, todos concordam.
Esta é a funcionaria. Todos concordam com as ideias dela.

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