Hoje em dia, quase nenhum falante de português-brasileiro usa mais o pronome relativo “cujo”. Ultimamente, entre nós, o “que” se tornou uma espécie de tapa-buracos para tudo, tanto na modalidade oral, como também na escrita. Porém, nem sempre o “que” resolve toda a parada e seu uso exagerado não é recomendável, pelo menos estilisticamente. Em certos contextos, prova de redação ou concurso público, a norma culta faz-se necessário e é bom estar preparado para usar bem o “dito cujo”.
No
blog Verso, Prosa & Rock’n’Roll, ensinaremos a usar o “dito cujo” de uma
maneira que você não vai errar mais.
1.
Começamos pela origem do tal “cujo”, que vem do latim cuius e era usado pelos romanos do mesmo modo como usamos o nosso
“cujo”.
Aliás,
cada um faz o que bem entender com o “cujo”, desde que faça direito, para não
se arrepender depois.
2.
O “dito cujo” pertence a classe de palavras dos pronomes.
a)
O pronome é palavra que substitui ou modifica um nome. Exemplo:
-
A cachorrinha comeu toda a ração.
-
Ela comeu toda a ração.
Os
pronomes podem ser pessoais, possessivos, demonstrativos etc.
b)
O “dito cujo”, assim como o “que”, é um pronome
relativo.
Relativo
é de relação, ou seja, relaciona ou
substitui um termo já expresso, chamado antecedente, na oração.
?????????????
Calma!
Chegaremos lá...
Vejamos
como o relativo funciona com o abusado “que”.
-
Entrou na sala o homem de chapéu que
eu vi no dia de ontem.
O
“que” se refere ao/ ou repete o termo antecedente “o homem de chapéu”:
-
Entrou na sala o homem de chapéu. Eu
vi o homem de chapéu ontem.
Portanto,
o uso do pronome relativo é uma estratégia inteligente para construir frases
sem precisar repetir o mesmo termo.
ATENÇÃO!
O “CUJO” NÃO É SINÔNIMO DE “QUE”!!!
-
O político que eu não votei foi preso.
-
O político cujo eu não votei foi preso. [O político cujo político eu não votei...].
Apesar
da minha sincera intenção, a frase está ERRADA, e deu no que deu.
NUNCA
FALE OU ESCREVA DA FORMA ACIMA!!!
Também
é ERRADO: cujo qual, cujo que etc.
c)
A função do “cujo” na oração é de genitivo, isto é, indica ideia de posse, e sempre relaciona dois substantivos diferentes, o termo
antecedente e o termo consequente. O termo antecedente,
que vem antes do “cujo”, é sempre o possuidor, e o consequente, a coisa possuída.
Para
facilitar o “dito cujo”, este relativo sempre substitui as palavras dono de, dona de, donos de, donas de; dele, dela, deles, delas; que tem, que tinha etc., subtendidas na oração.
-
O homem cujo carro vermelho...
-
O homem dono do carro vermelho...
-
O homem do carro vermelho... (O carro
vermelho é dele, do homem)
-
O homem que tem o carro vermelho...
d)
O “dito cujo” flexiona em gênero (masculino e feminino) e número (singular e
plural):
-
cujo, cuja, cujos e cujas.
Sendo
assim, dispensa o artigo depois dele.
ERRADO:
cujo o, cuja a, cujos os e cujas as. (NUNCA FAÇA ISSO!!!)
ERRADO:
à cuja – pois não cabe a crase, já que o artigo feminino já está flexionado no
cuj-a.
e)
O “dito cujo” sempre concorda com o substantivo consequente.
-
A moça cujo livro comprei...
-
A moça cuja roupa comprei...
f) Finalmente, o uso do
“dito cujo” deve respeitar a regência verbal, o que faz com que pode ou não
haver preposição antes dele.
A regência é tema que tem a
ver com a transitividade dos verbos.
Os verbos transitivos
diretos são aqueles que necessitam de um objeto direto para completar o seu
sentido, isto é, dispensam uma preposição entre o verbo e o objeto:
- Eu amo você = Eu amo o
quê? Eu amo quem? Você.
Os verbos transitivos
indiretos são aqueles que necessitam de um objeto indireto para completar o seu
sentido, isto é, há preposição entre o verbo e o objeto:
- Eu preciso de você = Eu
preciso de quê? Eu preciso de quem? De você.
Mas não se preocupe com
isso, no dia a dia, quase sempre acertamos a regência verbal, pois ninguém diz,
por exemplo, “eu acredito você”, mas “eu acredito em você”, etc.
Observação: Não confundir os
artigos a, o, as, os com preposições.
Mas
se você ainda está achando tudo isso um pouco complicado, os exemplos abaixo
vão dissipar todas as suas dúvidas.
Lembre-se,
pintou uma dúvida, preste bem atenção na lógica da estrutura das frases tal como
nós analisamos a seguir e depois tente repetir a mesma operação. Vai dar certo!
A
Verbo
“saber”, no caso transitivo direto:
Gosto
muito deste compositor cujas músicas sei todas.
Gosto
muito deste compositor. As músicas dele,
eu sei todas.
Gosto
muito deste compositor. Eu sei todas as músicas dele.
Gosto
muito deste compositor. Eu sei as músicas dele.
B
Verbo
“saber”, no caso transitivo indireto:
O
jornal de cujas notícias eu já sabia muito antes acabou falindo.
O
jornal acabou falindo. As notícias dele, eu já sabia de muito antes.
O
jornal acabou falindo. Eu já sabia das
notícias dele muito antes. (de + as)
C
Qual
será o animal cujo nome a autora não quis escrever?
Qual
será o animal? O nome dele [do
animal] a autora não quis escrever.
Qual será o animal? A autora não quis escrever o nome dele.
D
No
colégio tive muitos amigos, de cujos nomes nem me lembro mais.
No
colégio tive muitos amigos. Dos nomes deles,
nem me lembro mais.
No colégio tive muitos amigos. Nem me lembro dos nomes deles. (d+os =
dos)
E
O
homem, cuja inteligência é superior, vai destruir o planeta.
O
homem vai destruir o planeta. A inteligência dele é superior.
O
homem vai destruir o planeta. É superior a inteligência dele.
F
Era
ela a mulher cuja beleza admirávamos.
Era
ela a mulher. A beleza dela nós
admirávamos.
Era
ela a mulher. Nós admirávamos a beleza dela.
G
A
planta a cujos benefícios ele recorrera era medicinal.
A
planta era medicinal. Aos benefícios dela, ele recorrera.
A
planta era medicinal. Ele recorrera aos
benefícios dela.
A
planta era medicinal. Ele recorrera a [cuj] os benefícios dela.
H
É
esta a casa de praia cujas chaves ontem lhe entreguei.
É
esta a casa de praia. As chaves dela
ontem lhe entreguei.
É
esta a casa de praia. Ontem lhe entreguei as chaves dela.
I
Conheço
o juiz sob cuja proteção ficou a pobre criança.
Conheço
o juiz. Sob a proteção dele ficou a
pobre criança.
Conheço
o juiz. A pobre criança ficou sob a proteção dele.
J
Trata-se
de um clube a cujos sócios me incluo há anos.
Trata-se
de um clube. Aos sócios deles, eu me
incluo há anos.
Trata-se
de um clube. Eu me incluo aos sócios deles.
K
É
a torre de cujo mirante se avista o mar.
É
a torre. Do mirante dela se avista o
mar.
É
a torre. Avista-se o mar do mirante dela.
L
Aquela
é a empresa a cuja diretora me refiro.
Aquela
é a empresa. À diretora dela, me
refiro.
Aquela
é a empresa. Eu me refiro à diretora dela.
(Crase)
M
Esta
é a funcionaria com cujas ideias todos concordam.
Esta
é a funcionaria. Com as ideias delas,
todos concordam.
Esta
é a funcionaria. Todos concordam com as ideias dela.
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