sábado, 15 de maio de 2021

Ike Turner - Pioneiros do Rock'n'Roll

Ike Turner nasceu em uma família pobre e religiosa, na cidade Clarksdale, Mississippi, em 5 de novembro de 1931. O racismo característico dos estados sulistas dos EUA propiciou um acontecimento trágico em sua vida: seu pai foi espancado até a morte por uma multidão de pessoas brancas.

Ike e Tina Turner
Ike e Tina Turner

Apesar dos infortúnios da condição de afrodescendente em uma sociedade conservadora e preconceituosa, ainda criança revelou um talento excepcional para música, que lhe rendeu um emprego de DJ numa rádio local. O garoto havia aprendido a tocar piano com o mestre do boogie-woogie, Pinetop Perkins, e foi um autodidata com a guitarra, tornando-se virtuose com o instrumento.

Na adolescência, montou a sua própria banda, The Rhythm Kings, que o acompanhou por toda a sua carreira. Em 1951, gravou “Rocket 88”, canção creditada a Jackie Brenston and His Delta Cats e considerada o primeiro registro da história no gênero rock’n’roll.

Ike também trabalhou como caça-talentos. Ajudou a “descobrir” astros da grandeza de BB King, Bobby “Blue” Bland, Roscoe Gordon e Little Milton.

Antes mesmo de completar 25 anos, Ike chegou a se casar oito vezes, ou talvez mais. Quando Anna Mae Bullock, sua terceira esposa e mais conhecida como Tina Turner, entrou para a banda e assumiu o piano, Ike foi tocar guitarra, desenvolvendo um estilo próprio e potente. Jimi Hendrix chegou a dizer que Ike era o melhor guitarrista de rhythm and blues de todos os tempos.

Ike cruzou o país, fazendo shows com sua banda. Ele se recusava a se apresentar para públicos segregados, como era costume naquele tempo, e exigia, mesmo no sul, que o público fosse misturado.

Mais tarde, Tina se divorciou de Ike alegando que sofria espancamento e que o marido, além de viciado em cocaína, era infiel no casamento. Mas, em que pese o insucesso no casamento, Ike e Tina Turner foram incluídos no Rock and Roll Hall of Fame, em 1991.

sábado, 1 de maio de 2021

O Primeiro de Maio de Saramago

A Revolução dos Cravos ou Revolução de 25 de Abril foi um movimento militar ocorrido em 1974, que surgiu no contexto das guerras coloniais que Portugal mantinha na África desde o início dos anos 60. O movimento, que transcorreu praticamente sem violência, derrubou o regime ditatorial do Estado Novo, instaurado por Antônio Salazar e continuado por Marcelo Caetano. A revolução teve como protagonistas jovens oficiais, os chamados "capitães de abril", que foram veteranos das campanhas na África. Durante os acontecimentos, os soldados recebiam, como sinal de apoio, cravos vermelhos da população. Segue trecho da obra de Saramago Levantado do chão: romance que descreve o Primeiro de Maio durante a revolução e o poema de José Afonso Grândola, Vila Morena

Primeiro de Maio

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Em Abril, falas mil. Nos campos há grandes ajuntamentos noturnos, os homens mal veem as caras uns dos outros, mas ouvem-se-lhes as vozes, abafadas se o local não é de suficiente segurança, ou mais soltas e claras em deserto, em todos os casos com a proteção de vigias, dispostos segundo a arte estratégica da prevenção, como quem defende um acampamento. É, deste lado, uma guerra pacífica. Se pelo escuro da noite a guarda se aproxima, e agora já não é a simples patrulha de dois homens dos tempos correntes, vêm às dúzias e meias dúzias, e até onde os carreteiros chegam transportam-se em jipe e jipão, se vindo assim se aproximam, depois em linha, como quem levanta caça, recuam as sentinelas a avisar, e então de duas uma, consoante, ou a guarda vai passar de largo e o silêncio é a melhor defesa, todos os homens, sentados ou de pé, seguram a respiração e os pensamentos, são direitas pedras, antas doutro tempo, ou a guarda vem mesmo ao direito da reunião e a ordem é dispersar por caminhos de mau piso, por enquanto ainda a guarda não tem cães, é o que vale. Na noite seguinte prosseguirá a conversa no ponto em que foi deixada, naquele mesmo lugar ou noutro, que esta paciência é infinita. E quando é possível encontram-se de dia, em grupos mais pequenos, ou vão pelas casas, conversa de ao pé do lume, enquanto as mulheres lavam a louça caladas e as crianças adormecem pelos cantos. E estando no eito um homem ao pé doutro homem, a palavra dita e ouvida é como o bater do maço da cabrilha na estaca, mais funda um pouco, e na hora de comer, com a panelinha ou a marmita pousadas no chão, entre as pernas, enquanto a colher sobe e desce e a aragem fria vai arrefecendo o corpo, tornam as palavras ao de cima, é um falar pausado que diz, Vamos para as oito horas, basta de trabalhar de sol a sol, e então os prudentes temem-se do futuro, Que será de nós se os patrões não quiserem dar trabalho, mas as mulheres que estão a lavar a loiça da ceia, enquanto o lume arde, têm vergonha de que tão prudente o seu homem seja e estão de acordo com o amigo que lhes bateu à porta para dizer, Vamos para as oito horas, basta de trabalhar de sol a sol, porque também elas assim trabalham, e mais ainda, doridas, menstruadas, pejadas da barriga à boca, ou, quando já não, com os seios a derramar o leite que devia ter sido mamado, é uma sorte, não se lhes secou, muito se engana pois quem julgue que basta levantar uma bandeira e dizer, Vamos. É preciso que Abril seja um mês de palavras mil, porque mesmo os certos e convencidos têm seus momentos de dúvida, suas agonias e desânimos, lá está a guarda, lá estão os dragões da pide, e a negra sombra que alastra pelo latifúndio, que nunca o abandona, não há trabalho, e vamos nós, por nossas mãos, acordar a besta que dorme, sacudi-la e dizer, Amanhã, só trabalharei oito horas, isto não é o primeiro de Maio, o primeiro de Maio é o menos, ninguém pode obrigar-me a ir trabalhar, mas se eu disser, Oito horas, só isto e nada mais, é como açular o cão raivoso. E o amigo diz, aqui sentado no cortiço, ou ao meu lado no eito, ou no meio de uma noite tão escura que nem posso ver-lhe a cara, Não se trata só das oito horas, vamos também reclamar quarenta escudos de salário, se não quisermos morrer de canseira e de fome, são boas coisas de pedir e de fazer, o difícil é tê-las. O que vale é que sendo as falas muitas, muitas são as vozes, e do ajuntamento levanta-se uma, não é simples modo de dizer, é verdade, há vozes que se põem de pé, Que vida tem sido a nossa, em dois anos morreram-me dois filhos da doença da fome, e aquele que me resta, irei criá-lo para besta de carga, respondam-me, se nem eu quero continuar a ser a besta de carga que sou, são palavras que ferem os ouvidos delicados, mas aqui não os há, ainda que ninguém, deste ajuntamento, goste de olhar para o espelho e ver-se metido em varais de carroça ou com albarda e cangas, É assim desde que nascemos.

(...)

E então começa-se a falar no primeiro de Maio, é uma conversa que todos os anos se repete, mas agora é um alvoroço público, lembrar-se a gente de que ainda o ano passado andava a esconder-se por aí, para combinar, organizar, era preciso voltar constantemente ao princípio, ligar os de confiança, animar os indecisos, tranquilizar os temerosos, e mesmo agora ainda há quem não acredite que a festa do primeiro de Maio possa ser às claras como dizem os jornais, quando a esmola é grande, o pobre desconfia. Não é esmola nenhuma, declaram Sigismundo Canastro e Manuel Espada, desdobra-se um jornal de Lisboa, Está aqui escrito que o primeiro de Maio será festejado livremente, e dia feriado em todo o país, E então a guarda, insistem os de boa memória, A guarda desta vez fica a ver-nos passar, quem havia de dizer que uma coisa assim nos viria a acontecer um dia, a guarda quieta e calada enquanto tu gritas viva o primeiro de Maio.

E como por cima daquilo que nos permitem temos sempre de pôr o que imaginamos, ou então não somos homens merecedores de pão cozido, principiou a dizer-se que toda a gente devia estender colchas à janela e pôr flores, como se fosse dia de sair o Senhor dos Passos à praça, com um pouco mais se varriam as ruas e embarracavam as casas, tão fáceis são de subir as escadas do contentamento. Porém, assim são os dramas humanos, exagero foi chamar-lhes dramas, mas sem dúvida são perplexidades, agora que vou eu fazer se em minha casa não há colchas nem tenho jardins de cravos e rosas, quem terá sido o da ideia. Tem Maria Adelaide parte nesta ansiedade, mas sendo nova e esperançosa diz à mãe que não poderão ficar em pouco, que não havendo colcha fará uma toalha as vezes dela, branquíssimo pano suspenso do postigo da porta, bandeira de paz no latifúndio, homem civil que ali passasse haveria de descobrir-se com respeito, e sendo guarda ou militar em sentido e continência prestar homenagem diante da porta de Manuel Espada, trabalhador e bom homem. E não sejam as flores vosso cuidado, senhora mãe, que à fonte do Amieiro irei colher das silvestres que neste tempo de Maio cobrem os vales e as colinas, e estando as laranjeiras floridas ramos dela trarei e assim nosso postigo será janela enfeitada como varanda de alcácer, menos do que os outros não seremos, porque somos tanto.

(José Saramago. Trecho de “Levantado do chão: romance”)

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Grândola, Vila Morena

Grândola, Vila Morena

Terra da fraternidade

O povo é quem mais ordena

Dentro de ti, ó cidade

 

Dentro de ti, ó cidade

O povo é quem mais ordena

Terra da fraternidade

Grândola, Vila Morena

 

Em cada esquina, um amigo

Em cada rosto, igualdade

Grândola, Vila Morena

Terra da fraternidade

 

Terra da fraternidade

Grândola, Vila Morena

Em cada rosto, igualdade

O povo é quem mais ordena

 

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

Jurei ter por companheira

Grândola, a tua vontade

 

Grândola a tua vontade

Jurei ter por companheira

À sombra duma azinheira

Que já não sabia a idade

(Canção de José Afonso)