quinta-feira, 15 de setembro de 2022

"Eu versos eu" - (Parte 7) - Antologia

 

71.

Eu estou com Deus

Deus está comigo

Guia-me pelo caminho da verdade

 

Deus está em tudo

Sinto-o a todo instante

Como sinto a chuva, o vento

As estrelas, o sol, o céu

Ensina-me a ter bondade

A praticar o bem

Ainda que humilhado

Ainda que ridicularizado

Dê-me forças para perdoar

Ensina-me a amar

 

Jesus

Eu preciso ser feliz

 

72.

Naquela tarde nada acontecia

Quando aconteceu

De súbito, olhares

Avassaladores

Terremotos

Olhares singulares

Devastadores, da paixão

Emoção

Perturbado o coração

Imóvel

Ao meu redor, o mundo

Móvel

Seguindo seu curso

E pessoas indiferentes

Movendo-se

Só eu, diante dos seus olhos

Olhares

Seriam verdes, azuis

Castanhos ou pretos

Decerto, cor dissimulada

Amor

De fato, eu não sei

Se tais olhares existem

Ou se são apenas engenhos

Imaginação

Como posso ter certeza

Se falam a verdade

Ou se são reais

Sou vítima das armadilhas

Das minhas fantasias

Diante daqueles olhos

Olhares

Fingi que nada acontecia

Voltei para minha casa

Fiz o que sempre faço

E surpreso percebi

Que aqueles olhos

Olhares

Haviam me seguido

E olhavam profundos

Mundos

Meus olhos

Antes de dormir, comigo

 

73.

Olhos azuis

Olhar azulado

Céu

Olhos verdes

Olhar esverdeado

Mar

Olhos castanhos

Olhar amarronzados

Terra

Olhos negros

Olhar enegrecido

Noite

 

74.

O que fiz de tão errado

Para nada dar certo pra mim

Por que mesmo quando

Fiz tudo certo

Tudo deu errado

Nada do que faço dá resultado

Sempre tão difícil

Sempre tão sofrido

 

Tantas tantas dificuldades

Alguém poderia dizer

Você não tem sorte, amigo

É o destino

Meus esforços sempre resultam

Em nada

 

Dói olhar o mundo

Sentir o peso da vida

Não ter realizado um sonho

Sonhos tão pequenos

Tão modestos

Insignificantes

Uma vida inteira sem nada pra contar

Não ter uma história

Como todos têm

Vivendo uma eterna promessa

 

75.

Vivo em um mundo

Onde nada tem sentido

Nem coerência

Nem encaixe

Sou eu

Quem tem de inventar

Significados

Para me deixar feliz

 

76.

Sabem o que é

Se apaixonar

E querer morrer

Sem poder morrer

E viver o vazio

Da sua ausência

Sabem o que é

Se apaixonar

E não poder

Nada fazer

E viver o vazio

Da sua ausência

Sabem o que é

Se apaixonar

E querer morrer

E não poder

Não poder

E preencher esse vazio

Da sua ausência

 

Eu sei

 

77.

Não consigo segurar as lágrimas

Quanta decepção

Me sinto enganado

Pela humanidade

As pessoas sorriam

E diziam

Seu futuro será brilhante

Era como se meu destino

Já estivesse traçado

Para a felicidade

A felicidade

Uma fatalidade

Mas tudo era ilusão

E agora estou perdido

Amargurado

 

Fui ingênuo

E não havia como não ser

Fui enganado

Eu só queria

Que meu amor

Fosse correspondido

Com amor

Mas não foi nada disso

Dei amor e recebi indiferença

Dei amor e recebi desprezo

Dei amor e recebi escárnio

Dei amor e recebi ódio

Dei amor

E fiquei sem amor

 

78.

Eu te amo muito

Gostaria que você

Pudesse ouvir isso

Se as estrelas

Que sabem de tudo

Contassem a você

Como eu te amo

E o vento

Levasse os beijos dos meus lábios

Até a sua boca

Ah! Mas você não pode me ouvir

Nem sentir

Nem beijar

Só as estrelas, o vento...

 

79.

Será que a flor

Que eu colhi

Para pôr entre

Seus cabelos

Vai murchar em mim

Vai murchar em mim

 

Como posso esquecer este amor

Se hoje é como se fosse

O último dia da minha vida

 

80.

Eu te amo

Furiosamente

 

Não te enganes

Com o meu sorriso

Sou terra devastada

 

Olhando assim

Até parece que

Estou levando

Uma vida normal

 

Mas se tu me visses

Sozinho, em casa, à noite

Sentado, absorto, na cama

 

Verias um ambiente de

Desolação, na escuridão

 

Eu um mar de tempestade

Arremessado por ondas gigantes

Afogado num abismo oceano

 

A acreditar num milagre


Tu dizeres sim


81.

O amor

 

O tempo me tortura

Cada segundo, cada pulso, cada batida

Uma dor, uma dor, uma dor

Sem fim, sem fim, sem fim

 

Vida

Sonhos em mim

 

Toda existência

Dependendo de um sim, um sim

Um sim, que nunca vem

Nunca vem, nunca vem

 

82.

Quando somos protagonistas

Não espectadores

Ficamos no centro do palco

Da vida

 

Ninguém me enganou

Eu me enganei

 

Superestimei a beleza

Infinita da vida

 

Esperei as coisas prontas

Nunca fiz nada

Não posso culpar o mundo

Tive muitas chances

 

Devo admitir

Sou responsável

Por todos os meus erros

 

Engraçado

Eu nunca acreditei

Nas coisas que ela disse

Eu só acreditava naquilo

Que ela nunca dizia

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

Sabonete de pobre

Crônica

Por Nilza Monti Pires 

Isto que vou contar já se passou um ano atrás. Sempre nas datas festivas eu ganhava sabonetes de presente.

Eram sabonetes cheirosos, adocicados e até cítricos, com cheirinho de limão.

Da última vez que ganhei uma caixinha, que continha dez sabonetes, não me preocupei mais em comprar sabonete.

Certa ocasião quando fui tomar banho e, para a minha surpresa, não havia mais nenhum sabonete, nenhunzinho, fiquei decepcionada. Como é que eu nem reparei que tinha acabado?

Fiquei chateada, agora tinha que sair para comprar um sabonete, estava com um pouco dinheiro, precisava economizar e tudo estava tão caro!

Foi na loja mais próxima que encontrei. Ali tinha vários tipos de sabonetes. Fiquei observando, observando, por um longo tempo, queria um bem barato, de preço baixo. Pegava um, depois pegava outro, e assim passei um tempão, pegando um, pegando outro, e largando tudo, pois eram bem caros! Até que encontrei um com preço baratíssimo, bem embrulhadinho, de cor de ametista. Acabei comprando esse sabonete de cor violeta. Comemorei e saí satisfeita. Tinha economizado.

Passaram um mês, dois e até três meses, o sabonete continuava intacto, não diminuía nem cheiro tinha – se pelo menos soltasse alguma espuminha! – era liso demais, talvez fosse feito daquela pedra escorregadia, vulgo pedra sabão.

E assim passou um ano, o sabonete continua na mesma, inteirinho, não desgastou, não dissolveu, mas alcancei meu objetivo: economizar. E economizei!

O bom de sabonete de pobre é que é assim mesmo, dura para sempre.