sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

"Eu versos eu" - (Parte 17) - Antologia

 Antologia poética

91.

Pensei que amava você

Mas você não era mesmo você

A biologia me pregou uma peça

Química ardilosa ilusionista

O amor, quintessência da reprodução

Quando dei por mim

Era escravo

De um instinto cego

Prisioneiro de uma armadilha

Sublime

Enquanto o amor esgueirava

Como um sonho

Pela minha alma

Esperança vazia

Mas quem explica minha dor

Que arrebata minha vida

E aniquila cada átomo de realidade

Quem explica este estado de coisas

Sonho dentro de sonho

Caos na lógica

Nada

Só o amor

Porque tudo é falso

Tudo é mentira

Sem amor

 

92.

Procurei uns versinhos

Mas, perdidos, não achei

Caíram num abismo

De lembrança

Procuro meu amor

Mas, desaparecido, não achei

Caiu num abismo

De lembrança

 

Sinto-me só

Tenho tido pesadelos

 

93.

Devo escrever qualquer coisa

Porque preciso escrever

Qualquer coisa verdadeira

Primeiro, o amor não existe

Segundo, se existisse, seria eterno

Terceiro, se alguém, por ventura

Dissesse sinceramente eu amo você

Tal decreto seria imprescritível e irrevogável

E a sentença: pena capital, prisão perpétua, tortura, confinamento

Enfim, quarto e último, decorre de todas as premissas

O fato de que quase sempre o amor não é correspondido

 

94.

Eu amei tanto

Que odiei

Cometi um equivoco

Dentre incontáveis

Fui egoísta

Deixei que minha mesquinhez

Magoasse quem eu mais amava

Fui extremamente injusto

Feri, machuquei, feri

Quis destruir

Com meu amor

Enlouquecido, esmurrei a porta

Quebrei a janela

Virei a mesa

Desmoronei-me

Desnorteado fugi

Entre uma multidão tumultuosa

O céu desabava

O fim do mundo

E de repente seu olhar mudo

Você ainda me amava

 

95.

É tão estranho dizer isto

Naquela noite de aflição

Não naquela

Mas numa outra que não lembro

Seu olhos me engoliam

Como um aspirador de pó

Se meu espírito não estivesse

Grudado na matéria

Onde eu estaria agora

 

96.

Ela está se casando

O padre diz por dizer

Se alguém, aqui presente

For contra esta união

Fale ou cale-se para sempre

Eu tenho tanta coisa a dizer

Mas me calo

Instantes depois

Braços dados com o marido

A noiva passa pela passarela

Sorrindo, sorrindo

Então, passa e sorri para mim

E, em seguida, desaparece pela porta da igreja

Os convidados seguem felizes

O padre desce do altar e vai embora

Só restou eu, sentado, magoado

Agora que estou só

Pergunto-me

Por que me calei

Por que me calei

Vou embora

 

97.

Dizem que meus olhos são tristes

Ninguém sabe por quê

Eu sei

É porque são o espelho da vida

 

98.

Ela foi embora

Como a deixei partir

Éramos três

Eu, ela e o desencontro

 

99.

Eu sei que estou perdido

Sei também que não tenho objetivo

Sei que sou triste

E não tenho a cabeça no lugar

Mas posso provar que sou bom

 

100.

Se um dia eu te magoei

Saiba que eu me magoei

Mil vezes mais

Peço perdão

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