Autor:
Jean Pires de Azevedo Gonçalves
Andarilho da estrela cintilante
Por onde está sozinho em pensamento,
Fugindo dessa terra de tormento,
Sem paradeiro certo, triste errante?
E procurar o que no firmamento,
Que aqui não encontrou sonho distante
Nenhum outro arrojado viajante?
Volta! Nada se perde com o tempo...
“Felicidade quis, sim, encontrar
Nesse vasto universo, de numerosas,
Infinitas estrelas, não hei de errar!
Mas ilusão desfez-se em nebulosas,
Tão longe descobri tarde demais:
Meu amor deste lugar partiu jamais!”
Num foguete Andarilho da alvorada
Vai voando viajante espacial,
Pássaro reluzente de metal,
Cruza o céu Valentina corajosa.
Adereços de luzes de cristal
Enfeitam minha nave portentosa,
Pioneira a conquistar Lua dourada
Destronando reinado celestial.
E navega altaneira cosmonauta,
Lá de cima olha a Terra solitária,
Trilha por via de estrelas muito alta,
Costurando crateras, a operária,
Na fábrica de utopias estelares.
Pois sonhar é preciso, nestes mares...
Acorda, ó Andarilho, acord’acorda!
Um passarinho lírico pi’assim
O despertador trina trintrintrim
O tempo é carrossel que rodarroda
Sonhos são feitos de pó pirlimpimpim
Vida-é-vivida pelo mundo-afora
Mas a saudade nunca vai s’embora
É um reviver que gir’assinsenfim!
O Sol fabrica só a hora que brilha
E alegria é correr no meio da chuva
Quando vem vento sabor de baunilha.
Chega a noite crescente – sorri a Lua
Volta atômica Mab, fada do sono
Amanhã recomeça o mesmo novo.
Sou Andarilho, vagando na cidade,
Pelas ruas, estou sempre de passagem;
Sigo a Via Láctea atrás de uma miragem:
Encontrei nas Estrelas liberdade.
A minha vida tenho na bagagem
Não conheço o que é necessidade
Nada levo senão muita saudade
Do que deixei pra trás nessa viagem.
À noite a lua ilumina o caminho,
Perseguindo meus passos. E vou e passo;
Nunca sei onde vai dar o meu destino.
Quem sabe, nos afagos de um abraço,
Existe no Universo uma pousada,
Muito longe, no fim desta estrada?
Quem sabe do Andarilho das Estrelas?
Por aqui costumava caminhar,
Imaginando estórias pra contar
Com jeito extravagante de dizê-las.
Pelos campos, sonhava estar no mar,
Na quietude de flores
bem vermelhas
Zanzava como fazem as abelhas
E a doce liberdade era o seu lar.
Zanzava como fazem as abelhas
E a doce liberdade era o seu lar.
Notícias não se têm faz tanto tempo
Do aventureiro nômade
celeste,
Que ia para onde apontava um cata-vento.
Que ia para onde apontava um cata-vento.
Não foi para oeste, norte, sul ou leste
Em que aventura
encontra-se afinal?
Dizem que está no espaço sideral...
Dizem que está no espaço sideral...
Assim como náufrago
solitário,
Perdido à deriva no Oceano,
O reino de Netuno soberano,
Entre a constelação de Sagitário
Perdido à deriva no Oceano,
O reino de Netuno soberano,
Entre a constelação de Sagitário
E algum ponto no espaço sobre Urano.
Sem rumo, muito além
do planetário,
Forasteiro, num mundo imaginário,
Um Andarilho se perde em desengano.
Forasteiro, num mundo imaginário,
Um Andarilho se perde em desengano.
Será uma ilha distante no horizonte
Ou trirreme trazendo
esperança?
Argonautas que vêm de muito longe
Argonautas que vêm de muito longe
Oferecer refúgio nessa andança.
Avistar terra firme,
tão querida,
E o desejo aportar por toda vida.
E o desejo aportar por toda vida.
Bem de noite,
trabalha o Andarilho,
Incansável obreiro: sonhador.
É mestre o solitário agrimensor
No ofício de mensurar o infinito.
Incansável obreiro: sonhador.
É mestre o solitário agrimensor
No ofício de mensurar o infinito.
Desconhecido o mundo interior,
Desbravado e por ele
foi medido.
Na oficina assobia um estribilho,
Mapeando quimeras com rigor.
Na oficina assobia um estribilho,
Mapeando quimeras com rigor.
Na divisa indistinta da paixão,
A fantasia é linha
imaginária
Que demarca loucura da razão.
Que demarca loucura da razão.
Em terra sem utopias, tu és pária,
Vivendo na fronteira
da verdade,
Teimas sempre inventar realidade.
Teimas sempre inventar realidade.
Por onde vai,
Andarilho, o seu andar
Que assim nunca termina
A sua sina
De partir, de fugir, e não parar
Que assim nunca termina
A sua sina
De partir, de fugir, e não parar
Por onde vai o caminho da sua vida
De sorrir, de gostar
E não chorar
Que assim nunca entristece árdua lida
E não chorar
Que assim nunca entristece árdua lida
Entre emenda e remendos (nada certo):
Viver feliz sem
métrica
Nem rima
Nem rima
Sem luz elétrica
E o mundo por um triz...
A vida é um soneto descompleto.
A vida é um soneto descompleto.