sábado, 1 de dezembro de 2018

O. Henry - A identidade secreta

A real identidade de O.Henry, um dos maiores contistas norte-americano, só veio a público em 1916. Seu verdadeiro nome era William Sydney Porter. Nascido em Greensboro, Carolina do Norte, em 11 de setembro de 1862, O.Henry, quando adulto, tinha sólida conformação física, ombros maciços e feições carregadas. A um jornalista sugeriu: “Diga apenas que minha aparência é a de um açougueiro saudável”. De fato, o escritor evitava os holofotes e quase nunca tirava fotos. Seu passado era mantido em segredo.

Em sua juventude, o escritor trabalhou como farmacêutico mas, por motivo de saúde, acabou indo para o Texas no ano de 1882. Apaixonou-se pelo oeste e a vida na fazenda tornando-se um exímio vaqueiro. Cansado da vida do campo, pouco depois se empregou em um escritório. Caindo de amores por uma bonita moça de Austin, Athol Estes, fugiu com ela. Depois do nascimento de sua filha, Margaret, passou a trabalhar de caixa no Banco Nacional de Austin. Nas horas vagas, exercitava a pena na publicação de um pequeno semanário que teve efêmera duração, The Rolling Stones.


A confusão reinante no banco não era pouca, que não justificasse a irritação de O.Henry. Certa vez passou dois dias à procura de uma diferença no caixa, para ser informado depois, por um dos funcionários, que a diferença provinha de fato de este ter retirado cem dólares sem haver preenchido o vale de adiantamento. Quando outras irregularidades foram encontradas nos livros de contas de O.Henry, os diretores do banco recusaram-se a processá-lo, repondo a diferença.

O.Henry deixa o banco. Mas em julho de 1896, precisamente quando trabalhava intensamente como jornalista, é intimado pelas autoridades para voltar a Austin e responder no processo em que era acusado de apropriação fraudulenta de somas em dinheiro. Parte desta quantia, de acordo com a denúncia, teria sido desviada quando fazia já vários meses que O. Henry deixara de trabalhar no banco.

Mas, em lugar de ir diretamente para Austin, Porter foge para a Honduras, na América Central. De lá, insiste com a mulher para se encontrar com ele. Ela, no entanto, já não podia ir. Sofria de tuberculose. O.Henry então volta para os EUA e passa ao lado esposa em seus últimos momentos.

A justiça o submete então a julgamento e, em 17 de fevereiro de 1898, é condenado a cinco anos de prisão. Um dos jurados que votaram pela culpabilidade do réu, declarou mais tarde: “O. Henry era inocente e se eu soubesse naquela época o que sei agora, nunca teria votado contra ele”. A circunstância da fuga foi entendida como uma confissão de culpa. Além disso, não ajudou o advogado de defesa, que se manteve num silêncio quase desdenhoso durante todo o julgamento.

Em abril de 1898 começou a cumprir a pena. O médico chefe da penitenciária de Ohio conta que certa vez O. Henry lhe declarou: “Nunca roubei na minha vida. Vim parar aqui por peculato, mas jamais toquei em um só centavo. Alguém, que não eu, deve ter ficado com o dinheiro”.

O moço de 36 anos que dera entrada na penitenciária mostrava inteligência como escritor, mas não se tinha fixado em coisa alguma: fora uma espécie de pau para toda a obra, um aventureiro. Já o homem de quase 40 anos que sai da prisão é um trabalhador infatigável, um escritor consumado, cujas histórias já tinham aparecido nas revistas logo no começo do seu segundo ano de cadeia.

Ao sair da prisão, O. Henry começa a lançar as suas histórias em todas as revistas populares de sua nova cidade. Nova York – Bagdá sobre subway, como ele chamava.

À medida que sua fama ganha força, tanto o solicitam, que a saúde começa a traí-lo. Não obstante, casa com uma amiga de juventude, Sara L. Coleman, em 1907.

Nessa época devia fazer fortuna, mas ele simplesmente não sabia como controlar os seus próprios recursos. Além disso, era proverbial sua generosidade com os abandonados da sorte.

Na primavera de 1908, ao mesmo tempo em que chegava ao pináculo da fama, seu sofrimento lhe abatia por completo. Já não tinha a aparência de um açougueiro saudável.

No último ano de sua vida foge-lhe a saúde com grande rapidez. Aos 47 anos tinha vivido muitas vidas.

(H. J. Forman, amigo de O. Henry).

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