sábado, 1 de junho de 2019

Variação linguística e neologismo

A linguagem é um sistema de comunicação inerente ao ser humano. Todo ser humano, a princípio, possui condições naturais de comunicação. Mas a linguagem não é apenas um aspecto da constituição natural humana, ela é também produto da cultura, portanto, um fenômeno social e histórico. Neste sentido, os indivíduos que vivem em sociedade, de uma maneira geral, têm competência linguística, isto é, através da fala, são capazes de compreender e serem compreendidos por seus interlocutores.


Todavia, a fala não é uma unidade homogênea. A linguagem pode se manifestar em diferentes níveis que vão desde a diversidade de idiomas até variações linguísticas dentro de um mesmo idioma. Assim sendo, a linguagem pode se revelar como um sistema abstrato de regras, não só gramatical como também semântico e fonológico, de modo extremamente variado e irredutível a uma normatização definitiva.

Dentro de um mesmo idioma, por exemplo, variações linguísticas podem ocorrer em diferentes regiões de um mesmo território nacional ou ainda no âmbito do próprio cotidiano, refletidos pela diferença de gênero, de idade, classe social, ou ainda numa escala espacial relativamente pequena e demarcada pela distinção metropolitana entre centro-periferia etc.

Ou seja, a natureza plástica da linguagem é múltipla e está em constante transformação. Diante disso, desenvolveu-se, geográfica e historicamente, em distintas culturas, uma língua padrão, cristalizada, também chamada de “norma culta”, geralmente advinda dos hábitos linguísticos praticados por grupos sociais dominantes ou socioculturais privilegiados, que, por seu prestígio, foi imposta aos demais grupos sociais como modelo uniforme, único e geral.

O domínio da “norma culta” está no nível da performance e não se confunde com a competência linguística que, como se afirmou acima, diz respeito à capacidade de se comunicar de qualquer ser humano. O uso “correto” de uma língua por uma dita “elite” poder gerar exclusão e preconceito linguístico diante das demais variações linguísticas relacionadas a grupos sociais marginalizados.

Desnecessário entrar em pormenores aqui sobre o quanto a língua padrão é artificial e não acompanha a dinâmica de uma realidade tão heterogênea e contraditória como são as sociedades humanas.

A linguagem coloquial, deste modo, se aproxima muito mais da natureza móvel da língua e está aberta a todo tipo de criações, que vão, com o tempo, configurando-a tanto do ponto de vista fonológico como da sintaxe e da morfologia. Em termos morfológicos, estas mudanças podem ser verificadas através de processos de formação de palavras ou de criação neológica.

Sem dúvida, a criação de neologismo é um fenômeno muito mais comum do que pode parecer num primeiro momento. Contudo, esta criação não é aleatória e independente de paradigmas linguísticos de uma determinada língua. Portanto, o processo de formação de neologismo pode ser compreendido e caracterizado sob uma perspectiva científica nos termos da linguística.

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