Riot Grrrl é um movimento formado principalmente por mulheres brancas identificadas com a cultura punk-feminista e anarquista. [Falaremos em outro artigo do problema da não identificação dos punks e anarquistas com a questão do negro]. Este grupo surgiu em Washington, EUA, no início dos anos 90. O termo Riot Grrrl provavelmente remete as integrantes da banda feminista punk Bratmobile, Allison Wolfe e Molly Neuman, que cunharam a expressão “girl riot”, ou seja, garotas amotinadas. O uso de “grrrl”, ao invés de “girl”, foi um recurso utilizado pelo movimento para desassociar a conotação passiva da palavra “girl”, bem como para mostrar a raiva que o movimento inspirava através de uma onomatopeia que referenciava a uma espécie de rugido ou rosnado. Devido às raízes punks das mulheres fundadoras do movimento e do protesto violento de suas reivindicações, o movimento Riot Grrrl apareceu sob uma perspectiva nova, muito mais radical do que outros grupos feministas.
Assim,
o movimento Riot Grrrl encorajou as garotas a se envolverem cada vez mais na
cena punk até então dominada pelos homens. Na década de 1970, as mulheres
geralmente só eram consideradas “punk” pelo fato de serem “as namoradinhas” de
algum figurão do movimento. Por isso, as meninas atuavam na cena enquanto meras
coadjuvantes. Com o advento do “hardcore punk”, no início dos anos 80, a
hegemonia masculina se consolidou ainda mais e a pouca influência das mulheres
desapareceu de todo.
Todavia,
elas não aceitaram esse papel secundário e começaram a criar suas próprias
revistas, fanzines ou “zines”, para compartilhar suas ideias, contagiando
outras meninas a se levantarem contra o status quo masculino do punk. A
crescente conscientização levou à criação de sucessivas reuniões do movimento
Riot Grrrl, que tomaram vulto nacional e, depois, espalhando-se para todo o
mundo.
A
mídia descobriu o movimento Riot Grrrl através de zines e das bandas. A grande
repercussão na imprensa, no entanto, causou confusão na opinião pública. Os
tabloides começaram a noticiar o movimento como uma “subcultura perigosa de
jovens feministas extremamente revoltadas”. O tom dessas reportagens levou a
uma associação da Riot Grrrl com uma gangue de garotas muito violentas, que
aterrorizavam os homens através de um discurso de ódio de gênero. Essas
acusações falsas da imprensa levaram a opinião pública a questionar a
legitimidade do movimento Riot Grrrl e o tipo de cultura que estava fomentando
no meio feminino juvenil. Assim, inúmeras pessoas ficaram preocupadas com o
movimento Riot Grrrl e acreditaram que de fato as meninas envolvidas promoviam
mensagens negativas e perturbadoras da ordem social vigente. Claro, a mídia de
massa contribuiu intensamente para sugestionar ideias ameaçadoras em torno do
movimento, instigando através de informações falsas o medo na sociedade.
Neste
sentido, juntamente com o aumento da popularidade das Riot Grrrls vieram também
as críticas da grande imprensa. Uma revista de música inglesa, a Melody Maker,
declarou: “A melhor coisa que qualquer Riot Grrrl poderia fazer é ir para casa
e ler um pouco, evidentemente, não um mísero fanzine sujo”. Essa foi apenas uma
das muitas críticas que o movimento teve que enfrentar. Kim France, editor
fundador da Lucky, escreveu em 1993: “Elas não fazem outra coisa senão rabiscar
“vagabunda” e “estupradores” nas costas antes dos shows, escrever fanzines com
títulos como “Garotas Delinquentes”, além de odiar toda liberdade de expressão”.
As fundadoras da Riot Grrrl responderam ao conteúdo destas matérias
jornalísticas com várias entrevistas, esclarecendo o ideário do movimento e explicando
a importância de criar uma conscientização para as mulheres sobre assuntos como
machismo e sexismo, que nunca eram discutidos na mídia convencional. Neste
sentido, a banda Bikini Kill costumava repassar o microfone para as garotas que
iam aos shows para que estas pudessem compartilhar suas histórias de abuso
sexual e violência contra a mulher.
Além
das críticas preconceituosas que a Riot Grrrl sofreram no início, os repórteres
sempre colocavam em dúvida a reputação das meninas do movimento. Um exemplo
rasteiro deste tipo de difamação foi a publicação de uma matéria no Washington
Post sobre a banda Bikini Kill. Este importante jornal, de grande circulação
nos EUA, veiculou em suas páginas uma história mentirosa a respeito da vocalista
da banda, Kathleen Hanna, afirmando que ela era estuprada por seu pai durante a
infância.
Música
A
música foi a base do movimento, que reunia as militantes num ideal comum. Uma
variedade de bandas femininas surgiu e, através da música, expressavam seu ódio
ao patriarcado e mesmo ao racismo. Muitas letras tocavam abertamente em temas
que eram considerados tabus para o mainstream, como estupro, incesto e
transtornos alimentares. Através dessas canções, as meninas percebiam como seus
problemas pessoais se encaixavam em questões políticas mais amplas. Por causa
dos laços de solidariedade firmados através da música e dos zines, muitas
garotas tomaram coragem e passaram a escrever cartas às bandas Riot Grrrl, afirmando
como as letras afetavam decisivamente suas vidas, tais como distúrbios
alimentares, relações heterossexuais e homossexuais e o padrão de como a
sociedade julga uma mulher dita “perfeita”.
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