sábado, 15 de setembro de 2018

Meus dilemas - Excluídos - Clássicos do punk BR


Se eu tivesse de escolher dez das melhores músicas do punk nacional, desde sua origem até os dias atuais, isto é, as Top 10, não hesitaria em “Jogos de azar”, da banda paulistana Excluídos. As demais eu deixo para responder em uma outra ocasião, qualquer dia destes. De fato, os Excluídos é uma das bandas mais originais da cena punk brasileira, o que significa dizer que eles não se parecem com nenhuma outra banda, a não ser com eles próprios. Por isso, ao ouvi-los, não espere clichês ou fórmulas fáceis.


A proposta dos Excluídos é fazer punk rock de qualidade e, acima de tudo, com muita personalidade. Para mim, talvez, o que melhor define a banda é a extrema paixão com que seus integrantes fazem aquilo que mais gostam: punk rock! Mas, antes de ir direto ao ponto, caberia aqui falar um pouco sobre o show dos Excluídos, que é um capítulo à parte. No palco, Ronaldo (vocal e guitarra), André (guitarra), Caio (baixo) e Raphael (baterista), todos com uma gota de lágrima negra pintada no lado esquerdo do rosto, marca registrada da banda, encarnam completamente aquilo que poderíamos chamar de “presença de palco”. Amplificadores ligados, pulinhos ensaiados, primeiros acordes e parece que alguém ligou o playback atrás das cortinas. Mas não, os caras realmente arrepiam ao vivo. No auge do show, o som dos instrumentos é interrompido por eles e, diante do silêncio, o público levanta os braços e bate palma espontânea e sincronicamente acompanhado apenas pela marcação do bumbo da bateria. Emocionante! Até hoje só vi os Excluídos provocarem esse tipo de reação nos fãs enlouquecidos. Mas o show não pode parar e os Excluídos são bastante generosos com o seu público. Então, na sequência, já emendam um riff e o que vem depois é pura energia, contagiando freneticamente até os mais tímidos.


Realmente, os Excluídos são excelentes músicos e nada tenho a dizer a mais a esse respeito. Os vocais, no entanto, são um caso único entre as bandas punks e merecem uma pequena menção. Ronaldo é um cantor de primeira linha e consegue com extrema facilidade modular sua voz em belas coloraturas que podem ir de um falsete muito agudo até um grave ao modo de um Elvis Presley. E isso sem perder a afinação! O coro também não fica atrás, com polifonias perfeitas que se alternam em refrões que não saem da nossa cabeça.



Acontece que não estou aqui para falar da banda e, sim, de seu CD Meus Dilemas. Sem dúvida, os Excluídos levam muito a sério esse tal de punk rock. Meus Dilemas é a prova disso, a começar pela produção da capa, que é, com todas as letras, de extremo bom gosto. Tão bonito que até poderia servir de enfeite na sala de estar. Todo feito em papelão, com um suporte de acrílico interno, para segurar o disco, o CD é todo decorado com fotos da banda em preto e branco. Mas o charme mesmo é o nome da banda escrito em letras douradas – além de outras inscrições, como título, créditos, logotipo etc. (Ah, os caras me deram a honra de colocar um pequeno texto que eu escrevi num guardanapo, a mais ou menos uns quinze anos atrás, no fundo da capa. Valeu!). O encarte segue o mesmo nível da capa, com todas as letras e informações técnicas, e em formato de livrinho. O disco conta também com um pôster estampado com uma foto da banda a la Ramones e letras em inglês no verso.


Ou seja, é um baita presente para os fãs!

Em se tratando de uma banda, porém, o invólucro não é o principal e, sim, o conteúdo: as músicas!

Claro, com toda essa produção, os caras não iam nos decepcionar. As 13 canções são excelentes, diversão garantida para quem gosta e para quem não gosta de punk rock! Então o melhor a fazer é ouvir Meus Dilemas e não dizer mais nada! Mas sou o dono do blog e tenho o compromisso comigo mesmo e com os seus leitores de informar. Então, vamos à resenha! “Antes do céu desabar” é o abre alas dos disco e é inconfundivelmente Excluídos. A letra é bastante sombria e versa sobre o estilo de vida calcado num consumo cego e que põe em xeque o futuro da humanidade: “Antes que o céu venha a desabar/E a natureza anunciar/Que o vento leva a esperança/Enquanto o medo toma lugar”. A canção "Novo início" é mais uma das músicas do disco que quando a gente menos se dá conta está assobiando ou cantando o refrão: "Mas não me deixe acordar/E o pesadelo voltar/Fazendo o mundo girar/Pra fora do lugar". “Minha vida é cheia de som e fúria” é realmente BE-LÍS-SI-MA e de imediato me lembrou Macbeth, do grande bardo inglês (talvez, o autor que eu mais li; sim, li Shakespeare, mas pouco vi suas peças, porque no Brasil... arghhh!!!...). No refrão eles cantam: “E você sempre reluz/Mesmo sem nada a mostrar/O seu vazio seduz/Mas prefiro a vida cheia de som e fúria”. A canção “Coma” é uma metáfora bem interessante para se lançar uma crítica à apatia de nossa sociedade e talvez explique o estado comatoso por que passamos: “A revolução me chama/A revolução em coma”. A faixa sétima, “O show não pode parar”, bem que poderia nomear o CD, porque bem representa o espírito da banda resumido nestes versos: “Quando tudo me puxar para baixo/Respiro e grito mais alto/(...) Viver não é crime/Eu digo que o show não pode parar”. “Precipício” dá arrepios e somos compelidos a cantar o refrão: “Não, não, não, não, não/Será hora de pular?/ Não, não, não, não, não/Ou dar um passo atrás?/A quem eu devo culpar?”. Em “Um dia ideal”, os arranjos instrumentais, em particular, o solo de guitarra, é bastante empolgante e a letra sugere uma recomendação salutar para o dia que amanhece: “Hoje eu acordei vendo o sol raiar/No ar que eu respirei, havia algo a mais/Era um dia comum qualquer, mais parecia mais/Foi o instante que eu enxerguei a chance de mudar”. E para finalizar os meus destaques, não tem como não comentar a canção que fecha e que dá indiretamente o título ao CD, que é “O som da minha vida”. Numa bonita canção, os Excluídos trazem as angústias e os dilemas de se viver um grande amor. Na letra, eles cantam: “Eu não posso pensar em viver sem você/Você me faz pensar nos meus dilemas”.

Ronaldo, André, Caio e Raphael

Repetindo, Meus Dilemas é um baita presente para todas as ocasiões! O que está esperando para ouvir os Excluídos?!!!

PS.: Em longa conversa com o Ronaldo por telefone, tive um insight e classifiquei estética e nietzschianamente as músicas dos Excluídos como apolíneas. Então, quando veremos um show dos Excluídos com o dionisíaco Fecaloma? Que fique registrado!


Nenhum comentário:

Postar um comentário