segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Arturo Toscanini, o maestro carioca

Por A. M. L.

Nascido na comuna de Parma, norte da Itália, no dia 25 de março de 1867, filho de um pobre alfaiate, Arturo Toscanini entrou aos nove anos para o conservatório de Parma, onde os companheiros não tardaram em tratá-lo como um verdadeiro gênio e passaram a segui-lo com entusiasmo até mesmo num ato de indisciplina, quando Arturo organizou uma banda clandestina fora do programa escolar, resultando na punição dele e de todos os seus colegas. Mais tarde, já músico profissional, Arturo pulou de orquestra em orquestra, tocando violoncelo em teatros e óperas, até que uma noite do ano de 1886, pouco tempo depois de completar 19 anos de idade, foi repentinamente arremessado aos píncaros da fama: passou-se isto no Rio de Janeiro.


Na noite de 30 de junho, poucas horas antes da primeira apresentação de Ainda, a companhia de ópera italiana, de visita à capital do Brasil império, coagira o maestro brasileiro "Leopoldo Miguez" brasileiro Leopoldo Miguez a pedir demissão. O público, transbordante de patriotismo ofendido, vaiou consecutivamente os dois maestros italianos que lhe queriam empurrar goela abaixo, forçando-os a descer do estrado. Alguém se lembrou então do jovem violoncelista, que também era assistente e mestre de coral e que, durante a viagem, tinha se encarregado de ensaiar os cantores, dando provas de conhecer meia dúzia de regras sobre a técnica operística.

Arturo foi incentivado pelos músicos a assumir a regência da orquestra. "Todos sabiam da minha excelente memória", disse ele depois, "porque os cantores tomavam as lições comigo e eu tocava piano sem nunca olhar a partitura".

Ao ver surgir no tablado um maestro teen, a plateia ficou silenciosa. Empunhando a batuta, para dar o sinal de abertura, e quase sem reparar no que fazia, Arturo fechou a partitura que tinha no pedestal, diante de si. O público ficou boquiaberto. Aquele primeiro ato decorreu brilhantemente e Arturo era um herói popular. Um triunfo! Durante essa temporada, no Rio de Janeiro, regeu mais de 18 apresentações – todas de memória.

“Este maestro sem barba é um prodígio que transmite o fogo artístico e sagrado de sua batuta, com a paixão de um genuíno artista!”, resenhava um jornal da época.

Durante as seis semanas que se seguiram a turnê, o biógrafo Harvey Sachs escreveu que Arturo conduziu a orquestra em 12 óperas e 26 apresentações, todas de memória! Mesmo assim, ninguém lhe ofereceu um único aumento e tampouco passou pela cabeça do jovem maestro pedir por um.

Nascia o maestro carioca, Arturo Toscanini.

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