domingo, 25 de outubro de 2020

Reforma protestante - Série Religiões

Alguns fatores gerais contribuíram para a reforma protestante, assim chamada porque se propunha reformar a igreja católica, dentre eles, destacam-se: o Humanismo da Renascença (1350-1550), caracterizado pelo resgate da cultura pagã greco-romana que invadiu a arte, a ciência e até a religião; a riqueza dos príncipes e do alto clero (bispos e cardeais), contrastando com a miséria dos padres e do povo; o nascimento de novas nações e do nacionalismo.

Luteranismo

Quanto aos fatores religiosos, destacam-se: a prática da simonia, isto é, o comércio de relíquias sagradas que na maioria das vezes eram falsas; e a venda de indulgências, ou melhor, do perdão e da salvação, que poderiam ser comprados pelos fieis sob o pretexto de financiar as obras da igreja.

Os principais reformadores foram: Martinho Lutero, na Alemanha; Ulrico Zuínglio, na Suíça alemã; João Calvino, na Suíça francesa; e o rei Henrique VIII, na Inglaterra.

Luteranismo

Lutero nasceu em Eisleben, no ano de 1483. Recebe de seus pais educação severa e, aos 18 anos, decide entrar para os agostinianos de Erfurt. Foi um monge fervoroso mas, ao mesmo tempo, escondia uma enorme tristeza: a dúvida da salvação da alma. Em 1512, o monge Lutero torna-se doutor em teologia. Constatou que a sua natureza era dominada pela concupiscência, persuadindo-se de que as suas obras eram pura hipocrisia e não lhes davam garantias para a salvação.

Lutero dá o primeiro passo para a reforma protestante quando envia às autoridades eclesiásticas suas 95 teses sobre o valor e a eficácia das indulgencias, que se espalham por toda Alemanha.

O Papa Leão X condena as suas teses. A Bula “Exsurge Domine” estabelece um prazo para que Lutero se retrate. No entanto, este publica uma série de obras que defendem a liberdade de consciência e queima em público a bula papal. Desde aquele momento, Lutero se declarou publicamente “Rebelde a Roma”. Lutero é então excomungado. Em 1542, tem início na Alemanha as guerras camponesas, inspiradas no teólogo reformador Thomas Müntzer. Seguiu-se um período em que as igrejas, conventos e castelos foram saqueados e os católicos assassinados. Em 1534, Lutero publica uma tradução para o alemão da bíblia.

Em suma, Lutero afirma que: a natureza humana é essencialmente corrompida (nem o batismo nem as boas obras conseguem melhorar sua natureza); o ser humano é sempre mau e a Graça de Cristo é que o cobre, de forma a fazê-lo parecer justo, mas sem o melhorar realmente, por isso, o que salva é a fé e não as obras; o ser humano não é completamente livre por que é servo da concupiscência. A única regra da fé é a Bíblia, que cada um pode interpretar como quiser. A verdadeira igreja é a daqueles que acreditam em Cristo e não um corpo com uma hierarquia (Papas, bispos...), sacramentos, liturgia etc.

A reforma espalha-se pelo norte da Europa, em parte, por causa de interesses políticos. Os reis e príncipes tinham todo o interesse em se distanciarem do poder de Roma, apoderando-se assim dos bens da igreja (palácios, bispados, castelos e terrenos). Depressa a nova doutrina se espalhou a leste e a norte da Alemanha e nos países bálticos e escandinavos.

Calvinismo

Zuínglio, nasceu em Widhaus, em 1484. Exerceu o sacerdócio em Einsiedeln e em Zurique. Admirador da doutrina de Lutero, casou-se e defendeu a abolição do celibato. Morreu em batalha contra os católicos. A sua doutrina é semelhante à de Lutero.

Calvino nasceu em Noyon, em 1509, em uma família burguesa. Foi estudar na Subone de Paris. Ainda estudante universitário, apostatou do catolicismo para abraçar as ideias de Lutero. Após isso, teve de fugir de Paris para Suíça. Em Genebra, instaurou uma verdadeira ditadura religiosa, na qual o poder civil foi submetido aos seus rígidos ordenamentos Para formar os seus padres, fundou a primeira universidade protestante.

É característica a sua doutrina sobre a predestinação, segundo a qual, independentemente das obras boas ou más, dos méritos ou das culpas, cada um está predestinado desde o início ao paraíso ou ao inferno.

Hoje os dois grupos principais que se inspiram em Calvino são os presbiterianos e os reformados.

Igreja Anglicana

O rei Henrique VIII mandou queimar os livros de Lutero e foi elogiado pelo Papa como “defensor da Fé”. No entanto o rei, arrastado pela paixão sensual, pediu ao Papa o divórcio de sua mulher, Catarina de Aragão, para se casar com a cortesã Ana Bolena. O Papa respondeu que tinha só uma alma e não podia perdê-la por causa do rei da Inglaterra. Em represália, Henrique VIII passou a perseguir os católicos, incluindo Thomas More, chanceler católico. Casou-se com Ana Bolena e por isso foi excomungado pelo Papa Clemente VII. Mas Henrique VIII já havia se declarado chefe supremo da igreja da Inglaterra. Houve perseguição aos católicos fiéis a Roma, e Thomas More foi assassinado. Mas a maioria do povo e do clero se submeteu à vontade do Rei.

A assim chamada Igreja Anglicana ainda conservava a doutrina ensinada por Roma (presença real de Jesus na Eucaristia, Sacramentos, Missa, celibato dos sacerdotes, votos privados, confissão etc.). Todavia, após um curto período de restauração do catolicismo pela filha de Catarina de Aragão, Maria, a Católica, subiu ao trono Isabel, filha de Ana Bolena, a qual negou a Eucaristia, o primado do Papa, o purgatório, o culto dos Santos e as indulgências etc.

A Europa, com a perda da unidade religiosa, perdeu também a unidade espiritual de sua civilização.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Gene Vincent and His Blue Caps - Pioneiros do Rock'n'Roll

Eugene Vincent Craddock, mais conhecido como Gene Vincent, nasceu em Norfolk, Virgínia, EUA, no ano de 1935. Começou a tocar guitarra ainda criança e aos 17 anos se alistou no exército, mas, após um acidente de moto, que lhe deixou uma lesão na perna, abandonou a carreira militar e voltou para Norfolk, onde começou a tocar em várias bandas de country music. Entra na banda de rockabilly do virtuoso guitarrista solo Cliff Gallup, tornando-se Gene Vincent & the Blue Caps. Assinam contrato com a Capitol Records e gravam um compacto com a música "Woman Love", no lado A do disco, e "Be-Bop-A-Lula", no lado B, que se transforma no grande sucesso dos anos de 1956.

Gene Vincent and His Blue Caps

Apesar de nunca repetirem o feito de "Be-Bop-A-Lula", Gene Vincent and His Blue Caps gravaram outros sucessos como "Bluejean Bop", "Race With the Devil", "Lotta Lovin'", "Crazy Legs" e "Baby Blue".

Em 1959, Gene Vincent é convidado a um programa de rock na televisão britânica no qual se tornaria presença constante. Na ocasião, convence seu amigo Eddie Cochran para saírem em uma turnê de doze semanas. No dia 17 de abril de 1960, enquanto os dois cantores e Sharon Sheeley, noiva de Cochran, viajavam de taxi para Wiltshire, sofreram um acidente que acabaria com a vida de Cochran. Gene Vincent passa a ter problemas com bebida alcoólica e depressão.

Nos anos 60, a carreira de Vincent quase termina nos Estados Unidos, devido ao sucesso das "english bands", muito embora continuasse com um público fiel na Europa, especialmente na Inglaterra y França. Ainda fez algumas turnês esporádicas com algumas companhias ilustres, como os Beatles (os quais o copiaram, no início da carreira, no estilo de se vestir com jaqueta preta de coro e topete), além de John Lennon, Chuck Berry e Jerry Lee Lewis.

terça-feira, 6 de outubro de 2020

Protágoras e os sofistas - Nonas Filosóficas

Devido ao desenvolvimento da cultura grega, fizera-se sentir muitas vezes durante o século V a necessidade de uma cultura geral mais elevada do que podiam oferecê-la as escolas existentes, que eram à base de cálculo, ginástica e música. Para satisfazer tal necessidade (missão que os antigos filósofos tinham considerado indigna de si) prestaram-se homens que, correndo de cidade em cidade, davam à juventude lições de filosofia da natureza e os elementos da ciência positiva relacionados com ela; liam e julgavam poesias, explicando, especialmente, problemas de ética e de política, exercitando os seus alunos na eloquência (1). Além disso, dirigiam-se aos adultos com os seus escritos, sermões de moral e discursos nas assembleias e festas, como nas de Olímpia; eram (segundo as próprias palavras de Gomperz) "semiprofissores, semijornalistas". Designam-se a si próprios como sofistas, isto é, mestres de sabedoria. Somente devido aos seus inimigos, sobretudo Platão e os poetas cômicos, tomou esta palavra um sentido pejorativo. Mostram grande diversidade, tanto de caráter como de doutrina e de concepções particulares. Muitos deles são, com efeito, conservadores; mas, em geral, foram os porta-vozes do "moderno" e do "progresso", e até revolucionários espirituais. Já o fato de receberem honorários foi considerado por muitos uma inovação digna de censura, visto que, aos olhos dos gregos, qualquer produção remunerada (em particular de natureza espiritual) aparecia como uma degradante submissão.

Somente alguns deles merecem ser citados em particular. A sua atividade se desenvolve principalmente na segunda metade do século V.

Pródicos de Ceos soube pintar, sobretudo, os aspectos mais tétricos da existência humana. Mas o seu pessimismo não o reduziu há uma resignação inativa ou ao diletantismo estético. O seu ideal era antes a fortaleza da alma e uma grande atividade. Procurou superar os horrores da morte graças a esta consideração: enquanto vivemos não existe a morte; quando a morte chega, já não existimos. O seu relato alegórico, "Hércules na encruzilhada", é proveitoso para a educação moral, ainda mesmo em nossos dias. As suas opiniões estéticas (sobretudo o seu conceito de adiáfora) (2) tiveram grande importância para os cínicos e os estoicos.

Hípias de Elis foi sobretudo admirado pela extraordinária variedade do seu saber e pela destreza física e psíquica. Foi também professor de monotecnia (inventada pelo poeta Simónides), graças à qual podia repetir na velhice cinquenta palavras depois de ter ouvido uma só vez.

Protágoras era, como Demócrito, de Abdera. Atuou muito em Atenas, junto de Péricles e de Eurípedes. Em 411 foi acusado de ateísmo; adoeceu na sua fuga para a Sicília. Devem-se-lhe os começos das investigações gramaticais, em particular a tentativa para distinguir as diversas categorias de palavras (substantivos, verbos, adjetivos etc.) e de orações, e para dar normas para a "perfeição da linguagem" (3). Além disso, buscou também regras "racionais" para os atos humanos. No direito penal defendeu a teoria do exemplo como fim da pena, contra a teoria (em vigor ainda hoje) da expiação, que no seu tempo (como na Idade Média) se aplicava aos animais e até aos objetos inanimados.

O seu livro Sobre os Deuses, que lhe valeu a condenação, começa por esta frase: "Pelo que diz respeito aos deuses, impossível me é saber se existem ou não existem; pois há coisas que não se permitem averiguar, sobretudo, a obscuridade do problema e a brevidade da vida humana". Mas não pretendia com isso destruir a crença nos deuses, mas apenas a ilusão de que se pudesse conhecer racionalmente a sua existência.

É também da maior importância a frase de Protágoras: "O homem é a medida de todas as coisas, das que são, e das que não são, enquanto não são".

Achamo-nos aqui perante um importante progresso da reflexão filosófica acerca do conhecimento. O homem ingênuo (isto é, aquele que não reflete) está completamente mergulhado nos seus objetos; estes estão simplesmente perante ele, e não dá conta de que a percepção e o conhecimento são produtos do sujeito. Encontramos nos eleáticos, Heráclito, Anaxágoras, Empédocles e Demócrito, uma superação da ideia de quê para conhecer os objetos é necessária uma certa estrutura e um certo comportamento por parte do sujeito. Mas somente Protágoras pode se considerar o descobridor da subjetividade e da relação necessária entre o sujeito e o objeto.

É certo Protágoras não ter chegado a compreender que nem a diversidade de vivências cognitivas no sujeito constitui "unidade da consciência", necessária para o conhecimento, nem a variedade indeterminada dos conteúdos de consciência (fenômenos) constitui por si só o conhecimento do objeto (meu), pois é além disso necessário que o pensamento apreenda a regularidade e a permanência. Só Platão pôde chegar a esta Concepção.

Embora Protágoras, que era também professor de retórica, se tornasse célebre por ter feito passar, graças à sua oratória, as piores causas pelas melhores, não deve todavia se ver nisso uma prova de particular imoralidade, mas sim de que, ao se exprimir por tal forma em público, não fez mais que proclamar a finalidade que procurava conseguir toda a antiga retórica.

Górgias de Leontini (Sicília) foi celebrado sobretudo como orador. É um dos fundadores da prosa grega, e em particular do estilo patético, brilhante e cheio de imagens. Como todos os sofistas, que por serem professores ambulantes se encontravam em qualquer parte como na sua Pátria, defendeu Górgias a ideia de que os gregos deviam pôr termo às suas intermináveis disputas e se unir todos contra os bárbaros. Como filósofo, realizou, entre outras coisas, a crítica da doutrina do ser dos eleáticos, chegando a dizer que não existe ser algum (no sentido eleático), que se existisse não seria cognoscível, e quê, se fosse cognoscível, este conhecimento não seria comunicável. Como muitos outros contemporâneos seus, parece duvidar de que os problemas que tanto tinham preocupado os cosmólogos pudessem ter solução.

(1) Assim, por exemplo, Protágoras (em Platão) assinala como fim da educação “dar bons conselhos sobre assuntos domésticos, para os jovens organizarem a sua casa, de futuro, e se tornassem capazes em assuntos políticos, para entenderem os negócios da cidade”.

(2) São coisas eticamente indiferentes (em particular os “bons exteriores”) que ganham valor moral graças ao fim ético que servem.

(3) É muito digno de atenção para a pedagogia o que a este respeito observa Gomperz: “O que vem a ser um advérbio ou uma preposição, que normas regulam o emprego dos modos ou dos tempos, de tudo isto nunca um Píndaro ou um Ésquilo souberam nada. A maestria no uso da linguagem atingiu o seu ponto culminante muito antes de se terem procurado justificar fosse de que maneira fosse as regras da linguagem”. Isto é também característico para a precedência da atividade “instintiva” sobre a reflexão, que observamos em todos os domínios da cultura.

(August MESSER, “História da Filosofia”, Editorial Inquérito: Lisboa, 1946 - obra em domínio público).

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