Alguns fatores gerais contribuíram para a reforma protestante, assim chamada porque se propunha reformar a igreja católica, dentre eles, destacam-se: o Humanismo da Renascença (1350-1550), caracterizado pelo resgate da cultura pagã greco-romana que invadiu a arte, a ciência e até a religião; a riqueza dos príncipes e do alto clero (bispos e cardeais), contrastando com a miséria dos padres e do povo; o nascimento de novas nações e do nacionalismo.
Quanto aos fatores religiosos, destacam-se: a prática da simonia, isto é, o comércio de relíquias sagradas que na maioria das vezes eram falsas; e a venda de indulgências, ou melhor, do perdão e da salvação, que poderiam ser comprados pelos fieis sob o pretexto de financiar as obras da igreja.
Os principais reformadores foram: Martinho Lutero, na Alemanha; Ulrico Zuínglio, na Suíça alemã; João Calvino, na Suíça francesa; e o rei Henrique VIII, na Inglaterra.
Luteranismo
Lutero nasceu em Eisleben, no ano de 1483. Recebe de seus pais educação severa e, aos 18 anos, decide entrar para os agostinianos de Erfurt. Foi um monge fervoroso mas, ao mesmo tempo, escondia uma enorme tristeza: a dúvida da salvação da alma. Em 1512, o monge Lutero torna-se doutor em teologia. Constatou que a sua natureza era dominada pela concupiscência, persuadindo-se de que as suas obras eram pura hipocrisia e não lhes davam garantias para a salvação.
Lutero dá o primeiro passo para a reforma protestante quando envia às autoridades eclesiásticas suas 95 teses sobre o valor e a eficácia das indulgencias, que se espalham por toda Alemanha.
O Papa Leão X condena as suas teses. A Bula “Exsurge Domine” estabelece um prazo para que Lutero se retrate. No entanto, este publica uma série de obras que defendem a liberdade de consciência e queima em público a bula papal. Desde aquele momento, Lutero se declarou publicamente “Rebelde a Roma”. Lutero é então excomungado. Em 1542, tem início na Alemanha as guerras camponesas, inspiradas no teólogo reformador Thomas Müntzer. Seguiu-se um período em que as igrejas, conventos e castelos foram saqueados e os católicos assassinados. Em 1534, Lutero publica uma tradução para o alemão da bíblia.
Em suma, Lutero afirma que: a natureza humana é essencialmente corrompida (nem o batismo nem as boas obras conseguem melhorar sua natureza); o ser humano é sempre mau e a Graça de Cristo é que o cobre, de forma a fazê-lo parecer justo, mas sem o melhorar realmente, por isso, o que salva é a fé e não as obras; o ser humano não é completamente livre por que é servo da concupiscência. A única regra da fé é a Bíblia, que cada um pode interpretar como quiser. A verdadeira igreja é a daqueles que acreditam em Cristo e não um corpo com uma hierarquia (Papas, bispos...), sacramentos, liturgia etc.
A reforma espalha-se pelo norte da Europa, em parte, por causa de interesses políticos. Os reis e príncipes tinham todo o interesse em se distanciarem do poder de Roma, apoderando-se assim dos bens da igreja (palácios, bispados, castelos e terrenos). Depressa a nova doutrina se espalhou a leste e a norte da Alemanha e nos países bálticos e escandinavos.
Calvinismo
Zuínglio, nasceu em Widhaus, em 1484. Exerceu o sacerdócio em Einsiedeln e em Zurique. Admirador da doutrina de Lutero, casou-se e defendeu a abolição do celibato. Morreu em batalha contra os católicos. A sua doutrina é semelhante à de Lutero.
Calvino nasceu em Noyon, em 1509, em uma família burguesa. Foi estudar na Subone de Paris. Ainda estudante universitário, apostatou do catolicismo para abraçar as ideias de Lutero. Após isso, teve de fugir de Paris para Suíça. Em Genebra, instaurou uma verdadeira ditadura religiosa, na qual o poder civil foi submetido aos seus rígidos ordenamentos Para formar os seus padres, fundou a primeira universidade protestante.
É característica a sua doutrina sobre a predestinação, segundo a qual, independentemente das obras boas ou más, dos méritos ou das culpas, cada um está predestinado desde o início ao paraíso ou ao inferno.
Hoje os dois grupos principais que se inspiram em Calvino são os presbiterianos e os reformados.
Igreja Anglicana
O rei Henrique VIII mandou queimar os livros de Lutero e foi elogiado pelo Papa como “defensor da Fé”. No entanto o rei, arrastado pela paixão sensual, pediu ao Papa o divórcio de sua mulher, Catarina de Aragão, para se casar com a cortesã Ana Bolena. O Papa respondeu que tinha só uma alma e não podia perdê-la por causa do rei da Inglaterra. Em represália, Henrique VIII passou a perseguir os católicos, incluindo Thomas More, chanceler católico. Casou-se com Ana Bolena e por isso foi excomungado pelo Papa Clemente VII. Mas Henrique VIII já havia se declarado chefe supremo da igreja da Inglaterra. Houve perseguição aos católicos fiéis a Roma, e Thomas More foi assassinado. Mas a maioria do povo e do clero se submeteu à vontade do Rei.
A assim chamada Igreja Anglicana ainda conservava a doutrina ensinada por Roma (presença real de Jesus na Eucaristia, Sacramentos, Missa, celibato dos sacerdotes, votos privados, confissão etc.). Todavia, após um curto período de restauração do catolicismo pela filha de Catarina de Aragão, Maria, a Católica, subiu ao trono Isabel, filha de Ana Bolena, a qual negou a Eucaristia, o primado do Papa, o purgatório, o culto dos Santos e as indulgências etc.
A
Europa, com a perda da unidade religiosa, perdeu também a unidade espiritual de
sua civilização.
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