Por Jean Pires de Azevedo
Gonçalves
Numa de suas poucas
entrevistas para a televisão, no ano de 1977, o repórter indaga: “Clarice
Lispector, de onde vem esse ‘Lispector’?” Clarice responde, com seu sotaque
meio pernambucano, meio ucraniano e um tom quase infantil: “Eu não sei, eu
perguntei, é um nome latino, né; eu perguntei ao meu pai desde quando havia
Lispector na Ucrânia, ele disse que de gerações e gerações anteriores. Eu
suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, rolando, perdendo algumas
sílabas, e se transformando nessa coisa que é... parece uma coisa, ‘lis no
peito’, porém em latim... flor-de-lis; quer dizer, é um nome que quando
aparec... quando eu escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet... eu era
completamente desconhecida, claro, Sérgio Milliet diz assim: ‘essa escritora de
nome desagradável, certamente um pseudônimo’; e não era... era meu nome mesmo”.
Ao assistir a entrevista,
alguém poderia aventar: Latim? Ora, a Clarice não era judia? Sobrenomes judeus
não são nomes alemães, como Rosenthal, Goldberg, Rubinstein? A essas perguntas,
as respostas virão no decorrer do texto, porém, o cerne da questão fundamental,
a que me proponho investigar, é o estudo do étimo e suas variações ao longo da
história.
Na década de setenta,
etimologia era uma ciência restrita a poucos especialistas eruditos, e os
parcos materiais sobre o assunto compunham-se de alguns dicionários
etimológicos esquecidos em alguma prateleira empoeirada no fundo de uma
biblioteca.
Com o surgimento da
informática, a pesquisa etimológica já não é mais um bicho de sete cabeças. Com
as palavras-chave corretas, um motor de busca e uma conexão com a internet, em
apenas uma fração de segundo podemos nos aventurar por eras linguísticas
anteriores à Torre de Babel, em busca do sentido original de um vocábulo perdido,
dispensando a árdua tarefa de vasculhar arquivos históricos à procura de
documentos antigos e registros apagados pelo tempo.
Aproveitando as facilidades da
tecnologia, tomei a decisão de tentar resolver o problema que, dados os
recursos limitados de sua época, Clarice não pôde responder: o misterioso Lispector.
Em primeiro lugar, comecemos
por desfazer o equívoco formulado pela própria Clarice: o poético “flor-de-lis
no peito”. Flor-de-lis, o mesmo que “lírio” (lily em inglês), do latim lilium,
remete ao francês fleur de lys, que
se tornou símbolo heráldico da monarquia francesa e das Cruzadas, portanto, um
símbolo cristão. Já “peito” se origina de pectos,
também latino. (Fonte consultada: Wiktionary).
Muito embora a tentativa de
Clarice seja bastante perspicaz, mesmo porque em muitos casos o exame
etimológico não pode ir além de formulações hipotéticas, tais inferências não
se apoiam em nenhuma base histórica, a não ser pela informação correta de que o
nome apresenta uma raiz latina, o que em nada desabona a iniciativa da grande
escritora, até mesmo porque a própria Clarice se mostra desconfiada de suas
elucubrações e, no final das contas, cá pra nós, seu semblante parece dizer:
isso não faz o menor sentido!
Para tentar resolver o
mistério, seria necessário seguir as pistas históricas que nos levam a remontar
peça por peça o significado originário desaparecido de Lispector. Por exemplo,
a invasão dos povos germânicos na Península Ibérica deixou muitas marcas na
região, dentre as quais, linguísticas, como se percebe no meu sobrenome.
Gonçalves é patronímico de Gonçalo, que deriva do visigodo e do latim medieval
“Gundisalvus” (Gundsaluus → Gunsalus → Gonzalo, Consalvo etc.), composto pelos
elementos germânicos gund (guerra,
batalha, luta – o mesmo radical do inglês gun:
“arma”) e salv (salbe) ou do termo latino “salvus” (salvo, seguro, ileso, intocado,
intacto), significando “aquele que auxilia na guerra” (escudeiro [?]). (Fonte
consultada: Wikipedia e Wiktionary).
Portanto, para descobrir o
significado do sobrenome Lispector é preciso investigar as suas raízes
judaicas, afinal, como já foi aludido, Clarice, ou melhor, Chaya Pinkhasivna
Lispector, natural no vilarejo de Chechelnyk, na atual Ucrânia, era filha de um
casal de judeus russos, Pinkhas e Mania.
Eis a ponta do fio da meada!
A modernidade sinalizou um
ponto de inflexão no modo de como a civilização cristã encarava os judeus. Em
que pese o gueto, as perseguições, os pogroms
e o Holocausto, houve um movimento de integração do judeu na sociedade
europeia, muitas vezes de forma compulsória, outras visando o total apagamento
de sua identidade étnico-cultural, que devia culminar no seu reconhecimento
civil e político dentro da esfera de consolidação do Estado moderno (de direito
e democrático) sobre o conceito de nação, a partir da Revolução Francesa.
Assim como ocorreu, muito
antes, no período da expulsão dos árabes da Península Ibérica, com a formação
embrionária dos estados nacionais de Espanha e Portugal, catalisado pela Santa
Inquisição, em que a permanência dos judeus sefaraditas esteve condicionada ao
batismo por nomes cristãos de seus padrinhos (Rodrigues, Perez, Duarte, Crespo,
Gonçalves, Santos, ou seja, todos os nomes ibéricos possíveis e imagináveis, como
atesta a farta documentação dos arquivos da Torre do Tombo), também houve um
processo muito semelhante no século XVIII, guardada as devidas proporções e
especificidades do contexto histórico, interpondo os judeus asquenazes da
Europa Oriental e a obrigação de formalizar um registro oficial de sobrenomes
nacionais.
É bem verdade que em alguns
lugares da Alemanha muitos judeus já haviam adotado nomes pátrios ainda no
século XVII. Mas, via de regra, a maioria recusava os sobrenomes de família e
continuava a seguir a tradição judaica de alternar a cada geração os nomes do
pai e da mãe; como, por exemplo, o filho de Moshe ben David (Moisés filho de
Davi) e de Sora bas Esther (Sara filha de Ester) recebia o nome de Yosef ben Moshe
(José filho de Moisés) e sua irmã, Hannah bas Sora (Ana filha de Sara). (Fonte
consultada: Bennett Muraskin, “The Origins and Meanings of Ashkenazic Last
Names”, Jewish Currents: jewishcurrents.org,
2012).
O processo ganhou força, no
entanto, a partir de 1787, no Império Austro-Húngaro, e durou até 1844, na
Rússia czarista, quando os judeus foram obrigados a registrar para o vernáculo
de diferentes países um nome de família para fins de tributação, alistamento e
ensino. (Fonte consultada: idem).
Este foi o caso de Herschel
Mordechai, que, vendo-se impedido de ocupar um cargo público no reino da
Prússia, converteu-se ao luteranismo em 1818, tornando-se Heinrich Marx. Pouco
mais tarde, batizaria também seus filhos, entre eles, Karl Heinrich Marx (ou Moses
Mordecai Marx Levi), mais conhecido por Karl Marx. (Aliás, um estudo
fundamental sobre a natureza do Estado moderno é o texto de juventude de Marx
intitulado A questão judaica).
Ainda que os judeus
realmente resistissem, com o tempo acabaram por acatar as exigências do
registro civil de nomes oficiais, que seguiram os mais diversos critérios,
dentre os quais, destacamos:
Patronímico –
“filho de”, a depender da nacionalidade, representado pela desinência: -son,
-søn, -sen, -sohn, -ski, -wicz, -ovitch, -itch, -ov etc. Exemplos:
Mendelsohn – filho de Mendel;
Avromovitch – filho de Abraão; Manishewitz – filho de Menashe; Itskowitz –
filho de Itzhak; Berliner filho de – Berl etc.
Matronímico –
“marido de” (geralmente, o sufixo -man)
ou “filha de”. Exemplos:
Edelman – marido de Edel;
Gittelman – marido de Gitl; Goldman – marido de Golda; Perlman – marido de
Perl; Soronsohn- filho de Sara etc.
Toponímico –
países, regiões, cidades, vilas, aldeias, acidentes geográficos etc. Exemplos:
Eisenberg, Ginsberg, Greenberg,
Koenigsberg Weinberg – berger/burgo (cidade), berg (montanha); Wiesenthal –
wiese (prado) e tal (vale) Berliner, Berlinsky – Berlim; Deutch, Deutscher –
alemão; Frankfurter – Frankfurt; Horowitz, – Horovice, Boêmia; Minsky – Minsk,
Bielorrússia; Rappoport – do Porto, Itália etc.
Profissões:
- Artesãos/operários. Exemplos
Ackerman – lavrador; Baker –
padeiro; Einstein – pedreiro; Farber – pintor/tintureiro; Goldstein – ourives; Miller
– moleiro; Sandler – sapateiro; Schmidt – ferreiro; Silverstein – joalheiro;
Stein, Steiner, Stone – joalheiro etc.
- Comércio. Exemplos
Kaufman – comerciante; Salzman
– mercador de sal; Seid/Seidman – mercador de seda; Wollman – comerciante de
lã; Zucker, Zuckerman – mercador de açúcar etc.
- Alfaiataria. Exemplos
Kravitz – alfaiate; Nudelman
– “agulha”; Sher/Sherman –“tesoura”; Weber – tecelão etc.
Pejorativos
(registrados com má-fé por parte dos cartórios, mas geralmente logo
descartados). Exemplos:
Billig – barato; Gans –
ganso; Grob – bruto; Kalb – vaca etc.
Animais
(sem conotação pejorativa, como ocorre em várias culturas). Exemplos:
Baer, Berman, Beerman, Berkowitz,
Beronson – urso; Adler – águia; Falk, Sokol, Sokolovksy – falcão; Fox, Fuchs,
Liss – raposa; Loeb – leão; Strauss – avestruz (ou buquê de flores) etc.
Religiosos. Exemplos
Cantor, Kazan, Singer,
Spivack – cantor ou chefe de orquestra da sinagoga; Feder, Federman, Schreiber
– escriba; Lehrer – professor; Rabin – rabino (Rabinowitz – filho do rabino); Sandek
– padrinho; Shofer, Sofer, Schaeffer – escriba; Spector - inspetor ou supervisor de escolas.
(Fonte consultada: Bennett
Muraskin, “The Origins and Meanings of Ashkenazic Last Names”, Jewish Currents: jewishcurrents.org,
2012. Nota: nem todos os nomes citados são exclusivamente judaicos).
Se você chegou até aqui,
reparou que deixei de propósito a cereja do bolo para o final: Spector!
Exemplos de pessoas com o
sobrenome Spector não faltam na internet, basta apenas uma busca rápida no
Google. Mas, a título de ilustração, cito Mordecai Spector (Mordechai Spektor),
romancista do século XIX, de Uman, Império Russo, atualmente, NA Ucrânia, e a
cantora e pianista Regina Spektor (Regina Ilyinichna Spektor), uma moscovita radicada
nos Estados Unidos. (Fonte consultada: Wikipedia).
Na verdade, Spektor tem
origem no verbo latino specto,
sinônimo do verbo specio (pronúncia
“spekio”), tendo como cognato o grego antigo sképtomai (σκέπτομαι), que significam: olhar, ver, observar,
examinar etc. Observação: o verbo specere
é uma inflexão de specio. (Fonte consultada: Wiktionary).
Para matar a curiosidade,
algumas palavras em português que compartilham do mesmo radical: espécie (species), aspecto (adspectus), espelho (speculum),
respeito (respectus), espetáculo (spectaculum), espectador (spectator), especulação (speculor), suspeito (suspectus), inspetor (inspector), escopo (gr. skopos), cético (gr. skeptikós). (Fonte consultada: idem).
Para matar ainda mais a
curiosidade, as palavras “mirar” e “admirar” vêm do latim miror, mirari (“maravilhar-se”,
“espantar-se”, “olhar”, “fitar”), da mesma forma que o inglês mirror e o francês miroir, que significam “espelho”. (Fonte consultada: idem).
Mas atenção! “Espectro”, do
latim spectrum (“aparência”,
“aparição”, “fantasma”), tendo por variante o inglês specter e o francês spectre,
pode ter sido um neologismo criado pelo filósofo epicurista Catius Insuber, já
que há apenas uma única ocorrência da palavra nos textos clássicos, numa troca
de correspondência entre Cícero e Cássio Longino, citando o filósofo. No século
XVI, os renascentistas resgataram a palavra inusitada e, pouco depois, Isaac
Newton a utilizou para descrever o efeito colorido da frequência das ondas
eletromagnéticas. Ironicamente, na tradução para o latim do livro de Newton, o
termo foi vertido para imago. (Fonte
consultada: idem).
Voltando à Clarice!
...e ao Lispector!
Talvez, a associação de
Lispector com “espectro” tenha motivado o escritor Sérgio Milliet a supor
Clarice uma escritora gótica, com “pseudônimo” desagradável...
Nada que não possa ser
corrigido!
Porém, descobrir o radical
latino do sobrenome de Clarice não é suficiente. Resta ainda saber quando e
onde Spector entrou em circulação, qual a região de sua maior incidência e,
sobretudo, o liame que une o sobrenome ao seu correspondente hebraico.
Ao digitar no campo de busca
o sobrenome Spektor e clicar o enter, encontrei os seguintes verbetes:
No site House of name:
O
sobrenome Specter foi registrado pela primeira vez na Holanda (...). Esta
página da web mostra apenas um pequeno trecho de nossa pesquisa. Outras 89
palavras (6 linhas de texto) cobrem os anos de 1662, 1785 e 1856 (...). As
variações de ortografia deste nome de família incluem: Specht, van der Specht,
Spect, Spechtt, Specx, Schpecht, Zpecht, van Specht.
(Fonte consultada: “Specter History, Family Crest & Coats of Arms”, House of name: houseofnames.com).
Na Wikipedia:
Specter
é um sobrenome holandês. É também de origem judaica Ashkenazic, remetendo a
profissão de assistente de um professor. Também é derivado da palavra polonesa
inspektor, que significa supervisor. (Fonte consultada: Wikipedia).
No Ancestry:
Judeu
(asquenazista oriental): nome relativo a uma ocupação, Szpektor, “assistente de
professor em uma escola judaica”, derivado do polonês inspektor, “supervisor’'.
Compare Specter e Spektor. Fonte Dictionary of American Family Names, ©2013,
Oxford University Press. (Fonte consultada: “Spector Family
History”, Ancestry: ancestry.com).
No Academic:
Spector
(também Spektor ou Specter) é um sobrenome derivado do Russo “inspektor” (cirílico:
инспектор), e significa “inspetor”. (Fonte
consultada: “Spetor”, Academic: en-academic.com).
No Forebears (Inspektor):
O
sobrenome Inspektor (em russo: Инспектор) tem sua maior incidência na Rússia. Ele
pode aparecer em formas variantes: Inšpektor. O sobrenome Inspektor é
encontrado principalmente na Europa, onde vivem 49% dos Inspektor; 39%, na
Europa Oriental; e 36%, na América do Norte. (...) O sobrenome é mais comumente
encontrado na Rússia, onde é compartilhado por 41 pessoas; sua maior ocorrência
é em Moscou, 41%; São Petersburgo, 12%; e República do Bascortostão, 5%. Além
da Rússia, Inspektor é encontrado em 15 países. Também é comum nos Estados
Unidos, 19%, e no Canadá, 17%. Nos Estados Unidos, aqueles com o sobrenome
Inspektor têm 24,55% mais chances de serem registrados ao Partido da Rússia
Unida do que a média de 22,22% de filiados no mesmo partido. (Fonte
consultada: “Inspektor Surname, Origin, Meaning & Last Name History”, Forebears: forebears.io).
No Forebears (Spektor):
(Russo)
Título que significa “inspetor”, usado por professores de hebraico na antiga
Rússia, que, quando registrados pela polícia, permitia-lhes viver em áreas
proibidas aos judeus. (Dictionary
of American Family Names [1956], de Elsdon Coles Smith).
(Da
profissão de um ancestral) Spector era o título do inspetor ou supervisor de
uma escola, era um nome frequentemente usado por um tutor (melamed), na casa de um judeu rico, que tinha
permissão especial para residir nas grandes cidades da Rússia, onde outros
judeus não podiam viver. (Rabino Benzion Kaganoff).
O
sobrenome ocorre predominantemente nas Américas, onde residem 87% dos Spector;
85% na América do Norte. O sobrenome é mais difundido nos Estados Unidos, onde
é usado por 8.425 pessoas. É mais prevalente em Nova York, 17%; Califórnia,
14%; e Flórida, 11%. Além dos Estados Unidos, o sobrenome é difundido em 57
países. Também ocorre no Canadá, 2%; e na Argentina, 2%.
(Fonte consultada: “Spector Surname, Origin, Meaning & Last Name History”, Forebears: forebears.io).
Oxalá, em boa hora um rabino
veio para nos acudir! Shalom!
Temos agora a valiosa
informação, além da origem e de alguns detalhes demográficos interessantes, de
que spector é melamed.
Mas isso não é tudo. Segure
as pontas aí, estamos quase lá.
Sobre melamed, no Educalingo (verbete traduzido do Wikipedia, versão em
inglês):
Melamed,
Melammed é um termo que, nos tempos bíblicos, designou um professor religioso
ou instrutor em geral, mas que no período talmúdico foi aplicado especialmente
a um professor de crianças, quase sempre seguido pela palavra “tinokot”
(crianças). O equivalente arameu era “makre dardeke”. Um melamed era nomeado
pela comunidade e havia regulamentos especiais que determinavam a quantidade de
filhos que ele podia ensinar, bem como as regras que estabeleciam a escolha dos
candidatos para o ofício ou mesmo a demissão de um melamed. Esses regulamentos
foram ampliados e incrementados no período pós-talmúdico. (Fonte
consultada: “Dicionário: malemed”, Educalingo:
educalingo.com. Fonte: Wikipedia).
No Wikipedia (verbete
original):
Na Rússia e na Polônia, a palavra “melamed”
é sinônimo de “respeitável” e “rav”. Entre os caraítas, o termo denota “rav”,
entre os rabinitas, “professor” e “mestre”, e é considerado um título de honra.
Consequentemente, existem entre os caraítas muitos homens instruídos que são
chamados pelo título “ha-melammed ha-gadol” (o grande mestre), ou meramente “ha-melammed”
(o mestre; comp. Pinsker, “Liḳḳute Ḳadmoniyyot”, Índice; Gottlober, “Biḳḳoret
le-Toledot ha-Ḳara’im”, pp. 195, 207, Wilna, 1865). (Fonte
consultada: Wikipedia – do mesmo verbete
citado acima; tradução livre).
No Wikipedia (sobrenome Melamed):
Melamed
é um sobrenome hebraico. “Melamed” se traduz do hebraico por “professor” e
apresenta diferentes grafias em outros idiomas, por exemplo, Malamud, Malamed,
Melamid etc. (Fonte consultada: Wikipedia; tradução livre).
Depois dessa exaustiva
pesquisa, não creio que haja mais dúvidas quanto ao radical de Lispector
reportar de fato a “spector” (latim: specto), correlato latino de Melamed. Com relação ao
sobrenome propriamente dito, não encontrei informações a respeito do seu
significado nem origem, a não ser a seguinte referência:
No Forebears (Lispektor):
O
sobrenome Lispector é encontrado principalmente nas Américas, onde 95% dos
Lispector residem; 89%, na América do Sul. O sobrenome é mais comumente
encontrado no Brasil, onde é compartilhado por 17 pessoas. No Brasil, Lispector
é encontrado principalmente em Pernambuco, 65%; São Paulo, 12%; Bahia, 6%. Fora
do Brasil há ocorrência em dois países: Inglaterra, 5%; e Estados Unidos, 5%.
(Fonte consultada: “Lispektor Surname, Origin, Meaning & Last Name History”,
Forebears: forebears.io).
Embora as lacunas permaneçam
em aberto, chegamos com certeza à outra ponta do novelo, pois, salvo o fato
extraordinário de que todas as pessoas que possuem o sobrenome Lispector são
parentes próximos de Clarice e residem no Brasil, acredito que parte do
problema foi resolvido.
Falta o “Lis”.
E aqui voltamos ao início.
De fato, Clarice estava certa
quando disse que o nome foi rolando, rolando, rolando, rolando, perdendo
algumas sílabas...
...ou ganhado algumas sílabas... (acrescento eu).
Tenho duas hipóteses:
1ª.) Suponhamos que os
antepassados de Clarice tivessem morado por algum tempo na Itália, antes de se
mudarem definitivamente para a Ucrânia. Seria possível então que o sobrenome Spector
fosse transliterado e traduzido para o italiano “ispettore” (inspetor). Por
força do hábito da língua italiana, o artigo definido masculino “il” foi acrescentado
para indicar o substantivo, do seguinte modo:
Il + Ispettore = L’ispettore = Lispettore
(Processo linguístico que seria análogo ao que se sucedeu ao sobrenome do primeiro-ministro inglês, de origem de judeus italianos, Benjamin Disraeli: di Israel = D'Israel = Disrael = I Disraeli)
Ao retornarem para a Rússia
Imperial, passaram a grafar “Lispector”.
2º.) Como vimos, muitos judeus, ao mudarem seus sobrenomes,
adotaram nomes de animais, como “raposa”, que pode ser lis, em polonês. (Volte para a lista de nomes convertidos, no
tópico “animais”). Talvez, seria possível que em um dado momento da árvore
genealógica de Clarice os nomes materno e paterno compostos por Lis e Spector,
por um processo de aglutinação, fundiram-se em apenas um:
Lis + Spector = Lispector
O que não quer dizer que
Clarice tenha algum grau de parentesco com o atual Presidente do Supremo
Tribunal Federal, o Excelentíssimo Ministro, senhor Luiz Fux.
Bom, mas isso é uma
especulação. Na dúvida, fiquemos ainda com o poético flor-de-lis de ClariceLispector!