Introdução
Publicado em 1935, Os Ratos, de Dyonélio
Machado, é um dos mais notáveis romances da literatura brasileira. A obra destaca-se por seu realismo psicológico, sua narrativa intensa e sua crítica social. Neste artigo, exploraremos a trama, os temas centrais,
uma comparação com o escritor russo Fiódor Dostoiévski e o impacto da obra na literatura nacional.
O Enredo de Os Ratos
A
história gira em torno de Naziazeno
Barbosa, um homem comum que vive uma jornada desesperada para conseguir
dinheiro e pagar uma dívida urgente. Durante um dia inteiro, ele percorre
diversos lugares da cidade, enfrentando recusas, humilhações e angústia
psicológica.
Ao
longo de sua busca incessante, Naziazeno visita bancos, escritórios e casas de
conhecidos, na esperança de obter algum empréstimo que lhe permita quitar sua
dívida. No entanto, a cada porta que se fecha, seu desespero aumenta, e sua
mente se enreda em um turbilhão de pensamentos angustiantes. Ele não enfrenta
apenas a escassez de dinheiro, mas também o peso da vergonha, da impotência e
da humilhação.
Em
suas interações com credores e conhecidos, percebe a frieza e a indiferença do
mundo ao seu redor. Amigos de longa data evitam se comprometer, os banqueiros o
tratam com desdém, e até mesmo sua própria família parece incapaz de lhe
oferecer ajuda. Essa sucessão de fracassos leva Naziazeno a refletir sobre sua
condição social, sua posição na sociedade e o destino implacável que parece lhe
ser reservado.
A
trama se desenrola em um curto período de tempo, reforçando a sensação de
urgência e opressão. Cada instante que passa se torna mais angustiante, e o
protagonista sente-se como se estivesse preso em um labirinto sem saída. A
contagem das horas funciona como uma espécie de memento mori, um lembrete constante
de que seu prazo está se esgotando e que a solução para seu problema se torna
cada vez mais improvável.
A
narrativa é marcada pelo fluxo de consciência do protagonista, que expõe suas
reflexões, medos e dilemas. Seus pensamentos oscilam entre soluções ilusórias e
a realidade dura de sua situação. Ele questiona sua própria existência, sua
moralidade e sua relevância em um mundo que parece ignorá-lo. Esse processo
interior transforma Os Ratos
em uma análise psicológica profunda, semelhante às grandes obras de
Dostoiévski, nas quais os protagonistas também são consumidos por conflitos
internos e dilemas existenciais.
O
desfecho da obra não apresenta uma solução fácil para os problemas de
Naziazeno. A tensão acumulada durante toda a narrativa culmina em um momento de
reveladora ironia, onde a própria realidade demonstra sua crueza. A
desesperança do protagonista simboliza não apenas sua luta pessoal, mas a luta
de inúmeros indivíduos que, como ele, são consumidos por um sistema que não
lhes dá espaço para respirar.
Principais Temas da Obra
O Desespero e a Pressão Social
Naziazeno representa o indivíduo esmagado pelas
circunstâncias. Ele sente-se pressionado pelo tempo e pela sociedade,
refletindo sobre sua própria existência e sua posição marginalizada.
A Metáfora dos Ratos
Os ratos mencionados no título são uma poderosa
metáfora para a miséria, o medo e a opressão. A imagem dos roedores permeia a
obra, sugerindo um ciclo de desesperança e impotência diante das dificuldades.
Crítica À Sociedade e Às Instituições
A obra denuncia a indiferença da sociedade em
relação aos indivíduos menos favorecidos. As instituições financeiras, os
amigos e até mesmo a própria família de Naziazeno mostram-se impotentes ou
relutantes em ajudá-lo.
O Estilo Narrativo de Dyonélio Machado
Realismo Psicológico
O autor emprega um estilo que mergulha
profundamente na mente do protagonista. O fluxo de consciência e a descrição
minuciosa dos pensamentos de Naziazeno aproximam o leitor de sua angústia e
desespero.
Linguagem Simples e Direta
A escrita de Machado é objetiva e clara, sem
rebuscamentos desnecessários. Esse estilo contribui para a imersão do leitor na
atmosfera opressora da narrativa.
Dyonélio Machado e Dostoiévski: Uma Comparação
Muitos
críticos literários comparam Dyonélio Machado a Fiódor Dostoiévski,
especialmente pela abordagem psicológica intensa e pela exploração dos
conflitos internos dos personagens. Assim como o escritor russo, Machado
constrói um protagonista atormentado por dilemas morais e sociais, imerso em um
ciclo de sofrimento e reflexão.
Dostoiévski
foi mestre em criar personagens mergulhados em angústia e culpa, como
Raskólnikov, de Crime e
Castigo, ou o narrador atormentado de Memórias do Subsolo. Esses protagonistas
apresentam questionamentos profundos sobre a vida, a justiça e a moralidade,
enquanto enfrentam situações de extrema pressão psicológica. Da mesma forma,
Naziazeno Barbosa também é um homem comum empurrado para um abismo de angústia
e desesperança, onde cada interação com o mundo exterior reforça sua sensação
de impotência.
Outro
ponto em comum entre os dois autores é o uso do fluxo de consciência. Tanto
Machado quanto Dostoiévski exploram os pensamentos de seus protagonistas de
maneira visceral, permitindo que o leitor acompanhe, em tempo real, suas
inquietações, medos e divagações. Essa técnica contribui para a imersão do
leitor na mente perturbada dos personagens, aumentando o impacto emocional da
narrativa.
Ambos
também apresentam um cenário social opressor, em que seus personagens estão
cercados por uma sociedade indiferente e hostil. Enquanto Dostoiévski retrata a
Rússia czarista do século XIX, com suas desigualdades e tensões sociais,
Machado expõe um Brasil marcado pela crise econômica e pela insensibilidade das
instituições.
Portanto,
a semelhança entre Dyonélio Machado e Dostoiévski vai além do estilo narrativo.
Ambos compartilham uma visão de mundo em que o ser humano está condenado a
enfrentar seus dilemas internos e a lutar contra uma sociedade impiedosa, sem a
garantia de redenção ou justiça.
O Impacto de Os Ratos na Literatura Brasileira
O romance foi inovador para sua época, antecipando
elementos da literatura existencialista e psicológica. A obra influenciou
escritores posteriores e consolidou Dyonélio Machado como um dos grandes nomes
da literatura nacional.
Perguntas Frequentes sobre Os Ratos
Qual é o principal conflito de Os Ratos?
O principal conflito é interno e psicológico,
refletindo a angústia do protagonista diante da impossibilidade de pagar sua
dívida e sua luta contra a miséria.
O que os ratos simbolizam na obra?
Os ratos são uma metáfora para o desespero, a fome
e a pressão social, representando também o sentimento de perseguição e angústia
vivido por Naziazeno.
Por que Os Ratos é considerado um clássico?
A obra é um marco da literatura brasileira por sua
abordagem inovadora do realismo psicológico, sua crítica social contundente e
sua representação da luta do homem comum contra as adversidades.
Conclusão
Os Ratos, de Dyonélio Machado, é uma obra fundamental da
literatura brasileira, explorando temas universais como a angústia, a opressão
e a luta do indivíduo contra um sistema implacável. Com sua narrativa intensa e
realista, o romance continua a ser relevante, oferecendo uma reflexão profunda
sobre a condição humana.
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