Como o patriarcado se estabeleceu e se perpetuou ao
longo da história? Em seu livro "A Criação do Patriarcado: História da
Opressão das Mulheres Pelos Homens", Gerda Lerner analisa a formação desse
sistema e como ele moldou a sociedade.
O que é "A Criação do Patriarcado"?
Publicado originalmente em
1986, A Criação do
Patriarcado é uma obra fundamental para os estudos feministas e da
história das mulheres. Gerda Lerner, historiadora e pioneira na área, investiga
como o patriarcado não é um fenômeno natural, mas sim uma construção social que
emergiu gradualmente ao longo de milhares de anos.
Ao longo de sua pesquisa,
Lerner demonstra que o patriarcado foi sendo estabelecido por meio de processos
históricos e culturais que privilegiaram o domínio masculino. Ela ressalta que,
ao contrário do que muitas teorias anteriores defendiam, a opressão das
mulheres não surgiu como um efeito direto da biologia ou da força física, mas
sim como resultado de transformações sociais e políticas que moldaram a
estrutura das civilizações antigas.
A autora examina evidências
arqueológicas e registros históricos de sociedades antigas, como as
civilizações mesopotâmicas e egípcias, onde se observa uma transição da
relativa igualdade entre os gêneros para uma organização social dominada por
homens. Ela destaca que, em sociedades pré-históricas, as mulheres
desempenhavam papéis essenciais na economia e na vida comunitária, mas com o
desenvolvimento da propriedade privada, do Estado e das hierarquias religiosas,
foram progressivamente relegadas a papéis subalternos.
Lerner argumenta que esse
processo não foi abrupto, mas sim gradual, e teve forte influência das
instituições religiosas e legais que surgiram ao longo dos séculos. Muitas das
primeiras leis escritas, como o Código de Hamurabi, já demonstravam um tratamento
desigual entre homens e mulheres, estabelecendo punições severas para mulheres
consideradas infiéis, enquanto os homens tinham maior liberdade sexual e
social.
Além disso, a autora analisa
a relação entre o patriarcado e a escravidão, destacando que a opressão das
mulheres muitas vezes andou de mãos dadas com a exploração de grupos sociais
considerados inferiores. Em diversas culturas antigas, as mulheres eram
tratadas como propriedade dos homens, sendo entregues em casamentos arranjados
ou forçadas a cumprir funções sexuais e reprodutivas sem autonomia sobre seus
próprios corpos.
Outro aspecto crucial
explorado no livro é o impacto da exclusão das mulheres do conhecimento e da
produção intelectual. Durante séculos, a educação formal foi negada às mulheres,
o que resultou na ausência de suas vozes nos registros históricos. Essa
exclusão sistemática impediu que as mulheres tivessem participação ativa na
construção da cultura e da política, perpetuando sua condição de subordinação.
Ao longo de A Criação do Patriarcado,
Lerner busca compreender como esse sistema se desenvolveu e se enraizou,
tornando-se uma norma aceita e naturalizada em diferentes sociedades. Sua
pesquisa oferece uma visão detalhada dos mecanismos que sustentaram essa
estrutura e fornece subsídios para a luta contemporânea pela igualdade de
gênero.
Principais Argumentos do Livro
1. A Domesticação da Mulher e a Propriedade Privada
Lerner analisa como, no período neolítico, com a transição das
sociedades nômades para as agrícolas, as mulheres foram progressivamente
subordinadas aos homens. A divisão do trabalho e a valorização das atividades masculinas
em detrimento das femininas reforçaram a desigualdade, e as mulheres passaram a
ser tratadas como propriedade dos homens, especialmente através do casamento e
da maternidade controlada.
2. A Religião e a Construção do Patriarcado
A historiadora também explora como religiões antigas e mitologias
ajudaram a institucionalizar o patriarcado. Em civilizações como a suméria,
babilônica e hebraica, figuras femininas divinas foram substituídas por
divindades masculinas, reforçando a ideia de superioridade dos homens. A
influência dessas tradições ajudou a moldar valores que ainda hoje perpetuam a
desigualdade de gênero.
3. A Escravidão e a Submissão das Mulheres
Outro ponto central do livro é a relação entre a escravidão e a opressão
feminina. Lerner mostra que, desde as primeiras sociedades organizadas,
mulheres eram capturadas em guerras e forçadas a desempenhar papéis de esposas,
concubinas ou servas. Essa dinâmica reforçou a ideia de que a submissão
feminina era não apenas aceitável, mas desejável para a estabilidade social.
4. A Transmissão Cultural da Opressão
O patriarcado se perpetua porque as próprias mulheres foram
historicamente impedidas de acessar a educação e de registrar sua própria
história. Dessa forma, o conhecimento e a cultura sempre foram filtrados pela
perspectiva masculina, criando uma narrativa que reforça a dominação masculina
e exclui as contribuições femininas.
A Importância da Obra
A Criação do Patriarcado é
essencial para qualquer pessoa interessada em compreender a origem e os mecanismos
da opressão de gênero. A obra fornece um panorama detalhado de como as
desigualdades foram construídas ao longo do tempo, permitindo reflexões sobre
como desconstruí-las na atualidade.
O trabalho de Lerner demonstra que, por ser uma construção social, o
patriarcado pode ser questionado e transformado. O conhecimento histórico das
origens da desigualdade possibilita a luta por uma sociedade mais justa e
igualitária.
Considerações Finais
Gerda Lerner não apenas apresenta uma análise profunda sobre a origem do
patriarcado, mas também oferece ferramentas para sua desconstrução. Seu livro é
um convite à reflexão sobre como estruturas opressivas se mantêm e como podemos
superá-las.
Se você busca entender melhor a história da opressão das mulheres e o
funcionamento do patriarcado, A Criação do Patriarcado é uma leitura
indispensável.
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário