Introdução
O livro "Kronstadt e a Terceira Revolução: A luta dos marinheiros contra a hegemonia do Ocidente", de Jean Monti Pires, vocalista da banda de punk rock Fecaloma, é uma obra que resgata a memória de um dos episódios mais esquecidos — e distorcidos — da história da Revolução Russa: a Rebelião de Kronstadt de 1921.
Mais do que um relato histórico, Pires propõe uma interpretação crítica e radical. Ele argumenta que Kronstadt representa a tentativa de uma Terceira Revolução, destinada a romper não apenas com o czarismo e o capitalismo, mas também com a burocratização autoritária imposta pelo bolchevismo. Para o autor, o massacre dos marinheiros selou a consolidação de uma nova hegemonia ocidental, baseada na modernização capitalista, no produtivismo e na repressão.
Neste artigo, vamos explorar os principais temas do livro, contextualizar a Rebelião de Kronstadt e entender seu significado como símbolo de resistência contra todas as formas de opressão.
O Contexto Histórico Segundo Jean Monti Pires
🏴 A Rússia Czarista: Desigualdade e Repressão
O autor inicia sua análise descrevendo o cenário social, econômico e político da Rússia czarista, caracterizado por:
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Desigualdade extrema: A maior parte da população era composta por camponeses miseráveis e analfabetos.
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Atraso econômico: A industrialização era limitada e concentrada em poucas cidades.
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Repressão política: O regime autocrático czarista não permitia liberdade de imprensa, organização política ou sindical.
🌾 O Surgimento do Socialismo Russo
Jean Monti Pires dedica especial atenção ao movimento narodinik, que acreditava na possibilidade de uma revolução socialista baseada nos camponeses e na comuna rural.
O narodnismo, segundo o autor, representava uma alternativa ao modelo de industrialização ocidental, buscando um caminho próprio, enraizado nas tradições comunitárias do campesinato russo.
Da Revolução de 1917 ao Autoritarismo Bolchevique
🔥 A Queda do Czarismo e a Ascensão dos Sovietes
O livro avança para a Revolução de 1917, destacando:
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A derrubada do czarismo em fevereiro.
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A emergência dos sovietes — conselhos operários e camponeses — como expressão do poder popular.
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A tomada do poder pelos bolcheviques em outubro, prometendo “todo o poder aos sovietes”.
☠️ A Guerra Civil e o Endurecimento do Regime
Durante a Guerra Civil Russa (1918-1921), o regime bolchevique, cercado por inimigos internos e externos, endureceu sua política:
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Implantou o Terror Vermelho contra opositores políticos, inclusive socialistas e anarquistas.
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Instituiu o comunismo de guerra, com requisições forçadas de alimentos e controle estatal absoluto da economia.
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Suprimiu os sovietes livres e os substituiu por uma ditadura de partido único.
Kronstadt e a Terceira Revolução: O Levante dos Marinheiros
🚩 O Levante de 1921
No centro da análise de Pires está a Rebelião de Kronstadt, quando marinheiros, soldados e trabalhadores da fortaleza naval se rebelaram em março de 1921.
Suas principais demandas incluíam:
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Liberdade de expressão e de organização para operários e camponeses.
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Eleições livres nos sovietes, sem partidos controladores.
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Fim das requisições forçadas no campo.
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Liberdade para todos os partidos socialistas, exceto os que praticassem atos contrarrevolucionários.
⚙️ A Terceira Revolução: Um Projeto Traído
Para Jean Monti Pires, a Rebelião de Kronstadt representa a tentativa de uma Terceira Revolução:
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A primeira foi a queda do czarismo.
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A segunda, a tomada do poder pelos bolcheviques.
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A terceira seria a consolidação da democracia soviética real, com poder direto dos trabalhadores, livre de partidos e burocracias.
O esmagamento brutal do levante não só destruiu essa possibilidade, como marcou, segundo o autor, a instalação de uma nova hegemonia de caráter ocidental: uma modernização autoritária, produtivista e alinhada à lógica capitalista, ainda que sob discurso socialista.
A Hegemonia do Ocidente Segundo Pires
🌍 O Que É a Hegemonia do Ocidente?
Jean Monti Pires define a hegemonia do Ocidente não apenas como domínio militar ou econômico, mas como um projeto civilizacional baseado em:
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Modernização capitalista, seja no liberalismo ou no socialismo de Estado.
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Centralização, burocratização e disciplinamento dos corpos.
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Supressão de modelos comunitários, coletivos e não industriais.
❌ Kronstadt Como Resistência Anticapitalista e Anticolonial
Ao esmagar Kronstadt, o bolchevismo, segundo Pires, aderiu à mesma lógica ocidental de:
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Priorizar a produção e o controle sobre a autonomia.
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Suprimir qualquer experiência de democracia direta ou autogestão.
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Substituir a promessa socialista pela construção de um Estado-nação moderno e autoritário.
Perguntas Frequentes Sobre Kronstadt e a Terceira Revolução
❓ Qual é a tese central do livro de Jean Monti Pires?
Que a Rebelião de Kronstadt de 1921 foi uma tentativa de realizar uma Terceira Revolução, aprofundando os ideais de 1917 contra a burocratização bolchevique e a hegemonia do Ocidente.
❓ Por que Kronstadt foi reprimida?
Porque os bolcheviques viam qualquer autonomia popular como ameaça ao poder centralizado. A repressão garantiu a consolidação de um modelo de modernização autoritária.
❓ O que significa hegemonia do Ocidente no livro?
É a imposição global de um modelo baseado em industrialização, centralização, produtividade e repressão das formas comunitárias e populares de organização.
Conclusão
Kronstadt e a Terceira Revolução: A luta dos marinheiros contra a hegemonia do Ocidente, de Jean Monti Pires, é uma obra que resgata não só a memória da Rebelião de Kronstadt, mas também questiona os próprios rumos da modernidade, da revolução e do socialismo.
O livro não é apenas uma análise histórica — é também um chamado à reflexão sobre os limites dos projetos revolucionários que, ao trair seus princípios, acabam reproduzindo a lógica do mesmo sistema que prometiam destruir.
Kronstadt segue viva como símbolo de resistência contra qualquer forma de hegemonia — seja ela czarista, capitalista, socialista de Estado ou neoliberal.
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