quinta-feira, 5 de junho de 2025

Kronstadt e a Terceira Revolução: A Rebelião Contra a Burocracia e o Capitalismo

 

Introdução

O livro "Kronstadt e a Terceira Revolução: A luta dos marinheiros contra a hegemonia do Ocidente", de Jean Monti Pires, vocalista da banda de punk rock Fecaloma, é uma obra que resgata a memória de um dos episódios mais esquecidos — e distorcidos — da história da Revolução Russa: a Rebelião de Kronstadt de 1921.

Mais do que um relato histórico, Pires propõe uma interpretação crítica e radical. Ele argumenta que Kronstadt representa a tentativa de uma Terceira Revolução, destinada a romper não apenas com o czarismo e o capitalismo, mas também com a burocratização autoritária imposta pelo bolchevismo. Para o autor, o massacre dos marinheiros selou a consolidação de uma nova hegemonia ocidental, baseada na modernização capitalista, no produtivismo e na repressão.

Neste artigo, vamos explorar os principais temas do livro, contextualizar a Rebelião de Kronstadt e entender seu significado como símbolo de resistência contra todas as formas de opressão.

O Contexto Histórico Segundo Jean Monti Pires

🏴 A Rússia Czarista: Desigualdade e Repressão

O autor inicia sua análise descrevendo o cenário social, econômico e político da Rússia czarista, caracterizado por:

  • Desigualdade extrema: A maior parte da população era composta por camponeses miseráveis e analfabetos.

  • Atraso econômico: A industrialização era limitada e concentrada em poucas cidades.

  • Repressão política: O regime autocrático czarista não permitia liberdade de imprensa, organização política ou sindical.

🌾 O Surgimento do Socialismo Russo

Jean Monti Pires dedica especial atenção ao movimento narodinik, que acreditava na possibilidade de uma revolução socialista baseada nos camponeses e na comuna rural.

O narodnismo, segundo o autor, representava uma alternativa ao modelo de industrialização ocidental, buscando um caminho próprio, enraizado nas tradições comunitárias do campesinato russo.

Da Revolução de 1917 ao Autoritarismo Bolchevique

🔥 A Queda do Czarismo e a Ascensão dos Sovietes

O livro avança para a Revolução de 1917, destacando:

  • A derrubada do czarismo em fevereiro.

  • A emergência dos sovietes — conselhos operários e camponeses — como expressão do poder popular.

  • A tomada do poder pelos bolcheviques em outubro, prometendo “todo o poder aos sovietes”.

☠️ A Guerra Civil e o Endurecimento do Regime

Durante a Guerra Civil Russa (1918-1921), o regime bolchevique, cercado por inimigos internos e externos, endureceu sua política:

  • Implantou o Terror Vermelho contra opositores políticos, inclusive socialistas e anarquistas.

  • Instituiu o comunismo de guerra, com requisições forçadas de alimentos e controle estatal absoluto da economia.

  • Suprimiu os sovietes livres e os substituiu por uma ditadura de partido único.

Kronstadt e a Terceira Revolução: O Levante dos Marinheiros

🚩 O Levante de 1921

No centro da análise de Pires está a Rebelião de Kronstadt, quando marinheiros, soldados e trabalhadores da fortaleza naval se rebelaram em março de 1921.

Suas principais demandas incluíam:

  1. Liberdade de expressão e de organização para operários e camponeses.

  2. Eleições livres nos sovietes, sem partidos controladores.

  3. Fim das requisições forçadas no campo.

  4. Liberdade para todos os partidos socialistas, exceto os que praticassem atos contrarrevolucionários.

⚙️ A Terceira Revolução: Um Projeto Traído

Para Jean Monti Pires, a Rebelião de Kronstadt representa a tentativa de uma Terceira Revolução:

  • A primeira foi a queda do czarismo.

  • A segunda, a tomada do poder pelos bolcheviques.

  • A terceira seria a consolidação da democracia soviética real, com poder direto dos trabalhadores, livre de partidos e burocracias.

O esmagamento brutal do levante não só destruiu essa possibilidade, como marcou, segundo o autor, a instalação de uma nova hegemonia de caráter ocidental: uma modernização autoritária, produtivista e alinhada à lógica capitalista, ainda que sob discurso socialista.

A Hegemonia do Ocidente Segundo Pires

🌍 O Que É a Hegemonia do Ocidente?

Jean Monti Pires define a hegemonia do Ocidente não apenas como domínio militar ou econômico, mas como um projeto civilizacional baseado em:

  • Modernização capitalista, seja no liberalismo ou no socialismo de Estado.

  • Centralização, burocratização e disciplinamento dos corpos.

  • Supressão de modelos comunitários, coletivos e não industriais.

❌ Kronstadt Como Resistência Anticapitalista e Anticolonial

Ao esmagar Kronstadt, o bolchevismo, segundo Pires, aderiu à mesma lógica ocidental de:

  • Priorizar a produção e o controle sobre a autonomia.

  • Suprimir qualquer experiência de democracia direta ou autogestão.

  • Substituir a promessa socialista pela construção de um Estado-nação moderno e autoritário.

Perguntas Frequentes Sobre Kronstadt e a Terceira Revolução

❓ Qual é a tese central do livro de Jean Monti Pires?

Que a Rebelião de Kronstadt de 1921 foi uma tentativa de realizar uma Terceira Revolução, aprofundando os ideais de 1917 contra a burocratização bolchevique e a hegemonia do Ocidente.

❓ Por que Kronstadt foi reprimida?

Porque os bolcheviques viam qualquer autonomia popular como ameaça ao poder centralizado. A repressão garantiu a consolidação de um modelo de modernização autoritária.

❓ O que significa hegemonia do Ocidente no livro?

É a imposição global de um modelo baseado em industrialização, centralização, produtividade e repressão das formas comunitárias e populares de organização.

Conclusão

Kronstadt e a Terceira Revolução: A luta dos marinheiros contra a hegemonia do Ocidente, de Jean Monti Pires, é uma obra que resgata não só a memória da Rebelião de Kronstadt, mas também questiona os próprios rumos da modernidade, da revolução e do socialismo.

O livro não é apenas uma análise histórica — é também um chamado à reflexão sobre os limites dos projetos revolucionários que, ao trair seus princípios, acabam reproduzindo a lógica do mesmo sistema que prometiam destruir.

Kronstadt segue viva como símbolo de resistência contra qualquer forma de hegemonia — seja ela czarista, capitalista, socialista de Estado ou neoliberal.

O livro em forma de eBook ou capa comum está disponível na Amazon.

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