sexta-feira, 10 de outubro de 2025

A Profunda Essência de Portugal: Desvendando A Arte de Ser Português de Teixeira de Pascoaes

 No primeiro plano, uma figura solitária e pensativa (que poderia ser o próprio Pascoaes ou um arquétipo do português) de costas, olhando para o horizonte. A figura tem um ar melancólico, mas também de profunda contemplação.  O horizonte dividido: De um lado, um mar revolto sob um céu nublado, simbolizando a aventura, as descobertas e a incerteza da partida. Do outro lado, uma paisagem interior montanhosa, talvez com um castelo ou uma torre antiga emergindo de uma névoa suave ao amanhecer ou ao entardecer, representando a ligação à terra, à mística e à introspecção.  Elementos simbólicos: Pássaros (como gaivotas ou corvos) voando entre os dois lados do horizonte, ligando o mar à terra. Talvez um raio de luz rompendo as nuvens num dos lados, simbolizando esperança ou um "Quinto Império" espiritual.  Uma paleta de cores: Tons de azul profundo, cinzento, verde-musgo e castanhos-terrosos, com toques de dourado ou púrpura para a mística e a nobreza.  Esta imagem tentaria evocar a Saudade, a dualidade do ser português (ação vs. contemplação, mar vs. terra) e a profunda espiritualidade da obra de Pascoaes.

Introdução: O Chamado da Alma Lusa

Portugal, uma nação forjada pelo mar e pela melancolia, possui uma identidade complexa e profundamente enraizada na sua história e paisagem. Poucos autores capturaram essa essência com a intensidade e a mística de Teixeira de Pascoaes (1877-1952). A sua obra ensaística fundamental, "A Arte de Ser Português" (publicada originalmente em 1915), não é apenas um livro; é um manifesto da alma, uma imersão poética e filosófica naquilo que define o povo e a cultura de Portugal.

No contexto da efervescência cultural do início do século XX e da busca por uma identidade nacional renovada, Pascoaes surge como a voz maior do Saudosismo, um movimento literário e filosófico que procurava reabilitar os valores espirituais e as tradições portuguesas. Este artigo desvenda as camadas de significado de "A Arte de Ser Português", explorando como o autor eleva o sentimento da Saudade de mera nostalgia a uma filosofia de vida, essencial para compreender a Identidade Portuguesa.

O Saudosismo: A Chave para A Arte de Ser Português

O Saudosismo não é apenas um tema em Pascoaes, é a estrutura teórica e sentimental que sustenta toda a sua visão sobre A Arte de Ser Português. Para o autor, a Saudade é muito mais do que a melancolia pela ausência; é a própria essência metafísica de Portugal, o motor da sua história e a chave para o seu futuro.

A Saudade como Filosofia Nacional

Pascoaes transforma a Saudade em um conceito ontológico. Segundo a sua filosofia:

  1. Força Criadora: A Saudade é a força que impulsionou as Descobertas e a expansão marítima – uma busca incessante por algo que falta, o "além" mítico.

  2. Ligação ao Passado: É a consciência da glória passada de Portugal, mas sem a paralisia do lamento. É a inspiração para reviver esse espírito.

  3. Mística e Poesia: O sentimento lusitano é intrinsecamente poético e místico. A Saudade permite ao português conectar-se com o absoluto, com o sonho e com o lado espiritual da existência.

A Arte de Ser Português reside, portanto, em abraçar essa Saudade como uma virtude ativa, um caminho para a renovação espiritual e cultural da nação. É a aceitação de que a imperfeição e a melancolia são as fundações de uma beleza e profundidade únicas.

A Mística da Identidade Portuguesa em Pascoaes

O ensaio de Pascoaes é uma meditação sobre a geografia e o temperamento que moldaram a Identidade Portuguesa. Ele pinta um retrato dual: o país do sol e o país da bruma; o herói épico e o contemplativo melancólico.

A Dualidade Geográfica e Espiritual

Pascoaes divide o ser português em contrastes que se complementam, encontrando na geografia a origem do espírito nacional.

A Arte de Ser Português é a harmonia tensa entre estes dois polos: a capacidade de sonhar o "império" enquanto se permanece enraizado na mística da terra natal.

Elementos Chave da Alma Lusitana

Para Pascoaes, a verdadeira Alma Lusitana é marcada por:

  • O Espírito Profético: A crença no Quinto Império, o sebastianismo, a espera por um futuro grandioso, que Pascoaes interpreta não como um império territorial, mas como um império de cultura e espiritualidade.

  • A Piedade e a Tristeza: Uma resignação que não é passividade, mas aceitação da condição humana e uma profunda sensibilidade para o mistério da vida.

  • O Amor à Natureza: A identificação com a paisagem, vista como espelho da alma e local de refúgio espiritual.

Por Que "A Arte de Ser Português" Permanece Relevante?

Quase um século após a sua publicação, a obra de Pascoaes continua a ser um farol para quem procura entender a fundo a cultura e a Literatura Portuguesa.

Resposta a Perguntas Comuns sobre a Obra

1. Qual é o principal objetivo de "A Arte de Ser Português"?

O objetivo principal é redefinir a Identidade Portuguesa a partir de um ângulo filosófico e espiritual, superando a crise de identidade pós-monárquica. Pascoaes propõe a Saudade como o fator distintivo e redentor da nação, um caminho para a renovação moral e cultural.

2. O que é o Saudosismo para além do livro?

O Saudosismo foi um movimento cultural e político ativo no início do século XX, centrado na revista A Águia. Promoveu uma visão da cultura portuguesa baseada na Saudade, na mística e na valorização das tradições, influenciando toda uma geração de escritores e pensadores, sendo Pascoaes o seu líder inconteste.

3. Como a obra influenciou a literatura subsequente?

O trabalho de Pascoaes estabeleceu um tom de introspecção profunda e mística que ecoou em autores modernistas. Mesmo o grupo da Geração de Orpheu (como Fernando Pessoa) teve de se posicionar em relação ao Saudosismo, absorvendo e, por vezes, contestando a sua visão sobre a Arte de Ser Português, mas reconhecendo a sua importância na busca pela essência nacional.

A Herança e a Proposta de Renovação de Pascoaes

A Arte de Ser Português é, em última análise, uma proposta de renovação. Pascoaes convida os portugueses a olharem para dentro, a encontrarem na Saudade a força para reverter o declínio material através da ascensão espiritual.

Lista: Como o Livro Define a Renovação:

  • Prioridade Espiritual: Colocar os valores da alma e da cultura acima do materialismo e do pragmatismo.

  • Redescoberta da História: Reinterpretar o passado de glória não como um fim, mas como um ponto de partida místico.

  • Cultivo da Poesia: Ver a vida e a nação através da lente poética da Saudade.

A Filosofia de Pascoaes apela a uma "regeneração" onde a poesia e a mística sejam os verdadeiros pilares do renascimento nacional.

Conclusão: O Legado Duradouro de A Arte de Ser Português

"A Arte de Ser Português" é mais do que um tratado ensaístico; é um cântico à Alma Lusitana. Teixeira de Pascoaes não apenas definiu a Saudade, ele a transformou no conceito filosófico central da Identidade Portuguesa.

Mergulhar nesta obra é essencial para quem deseja compreender as correntes profundas que moldam a cultura, a Literatura Portuguesa e o temperamento do seu povo. A Arte de Ser Português continua a desafiar e a inspirar, provando que a verdadeira essência de uma nação reside, muitas vezes, nas suas emoções mais profundas e nas suas mais belas e melancólicas Saudades.

(*) Notas sobre a ilustração:

  • No primeiro plano, uma figura solitária e pensativa (que poderia ser o próprio Pascoaes ou um arquétipo do português) de costas, olhando para o horizonte. A figura tem um ar melancólico, mas também de profunda contemplação.

  • O horizonte dividido: De um lado, um mar revolto sob um céu nublado, simbolizando a aventura, as descobertas e a incerteza da partida. Do outro lado, uma paisagem interior montanhosa, talvez com um castelo ou uma torre antiga emergindo de uma névoa suave ao amanhecer ou ao entardecer, representando a ligação à terra, à mística e à introspecção.

  • Elementos simbólicos: Pássaros (como gaivotas ou corvos) voando entre os dois lados do horizonte, ligando o mar à terra. Talvez um raio de luz rompendo as nuvens num dos lados, simbolizando esperança ou um "Quinto Império" espiritual.

  • Uma paleta de cores: Tons de azul profundo, cinzento, verde-musgo e castanhos-terrosos, com toques de dourado ou púrpura para a mística e a nobreza.

Esta imagem tentaria evocar a Saudade, a dualidade do ser português (ação vs. contemplação, mar vs. terra) e a profunda espiritualidade da obra de Pascoaes.

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