domingo, 25 de março de 2018

Gênero feminino – substantivo

J. P. A. Gonçalves

Gênesis 2:20 – “Assim o homem deu nomes a todos os rebanhos domésticos, às aves do céu e a todos os animais selvagens. Todavia não se encontrou para o homem alguém que o auxiliasse e lhe correspondesse”


O elemento mais fundamental da formação da linguagem é o nome. A linguagem nada mais é do que um conjunto articulado de nomes. Nomeia-se tudo: seres, entidades, objetos, coisas, concretas ou abstratas, lugares, relações, ações, qualidades, quantidades etc.

A palavra, como ensina Saussure, é um signo arbitrário. Portanto, o nome é uma convenção, social, cultural e historicamente engendrada. Nada diz em si mesmo. Por exemplo, “ (nǚ) não significa nada para um falante de língua portuguesa. Na China, todos sabem que é “mulher”.

O nome só ganha sentido quando está referenciado a um conteúdo externo à linguagem e reconhecido por uma comunidade linguística comum.

No princípio, Adão só podia apontar os animais. Deus, no entanto, lhe deu a faculdade de nomeá-los e Adão nomeou todos os animais em um único dia com nomes que lhes correspondiam exatamente; a cada espécie um nome. Estes nomes eram universais e idênticos aos seres indicados – aqui faço uma alusão de passagem à teoria do conhecimento de Walter Benjamin. Mas não havia ninguém que chamasse Adão pelo nome que de fato era.

Foi Eva que lhe deu nome: homem.

Adão não tinha sexo antes de Eva, pois é a condição de mulher que define a condição de homem.

Foi a mulher que inventou o gênero e fez do homem homem. Não o homem enquanto ser genérico, uma ficção – o homem não é o homem nem a mulher é o homem. Mas o fez enquanto ser humano, tão humano e tão igual a ela própria, tão humana.

Adão, que comeu do fruto proibido, culpou Eva por sua fraqueza, não assumindo assim sua responsabilidade. Eva, mais honesta, confessou sua falta. Ambos, iguais em pecado, mas não em dignidade, foram expulsos do jardim do Éden.

Muito mais tarde, a linguagem, que era um espelho da realidade, foi perdida com a construção da Torre de Babel.

O signo passou a ser arbitrário e através da força bruta, o homem dominou a mulher e a fez escrava! Passou então a ditar, e ditar, e ditar, e ditar... fazendo da palavra sua imagem e semelhança.

A mulher, após século de escravidão, se rebelou e fez do gênero feminino sua força e identidade, e a cada dia vem conquistando mais e mais liberdade, inclusive de dar nomes!

No mundo atual, as mulheres nomeiam as coisas como elas de fato são: a poeta, a presidenta, a poderosa etc.

Todavia, a linguagem precisa ser revolucionada, ainda.

As palavras, apesar de serem signos arbitrários, têm sexo. Assim, “panela” é feminino; “carro”, masculino etc.

O gênero na língua é meramente gramatical, estabelecido por convenção, em sociedades patriarcais. Por isso, a primazia do masculino.

Na gramática, o gênero nem sempre se conhece por sua significação ou terminação.

- Quanto à significação, o gênero feminino é dado conforme o sexo do ser referenciado, seres humanos ou animais:

Mulher, Roberta, menina, poeta, santa, meretriz, gata, leoa, presidenta etc.

- Ou o gênero é meramente gramatical:

Mesa, cadeira, televisão, luz etc.

SUBSTANTIVOS FEMININOS

- Todos os substantivos que admitem o artigo “a” pertencem ao gênero feminino.

A mulher, a águia, a grua, a pitonisa etc.

- Quanto à significação, são femininos:

a) Nomes de mulher ou ocupação por elas exercida:

Margarida, Lilian, Beatriz, escritora, presidenta etc.

b) Nome de animais do sexo feminino.

Égua, pata, cadela etc.

c) A maioria das árvores frutíferas e de flores:

Laranjeira, rosa, margarida etc.

d) Nome de cidades e ilhas nas quais a cidade e a ilha estão subtendidas:

Fortaleza, Campinas, Ilha Bela, Ilha das Canárias etc.

- Quanto à terminação em geral, os nomes terminados em -a átonos:

Menina, flauta, águia, cadeira etc.
Exceções: clima, dia, planeta etc.

- Geralmente, são femininos os substantivos abstratos terminados em -ão:

A comunicação, a solução, a opinião etc.

- Os substantivos que designam pessoas e animais se flexionam em gênero e apresentam, em geral, duas formas diferentes.

Mulher – homem
Filha – filho
Rainha – rei
Presidenta – presidente
Leoa – leão
Égua - cavalo

quinta-feira, 15 de março de 2018

A mulher inventou o rock'n'roll - especial 8 de março

Especial: Sister Rosetta Tharpe



Conforme já havíamos anunciado no post “Dia da consciência negra é rock’n’roll”, no mês da mulher, prestaremos uma homenagem a Sister Rosetta Tharpe, a mulher que inventou o rock and roll.


No princípio era Sister Rosetta Tharpe.


De fato, se por um acaso Sister Rosetta Tharpe não brilhasse sua estrela no princípio, isto é, no gênesis do rock’n’roll, tocando freneticamente sua guitarra e se tornando modelo inspirador de toda uma geração posterior, Elvis Presley, Little Richard, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis, entre outros, jamais teriam sido astros do rock e, provavelmente, teriam seguido profissões muito diferentes e nunca seriam lembrados.

“Irmã” Rosetta, como ficou conhecida, por causa de sua música gospel, chegou ao estrelato em 1938, com o disco "Rock Me". Mulher, negra, cantando e tocando sua própria guitarra elétrica, numa sociedade segregacionista, repleta de valores conservadores, Sister foi uma pioneira do gênero musical que mudaria o mundo e transformaria para sempre tendências e comportamentos. 

Sua primeira música a romper o círculo fechado do Rhythm and Blues (ou R&B), na época restrito aos “guetos negros”, foi "Strange Things Happening Every Day" (1945), que alcançou a segunda posição nas paradas de sucesso e se tornou um paradigma para o rock’n’roll.

Durante toda a década de 1950, Sister Rosetta chegou a fazer muito sucesso e lotava casas de show por onde passava. Entre as muitas de suas apresentações, Sister convidou para dividir o palco um menino chamado Richard Wayne Penniman de apenas 14 anos! Sim, Sister Rosetta trazia ao mundo aquele que se tornaria mais tarde o grande Little Richard.

Sem dúvida nenhuma, Sister Rosetta Tharpe foi a progenitora de Elvis Presley, Carl Perkins, Jerry Lee Lewis, e todos os outros. Johnny Cash se referia a Sister como a sua cantora favorita.

No início dos anos sessenta, a revolução musical que ela ajudou a criar relegou-a injustamente ao esquecimento. Então Sister Rosetta mudou-se para a Inglaterra, e nas cidades de Londres e Liverpool se apresentou para muitos jovens fãs de blues.

Sem Sister Rosetta Tharpe, o rock’n’roll não existiria (nem este blog). Ela é a mãe fundadora que deu à luz a sucessivas gerações de roqueiros pelo mundo todo.

Discografia selecionada


“Rock Me,” “That’s All,” “The Lonesome Road” • (1938) “Shout, Sister, Shout!” • (1942) “Strange Things Happening Every Day” (1945) • “Nobody’s Fault But Mine” (1949) • Gospel Train (1956) • Sister On Tour (1961) 

Leia também: Jimi Hendrix, o black power do rock


quinta-feira, 1 de março de 2018

A abelinha sem asas


A abelhinha sem asas - Infantil



Nilza Monti Pires

Num abelheiro, a tristeza era muito grande, a rainha das abelhas ficou tão doente que a pobrezinha não resistiu e morreu.

Todas as abelhinhas dessa colmeia ficaram desesperadas, além de gostarem muito da abelha rainha, elas ficariam totalmente desamparadas, pois todas vivem em comunidade em função da rainha.

Somente a abelha rainha põe os ovos e sem a rainha a colmeia iria desaparecer totalmente.

Acontece que antes de morrer, a abelha rainha deixou milhares de ovinhos que iam nascer em breve.


- Que será de nós?! Disse uma das abelhinhas, chorando.

Outra respondeu:

- Ainda temos uma esperança nesses ovinhos que estão por nascer.

- Estou muito preocupada, se entre esses ovinhos não nascer uma abelha rainha, nossa colmeia vai se extinguir. Indagou outra, aflita.

- Essa ideia me apavora... Sempre fazemos tudo com perfeição, construímos os favos, cuidamos dos ovos, produzimos o mel...

- Pois é, vamos torcer para que nesses milhares de ovinhos nasça a nossa rainha. Concluiu uma das abelhinhas.


E assim passaram alguns dias e numa tarde quente de verão nasceram as novas abelhinhas.

Ficaram todas na maior expectativa. A rainha tinha que nascer!

Quando viram que a abelhinha rainha tinha nascido, a alegria foi geral.

- Eu não falei que a rainha ia nascer!

Mas a abelhinha rainha nem se movia, nasceu sem asas, enquanto os seus irmãozinhos já estavam voando.

Todas ficaram apreensivas. A imensa alegria demorou pouco.


No dia seguinte, todas as abelhinhas operárias que nasceram saíram tristemente voando de cá para lá, dançando, em zigue-zague, pois na linguagem das abelhas elas comunicam umas às outras dessa maneira, indicando onde se encontra o néctar das flores, matéria prima do mel, e também avisando a presença de qualquer perigo.


A abelhinha rainha estava cada vez mais fraquinha, não adiantava nem se alimentar com geleia real, estava entediada e lamentava a triste sorte de não poder voar.

As abelhas operárias e os zangões também lamentavam a triste sorte da abelha rainha e o destino cruel que reservava para toda a colmeia, caso ela viesse a perecer.

As abelhas operárias se multiplicavam em atenções, para preservar sua rainha que estava muito fraca.


Num certo dia chuvoso, surpreenderam a abelhinha rainha numa poça de água, fazendo um zumbido tão alto que as abelhas operárias correram em sua direção, para acudi-la, já que parecia estar se afogando.

- Hoje estou muito feliz, disse a abelhinha rainha.

Todas as abelhinhas não entenderam nada, mais ficaram muito satisfeitas de ver sua rainha pela primeira vez feliz.

Aí uma abelhinha disse para outra:

- Coitada da rainha, ela se sente muito humilhada por não poder voar. Mas gostamos dela assim mesmo, do que jeito que ela é.

- É verdade, eu tenho observado isto. Mas, para deixá-la um pouco mais feliz, até podemos construir uma pequena prensa no corpo dela, duas chapas de madeira perfuradas de zinco e arame de ferro galvanizado e assim ela vai poder voar com asas postiças.


Numa bela manhã, a abelha rainha avisou que subiria no alto de uma montanha.

- Mas como? Dizia uma abelhinha operária indignada. Você não tem asas!

- Vou subir numa montanha muito alta, onde passa um rio, para apreciar a paisagem. Quero ver o mundo lá de cima, como vocês veem. Respondeu a abelha rainha.

- Não faça isso... a montanha é muito alta e além disso você pode cair e se afogar no rio.

E assim a abelhinha rainha começou a subir a montanha, acompanhada por outras abelhas, que voavam à sua volta e tentavam dissuadi-la. Nada, porém, detinha a abelha rainha. O percurso era difícil, levou mais de duas horas para subir. De lá de cima se ouvia o barulho da água do rio.


Outras as abelhas, no entanto, ficaram ao pé da montanha, de olhos fixos, vendo a abelha rainha subir palmo a palmo a montanha.

- Desista! Gritavam as abelhinhas operárias e os zangões.

- Ah! eu não quero nem ver. Se ela cair de tão alto, não vai sobrar nada.

- Já temos tantos problemas!

- Por que ela não muda de ideia?

- Fraca do jeito que ela está é bem capaz de cair mesmo.

- Xiiii.... Ela caiu mesmo! Vem descendo girando que nem um parafuso!


Quando a abelhinha rainha estava quase chegando rente ao chão, perto das outras abelhinhas, com tanta precisão e exatidão abriu suas lindas asas e começou a voar.

- Vejam, a rainha está voando... Como pode?!!!

- E que belas asas! E tão fortes!

E todas foram ao encontro da abelha rainha felizes da vida.


- Como conseguiu voar, abelha rainha, e de onde saíram estas asas?

- Descobri que minhas asas estavam coladas. Naquele dia em que choveu, eu fui sentir a água da chuva e as asas descolaram. Por isso, eu estava tão feliz.

- Agora nós entendemos.

- Mas porque subiu tão alto, se arriscando para mostrar suas belas asas?

- Queria fazer uma surpresa. Queria mostrar que tenho asas e sou igual a vocês.

- Ora, você é a nossa rainha, gostamos da sua perseverança, capacidade e inteligência! Para nós, pouco importa se você tem asas ou não. Gostamos de você de qualquer maneira.

- Vamos brindar, disse a rainha, com a nossa geleia real, essa bebidinha perfeita, poderosa e muito nutritiva, que só nós sabemos fazer!

E a colmeia viveu feliz para sempre.