Gotham City não é uma alegoria do mundo moderno; é a vida que se tornou parecida com uma história em quadrinhos
Por Jean Pires de Azevedo Gonçalves
Chorar
com os que choram alivia
um
pouco, mas ter o sofrimento
transformado
em piada é morrer duas vezes.
Avesso
a enlatados da indústria cultural como a série Star Wars, Marvel, DC, entre outros do gênero, esta
crítica sobre o filme Coringa não
deixa de me surpreender. Jamais achei que um dia escreveria uma resenha sobre
um filme inspirado em histórias em quadrinhos! Paguei a língua, como se costuma
dizer. Em meio à polêmica gerada pela estreia do Coringa, a qual estimulou muitos debates entre amigos e na internet,
envolvendo pessoas a quem respeito, muito contrariado convenci a mim mesmo de que
deveria assistir o filme. Há outro fator também, menos abonador: neste ano,
deixei o cabelo crescer e muita gente me achou parecido com o Coringa. Confesso, fiquei curioso.
Ainda assim relutei muito e isso explica esta crítica tardia, com o filme fora
de cartaz. Mas fica valendo para o Coringa
2! Minha relutância tem outro motivo também. Na verdade, eu prefiro as
páginas de um livro do que a película do cinema. Se já não me é muito animador
sair de casa para ir ao cinema, imagine então escrever sobre um assunto do qual
não domino. No entanto, como é impossível a alguém que nasceu a partir do
século XX ignorar a sétima arte, eu, mesmo que sem querer, acabei por assistir
e conhecer quase todos os grandes clássicos do cinema, sem contar os inúmeros
filmes de qualidade discutível que vi passar na Sessão da Tarde, Corujão, Tela
Quente etc. De certa forma, isso me autoriza, mesmo sem ser crítico de cinema,
a escrever sobre um filme como o Coringa,
já que, assim como futebol (e eu não entendo nada de futebol mas dou meus
pitacos), de cinema todo mundo também entende um pouco.
Aproveitando
a estadia de uma sobrinha de 16 anos em casa, eu a convidei para assistir o
Coringa, em meio a protestos de minha mãe que já havia assistido o filme e não
recomendava para menores. Não adiantou, a adolescente disse que ia assistir de
qualquer jeito uma hora ou outra no computador. Em tempos de internet, o que
não tem remédio, remediado está! E assim fomos assistir o Coringa.
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William Shakespeare |
A
caminho do cinema, conversávamos sobre se ela me emprestaria uma edição dela de
Assim falou Zaratustra, em história
em quadrinhos, e, já que falávamos nisso, achei conveniente relacionar o filme
Coringa à literatura e acabei por mencionar Tito
Andrônico como um tipo de Coringa shakespeareano (a propósito, o Coringa se
comparado a essa peça é um gibizinho infantil). Comentei que, na época de
Shakespeare, condenados eram executados publicamente, às vezes, sob tortura,
atraindo uma multidão de curiosos acostumados a esses “espetáculos” tenebrosos,
e por isso uma peça de teatro violenta não devia chocar tanto assim um
britânico da era elisabetana. Uma coisa leva a outra e eu levei a coisa para a
Roma Antiga. Lá também as pessoas se divertiam com lutas mortais de gladiadores
ou pessoas (geralmente cristãos) jogadas vivas para serem devoradas por leões
ferozes. Depois voltei ao Brasil e, recordando o romance Migo, de Darcy Ribeiro, relatei a execução de Felipe dos Santos
Freire. O proto-inconfidente, depois de enforcado, teve braços e pernas
amarrados a quatro cavalos que, correndo cada um para um lado, desmembraram seu
corpo em pedaços. Sem dúvida, exemplos terríveis da crueldade humana
institucionalizada. Desde Freud, no entanto, instintos assassinos do
comportamento humano têm sido sublimados pela mágica dos estúdios de Hollywood.
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Mulher condenada no séc. XVI |
Essa
viagem mental pelo tempo e espaço servia de expediente para atenuar eventuais
cenas de violência tão alarmadas pelos críticos do Coringa. Muito barulho por
nada! O filme do Coringa não é nem mais nem menos violento que centenas de
filmes que são lançados todos os anos pela indústria cinematográfica. Porém, a
repercussão lançada sobre Coringa é sinal de que o filme é representativo de
nossa época e, por isso, merece um comentário mais cuidadoso.
O
Coringa não é um filme que pode ser analisado em si mesmo sob a perspectiva da
arte pela arte. E este é o seu grande trunfo. O seu enredo chama para um dialogo
que sai da tela de cinema e fala diretamente sobre a vida cotidiana das grandes
cidades modernas. A minha experiência ao assistir o Coringa tornou isso ainda mais
dramático, pois, como um prolongamento de um filme 3D, tive que dividir as cenas
do filme com um incidente embaraçoso que se passava dentro da sala de cinema, e
que, de certo modo, ilustrava com um fato real o que a ficção apenas sugeria. Logo,
logo, vou relatar o que aconteceu. Antes vamos passar primeiro por alguns
comentários estéticos acerca do filme Coringa no que tange aos elementos
especificamente cinematográficos.
Na
minha opinião, o Coringa não é um Laranja
Mecânica, mas me surpreendeu e devo admitir que é um bom filme. Sua
novidade é retratar um tema pesado há muito explorado pela cinematografia no
universo raso dos filmes do gênero HQ. Disso deriva também todos os seus
méritos e as suas limitações, tais como a total liberdade dos produtores para
criar um personagem fascinante sem precisar cumprir todos os requisitos da
verossimilhança. Portanto, se de um lado o filme não pode se aprofundar muito
por causa de sua ambiguidade inerente, já que deve atender às expectativas de
um público de adolescentes e de adultos infantilizados acostumados a consumir
todo tipo de “fast-food” da indústria do entretenimento; por outro, permite explorar
o tema com as virtudes de um realismo fantástico que supera os limites
estreitos do gênero referido. Os pontos positivos ficam por conta da fotografia,
do figurino, da trilha sonora, do enredo e da interpretação do ator Joaquin
Phoenix (e claro, Robert de Niro, como sempre) – não é o caso, mas, devemos
sempre tomar cuidado com personagens caricatos que não são garantia de boa
atuação. Já a narrativa é envolvente e eficaz ao cumprir o propósito de suscitar
uma identificação imediata do espectador com o personagem protagonista. É
verdade que o Coringa não escapa muito aos estereótipos vulgares dos
personagens malucos retratados por Hollywood; no entanto, acrescenta pelo tipo
híbrido, mental e fisicamente frágil, um tanto andrógeno, uma humanidade
inusitada a um vilão de HQ. Além disso, há uma inevitável glamorização do vilão, bastante clara nas cenas apoteóticas do
Coringa, como quando ele dança na escadaria ou na utilização de recursos
consagrados pelas técnicas do cinema, como, por exemplo, tomadas em panorâmica pelas
quais o personagem entra em câmera lenta ao fundo e caminha em direção à tela, altivo,
triunfante, transmitindo sensação de poder. Infelizmente o filme não pode
evitar alguns clichês desnecessários, como a cena em que o Coringa foge de dois
policiais e é atropelado por um taxi, rola pelo para-brisa do carro, cai no
asfalto e continua a fuga. Outro aspecto não muito original, é a tentativa de
deixar no ar um possível parentesco entre Coringa e Batman, algo que me lembrou
o vínculo de pai e filho ligando Darth Vader e Luke Skywalker. Ambos seriam
meios-irmãos e filhos de Thomas Weyne, um magnata inescrupuloso e com
pretensões políticas.
Feitas
essas considerações “técnicas” um tanto questionáveis, pois feitas por um leigo
no assunto, insisto que o fundamental no Coringa é a sua interlocução com a
realidade que nos cerca. Exatamente, a realidade que está bem à nossa volta. E
aqui eu me sinto mais à vontade para escrever minha crítica. Talvez você se
recorde do que eu disse a pouco sobre um incidente ocorrido na sessão de cinema
e que vai nos servir de “exemplo ilustrativo” para dar início à minha
interpretação do filme. Então vamos lá. Bem à minha frente, estavam sentadas
duas mulheres e no intervalo entre elas um banco vazio. Para a minha irritação,
cada uma delas segurava um balde enorme de pipoca que era orgulhosamente
devorado, a julgar pelo barulho e o enorme volume movediço das bochechas, instigando
em mim a seguinte ponderação: “O que que eu estou fazendo aqui?!!!” Não posso
ser injusto com elas também. Na verdade, toda a sala de cinema mastigava
provocadoramente baldes e mais baldes de pipoca! “Vocês vieram aqui para
assistir o filme ou comer pipoca?!!!”; eu me remoia por dentro. O insuportável
triturar coletivo de mandíbulas mastigadoras só cessou quando o Coringa teve
início. Quer dizer, um croc croc remanescente aqui e ali perdurou ainda filme
adentro. Confesso que me dei por satisfeito, porque, a julgar pelo tamanho dos
baldes, pensei que o filme ia acabar e ainda ia sobrar pipoca. Enquanto uma
calmaria tomava conta da sala de cinema, na tela o Coringa sacava um revólver e
atirava em três homens dentro de um vagão no metrô. Cena chocante! Dois deles
caem baleados enquanto um tenta fugir pela escadaria da estação mas é alvejado
pelas costas. C’est fini! Suspirei
longamente, depois de ter prendido a respiração. Um remexer inesperado me fez descobrir
que o assento do meio entre as duas mulheres não estava vazio. Lá do meio,
pulou assustada uma menina minúscula, com idade entre quatro e seis anos,
inclinando seu corpo para frente e lançando um olhar angustiado para a mãe. Daí
para frente, a criança não parou mais. A certa altura, foi para o colo da mãe.
Voltou com um smartphone ligado. Sem se importar muito com a não permissão de
celulares ligados no cinema, a mãe tentava distraí-la. Bom, não seria eu a
reclamar da luz do aparelho, que ofuscava minha vista. A menina já vivenciava
uma sessão de tortura psicológica e longe de mim tornar aquele momento ainda
mais assustador com um gentil “você poderia desligar o telefone celular, por
favor”. No entanto, o expediente da mãe se revelou infrutífero e a menina não
conseguia despregar os olhos da tela de cinema a cada cena horripilante
envolvendo o Coringa. Ela resmungava um lamento incompreensível. Queria ir
embora; voltar para casa. Pediu para ir no banheiro. Teve sorte, porque na sua
ausência o Coringa enfia uma tesoura no pescoço de um homem e estraçalha a
cabeça dele contra a parede. As duas voltam em seguida. Coincidência ou não, a
menina passou a ter um acesso de tosse incessante, enquanto o Coringa ria
compulsivamente. Outra vez, ela se levanta e passa a perambular a esmo pela
sala do cinema, talvez, perdida, a procura de uma saída. No entanto, a mãe e a
amiga permaneciam sentadas, imóveis, impassíveis. A situação por si só
escandalosa obrigou a mãe a se levantar e levar a menina novamente para o
banheiro. Parece até que um anjo tirou elas dali, porque saíram bem no momento
em que Coringa atira com um revólver contra a cabeça de um apresentador de talk
show. Instante depois, a menina volta com um andar cambaleante, seguida pela
mãe, e ambas retomam os seus lugares. Ironia ou coisas do acaso, o anjo não
poupou a criança de presenciar o Coringa sufocar sua própria mãe. E nessa toada,
a menina tossia, tossia, tossia, obstinadamente, tossia, até o filme acabar. Cortinas
fechadas, pensei: “Essa menina vai ficar traumatizada, vai ter pesadelos à
noite, vai ficar com medo de palhaço por um bom tempo”.
E
aí entra o Coringa. A insistência daquelas duas mulheres em deixar a criança na
sala de cinema a despeito de todo mal estar da menina começou a me incomodar e
despertar em mim o desejo de intervir na situação. Eu me imaginei chamando a
atenção delas com um leve sorriso constrangido e, muito educado, informá-las
amavelmente que o filme do Coringa não é para crianças. Imaginei em seguida que
poderia receber uma resposta do tipo: “A educação da minha filha não é da sua
conta” (semelhantemente ao que ocorrera numa das cenas do filme Coringa). Gentileza
não ia adiantar. Além disso, eu estava, até mesmo fisicamente, mais para
Coringa do que Clark Kent. Então eu me imaginei agarrando as duas mulheres pelos
cabelos, arrastando-as pela sala de cinema e, na entrada principal, eu me vi
enxotando a pontapés aquelas duas degeneradas sem antes adverti-las: “Nunca
mais façam isso!” Alguém precisava salvar aquela pobre criança de sua própria
mãe! Reconsiderei a situação e, obviamente, me coloquei no meu devido lugar. Não
tenho os superpoderes de um herói ou mesmo de um vilão como o Coringa para sair
por aí dando lições às pessoas. Eu tive que aguentar tudo calado.
São
essas pequenas violências do dia a dia que vão minando a gente por dentro e nos
faz olhar com simpatia um personagem como o Coringa. A cidade de Gotham é uma
metáfora das grandes metrópoles: uma
selva de pedra. Nas cidades modernas, a única sociabilidade possível é a do
dinheiro-mercadoria e, daí, quase todas as relações pessoais se reduzem ao
contato indireto e impessoal mediado sempre pela compra e venda de objetos. Fomos
transformados em autômatos, enclausurados em nosso mundinho particular apesar
de estarmos amontoados no meio de uma multidão compacta. A indiferença é total,
no entanto. Alienados de nosso ser social, de nossa essência, perdemos o dom da
linguagem e falamos com empurrões e pisões. Licença, obrigado, desculpa foram
banidos do nosso dicionário coletivo. O mundo urbano se transformou numa
realidade humana estranhamente desumana, cuja única lei é a do cada um por si e
todos contra todos. O outro é apenas um obstáculo que deve ser ultrapassado,
suprimido, explorado. A massa de trabalhadores robotizados correndo desesperada
pelas ruas e galerias do metrô apenas reatualiza sob outras aparências a
relação senhor-escravo. Nada de novo na história do mundo! A paisagem urbana
também revela contradições agudas. Enquanto alguns passeiam em carros
importados caríssimos, muitos milhares de miseráveis famintos imploram por
migalhas mesquinhamente cedidas. Ao lado de mansões luxuosas, colchões e
caixotes de papelão espalhados pelas ruas servem de abrigo durante o frio
inverno. Esmagados pelas contradições: nós!
Em
Gotham City, assim como em São Paulo, qualquer um é invisível. Somos massacrados
diariamente por um cotidiano brutal. Estamos todos estressados, nervosos, uma
pilha de nervos, vomitando ódio para tudo quanto é lado. É só andar pelas ruas,
para levar ao menos um desaforo para casa todos os dias. Nunca fomos tão
deseducados, tão ignorantes, tão orgulhosamente boçais, tão individualistas,
tão antipáticos, tão desrespeitosos, tão egoístas, tão agressivos, tão
grosseiros, tão bestiais; numa palavra, tão cafajestes! É o canalha que senta
no banco preferencial e finge que está dormindo para não ceder lugar; é a
sem-noção que para bem na frente da escada rolante para responder o whatsapp
pouco se importando com a multidão que quer passar e se aglomera atrás; é um
sujeitinho desprezível que esbarra em você de propósito na calçada só para se
sentir superior; o cidadão de bem que para o carro bem em cima da faixa de
pedestre ou passa no sinal vermelho; o almofadinha que fura fila ou o
apressadinho impaciente que quer passar por cima de você e pisa no seu pé... Enfim,
a lista é longa. Poderia enumerar aqui casos e mais casos mas um que eu
presenciei é bastante eloquente. Certa vez, na estação do metrô da Consolação,
vi duas mulheres que caminhavam conversando pela faixa reservada para deficientes
visuais seguirem em rota de colisão com um cego que vinha vindo no sentido
oposto. Não deu outra, o homem foi atropelado pelas duas e saiu rodopiando
feito um pião, só não caiu por sorte. Ah, você achou que as mulheres pararam e
acudiram o homem com mil pedidos de desculpas? Que nada! Elas continuaram
conversando e rindo como se nada tivesse acontecido. Ora, diante de tudo isso,
a vontade que a gente tem quando está pagando alguma compra no caixa do
supermercado e alguém empurra o carrinho em cima como se você não existisse é de
simplesmente dar uns bons bufetes na cara dele e gritar: “Você não está me vendo aqui,
não?!!!” Vontade que obviamente não se concretiza, não apenas por temor à
punição certa, mas também porque um freio moral e emocional nos impede de ir em
frente: a culpa. Mesmo reagindo, sentimos remorso quando passamos da conta. Uma
boa índole, forjada por valores humanistas, esboça no máximo um franzir de
testa e, mais tarde, pode deitar a cabeça no travesseiro e dormir com a
consciência limpa. Todavia, os jornais e noticiários da TV são inundados todos
os dias com reportagens sobre crimes muitas vezes provocados por motivos
banais. O fato empírico demonstra que há na mente humana um ponto crítico que
não pode ser ultrapassado. Ultrapassar esse ponto pode resultar num descontrole
de consequências inesperadas!
Todo
santo dia, engolimos ofensas e presenciamos coisas que afetam nossa
sensibilidade, no supermercado, no metrô, na rua, no ônibus, no restaurante, no
shopping Center, no cinema... e ficamos a um triz de explodir. Ora, não é essa
a justificativa do Coringa quando confessa o assassinato dos três jovens no
metrô ao apresentador do programa de talk show?
“Minha
semana tem sido difícil desde que eu matei aqueles três investidores... Eu
matei aqueles caras porque eles eram péssimos... Todo mundo é péssimo hoje em
dia. É o que basta para a gente enlouquecer... Ah, por que tá todo mundo tão
preocupado com esses caras? Se fosse eu morrendo na calçada, vocês passariam
por cima de mim. Passo todo dia por vocês e vocês não ligam pra mim. Mas, esses
caras, só porque o Thomas Wayne foi chorar por eles na TV! (...) Por acaso,
você entrevistador sai do estúdio? As pessoas só gritam e berram umas com as
outras. Ninguém nunca é educado! Ninguém nunca pensa como é estar no lugar do
outro” (Coringa).
A
representação ficcional do Coringa realiza os pensamentos que nunca
confessamos, nossos desejos mais secretos. De certa forma, saímos do cinema em
estado de catarse, purificados. O Coringa é um herói. Ou melhor, o Coringa
inaugura uma nova categoria de herói: o antivilão.
O vilão que vem nos salvar! Não é como Raskólnikov, a expressão mais bem
acabada do anti-herói, que deve se redimir pelo amor e inspirar pelo exemplo
edificante. Não, o Coringa é um salvador às avessas que, sem querer corrigir o
mundo, corrige através da maldade. Pois não há saída: num mundo onde todos são
maus, só é possível fazer o bem com o mal. O Coringa, a carta mais alta do
baralho, é também a mais versátil, o trunfo na manga, a cartada final. Pela
força, ele vai mostrar como é estar no
lugar do outro.
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Coringa |
O
Coringa cruza todos os dias com pessoas insensíveis, cruéis, truculentas,
odiosas. Sofre com a falta de empatia generalizada e inerente à dinâmica
sociológica de Gotham City – ou de uma cidade grande como São Paulo. Realmente,
a maioria de nós não é psicopata, individualmente, mas o que o Coringa quer nos
dizer é que agimos coletivamente como psicopatas. E, numa sociedade perversa, o
herói só poderia ser um psicopata.
O
escandaloso em tudo isso é que o Coringa não é um psicopata, ou pelo menos não
no sentido preciso do termo. O Coringa é, para usar um jargão da psicologia, um
empata, alguém que realmente se
importa em estar no lugar do outro. A falta de empatia é a principal
característica do transtorno de personalidade, conhecido vulgarmente como
psicopatia. Deveríamos então nos perguntar sobre a verdadeira natureza do
Coringa, diante de suas justificativas. Não seria ele um psicopata dissimulando
empatia? Lobo em pele de cordeiro? “Eu cansei de fingir”, revela ao
apresentador de TV. Mas como fingir por tanto tempo? Fingir a vida inteira? Fingir a dor que deveras sente? Como
acreditar no Coringa, se para o apresentador ele diz que matou os três rapazes
porque eles cantavam mal – “cantar mal pode custar vidas” – quando todos nós
sabemos que eles assediavam uma moça e depois passaram a agredi-lo
violentamente. Um psicopata não sente culpa ou remorso, não tem motivo ou
inventa pretexto para justificar suas ações perversas. O Coringa, não. Ele tem
motivos. Muitos. Para melhor entendê-los, é preciso saber quem está por trás da
persona do Coringa. Encontramos
Arthur Fleck.
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Bufão |
Arthur
é homem branco, de meia idade e, para usar um termo da cultura estadunidense, é
um loser, um perdedor. Sabemos que psicopatas são muito bem sucedidos num
ambiente de competitividade como o mercado financeiro ou empresarial,
ascendendo a posições de destaque ou mesmo de chefia. Um perdedor, pela própria
essência, não suporta a concorrência, talvez, por excesso de escrúpulos. Arthur
fracassou ou recusou o script pressuposto na cultura ocidental determinado pela
constituição da família nuclear economicamente produtiva, que, por óbvio,
implica o abandono da casa dos pais. Ao contrário, ele mora com a mãe e cuida
dela. Sua profissão, palhaço, reflete
sua vocação. O palhaço é o bobo da corte, o bufão que ninguém leva a sério. Em
todos os tempos, o palhaço sintetiza o arquétipo da ingenuidade. É infantil,
bonachão, espontâneo. Arthur pode ser um péssimo comediante de stand up – humor
malicioso para adulto – mas é um excelente palhaço, como comprovam sua
linguagem gestual e dança marcante. A profissão de palhaço supõe um domínio de
certas técnicas corporais e verbais que quando bem executadas provocam o riso
por meio de uma sintonia imediata com o público espectador, geralmente,
crianças. Fazer rir é uma qualidade altruísta e, de certo modo, benevolente,
como demonstram estudos médicos relacionando bom humor e melhora dos sistemas
respiratório, cardiovascular e imunológico, entre outros benefícios para a
saúde. Numa das cenas mais emblemáticas do filme, Arthur é um doutor da alegria e se apresenta para
crianças em um hospital. Mas na triste Gotham City, o palhaço é um pária (e
todos os habitantes são “tratados” como palhaços). Afetivamente, Arthur também
não é bem-sucedido. Embora seu romance com Sophie seja uma idealização, ele se
apaixonou por uma mulher negra e mãe solteira, sem se preocupar com
preconceitos arraigados de uma sociedade, como a norte-americana, para a qual
relacionamentos inter-raciais ainda hoje são tabu. Quando é demitido, por
deixar cair um revólver no hospital, ele lamenta: “Eu gosto desse emprego”. A
arma é um presente de um colega, que ele ganha com reticências, depois de ter
sido espancado por uma gangue de jovens latino-americanos. Com essa arma,
Arthur mata os três homens no metrô, incomodado que ficou com o caso de assédio
sexual e reagir à agressão covarde de que foi vítima. Se fosse levado a júri, Arthur
provavelmente seria condenado por porte ilegal de arma mas certamente seria
absolvido por legítima defesa. Sua
namorada, ao ver a foto dos três homens assassinados no jornal, diz para ele
como qualquer outra mulher poderia dizer da boca pra fora: “Menos três, podiam
ser muito mais”. Não só ela hipoteticamente. Muita gente de fato se solidariza
com Arthur. E para finalizar, Arthur apresenta problemas psicológicos sérios –
digamos, estresse alto somatizado em crises de riso patológico, mais ou menos assim,
rir para não chorar. Por causa da
doença mental, frequenta o serviço de assistência social que é fechado por
falta de verbas e fica completamente desamparado pelo poder público.
Artur
é espancado, humilhado, rejeitado, enganado, demitido, constantemente pensa em
suicídio, enfim, ultrapassa o ponto crítico. Não há como voltar atrás. Ele vai
se vingar. A vingança justifica uma série de razões para um empata agir como um
psicopata. Ou até pior. O olho por olho implica uma compensação pela não
iniciativa. O Coringa não mata à toa, por matar. Mata por vingança. Mata o
homem que provocou sua demissão; mata sua mãe pelos maus tratos sofridos por
ele durante a infância e por aparentemente ter faltado com a verdade sobre sua
suposta adoção e paternidade; mata sua namorada imaginária pela paixão não
correspondida ou pelo jeito frio com que é tratado por ela na cena do
apartamento (considerando a hipótese de que ela tenha sido assassinada, como
sugere o filme [Ver acréscimo de nota de rodapé abaixo]). Ele só poupa a vida
do anão, para o alívio dos espectadores apreensivos na sala de cinema: “Você
foi a única pessoa que foi legal comigo”, diz o Coringa.
A
metamorfose de Arthur no Coringa é a história tragicômica de alguém que foi
ignorado a vida toda, enquanto trabalhava e seguia as leis, e só é notado após
cometer um crime violento. Qual é o estágio de degradação ético-moral de uma sociedade
quando o sofrimento é transformado em piada? “Minha vida não passa de uma
comédia. Eu achei engraçado matar aqueles caras. A comédia é subjetiva. Não é o
que eles dizem?” (Coringa). Ao ouvir essas palavras, não pude deixar de me
lembrar de programas de TV do tipo Pânico na TV ou CQC – e demais do gênero. Jamais
em toda a história da televisão brasileira programas humorísticos foram tão
apelativos, tão pouco inteligentes, tão degradantes, tão infelizes, tão sem
graça. Na época, justificavam que o humor não tem limites e, daí, “comediantes”
que mais pareciam antipáticos gerentes de banco brincavam com piadas de mau
gosto, detratando pessoas e ironizando até grandes tragédias como o holocausto.
Como um circo de horror (sim, não de humor), os tais horroristas achavam graça de si mesmos, já que ninguém achava, e,
para compensar a tremenda falta de talento de suas figuras sinistras, buscavam
atrair um público adolescente através de chacota envolvendo mulheres seminuas,
que, reduzidas a objeto sexual, eram submetidas a todo tipo de situações
ridículas e vexatórias, além da zombaria a outras ditas “minorias” ou
marginalizados socialmente, como negros, homossexuais, deficientes físicos e
mentais, pessoas pobres, idosos etc. Numa das cenas mais sutis do filme Coringa,
o apresentador do talk show se arroga um homem bom, então o Coringa o refuta:
“Você é mal, Murray, você exibiu meu vídeo para as pessoas caçoarem de mim;
você me convidou no programa para debochar de mim”. Ora, não foi isso o que
fizeram com Zina, um rapaz com esquizofrenia e viciado em drogas, usado e
abusado pelo programa de televisão e que atualmente se encontra em situação de
rua? De fato, um dos primeiros sintomas do fascismo é quando humilhação vira
fator de piada e desgraça, motivo de graça.
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Outubro de 2019, protestos no Chile |
O
chocante, todavia, é que o fascismo não é uma anomalia, um ponto fora da reta
na história recente; ao contrário, é apenas a face real da democracia moderna
sem máscara, o seu segredo. E aqui não há como escapar de um tema fundamental
que é pano de fundo do filme. Há claramente uma mensagem política na crítica
social que recobre o Coringa. O assassinato dos três jovens desencadeia
manifestações por toda Gotham City; manifestações essas que não foram
organizadas por movimentos sociais ou partidos políticos. É um movimento
marcado pelo espontaneísmo das massas, sem lideranças nem bandeiras. O próprio
Coringa se exime de qualquer participação nos atos: “Eu pareço um palhaço que lidera
movimento?” Basicamente, milhares de pessoas saem às ruas mascaradas de palhaço
para protestar contra a desigualdade social; entre muitos cartazes, lê-se
“morte aos ricos”. Não demora muito e os protestos desembocam em atos de
vandalismo, depredação e caos social. Não se trata, porém, de uma revolução
propriamente dita, no sentido clássico do conceito sociológico, já que não
logrou mudança estrutural. O movimento é mais um motim, uma rebelião ou, mais
precisamente, uma “revolução colorida” – tais como a Revolução Rosa, Revolução
Laranja, Primavera Árabe, Panelaço ou Jornadas de Julho de 2013, Coletes Amarelos,
Revolução dos Guarda-chuvas, e tantas outras. Sem querer recorrer a teorias
sobre o fenômeno recente das revoluções coloridas (muitas delas são fabricadas
por agentes externos), estas manifestações são marcadas por um profundo sentimento
anti-institucional, antipartidário, antissindical e confusão ideológica, tendo por
motivação unicamente uma insatisfação pura e simples contra “o sistema”. Assim,
tanto partidos de esquerda como de direita são vistos como entidades corruptas
e mercenárias a serviço da especulação financeira internacional ou do governo
mundial, sendo rechaçados por esses movimentos que recusam representação e se
organizam através de redes sociais da internet. Neste contexto, cabe analisar o
estopim dos protestos: os funcionários de Thomas Weine – e a declaração do
magnata chamando os simpatizantes do crime de “palhaços”. Simbolicamente, quem
são os funcionários e o que representam? Os três rapazes são jovens, brancos,
investidores, ao estilo “chicago-boys” de Wall Street, incorporam o estilo
yuppie, terninho e gravata, são machistas e agressores de mulher – molestavam a
garota sozinha no vagão. Ou seja, representam o patriarcado, branco, rico,
capitalista e hétero ou, como se costuma dizer hoje em dia,
cis-heteropatriarcado racista. O Coringa é, como já foi dito, o contrário,
homem de meia idade, fracassado profissionalmente, fisicamente fraco,
apaixonado por uma mulher negra e mãe solteira e, às vezes, tem gestuais
infantis e efeminados. Assim sendo, a “Primavera dos Palhaços” em Gotham City
não significa unicamente um profundo descontentamento com uma estrutura
econômica destituída de qualquer empatia social, em que menos de 1% da
população mundial, formada majoritariamente por homens brancos, concentra uma
riqueza superior à dos 99% restantes e estão pouco se lixando para mais da
metade dos habitantes do planeta que sobrevive abaixo da linha da miséria. Ela
significa também um descontentamento com o padrão socialmente aceito e
dominante que exclui a maioria heterogênea que luta por reconhecimento e
inclusão. Noutras palavras, por linhas tortas, o Coringa acaba por representar
reivindicações políticas até então inauditas, focadas na diversidade, e que se
convencionou chamar de pautas identitárias.
Para
encerrar, gostaria de tecer algumas considerações sobre a repercussão negativa
do Coringa na imprensa dos EUA. Basicamente, o filme foi acusado de fomentar
massacres em massa como o que ocorreu em Colombine, Virginia, Tech, Aurora etc. (e, por extensão dedutiva,
também Suzano, Brasil). Perdoem-me o anacronismo, mas é isso mesmo! Um país que
tem como princípio fundador da nação a cultura da violência, fomentada pelo
destino manifesto, sustentada pela venda indiscriminada de armas de fogo, legitimada
no culto à guerra imperialista, generaliza por filmes e games violentos, de
repente descobriu que o filme do Coringa é culpado por jovens frustrados com a
meritocracia de castas sair por aí metralhando colegas de escola, pessoas no
cinema, boate etc. Santa hipocrisia! Talvez, a crítica tente esconder seu
verdadeiro mal estar: o American Dream é uma propaganda enganosa de um mundo
nada solidário onde tudo se restringe a dinheiro e poder.
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Em 2014, no Arizona, menina de 9 anos matou acidentalmente o instrutor de tiros
com uma submetralhadora Uzi. Ela disse que a arma era grande demais. |
Aliás,
são bastante equivocados os artigos publicados na imprensa brasileira sobre o Coringa
afirmando que Arthur é vítima de bullyng! Sim, bullyng. Bullyng? Bullyng, uma
palavra inglesa – e o equívoco já começa por aí! Esta palavra passou a designar
situações específicas, geralmente em ambiente escolar, de abusos sistemáticos,
no intuito de intimidar, humilhar e segregar criança ou adolescente, por parte
de um grupo majoritário. Fora desse contexto, não há porque usar, já que a
língua portuguesa possui dezenas de palavras equivalentes. Se fosse para usar,
então, as paniquetes sofriam bullyng dos horroristas
do mencionado programa de TV; Arthur, não. Arthur é vítima, sim, como todos nós,
da série ininterrupta de constrangimentos indistintos da vida cotidiana, massificada
e forjada pela lógica excludente do sistema político, econômico e social
decadente.
Por
tudo isso o Coringa é o filme do ano, porque deu o que falar. Fala diretamente
sobre o nosso tempo, da nossa vida em sociedade. Mas cuidado, Gotham City não é
uma alegoria do mundo moderno. Na verdade é o inverso, é a realidade que se
torna cada vez mais parecida com uma história em quadrinhos. Essa é a lição do
Coringa. A cena sombria no final do filme com o menino Bruce Wayne, o Batman no
futuro, é a deixa para o Coringa 2.
Tendo em vista seu histórico infantil traumático, o que se esperar do Batman, a
não ser um vingador psicopata, que defende a manutenção de um sistema perverso
que produz Coringas e Batmans a cada esquina?
“O
que você acontece quando se cruza com um doente mental solitário, numa
sociedade que o abandona e o trata como lixo?” (Coringa).
O
maior mérito do filme Coringa é o seu demérito, a saber, questionar o
maniqueísmo ingênuo num gênero de filme em que os valores são absolutos. “O
sistema que sabe tudo decide o que é certo ou errado” (Coringa). Acabamos por
nos colocar no lugar do Coringa porque ele se coloca no nosso. E ao nos
colocarmos no lugar do Coringa descobrimos que o dilema barbárie ou civilização
é um jogo de palavras vazias e o progresso técnico-científico não implicou na
emancipação do ser humano do estado de natureza. Somos seres sedentos de sangue
e é isso que incomoda tanto os críticos do Coringa. Se em pleno século XXI,
voltássemos com os espetáculos mortais de gladiadores, as arenas estariam
cheias novamente. Se hoje tornássemos a jogar aos leões e tigres adeptos de
alguma religião – religiões afros, por exemplo –, os ingressos de um Maracanã
estariam esgotados com antecedência.
Numa
alcateia, ovelha não reivindica direito. Não há mais utopias. Não há esperança.
Ecce homo.
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Pintura de Antonio Ciresi |
Não
ia terminar o texto assim, tão baixo astral. Deixei a crítica me guiar pelo
enredo do filme e fiz muitas concessões. Ainda sou bastante otimista e acredito
que a humanidade pode, sim, superar os grandes obstáculos que se interpõem em
nosso tempo. Ao nos colocarmos no lugar do Coringa, compreendemos os seus motivos,
o que não significa que avalizamos seus atos. O único antídoto contra o Coringa
não é o seu irmão gêmeo Batman e, sim, dar
a outra face e nunca atirar a
primeira pedra. Mas está cada vez mais difícil ser cristão em um mundo como
o nosso, apesar da proliferação sem precedentes de igrejas cristãs, algo
paradoxal. No fundo, o paciente exercício de dar a cara à tapa e jamais atirar
uma pedra transcende a esfera religiosa tornando-se imperiosa regra prática
e moral do convívio social. Tentar entender porque alguém lhe trata com ofensa
é também se colocar no lugar do outro, um exercício genuíno de empatia. Como
diria o moralista francês La Rochefoucauld, quem conhece perdoa.
NOTAS
Em
tempo 1: Ao terminar de escrever a crítica, foi surpreendido com uma declaração
do diretor Todd Phillips dizendo que o Coringa não matou Sophie e sua filha.
Desde quando filme precisa de bula? Ora, a versão do diretor nega
peremptoriamente a linguagem cinematográfica do próprio filme! A explicação é
estarrecedoramente simplista: o Coringa só faz mal àqueles que lhe fazem mal. O
que, se de um lado confirma a minha tese, por outro torna o Coringa óbvio
demais ou até mesmo “bonzinho”, guardadas às devidas proporções, obviamente.
Tais vacilos não podem contaminar a sequência do Coringa, senão a continuação
estará fadada a um voo de galinha.
Em
tempo 2: Na sequência da série, Batman e Robin podiam formar um casal gay.
Em
tempo 3: Em outubro do ano passado, manifestantes saíram às ruas fantasiados de
Coringa em protestos nas cidades de Santiago, no Chile, Beirute, no Líbano, e
em Hong Kong, conforme noticiou a imprensa.
Em
tempo 4: Ecce homo, do latim, “eis o
homem”. A expressão aparece nos Evangelhos. O governador Pôncio Pilatos, não
encontrando culpa em Jesus, volta-se aos sacerdotes e diz: “Aqui está o homem”.
Aqueles se mantêm irresolutos: “Crucifica-o”. Para evitar a pena, Pilatos ainda
reinstitui um antigo costume de libertar um prisioneiro na véspera da Páscoa,
deixando o julgamento para a decisão do povo. Reunida em assembleia popular, a
multidão votou democraticamente pela libertação de Barrabás e condenou Cristo.
“Que mal fez Jesus?”, indagou o governador. Voto vencido, Pilatos se desincumbiu
da responsabilidade da sentença por meio do gesto simbólico de lavar as mãos do
sangue de Jesus: “Lavo as minhas mãos”. Ecce
homo acabou se tornando um juízo de valor para designar a natureza humana,
que seria baixa e corrupta.
Em
tempo 5: Ecce homo também é o título
do último livro do filósofo alemão Friedrich Nietzsche.
Jean
Pires de Azevedo Gonçalves é autor do livro “A saga de um andarilho pelas
estrelas”.
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