O cristianismo é uma das grandes religiões monoteístas abraâmicas, tendo por origem, portanto, a tradição judaica. Porém, o cristianismo representa uma ruptura com o judaísmo em pelo menos três aspectos fundamentais:
- Quanto à natureza de Deus: os judeus creem na unicidade do ente divino; os cristãos, na Santíssima Trindade;
- Enquanto o judaísmo é uma
religião nacional (restrita aos judeus), o cristianismo é uma religião
universal, congregando a todos os que aceitam o batismo, inclusive os gentios
(pagãos);
- Como se viu no tópico judaísmo, os judeus ainda esperam a
chegada do Messias; já o cristianismo se funda na fé de que Jesus de Nazaré, o
Cristo, foi por Deus “Ungido”, isto é, do hebraico מָשִׁיחַ (Māšîaḥ), traduzido
para o grego por Χριστός (Khristós);
- Para o cristianismo, a Graça
– a crença de que Jesus Cristo é o cordeiro de Deus sacrificado para redimir
os pecados da humanidade – é mais importante que o cumprimento da Lei – aliás,
para o judaísmo, os gentios só devem seguir os Dez Mandamentos e não o vasto
regramento específico apenas para os judeus.
A Graça é um dom, um
presente que Deus dá aos cristãos pela fé no Salvador:
“Porque o pecado não terá
domínio sobre vós; pois não estais debaixo da Lei, e sim da Graça” (Romanos
6.14).
“Sabemos que ninguém é
justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós
também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não
pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado”
(Gálatas 2.16).
Isso não significa que Jesus
revogou toda a Lei de Moisés, pois Ele próprio a observava e na célebre passagem do
Jovem Rico recomenda a este que assim o faça. Mas, acima de tudo, mais importante é
aceitação do amor de Jesus, o Redentor.
“‘Se você quer entrar na vida [eterna], obedeça aos mandamentos’. ‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. (...) ‘Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me’” (Mateus 19:17-21).
A história de Jesus Cristo
se passa durante a dominação de Roma no Oriente Médio. No ano 63 a.C., Pompeu
se apoderou da Palestina e o senado romano elegeu Herodes, o Grande, rei da
Judeia (34 a.C. até 4 a.C). Mais tarde, a Judeia foi dividida entre os filhos
do rei (Antípater, Alexandre, Aristóbulo, Filipe, Herodes Filipe, Herodes Arquelau
e Herodes Antipas, o Tetrarca) e depois confiada à administração de
governadores romanos, o quinto dos quais foi Pôncio Pilatos (26-30 d.C.).
Jesus Cristo nasceu em
Belém, entre 1-5 a.C., filho de uma virgem, Maria, e do seu esposo, o carpinteiro José, da família de Davi. Naquele tempo, os reis
magos (astrônomos) chegaram do Oriente à Jerusalém; seguiam uma estrela que indicava
o local onde nasceria o novo rei dos judeus. Encontraram o recém-nascido Jesus
numa manjedoura e o adoraram.
Herodes, o Grande, ficou
bastante preocupado com os rumores de um novo rei e ordenou a matança dos pequenos inocentes, passagem
dos Evangelhos que narra o infanticídio ocorrido em Belém.
Antes disso, porém, José
sonhou com um anjo que o avisou sobre a intenção do rei em matar o menino
Jesus. Ele, a criança e Maria fogem para o Egito e só retornaram à Judeia quando
o anjo assim os recomendou.
Depois de um período de 30
anos de vida retirada, Jesus retorna e anuncia o Novo Mandamento ou as Boas
Novas – os Evangelhos, do grego ευαγγέλιον,
euangelion (“eu-”, bom, “-angelion”,
mensagem) – passando, então, a pregar as bem-aventuranças (bem-aventurados
os pobres, os perseguidos etc.).
Jesus Cristo teve doze
apóstolos, Simão Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, um
segundo Tiago, Judas Tadeu, Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes (este foi quem traiu Jesus).
Sua doutrina, em essência, versa sobre um
amor sem reservas:
“O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros,
assim como eu vos amei” (João 15: 12) e
“Ouvistes que foi dito:
Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a
vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e
orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso
Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e
a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5: 43-45).
O amor ao próximo, sem
distinção, é a grande novidade do cristianismo e a primeira evocação do ideal
de igualdade a ultrapassar os limites restritos de algumas especulações filosóficas:
“Não há judeu nem grego; não
há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus” (Gálatas 3.28).
Numa época em que a mulher
era tida como impura do ponto de vista litúrgico e colocada à margem da vida
pública, Jesus ensinou as Escrituras a mulheres (algo proibido), tomou Maria Madalena como discípula e permitiu que uma prostituta lavasse seus pés.
Jesus Cristo também pregou o
livre-arbítrio, a liberdade das pessoas perante as suas escolhas e também nas
relações com Deus. Mas a condição para a liberdade deveria provir da busca da
perfeição e da caridade com Deus e com o próximo, tendo em vista a pobreza, a castidade e a obediência,
desde que sinceras e assentidas com o coração puro e alegre.
Muitas e minuciosas regras seguidas e elaboradas pelos escribas judeus não eram aprovadas por Jesus, fato que o fez entrar em conflito com os sacerdotes do Templo, os fariseus.
Entre muitas delas, a Lei de
Moisés ordenava o apedrejamento em caso de adultério. Jesus Cristo é
questionado pelos sacerdotes se uma mulher que acabara de ser pega em
flagrante adultério deveria ser apedrejada, como determinava a Lei. Jesus
responde: “Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”. Um a um, a multidão
soltou as pedras e foi embora. Jesus pergunta: “’Mulher, onde estão eles?
ninguém te condenou?’ Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor’”. Então, Jesus disse: “Nem eu te
condeno. Vai e não tornes a pecar”.
Jesus Cristo também criticava a riqueza dos poderosos e a corrupção dos fariseus e expulsou os vendilhões que profanavam o Templo com o comércio. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6:24). Assim foi criando muitos inimigos, que passaram a conspirar contra Ele.
Durante sua vida, Jesus
Cristo ensinou nas sinagogas e operou muitos milagres por suas andanças. Depois
de ressuscitar Lázaro, os fariseus decidiram matá-lo.
Jesus foi preso na Páscoa e
julgado pelos sacerdotes no Sinédrio, onde foi condenado por blasfemar,
profanar o sábado e ser um falso profeta.
“O sumo sacerdote lhe tornou
a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? E
Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do
poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Marcos 14:61-62)
Levado aos romanos, Pôncio Pilatos não encontra motivos para condenar o Cristo, mas seguindo uma tradição durante a Páscoa deixa o povo julgar. Jesus é condenado e crucificado, para assim, num plano mais elevado, espiar os pecados da humanidade. No terceiro dia depois de sua morte, ressuscita. Seu reino não era na terra mas o dos Céus.
O apóstolo Saulo de Tarso (São Paulo), judeu com cidadania romana, foi o grande evangelizador do cristianismo no século I da Era Cristã, ensinando a muitos povos de diversas etnias e sobrepondo-se à concepção judaizante de Pedro. No entanto, Pedro é considerado o primeiro Papa da história pelos católicos.
Igreja
Católica Apostólica Romana
Em três séculos, apesar das
perseguições, o cristianismo se tornou a religião do império romano. Depois da
queda de Roma, tem início a evangelização e conversão dos povos bárbaros e
pagãos da Europa. Do período que vai de 500 até 1500, a chamada Idade Média, o
cristianismo forjou os alicerces da civilização ocidental. Na modernidade, seus
valores se espalharam por todo o mundo.
Desde os primeiros séculos
do cristianismo, houve homens e mulheres que, adorando a pessoa de Jesus Cristo,
se esforçaram por imitá-lo. São os Santos. Mas não era uma tarefa fácil. Jesus
deu a face aos inimigos, suportou as mais duras penas de seus sequazes, como a
humilhação e a tortura cruel, e ainda assim os amou e os perdoou.
Para os católicos, o culto e reverência aos Santos é importantíssimo, sendo o maior deles a Santa Maria, mãe de Deus.
Na doutrina cristã formulada
pelos Pais da Igreja através da exegese dos Evangelhos e textos sagrados é fundamental a
doutrina da Santíssima Trindade: um só Deus em três pessoas iguais e distintas:
Pai, Filho e Espírito Santo. A vinda de Deus sobre a terra. Cristo fala à
inteligência, ao coração e à vontade dos fiéis. Sobre a influência do Espírito Santo,
surge uma nova sociedade: a Igreja.
Nesta nova sociedade, os
homens e mulheres entram em uma nova relação com Deus e se tornam seus filhos
mediante a Graça. Na Igreja de Cristo, o fiel conhece claramente a sua finalidade (Deus)
e os meios para a atingir (mandamentos, sacramentos, obediência ao Papa e aos
bispos).
A Igreja Católica é a sociedade de todos os fiéis que professam a mesma fé cristã e participam dos mesmos sacramentos, sob a autoridade dos legítimos pastores, especialmente o Papa. A Igreja católica se liga ao Antigo Testamento, ao Novo e aos Pais da Igreja dos primeiros séculos e da Idade Média (Patrística e Escolástica).
Os batizados na Igreja Católica
formam o povo de Deus. Mas os não batizados também pertencem à Igreja, pois
também foram remidos por Cristo e por isso chamados a entrar em seu rebanho.
Portanto, a Igreja é:
Una: porque há uma unidade
de fé, de culto e de governo.
Santa: porque nela se atinge
a perfeição indicada por Cristo aos seus seguidores.
Católica (Universal): porque
tende a se estender a todos os homens (daí o seu espírito missionário).
Apostólica: porque Deriva
direta e ininterruptamente dos Apóstolos.
Romana: porque governada e
dirigida pelo Papa, Vigário de Cristo, que habita em Roma (Vaticano).
Num certo sentido, a Igreja
é o corpo de Cristo, do qual Jesus é a cabeça e os fiéis, os membros.
A Bíblia Sagrada dos cristãos é composta pelo Antigo Testamento e o Novo Testamento.
As principais festas católicas são a Páscoa e o Natal.
Com o tempo, o cristianismo
se dividiu em três grandes correntes. Nos próximos artigos da série trataremos
da Igreja Ortodoxa e Igreja Protestante.
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