segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Cristianismo - Série Religiões

O cristianismo é uma das grandes religiões monoteístas abraâmicas, tendo por origem, portanto, a tradição judaica. Porém, o cristianismo representa uma ruptura com o judaísmo em pelo menos três aspectos fundamentais:

Jesus Cristo pregando

- Quanto à natureza de Deus: os judeus creem na unicidade do ente divino; os cristãos, na Santíssima Trindade; 

- Enquanto o judaísmo é uma religião nacional (restrita aos judeus), o cristianismo é uma religião universal, congregando a todos os que aceitam o batismo, inclusive os gentios (pagãos);

- Como se viu no tópico judaísmo, os judeus ainda esperam a chegada do Messias; já o cristianismo se funda na fé de que Jesus de Nazaré, o Cristo, foi por Deus “Ungido”, isto é, do hebraico מָשִׁיחַ (Māšîaḥ), traduzido para o grego por Χριστός (Khristós);

- Para o cristianismo, a Graça – a crença de que Jesus Cristo é o cordeiro de Deus sacrificado para redimir os pecados da humanidade – é mais importante que o cumprimento da Lei – aliás, para o judaísmo, os gentios só devem seguir os Dez Mandamentos e não o vasto regramento específico apenas para os judeus.

A Graça é um dom, um presente que Deus dá aos cristãos pela fé no Salvador:

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da Lei, e sim da Graça” (Romanos 6.14).

“Sabemos que ninguém é justificado pela prática da Lei, mas mediante a fé em Jesus Cristo. Assim, nós também cremos em Cristo Jesus para sermos justificados pela fé em Cristo, e não pela prática da Lei, porque pela prática da Lei ninguém será justificado” (Gálatas 2.16).

Isso não significa que Jesus revogou toda a Lei de Moisés, pois Ele próprio a observava e na célebre passagem do Jovem Rico recomenda a este que assim o faça. Mas, acima de tudo, mais importante é aceitação do amor de Jesus, o Redentor.

“‘Se você quer entrar na vida [eterna], obedeça aos mandamentos’. ‘Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe’ e ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. (...) ‘Se você quer ser perfeito, vá, venda os seus bens e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos céus. Depois, venha e siga-me’” (Mateus 19:17-21).

A história de Jesus Cristo se passa durante a dominação de Roma no Oriente Médio. No ano 63 a.C., Pompeu se apoderou da Palestina e o senado romano elegeu Herodes, o Grande, rei da Judeia (34 a.C. até 4 a.C). Mais tarde, a Judeia foi dividida entre os filhos do rei (Antípater, Alexandre, Aristóbulo, Filipe, Herodes Filipe, Herodes Arquelau e Herodes Antipas, o Tetrarca) e depois confiada à administração de governadores romanos, o quinto dos quais foi Pôncio Pilatos (26-30 d.C.).

Jesus Cristo nasceu em Belém, entre 1-5 a.C., filho de uma virgem, Maria, e do seu esposo, o carpinteiro José, da família de Davi. Naquele tempo, os reis magos (astrônomos) chegaram do Oriente à Jerusalém; seguiam uma estrela que indicava o local onde nasceria o novo rei dos judeus. Encontraram o recém-nascido Jesus numa manjedoura e o adoraram.

Herodes, o Grande, ficou bastante preocupado com os rumores de um novo rei e ordenou a matança dos pequenos inocentes, passagem dos Evangelhos que narra o infanticídio ocorrido em Belém.

Antes disso, porém, José sonhou com um anjo que o avisou sobre a intenção do rei em matar o menino Jesus. Ele, a criança e Maria fogem para o Egito e só retornaram à Judeia quando o anjo assim os recomendou.

Depois de um período de 30 anos de vida retirada, Jesus retorna e anuncia o Novo Mandamento ou as Boas Novas – os Evangelhos, do grego ευαγγέλιον, euangelion (“eu-”, bom, “-angelion”, mensagem) – passando, então, a pregar as bem-aventuranças (bem-aventurados os pobres, os perseguidos etc.).

Jesus Cristo teve doze apóstolos, Simão Pedro, Tiago, João, André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, um segundo Tiago, Judas Tadeu, Simão, o Zelote, e Judas Iscariotes (este foi quem traiu Jesus).

Sua doutrina, em essência, versa sobre um amor sem reservas:

“O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (João 15: 12) e

“Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mateus 5: 43-45).

O amor ao próximo, sem distinção, é a grande novidade do cristianismo e a primeira evocação do ideal de igualdade a ultrapassar os limites restritos de algumas especulações filosóficas:

“Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3.28).

Numa época em que a mulher era tida como impura do ponto de vista litúrgico e colocada à margem da vida pública, Jesus ensinou as Escrituras a mulheres (algo proibido), tomou Maria Madalena como discípula e permitiu que uma prostituta lavasse seus pés.

Jesus Cristo também pregou o livre-arbítrio, a liberdade das pessoas perante as suas escolhas e também nas relações com Deus. Mas a condição para a liberdade deveria provir da busca da perfeição e da caridade com Deus e com o próximo, tendo em vista a pobreza, a castidade e a obediência, desde que sinceras e assentidas com o coração puro e alegre.

Muitas e minuciosas regras seguidas e elaboradas pelos escribas judeus não eram aprovadas por Jesus, fato que o fez entrar em conflito com os sacerdotes do Templo, os fariseus.

Entre muitas delas, a Lei de Moisés ordenava o apedrejamento em caso de adultério. Jesus Cristo é questionado pelos sacerdotes se uma mulher que acabara de ser pega em flagrante adultério deveria ser apedrejada, como determinava a Lei. Jesus responde: “Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou”. Um a um, a multidão soltou as pedras e foi embora. Jesus pergunta: “’Mulher, onde estão eles? ninguém te condenou?’ Respondeu ela: 'Ninguém, Senhor’”. Então, Jesus disse: “Nem eu te condeno. Vai e não tornes a pecar”.

Jesus Cristo também criticava a riqueza dos poderosos e a corrupção dos fariseus e expulsou os vendilhões que profanavam o Templo com o comércio. “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e ao Dinheiro” (Mateus 6:24). Assim foi criando muitos inimigos, que passaram a conspirar contra Ele.

Durante sua vida, Jesus Cristo ensinou nas sinagogas e operou muitos milagres por suas andanças. Depois de ressuscitar Lázaro, os fariseus decidiram matá-lo.

Jesus foi preso na Páscoa e julgado pelos sacerdotes no Sinédrio, onde foi condenado por blasfemar, profanar o sábado e ser um falso profeta.

“O sumo sacerdote lhe tornou a perguntar, e disse-lhe: És tu o Cristo, Filho do Deus Bendito? E Jesus disse-lhe: Eu o sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Marcos 14:61-62)

Levado aos romanos, Pôncio Pilatos não encontra motivos para condenar o Cristo, mas seguindo uma tradição durante a Páscoa deixa o povo julgar. Jesus é condenado e crucificado, para assim, num plano mais elevado, espiar os pecados da humanidade. No terceiro dia depois de sua morte, ressuscita. Seu reino não era na terra mas o dos Céus. 

O apóstolo Saulo de Tarso (São Paulo), judeu com cidadania romana, foi o grande evangelizador do cristianismo no século I da Era Cristã, ensinando a muitos povos de diversas etnias e sobrepondo-se à concepção judaizante de Pedro. No entanto, Pedro é considerado o primeiro Papa da história pelos católicos.

Igreja Católica Apostólica Romana

Em três séculos, apesar das perseguições, o cristianismo se tornou a religião do império romano. Depois da queda de Roma, tem início a evangelização e conversão dos povos bárbaros e pagãos da Europa. Do período que vai de 500 até 1500, a chamada Idade Média, o cristianismo forjou os alicerces da civilização ocidental. Na modernidade, seus valores se espalharam por todo o mundo.

Desde os primeiros séculos do cristianismo, houve homens e mulheres que, adorando a pessoa de Jesus Cristo, se esforçaram por imitá-lo. São os Santos. Mas não era uma tarefa fácil. Jesus deu a face aos inimigos, suportou as mais duras penas de seus sequazes, como a humilhação e a tortura cruel, e ainda assim os amou e os perdoou.

Para os católicos, o culto e reverência aos Santos é importantíssimo, sendo o maior deles a Santa Maria, mãe de Deus.

Na doutrina cristã formulada pelos Pais da Igreja através da exegese dos Evangelhos e textos sagrados é fundamental a doutrina da Santíssima Trindade: um só Deus em três pessoas iguais e distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. A vinda de Deus sobre a terra. Cristo fala à inteligência, ao coração e à vontade dos fiéis. Sobre a influência do Espírito Santo, surge uma nova sociedade: a Igreja.

Nesta nova sociedade, os homens e mulheres entram em uma nova relação com Deus e se tornam seus filhos mediante a Graça. Na Igreja de Cristo, o fiel conhece claramente a sua finalidade (Deus) e os meios para a atingir (mandamentos, sacramentos, obediência ao Papa e aos bispos).

A Igreja Católica é a sociedade de todos os fiéis que professam a mesma fé cristã e participam dos mesmos sacramentos, sob a autoridade dos legítimos pastores, especialmente o Papa. A Igreja católica se liga ao Antigo Testamento, ao Novo e aos Pais da Igreja dos primeiros séculos e da Idade Média (Patrística e Escolástica).

Os batizados na Igreja Católica formam o povo de Deus. Mas os não batizados também pertencem à Igreja, pois também foram remidos por Cristo e por isso chamados a entrar em seu rebanho.

Portanto, a Igreja é:

Una: porque há uma unidade de fé, de culto e de governo.

Santa: porque nela se atinge a perfeição indicada por Cristo aos seus seguidores.

Católica (Universal): porque tende a se estender a todos os homens (daí o seu espírito missionário).

Apostólica: porque Deriva direta e ininterruptamente dos Apóstolos.

Romana: porque governada e dirigida pelo Papa, Vigário de Cristo, que habita em Roma (Vaticano).

Num certo sentido, a Igreja é o corpo de Cristo, do qual Jesus é a cabeça e os fiéis, os membros.

A Bíblia Sagrada dos cristãos é composta pelo Antigo Testamento e o Novo Testamento.

As principais festas católicas são a Páscoa e o Natal.

Com o tempo, o cristianismo se dividiu em três grandes correntes. Nos próximos artigos da série trataremos da Igreja Ortodoxa e Igreja Protestante.

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