O poeta grego Homero teria nascido em Esmirna ou na
ilha de Quios, no século IX a.C., e é tido como o autor da Ilíada e Odisseia. Sua
vida está envolta por inúmeros mistérios e lendas, inclusive, a de que era
cego. A poesia homérica era recitada em quase todas as ocasiões festivas,
constituindo-se fundamentalmente em uma referência étnica, estética e ética da
sociedade grega. Suas epopeias constituem o mito fundador da Grécia,
perpassando por toda Era Helenística. Além de estabelecerem um marco inicial da
literatura ocidental, os poemas também formam um importante registro de fatos
históricos da Grécia arcaica, evidentemente, sob a perspectiva da religião e do
mito. O universo mitológico de Homero, enquanto sistematização pedagógica, será
objeto de oposição, principalmente, pela filosofia socrático-platônica, do
século V a.C. ao século IV a.C. Alguns estudiosos negam que Homero tenha
existido de fato; outros acreditam que ele compilou poesias populares que eram
transmitidas oralmente de geração após geração. A despeito das controvérsias em
torno da pessoa de Homero, toda a poesia épica ocidental, da Eneida, de Virgílio, aos Os Lusíadas, de Camões, ou ao Ulisses, de Joyce, entre outros autores,
tem em sua figura uma fonte de inspiração.
Max
Weber (Karl Emil Maximilian Weber) foi um economista, jurista
e sociólogo alemão do limiar do século XX, sendo considerado, juntamente com
Karl Marx e Émile Durkheim, um dos fundadores das ciências sociais e cujas
obras fundamentais são: A Ética protestante
e o espírito do capitalismo (1905), A
política como vocação/A ciência como vocação (1919), A sociologia da religião (1921), Economia e sociedade (vol. 1 e vol. 2) (1922), Metodologia das ciências Sociais (1922) e História geral da econômica (1923). Wber iniciou sua trajetória intelectual
como um marxista mas, com o tempo, acabou por assumir uma posição metodológica
radicalmente contrária. Para Weber, a sociologia deve compreender a ação social, a partir da interpretação
da ação individual em consonância com outros indivíduos, e, assim, explicar os
nexos causais e efeitos sobre a sociedade. Por isso, a sociologia weberiana é
denominada compreensiva, isto é,
baseada na compreensão das ações dos indivíduos no âmbito das esferas sociais,
tendo em vista a reconstituição do
sentido subjetivo original da ação social através das formas de relação entre os
sujeitos. O método deve estabelecer tipos
ideias que devem se ajustar a realidade social, ainda que de maneira
relativa. Ao nível da análise categórica, Weber formulou quatro tipos de ação sócia:
1) ação social racional com relação a fins; 2) ação social racional com relação
a valores; 3) ação social afetiva; 4) ação social tradicional. Com base nessa
tipologia, Weber desenvolve sua famosa teoria da dominação, na qual o poder se
legitima por meio de três formas fundamentais: carismática ou afetiva; tradicional
ou consuetudinária; e legal ou burocrática. Há uma certa teleologia na
sociologia werberiana, na medida em que postula uma tendência à racionalização
progressiva da sociedade até a modernidade. Daí a importância que ocupa a
religião na obra de Weber. Para se contrapor a Marx, realizou estudos de
história comparada para descobrir o que havia de originalmente peculiar na
sociedade ocidental para explicar o surgimento do capitalismo. Weber identifica
nas seitas do protestantismo esse diferencial: um ascetismo intramundano que
permitiu ao devoto religioso, graças ao conceito de obra cristã, isto é, o cumprimento
da vontade Deus, acumular capital para depois investi-lo. Max Weber também
desempenhou uma importante participação política nas conferências do Tratado de
Versalhes (1919) e na Constituição da República de Weimar (1919).
Sociologia em Homero
A cultura micênica na metrópole grega pressupunha, pelo menos em
Tirinto e Micenas, uma realeza patrimonial baseada em trabalho forçado, de
caráter oriental, ainda que de dimensões bem menores. Sem a utilização dos
serviços obrigatórios dos súditos, são inimagináveis as grandes construções,
sem par até a época clássica. Nas margens do círculo da cultura helênica
daquela época, do lado do Oriente, parece até haver existido uma administração
que usava um sistema gráfico próprio, no estilo egípcio, para fazer contas e
organizar listas, tratando-se, portanto, de uma espécie de administração de
armazém de caráter patrimonial-burocrático, enquanto mais tarde, ainda na época
clássica, a administração de Atenas realizava-se quase completamente de forma
oral, e não escrita. Da mesma maneira que aquele sistema gráfico desapareceu,
esta cultura, baseada em trabalho forçado, também se extinguiu. A Ilíada
menciona em seu catálogo de navios reis hereditários que dominam extensos
territórios, dos quais cada um abrange várias localidades mais tarde conhecidas
como cidades, originalmente todas elas concebidas como castelos, estando um
soberano, como Agamêmnon, disposto a conceder algumas delas em feudo a Aquiles.
Em Tróia, o rei tinha ao seu lado, como conselheiros, os anciões de casas
nobres, livres do serviço militar devido à idade. Heitor é considerado o rei
guerreiro, enquanto se recorre a Príamo para fechar contratos. Um documento
escrito, mas talvez apenas composto de símbolos, é mencionado apenas uma única
vez. De resto, todas as condições excluem completamente a existência de uma
administração baseada em trabalho forçado ou de uma realeza patrimonial. Esta
tem caráter gentilício-carismático. Mas também o forasteiro Enéias pode nutrir
esperanças de assumir o cargo de Príamo depois de matar Aquiles, pois a realeza
é considerada uma "dignidade" com caráter de cargo, e não uma
propriedade. O rei é o comandante do exército e participa no tribunal junto com
os nobres, é representante diante dos deuses e dos homens, dotado de terras
reais, exercendo, porém, particularmente na Odisseia, um poder semelhante ao de
um chefe local, baseado em influência pessoal, não em autoridade regulamentada.
Também a expedição guerreira, quase sempre marítima, tem para as linhagens
nobres mais o caráter de uma aventura empreendida pelo séquito do que o de uma
campanha obrigatória: os companheiros de Ulisses são chamados hetaíroí, bem
como mais tarde o séquito real macedônico. A longa ausência do rei não é
considerada uma fonte de inconvenientes sérios: em Ítaca, já não existe mais
rei nenhum. Ulisses deixou sua casa aos cuidados de Mentor, que nada tem a ver
com a dignidade real. O exército é um exército cavalheresco, os duelos decidem
a batalha. A infantaria perde toda importância. Em algumas partes dos poemas
homéricos, aparece no mercado político das cidades: se Ismaros é chamado polis,
isto poderia significar "castelo", mas em todo caso trata-se do
castelo não de um indivíduo, mas dos Cícones. No escudo de Aquiles estão
sentados os anciões - dos clãs de honoratíores que se destacam pela propriedade
e pelos méritos militares - no mercado e pronunciam sentenças; o povo, como
plateia do tribunal, acompanha com aplauso os discursos das partes. A queixa de
Telêmaco torna-se objeto de uma discussão, organizada pelo arauto, entre os
honoratíores aptos para o serviço militar. Os nobres, inclusive os reis,
dependendo das circunstâncias, são senhores territoriais e proprietários de
navios, saindo para a batalha em carros de guerra. Mas somente quem reside na
polis tem participação no poder. O fato de que o rei Laertes se retirou à sua
quinta significa que está aposentado. Como também entre os germanos, os filhos
das linhagens de honoratíores participam como séquito (hetaíroí) nas aventuras
de um herói - na Odisseia, nas do filho do rei. Entre os feacos, a nobreza
atribui a si mesma o direito de fazer o povo participar nas despesas para os
presentes aos hóspedes. Em nenhum lugar se diz que todos os moradores do campo
eram considerados dependentes ou servos dos nobres residentes na cidade, apesar
de nunca serem mencionados camponeses livres.
O tratamento da figura do Tersites prova, em todo caso, que também
o guerreiro comum - isto é, que não sai para a campanha no carro de guerra -
ousa, ocasionalmente, falar contra os senhores, só que isto é considerado
atrevimento. Mas também o rei faz trabalhos domésticos, monta sua cama e cava o
jardim. Seus companheiros guerreiros remam eles mesmos. Por outro lado, podem
os escravos comprados esperar obter um kleros: ainda não existe, como mais
tarde em Roma, a extrema diferença entre os escravos comprados e os clientes
com terras concedidas. As relações são patriarcais, a economia de subsistência
satisfaz todas as necessidades normais. Os navios próprios servem para a
pirataria, o comércio é passivo, cujos portadores ativos são, naquela época,
ainda os fenícios. Além do "mercado" e da residência urbana da
nobreza, existem dois fenômenos importantes: por um lado o agón, que mais tarde
dominará a vida inteira, nascido, como é natural, do conceito de honra
cavaleiroso e do treinamento militar dos jovens nos campos de exercício.
Externamente organizado, encontramo-lo, sobretudo, no culto fúnebre aos heróis
de guerra (Patroklos). Ele domina já naquela época a condução da vida da
nobreza. Por outro lado, apesar de toda deísídemonía, há a relação totalmente
despreocupada com os deuses, cujo tratamento poético mais tarde Platão sente
como constrangedor. Esta falta de respeito da companhia heroica somente podia
nascer como consequência de migrações, particularmente as ultramarinas, em
regiões onde não tinham que conviver com antigos templos e túmulos. Enquanto a
cavalaria aristocrática da polis de linhagens históricas falta nos poemas
homéricos, parece que mencionam, o que é muito estranho, a luta dos hoplitas,
mais tarde disciplinada e organizada em fileiras: uma prova de que épocas
diferentes deixavam suas marcas na poesia.
Até o desenvolvimento da tirania, o tempo histórico conhece, fora
de Esparta e poucos outros exemplos (Cirene), a realeza gentílfcío-carisrnática
somente em resíduos ou pela lembrança (isto em muitas cidades da Hélade e na
Etrúria, no Lácio e em Roma), sempre como realeza sobre uma única polis, também
então de caráter gentilício-carismático, com competências sacras, mas, de
resto, com exceção de Esparta e da tradição romana, dotada apenas de privilégios
honoríficos diante da nobreza, às vezes também chamada "reis". O
exemplo de Cirene mostra que também aqui o rei devia a fonte de seu poder, seu
tesouro, ao comércio intermediário, seja na forma de comércio próprio, seja na
de controle e proteção remunerados. Ao que parece, o monopólio do rei
quebrantou a luta cavalheiresca, com sua autonomia militar das linhagens
nobres, que mantinham carros de guerra e séquitos e possuíam navios próprios,
depois de haverem decaído também os grandes impérios orientais - tanto o poder
egípcio quanto o hitita, com as quais mantinham relações, e ainda não haverem
surgido outras grandes realezas, como o reino lídio. Isto é, depois de acabar o
comércio monopólico e o Estado baseado em trabalho forçado dos reis orientais,
ao qual correspondia em pequena escala a cultura micênica. Esta ruptura do
fundamento econômico do poder real possibilitou, provavelmente, também a
chamada migração dórica. Iniciaram-se, então, as migrações dos cavaleiros
piratas em direção ao litoral da Ásia Menor, onde Homero ainda não conhece
povoados helênicos e naquela época ainda não existiam fortes associações
políticas e, ao mesmo tempo, começou o comércio ativo dos helenos.
As notícias históricas que começaram naquela época mostram-nos a
típica cidade aristocrática da Antiguidade. Quase sempre era uma cidade
litorânea: até a época de Alexandre e das guerras dos samnitas, não havia
nenhuma polis a mais de uma jornada do mar. Fora do território da polis existia
somente a convivência em aldeias (xwllcn) com uniões políticas pouco estáveis
de "tribos". Uma polis dissolvida por iniciativa própria ou por
inimigos tem seu oikos desfeito e os membros distribuídos em várias aldeias. Ao
contrário, o processo de sinecismo era considerado o fundamento real ou fictício
da cidade: trata-se da convivência, iniciada às ordens do rei ou em virtude de
um acordo de várias linhagens dentro ou em volta de um castelo fortificado.
Este processo também não era totalmente desconhecido na Idade Média: assim, no
caso de Áquila, descrito por Gothein, ou na fundação de Alexandria. Mas sua
essência apresentava-se de forma mais específica na Antiguidade do que na Idade
Média. Não era absolutamente essencial a convivência efetiva permanente: como
as linhagens medievais, as da Antiguidade continuavam, em parte, residindo em
seus castelos rurais ou pelo menos possuíam - e isto constituía a regra - casas
de campo, além de sua sede urbana. (...)
Fragmento extraído do Vol. 2 de WEBER, Max. “Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva”. Brasília: Editora UNB, 2009.
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