quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Os dois meninos

Sistema planetário com personagens se abraçando

Por Nilza Monti Pires

Num lugar bem distante, afastado, longe de tudo, havia uma cidade encantadora e atraente por sua beleza.

Ali morava algumas pessoas ilustres, com suas elegantes e suntuosas casas aconchegantes.

As ruas eram floridas e agradáveis, o chão repleto de delicadas folhas pequenas de várias cores, azuis, rosas, amarelas, multicoloridas, a gente podia até imaginar um lugar irreal, ilusório, exótico e misterioso.

Nesta cidade tem uma famosa escola onde estudavam só meninos que pertenciam à aristocracia, uma classe privilegiada.

Entretanto, entre eles tinha um menino pobre, pois ganhou uma bolsa de estudo totalmente gratuita para estudar naquela escola de elite.

Seu pai um simples marceneiro, um homem humilde, modesto, honrado, trabalhava duro para sustentar a família.

Julinho era um menino amável e meigo, sentia constrangido em frequentar aquela escola tão requintada, sentia estranho naquele ambiente escolar, era diferente dos seus colegas ricos, não conseguia se adaptar naquele meio, por isso que não ia bem nas matérias, só tirava notas baixas.

Sua professora Dona Isaura, uma senhora de cabelos avermelhados, olhar austero, quando falava com Julinho era muito ríspida, não poupava um ar de reprovação por Julinho retardar seus colegas.

Um dia quando voltava da escola, contrariado e desanimado, resolveu andar por andar, e após horas de caminhada, sob o sol intenso, o pensamento longe dos problemas, sentindo o vento suave, batendo em seu rosto, Julinho teve uma sensação de bem-estar, livre, solto como as andorinhas, mas o vento contínuo não tardou a virar um verdadeiro vendaval, que se transformou num aguaceiro, uma chuva forte, um pé d'água.

Julinho se escondeu entre as ramagens bem debaixo de uma árvore gigante, e protegido, atacado por um sono profundo, dormiu ali mesmo, só acordou com um ruído muito estranho, um gemido lento e monótono, e Julinho logo pensou que devia ser o barulho dos galhos secos remexendo, que caíram com a chuva, mas se espantou quando viu um menino vestido com uma roupa de cor prata metálica.

- Quem é você? disse Julinho assustado.

- Ɐ ᴚ ᴥ ᴟ Ẑ ₸ ₸ ¥ Ɐ Ẑ, respondeu o menino.

- O que você está dizendo, não estou entendendo? disse Julinho confuso.

De repente a cabeça do menino começou a iluminar com uma luz tão forte, tão ofuscante, que mal se conseguia enxergar, acendia e apagava, sem interrupção, até que uma hora parou.

- Incrível, como você fez esse truque? disse Julinho.

- Não, não é nenhum truque, tive que fazer meu cérebro funcionar para saber qual língua você falava, fiz uma tradução simultânea.

- Bom, pelo menos agora, estou te entendendo, mas por que você está vestido desse jeito, por acaso está fantasiado? disse Julinho.

- Não é fantasia, é a minha pele.

- Sua pele? falou Julinho rindo.

- É verdade, quando eu nasci, já colocaram essa pele em mim, foi feita sob medida, é uma proteção.

- E essa coisa na sua testa?

Ion mostra o selo

- É um selo, com um nanochip, tem todas as informações que eu preciso, não sou desta terra, sou de um outro planeta.

- De um outro planeta? E onde está o foguete que trouxe você?

- Eu não preciso de uma nave espacial para voar, minha roupa já é uma nave espacial, ela é feita com alta tecnologia, ela é resistente, resiste a qualquer temperatura e também a qualquer pressão.

- Caramba! sua roupa é uma nave espacial?!

- Sim, ela foi feita para isso, cubro minha cabeça e voo.

- Você fica que nem um foguete?

- Sim, fico mais leve que o ar, flutuo no espaço, percorro grandes distâncias em segundos, sou de um planeta que está a milhares de anos adiantado do que a Terra.

- E por que você veio aqui?

- Porque meus pais disseram que os meus antepassados já moraram nesta cidade e eu tive um desejo de conhecê-la, uma simples curiosidade, perguntei a mim mesmo: O que teria naquela cidade?

- Desculpe, mas sua história é difícil de acreditar, parece inverídico.

- Claro que não! Pois preciso da sua ajuda.

- Da minha ajuda?! disse Julinho surpreso.

- Sim, não estou acostumado com essa chuva deste planeta, esse aguaceiro desgrudou um pedaço da minha roupa, e aí não vou poder sair daqui, por isso peço a sua ajuda.

Ion na chuva

- Já sei como posso te ajudar, disse Julinho.

- De que jeito? respondeu o estranho menino.

- Tenho um jeito, meu pai é marceneiro e tem uma cola muito boa, é bem resistente, quer ir lá?

- Claro que quero!

No meio do caminho Julinho perguntou:

- O que você falou com aquela linguagem que eu não entendi nada?

- É o meu nome, fiz a tradução e aqui eu me chamo Ion. E o seu nome, qual é?

- Eu me chamo Julinho e tenho 10 anos e você, qual a sua idade?

- Eu tenho 150 anos, respondeu Ion.

- O quê?! Isso não é possível, ou você é um fantasma?

- No meu planeta vivemos até 300 anos ou mais, somos muito avançados.

- Puxa vida, isso é inacreditável, é impressionante, falou Julinho sem acreditar muito.

Ion deu uma risadinha percebendo a ironia de Julinho.

- Agora já escureceu e a marcenaria do meu pai já está fechada, você, Ion, tem que dormir lá em casa.

- Tudo bem, disse Ion.

E lá seguiram os dois meninos conversando alegremente a caminho da casa de Julinho.

Os doi meninos andando pelo caminho

- Ion, disse Julinho, vamos entrar às escondidas para ninguém perceber, minha mãe, se ela te ver, vai perguntar o que esta coisa grudada na sua testa.

- É melhor mesmo, disse Ion.

Assim que Julinho entrou em casa, a mãe perguntou:

- Que tarde, Julinho, estava preocupada.

- Foi por causa da chuva, tive que me esconder. Mãe, se você tivesse um amigo de 150 anos de idade, o que acharia?

- Hum! meu filho, eu acharia muito legal, mas também muito esquisito.

- Já vou dormir, mãe, amanhã vou levantar cedo para ir à escola.

Assim que sua mãe distraiu-se, Julinho acenou para Ion entrar, e ele entrou sem ninguém ter visto.

- Amanhã, disse Julinho, tenho que ir para escola e, na volta, já trago a cola.

- Obrigado, disse Ion, e os dois foram dormir.

No dia seguinte, Julinho foi para a escola, aborrecido, não queria ir, sentia que era mal visto.

Na escola, a professora Dona Isaura advertiu Julinho:

- Você não vai mais poder ficar nesta escola, está atrasando os seus colegas, amanhã vou fazer uma prova e se você for mal, serei obrigada a tomar sérias providências, então trata de estudar para ir bem, será sua última chance.

Professora passando sermão

Julinho ao sair da escola, estava muito triste, desanimado, como ia contar para seus pais?

E assim Julinho foi buscar a cola na marcenaria do seu pai e perguntou a ele qual era a melhor cola.

Seu pai escolheu uma e disse:

- Esta, Julinho, é a melhor cola do mundo, ela cola tudo.

Julinho agradeceu seu pai com um grande sorriso.

Chegando em casa, logo correu para o quarto onde Ion estava escondido.

- Ion, a cola está aqui!

- Que ótimo! mas que cara é essa, você chorou? Perguntou Ion.

- Sim, vou ser expulso da escola, só tiro notas baixas, eu me sinto humilhado naquela escola.

- Não fica assim, disse Ion, eu sei como te ajudar.

- De que jeito?

- Primeiro, preciso que você me ajude a consertar o rasgo da minha roupa.

- Tá certo, vou medir, calcular e depois colar... Pronto! Já colei, disse Julinho.

- Oba! Parece que colou mesmo, gritou Ion.

- Sim, grudou, colou, gritou Julinho, deu certo!

Julinho ficou tão contente com seu êxito que, assim, os dois amigos se abraçaram.

- Agora, disse Ion, que tal dar umas voltas pelas redondezas, quero ver as paisagens em que um dia meus ancestrais disseram que moraram aqui.

Enquanto Ion passeava pelas ruas, sentia aquele ar familiar; Ion estava maravilhado, sentindo aquele perfume aromático, andando pelas ruas, parecia tudo mágico.

Julinho estava feliz, até esqueceu dos problemas da escola, e já era noite quando voltaram.

No dia seguinte, Julinho estava apreensivo, se não fosse bem na prova, estaria fora da escola.

Julinho está nervoso porque vai fazer prova.

No caminho Julinho disse para Ion.

- Estou com medo.

- Não se preocupe, Julinho, vou passar toda a matéria para você.

- Como vai fazer isto?

- Vou fazer uma conexão do meu cérebro para o seu cérebro e aí te envio as respostas.

- Mas você não vai poder entrar na classe, e como vai saber qual o assunto da prova que professora vai dar?

- Eu não preciso estar presente, meu cérebro capta todos os conhecimentos possíveis.

Julinho mesmo assim ficou temeroso.

Dona Isaura já estava na classe quando o Julinho chegou.

- Hoje vou fazer 10 perguntas e quem tirar nota baixa será levado ao conhecimento da escola.

Todos os alunos olharam para Julinho.

- São dez perguntas bem difíceis, mas para quem estudou é fácil.

Julinho fez a prova bem rápido, foi o primeiro a entregar a prova, e passou algum tempo quando todos entregaram as provas. Dona Isaura passou a corrigir as provas, ficando surpresa com o resultado e, então, falou:

- Quem acertou todas as perguntas foi Julinho!

Todos os alunos ficaram intrigados, curiosos, como ele acertou se ele sempre errava, teria por acaso colado?

Não contente com o resultado Dona Isaura falou:

- Amanhã farei novamente outra prova.

Depois da aula, Julinho e Ion saíram alegres e foram embora satisfeitos e rindo.

Depois houve uma pausa e Ion falou:

- Amanhã, depois de sua aula, preciso ir embora.

Julinho ficou muito triste, mas não podia fazer com que Ion deixasse de rever sua família.

- Vamos dar mais um passeio, estou maravilhado com a cidade, vou avisar a todos que a Terra ainda existe e não foi extinta.

- Por que seus antepassados foram embora? disse Julinho.

- Disseram que ficou muito quente e aí pegaram uma nave espacial e foram embora sem rumo até encontrar um planeta que até hoje eles estão lá.

- Esse planeta é bonito como a Terra?

- Sim, muito bonito, parece muito com a Terra.

No dia seguinte Julinho e Ion foram para escola.

Novamente Dona Isaura falou:

- Desta vez vou fazer umas perguntas mais difíceis.

Todos os alunos reclamaram das perguntas, menos Julinho.

Assim que terminaram, a Dona Isaura foi corrigir e, para seu espanto, Julinho acertou todas e os outros alunos erraram quase tudo.

Dona Isaura deu os parabéns para o Julinho e disse:

- Julinho, gostei muito da sua mudança, espero que continue sempre assim.

Julinho ficou muito feliz com a resposta da professora.

No caminho de volta, Ion falou:

- Tenho que ir embora, Julinho.

- Vou ficar muito triste, você é um grande amigo, mas eu entendo.

- Sei disso, Julinho, você também é um grande amigo, tenho que ir, minha família está lá, mas não se preocupe, vou colocar este selo atrás de sua orelha, com todos conhecimentos de tudo.

- Ah! que bom, muito obrigado, disse Julinho.

- Mas tenho uma coisa que preciso te avisar, este selo com o tempo vai desaparecer.

- Já entendi, disse Julinho, quando o selo sumir, vou ter que agir por conta própria.

- Sim, exatamente, veja essa formiguinha, tem menos de um centímetro e carrega essa folha tão grande, ela está feliz levando o seu alimento para sua casa, tão pequenininha e tão grande a sua força.

E o mesmo acontece com esse casulo, que está nessa planta, e que tem dentro uma lagarta, ela constrói um invólucro, uma proteção, e veja, olha só, ela acabou de sair do casulo, virou uma borboleta, e agora vai voar livremente. Não adianta ficar parado sem se mover uma palha, agora é hora de botar a cuca para funcionar, mãos à obra!

- Gostei bastante da dica, Ion.

- Sabe de uma coisa, disse Ion, você me parece muito familiar.

- Talvez somos primos?!!!

- Seria ótimo saber que você, Julinho, é meu primo.

Julinho deu um sorriso.

- Obrigado, Julinho, você me salvou a vida, lembre-se, você tem um ótimo raciocínio, não sei como agradecer a você, a sua mãe, e diga a seu pai que a cola dele é excelente.

Abraçou Julinho.

Ion e Julinho se abraçando

- Agora tenho que ir, vou sentir muitas saudades, disse, esforçando-se para não chorar, agora também vou virar um casulo, e vou zarpar. Boa sorte aí, Julinho!

E no impulso e de tão rápido, saiu soltando até faíscas, que ofuscaram a vista de Julinho.

E Julinho gritou:

- Boa sorte também, Ion! Acenando para ele com lágrimas nos olhos.

No dia seguinte Julinho foi para a escola sem seu amigo Ion. Temeroso, colocou a mão atrás da orelha e sentiu o selo, e ficou mais confiante.

- Parabéns disse a sisuda professora. Outra vez, você foi bem na prova, acertou tudo.

Julinho se sentiu aliviado e alegre.

E assim passaram os dias quando Julinho percebeu que o selo não estava mais atrás da sua orelha.

E pensou: “Fiquei sem o selo e sem o cérebro de Ion”.

Ficou pensativo, e refletiu sobre as palavras de Ion, mas estava determinado, pois, desta vez, estudou muito.

Chegando na escola a professora Dona Isaura, austera como sempre, deu novamente uma prova, como fazia sempre.

Julinho colocou a mão atrás da orelha para ter certeza de que o selo não estava mais lá. Mas o selo realmente já não estava lá. Leu a prova, respondeu as perguntas e em pouco tempo entregou.

Julinho, disse a professora, com seu olhar severo:

- De hoje em diante você vai representar a escola, sua prova foi impecável, parabéns.

E todos os alunos bateram palmas.

Julinho agradeceu a todos e, ao sair da escola, foi para casa, andando pelo mesmo caminho, satisfeito, e lembrou de Ion com saudades, sentou na mesma árvore gigante, ficou meditando, mas depois foi para casa e encontrou seu pai:

- Agora, pai, sou o representante da escola.

- Parabéns, meu filho, eu sabia das suas qualidades, vamos contar para sua mãe.

Julinho perguntou para seu pai:

- Que cola você me deu naquele dia?

- Foi uma cola simples, uma cola escolar, adequada para crianças da sua idade.

Julinho pensou: apesar de ter 150 anos, Ion também era uma criança.

- Pai, gostaria de viver 300 anos?

- Adoraria, mas é impossível, quem sabe daqui alguns anos ou milhares de anos?

- Que bom, disse Julinho, estou esperançoso, quem sabe um dia encontro novamente com Ion, ia ser muito divertido, eu e ele bem velhinhos, com trezentos anos, passeando pela cidade.

Ilustrações: Sabrina Paloma (face do Ion, Ion na chuva, Julinho e Ion se abraçando, Julinho na árvore e a sala de aula) e professora Paula Vanessa (professora Isaura e paisagem).

Revisão: Diego, professora Paula Vanessa e Jean

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Igreja Ortodoxa - Série Religiões

A Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, também chamada de Igreja Ortodoxa ou Igreja do Oriente, surgiu no contexto histórico conhecido como o primeiro Grande Cisma da Igreja, resultado das divergências entre as igrejas de Roma (Igreja Católica Apostólica Romana) e de Constantinopla, que remontam à divisão entre as capitais, respectivamente do Império Romano do Ocidente e do Oriente, na era de Justiniano I (565). No bojo desse processo, muitos cristãos entendiam que a capital religiosa devia coincidir com a capital civil e, na época, a falta de transporte acessível e comunicação tornavam intransponíveis as diferenças de ordem local.

Igreja Ortodoxo

Portanto, a cisão se deveu mais a fatores políticos do que propriamente teológicos. Do ponto de vista político, a igreja de Constantinopla se recusava a aceitar a autoridade do Papa como chefe de todos os cristãos. Do ponto de vista teológico, algumas diferenças de culto e confissão foram causadas por questões linguísticas relativas à diversidade da língua em relação ao entendimento das escrituras sagradas. Daí que a tradução, muitas vezes equivocada, dos textos doutrinais e litúrgicos do grego para o latim e vice-versa engendrou discórdias e incompreensões que ultrapassaram a esfera da exegese bíblica e da filosofia cristã.

No ano de 867, sucedeu a primeira ruptura durante o patriarcado de Fócio. O cisma oficial ocorreu em 1054 quando Miguel Cerulário era o Patriarca de Constantinopla. Recusando-se a reconhecer a autoridade do Papa, Cerulário fechou as igrejas latinas em sua cidade e na Bulgária, passando a repreender não só o Papa mas também os bispos romanos por certas práticas consideradas heterodoxas, como, por exemplo, usar pão não fermentado para a Eucaristia, jejuar no sábado, comer carne com sangue e, sobretudo, porque a igreja de Roma ensinava que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho (Cláusula Filioque).

Assim, a várias igrejas orientais, que possuíam um rito próprio caracterizado por especificidades étnicas e geográficas e que seguiam o patriarcado de Constantinopla, Jerusalém, Antioquia e Alexandria, também aceiram a separação.

Seguindo o mesmo princípio, Moscou se colocou à frente de uma igreja autóctone (1589), seguida pela Grécia, em 1850, Bulgária, em 1870, Sérvia, em 1879, e Romênia, em 1885.

Houve, no entanto, cisões dentro do cisma, constituindo igrejas dissidentes: nestorianos (Iraque e Síria) e monofisistas (Igreja Copta, Igreja da Etiópia, Igreja Jacobita-Síria, Igreja Malabar-Jacobita e a Igreja Armênia).

A doutrina da Igreja Ortodoxa é quase idêntica a de Roma (Sacramentos, Sacerdócio, Eucaristia). Todavia, os sacerdotes ortodoxos não têm celibato obrigatório, podendo se casar.

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Paul Anka - Pioneiros do Rock'n'Roll

Paul Anka, nascido em 30 de julho de 1941, Ottawa, Canadá, se notabilizou como cantor, compositor e ator, destacando-se como intérprete no estilo de Frank Sinatra e Tony Bennett.

Paul Anka

O mais velho dos filhos de uma família de origem sírio-libanesa, passou a infância ajudando na cozinha do restaurante árabe de seu pai. Mas, desde muito cedo, o sonho do menino eram os palcos.

Ao completar 15 anos, Anka foi morar com um tio em Los Angeles, para tentar a sorte na carreira de cantor nos EUA. Em busca de uma grande chance, mudou-se para Nova Iorque, onde travou contato com Don Costa, um produtor da ABC/Paramount Records, que concordou em ouvir suas composições ao piano. Poucos dias depois, o pai viajava a Nova Iorque para assinar um contrato em nome de seu filho, que ainda era menor de idade.

A gravadora decidiu lançar “Diana", uma canção que Anka escreveu inspirado em uma garota pela qual era apaixonado em Ottawa. Em poucas semanas, a música do jovem de 16 anos estoura e torna-se a mais tocada no mundo. "Diana" vendeu mais de 20 milhões de cópias e Paul Anka se tornou um ídolo adolescente.

Outro destaque foi "My Way", originalmente uma canção francesa ("Comme d'habitude"), de autoria de Claude François. Paul Anka comprou a canção e escreveu uma versão em inglês, famosa na interpretação de Frank Sinatra.

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Demócrito e o átomo - Nonas Filosóficas

Os fundadores da atomística são Leucipo e seu discípulo Demócrito. Não possuímos notícias seguras acerca do primeiro.

Pintura de Johannes Paulus Moreelse

Demócrito, da costa Trácia de Abdera (460-370), empreendeu uma grande viagem de investigação, e tratou nos seus inumeráveis escritos de quase todos os ramos da ciência, desde a matemática e a física até a ética e a política. (Destes escritos, assim como dos escritos dos seus outros predecessores, só nos restam alguns fragmentos, casualmente citados em autores posteriores).

Partilha o princípio fundamental dos eleáticos, segundo o qual a matéria é quantitativa e qualitativamente invariável. Partindo deste princípio, Anaxágoras admitira tantas espécies de substâncias primordiais quantas espécies diferentes de corpos a percepção sensível nos mostra. Os atomistas, por seu lado, admitem a hipótese contrária: a uma única espécie de matéria ou substância fundamental. Esta matéria tem uma única propriedade: a de encher o espaço, a impenetrabilidade. É composta de inúmeros corpúsculos móveis, muitíssimos pequenos (e, portanto, imperceptíveis). São indivisíveis, isto é, átomos; e diferencia-se apenas quantitativamente pela forma (de foice, etc.), grandeza, posição, ordem; são, além disso, inatos e imperecíveis. O ser sólido e simples dos eleáticos se pulverizou em inumeráveis partículas. Ao passo que para os eleáticos o ser é idêntico ao material (o “cheio”), para os atomistas o vazio possui igualmente ser, isto é, existe igualmente o espaço vazio, no qual os átomos se movem eternamente em todas as direções. A diversidade de resistência que os corpos oferecem ao movimento de outros corpos procede de conterem qualidades diferentes de espaço entre os seus átomos. As diferenças entre os diversos estados físicos e as qualidades sensíveis da matéria são explicadas com igual simplicidade. No seu pormenor, estas explicações são sem dúvida pueris muitas vezes, como quando se diz que o sabor amargo provém dos átomos agudos, e o sabor doce de átomos redondos. Porém, o princípio em que todas elas se inspiram é exato: a verdadeira (objetiva) realidade deve ser pensada de tal forma que se “salvem” as suas aparências (fenômenos); quer dizer, não se deve depreciar como vã ilusão (como fazem os eleáticos), mas deve se dar uma explicação dela.

É além disso digno de nota o fato de se ter estabelecido, com a doutrina dos átomos, uma hipótese que (embora não fosse comprovada por uma percepção direta) se mostrou altamente frutuosa na ciência física até os nossos dias (1). Pedro Gassendi (1592-1655), que introduziu os átomos na nova ciência da natureza, partiu do estudo de Epicuro, o qual, a seu turno, já desenvolvera as doutrinas de Demócrito. Mas, sobretudo, a nova ciência da natureza partilha com os atomistas a tendência fundamental para reduzir a variedade qualitativa do mundo, percebido pelos sentidos, a diferenças quantitativas (e, portanto, matematicamente determináveis), de grandeza, forma, posição, movimento, ou, mais exatamente, pretende estabelecer relações fixas e regulares entre ambas as ordens. Só assim é possível uma ciência exata da natureza.

Com isso fica dito que as propriedades sensíveis não pertencem todas às coisas de igual título, ou da mesma maneira (embora admitamos que estejam todas objetivas). Grandezas, formas, movimentos, conjuntos, pertencem às coisas em si mesmas; as cores, sons, sabores, cheiros, etc., só pertencem às coisas enquanto estão em relação com os nossos órgãos dos sentidos, e com a nossa consciência, isto é, com a nossa subjetividade.

A doutrina dos atomistas preparou, portanto, aquela distinção entre as propriedades (pertencentes às coisas “absoluta” ou "relativamente") que estabeleceram explicitamente os fundadores da ciência natural (Galileu, Descartes, Huyghens) e que se tornou popular com Locke (sob o nome de qualidades “primárias” e "secundárias") (1). Pode ver se também nesta doutrina a distinção entre o mundo que “aparece” aos sentidos, eu outro mundo “verdadeiro” (recordando que para Demócrito o pensamento só se distingue dos sentidos pela sua maior precisão e finura). De fato, porém, não se trata de dois mundos, mas deu um só, que umas vezes se manifesta à nossa percepção sensível, e outras, à base dos fenômenos menos sensíveis, apreendido pelo pensar.

Demócrito explica a origem do mundo supondo que os átomos se moviam a princípio no espaço vazio em todas as direções, e depois chocaram uns contra os outros devido às suas formas diversas (com arestas, ganchos, concavidades, etc.), e se ligaram entre si em massas maiores ou menores. Resultaram daqui, a princípio, movimentos em torvelinho que só tem lugar entre átomos de igual forma que tamanho (partículas de água e de ar com outras de água e de ar, respectivamente). Demócrito concebeu, com efeito, a ideia genial de que existe uma infinidade de sistemas cósmicos que se distinguem pela sua grandeza e pelo estágio de sua evolução: uns, em vias de formação; outros, em vias de destruição. Somente, alguns destes mundos não têm habitantes, animais nem plantas, por carecerem da umidade necessária para alimentação.

E nesta ingente engrenagem universal, “nada acontece ao acaso, mas tudo devido a uma razão, sob a pressão de uma necessidade” (2). Deve se, pois, dar à concepção do mundo de Demócrito o nome de “mecanismo”, pois que repele energicamente a hipótese teleológica (3) de um Nous  (Anaxágoras) ordenador do mundo de harmonia com uma finalidade.

É duvidoso que se possa pensar a natureza inteira como puro mecanismo. Demócrito não pôde se libertar inteiramente da ideia primitiva segundo a qual o mundo inteiro é animado. Por isso, só de uma forma restrita se pode dar o nome de “materialismo” a esta concepção. Tampouco encontramos, nela, em toda a sua pureza, o conceito de uma matéria completamente inanimada, puramente passiva, que só de fora recebe o movimento; ainda atua sobre ela a ingênua ideia hilozoísta (§ 2). Os átomos são assim, para Demócrito, os suportes dos acontecimentos psíquicos, especialmente os pequenos, redondos, lisos e móveis, que são os que melhor correspondem à rápida torrente dos pensamentos e dos sentimentos. Procedem do mundo exterior, entram e saem pela respiração, e são destruídos com a morte. Portanto, não existe para Demócrito sobrevivência da alma individual no além-mundo.

Mas também deparamos nestes primeiros “materialistas” com o fato, hoje desconhecido, de que o materialismo teórico (isto é, a crença em que todo o real é material) não necessita de condicionar o materialismo “ético” ou “prático” (a crença em que só tem valor os prazeres e os bens sensíveis e materiais). Pois, embora as concepções teóricas de Demócrito (especialmente a desdivinização do mundo) tivessem encontrado também na antiguidade inimigos violentos, não se tentou contudo diminuir nunca a delicadeza de sentimentos e a admirável grandeza de alma deste sábio. Tal como despoja a terra e o nosso sistema solar de sua posição privilegiada, assim também o põe o seu famoso “sorriso” aos turbulentos e impulsos do homem e à tendência para se considerar como o mais importante. Igualmente não poder dar nada melhor ao ser humano do que a paz interior, a “alegria” (euthymia) que liberta do império dos afetos e da angustiosa a crença nos deuses, nascida unicamente do temor perante os grandiosos fenômenos cósmicos. “Felicidade e desdita se encontram na alma”. “Quem procede injustamente é mais infeliz do que quem padece injustamente”. “Nem só o que vence os seus inimigos é viril, mas também aquele que é senhor dos seus prazeres”. “Todos os países estão abertos ao sábio, porque a pátria da sua alma nobre é o mundo inteiro".

(1) Devemos recordar aqui que Demócrito explica o fato de vermos as coisas sem as tocarmos com os olhos, supondo que existem nas coisas finíssimas partículas que naqueles penetram.

(2) Deste modo se formula pela primeira vez explicitamente a lei de causalidade (instintivamente sempre foi válida e suposta pelos seus predecessores). Diz ele ainda: “Os homens forjaram um fantasma com o acaso, para embelezar a sua própria ignorância”. Portanto, segundo ele não existe “acaso” nenhum.

(3) Da palavra grega thêlos – fim.

(August MESSER, “História da Filosofia”, Editorial Inquérito: Lisboa, 1946 - obra em domínio público).

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