Este sou eu, Jean Fecaloma.
Há mais de um ano, estou vendo o sol nascer quadrado da janela do meu quarto.
Minha rotina se resume em lavar batata, tomar banho de sol (para
fotossintetizar vitamina D), lavar batata, traduzir um livro, lavar batata,
assistir televisão, lavar batata e dormir. Até com personagens de novela tenho
sonhado (assisto desde Malhação até a novela das nove), e pesadelos com o
William Bonner são constantes. Ensaiei os passos de Jerusalema e até álcool gel
em pão eu passei. Sou inocente. Fui condenado por um crime que não cometi. Os
verdadeiros culpados são pessoas, empresas e governos inescrupulosos, que,
interessados apenas em benefício próprio e no lucro pelo lucro, na riqueza sem
limites, têm devastado o meio ambiente, ateado fogo em florestas e áreas de
preservação, caçado animais selvagem, poluído rios e mares, saqueado minérios e
minerais, roubado o que sobrou das terras indígenas, causado pandemias e
destruído o planeta Terra. Toda a humanidade foi condenada pela ganância
irresponsável de quem não respeita a vida nem o futuro. Até quando vamos
aceitar?!!! (“Lembranças de agora de um cárcere privado”, Fecaloma).
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quinta-feira, 15 de abril de 2021
Lembranças de agora de um cárcere privado, por Jean Fecaloma
quinta-feira, 1 de abril de 2021
A história da cachorra abandonada, Violeta
Violeta
As quatro estações do ano
Por Nilza Monti Pires
O sol brilhava naquela manhã
agradável de primavera, as nuvens brancas vagavam macias e leves no céu azul.
A beleza das flores dava o
seu ar colorido, enfeitando a varanda da casa simples, onde vivia uma viúva e
seus três filhos pequenos, no interior de São Paulo, lá pelos lados de
Americana.
Era domingo, o dia amanhecia
com um brilho intenso e dourado, a viúva, dona Norma, e seus três filhos,
Hélio, Raquel e Felipe, estavam reunidos alegremente na pequena varanda que
dava para a frente da rua.
O muro da varanda estava
todo coberto por violetas, flores que ornamentavam todo o ambiente, dando uma
sensação agradável e prazerosa, onde a família se reunia para conversar, trocar
ideias e contar alguns causos. Ali, na varanda, era o lugar de lazer
deles, nos domingos, pois não possuíam nenhum recurso financeiro.
Enquanto conversavam
animadamente, ouviram um farfalhar de folhas no meio das violetas, um som
confuso, despertando a curiosidade das três crianças que imediatamente foram
ver o que era.
Surpresos encontraram um
cachorrinho que mal tinha acabado de nascer.
- Mãe, olha o que nós
encontramos, gritou Felipe.
- É uma cadelinha, respondeu
Hélio.
- Que linda! exclamou
Raquel.
- Nossa, coitadinha,
deixaram aí, disse a mãe, espantada.
- Vamos ficar com ela, disse
Raquel, por favor, mãe!
- Não temos condições, ela
precisa de muitos cuidados.
- Nós vamos cuidar bem,
deixa, mãe, ela é tão pequena, implorou Raquel.
- Veja! ela está com fome,
falou Felipe, até está abrindo a boca.
O entusiasmo das crianças
era tão grande que a mãe, dona Norma, não teve coragem de dizer não.
- Está bem, concordou.
- Obrigada, mamãe, por
deixar a gente ficar com a cachorrinha.
E os três filhos correram
para abraçar a mãe, de tanta felicidade.
- Mãe, disse o Hélio, eu, o
Felipe e a Raquel demos o nome de Violeta para ela. O que você acha?
- É um nome muito bonito,
ela é tão graciosa como as flores da violeta.
E assim Violeta foi
crescendo linda e formosa com seus longos pelos marrom claro e uma mancha de
pelos brancos nas costas, que a deixava mais bonita. Era cuidada com todo
carinho e amor, era a alegria da casa.
Passado um ano, Violeta
estava bem crescida, forte e saudável.
Era primavera novamente, e a família estava reunida na varanda quando recebeu a visita do irmão da dona Norma, o tio Vidigal.
Apareceu num carro luxuoso,
ostentando riqueza.
- Que surpresa, disse dona
Norma, quanto tempo que não aparece!
- Faz muito tempo mesmo que
eu não venho até aqui.
Mal cumprimentou os sobrinhos
e foi logo falando para a mãe das crianças.
- Precisamos conversar a
sós.
Dona Norma já ficou
preocupada.
- Vim até aqui porque recebi
várias reclamações sobre o cachorro, e eu sou o dono desta casa, e o meu bom
nome não pode ser abalado, sou um homem muito rico e prestigiado e, além do mais, esse cachorro dá muitas despesas e você me paga muito pouco pelo aluguel, vou
ter que levar o cão embora.
- Não, por favor, disse dona
Norma, o que vou dizer aos meus filhos, eles adoram esse cãozinho.
- Não tem jeito, disse o tio
Vidigal, que falou de maneira seca e ríspida, se você for ficar com o cachorro,
procura outra casa para morar imediatamente.
Não adiantou nada a súplica de sua irmã, o tio Vidigal não deu a mínima importância para seus apelos, esperou as crianças dormirem, pegou a Violeta nos braços, para levá-la embora.
A irmã suplicou mais uma vez:
- Por favor, não faça isso!
Mas foi tudo em vão. Despediu
da irmã levando Violeta, e ao sair disse friamente:
- Se as crianças perguntarem
pela cachorra, diga que ela fugiu.
E lá foi a Violeta para seu
destino sem rumo.
A noite estava escura e com
uma cerração muito forte, o carro em que estava Violeta ia muito rápido pela
estrada, rodava, rodava, rodava muitos quilômetros e muitos quilômetros e cada
vez mais Violeta ficava mais e mais longe de casa.
Já estava amanhecendo, ainda
o carro rodava e em certo momento o carro parou, o tio Vidigal desceu do carro,
pegou a Violeta e a deixou no meio da estrada, abandonando-a à sua própria
sorte, numa paisagem inóspita e solitária.
Violeta ainda correu atrás do carro, mas o carro avançou rapidamente, deixando a cachorrinha para trás.
A coitadinha andava de um lado
para o outro, estava desorientada e assustada, e foi se esconder num matinho
que ali havia por perto e de tanto medo dormiu.
Neste momento, lá na casa da
viúva amanhecia. Violeta sempre acordava as crianças com suas lambidelas.
As crianças assim que acordaram
sentiram falta da cadelinha e os três foram procurá-la.
- Mãe, onde está a Violeta?
- Procuramos por toda parte.
A mãe contou a verdade:
- Seu tio Vidigal levou a Violeta.
- Mas por quê? disse Hélio.
- Disse que recebeu muitas
reclamações sobre a cachorra, e, além disso, que Violeta dá muita despesa, e
que eu pago muito mal o aluguel da casa, e que ele é um homem muito importante,
cheio de prestígio e de grande influência, e não podia ficar mal falado, e que
era para eu escolher ficar com o cachorro ou procurar imediatamente outro lugar
para morar. Na hora fiquei confusa, eu pedi tanto para ficar com a Violeta mas
ele não me deu ouvidos.
- Tá certo mãe, você
realmente não teve escolha, ele queria que saíssemos da casa, isso foi um
pretexto, uma maldade.
- O seu tio Vidigal ficou muito obcecado por dinheiro, tornou-se arrogante, pretensioso, vaidoso demais, e
foi inflexível aos meus pedidos.
- Falou pelo menos para onde
ele levaria a Violeta? perguntou Raquel.
- Não me disse nada, saiu às
pressas levando a cachorra.
As crianças ficaram muito
tristes, deprimidas e magoadas com o tio.
Enquanto isso, a Violeta
ficou encolhida o dia inteiro sem sair daquele lugar, cansada, choramingava
bastante, temerosa, não saía daquele cantinho de jeito nenhum, e acabou dormindo
novamente até o dia seguinte.
Acordou com muita fome, pois
até aquele momento não tinha comido nada, resolveu sair para procurar comida, sem encontrar nada, e
só comeu algumas plantinhas, só isso, não sabia procurar o que comer.
Violeta então começou a
farejar, farejar, farejar, e voltou para estrada onde foi deixada e começou a
correr, correr, correr, queria voltar para casa, mal podia imaginar que o
percurso era longo e difícil.
Passado algum tempo, o verão
estava começando muito quente, a alta temperatura ardia, um calor intenso,
aquele perfume agradável da primavera desapareceu, mas Violeta não desistia,
queria voltar para casa, e corria quilômetros e mais quilômetros, exausta, parou
para descansar, comeu algumas cascas secas e sementes de fruta e por sorte veio
a chuva de verão formando poças de água pelo chão, onde Violeta bebeu até se fartar. Foi um
alívio.
Já estava anoitecendo, uma
escuridão terrível, Violeta ainda estava molhada da chuva, sentia-se insegura,
tinha medo e choramingava de tristeza e solidão, mas acabou dormindo.
Na manhã seguinte, ao
caminhar encontrou casualmente uma casinha abandonada no meio do mato, se
aproximou devagarinho, mas não tinha ninguém, encontrou alguns restos de
comida, e comeu avidamente, e ficou satisfeita, sentindo-se mais forte, e logo saiu
para continuar sua jornada.
Assim passaram os dias,
sempre andando, andando, andando, até que em certo ponto se deparou com um rio
fundo, com uma forte correnteza, que a assustava, pois a velocidade da água era
muito rápida e forte.
Violeta então parou, ficou
observando indecisa, receosa, andava pra lá e pra cá, mas a saudade das
crianças e a vontade de voltar para a casa era tão grande que resolveu enfrentar
assim mesmo. Pulou na água.
A correnteza era tão forte
que arrastou Violeta com muita rapidez nas águas volumosas do rio, às vezes, ela
sumia na água, outras vezes, rolava para cima e para baixo.
Mas logo adiante num trecho,
o rio ficou surpreendentemente estreito e pouco profundo. A sorte da Violeta é
que surgiu uma grande abertura num lugar onde as águas desaparecem, um
sumidouro, e aí o acesso à margem ficou fácil, já que quase não tinha água, e Violeta
saiu com tranquilidade, conseguindo se salvar.
Depois desse desafio,
cansada, esgotada, foi dormir.
Lá pelos lados de Americana,
na casa da viúva, conversam na varanda as crianças e a mãe: lamentavam a falta
da Violeta.
- Que saudades da Violeta,
disse Raquel que, ao lembrar, vinham lágrimas nos seus olhos.
- Eu também sinto falta dela,
gostaria de saber se ela está bem e feliz, disse Felipe.
- Eu daria tudo para saber
onde está Violeta, o tio Vidigal foi maldoso, tirou ela de nós, foi embora e
nem deixou a gente se despedir, sem dizer aonde levaria a Violeta, disse Hélio,
lamentando-se.
Conversa vai, conversa vem,
o Hélio se lembrou de uma coisa e falou:
- Mãe, vai ter um concurso
na escola e o prêmio vai ser em dinheiro, vou me inscrever.
- Que ótimo, meu filho, sobre qual seria o assunto?
- Vou lá amanhã para saber
mais detalhes.
Violeta dormia profundamente
depois de passar por um grave perigo.
Passaram dois meses, Violeta
sempre andando, às vezes corria pelas estradinhas sinuosas.
O tempo foi passando, até
que começou a queda gradativa da temperatura e pelo amarelar das folhas em
queda das árvores indicava o início do outono.
Enquanto Violeta andava, andava,
andava, avistou uma cidadezinha, e viu vários cachorros derrubando uma lata de
lixo de um restaurante e todos começaram a comer.
Violeta estava com muita
fome, se aproximou para comer também, mas ela não era do grupo.
Assim que ela chegou mais
perto, um dos cachorros avançou com muita fúria, mordendo a pobre Violeta.
Um outro cachorro que estava lá
defendeu Violeta, atacando ferozmente o outro cão.
Os dois cachorros então se
atracaram, começaram a brigar, mas o defensor da Violeta saiu ganhando do
briguento.
Violeta saiu correndo,
desajeitada, grunhindo, e o cachorro que a salvou foi atrás dela para fazer
amizade. Ele era tão abandonado quanto ela.
Violeta foi mordida só de
raspão, se tornou amiga do cachorro que a livrou e a defendeu de tamanho
perigo. Os dois partilhavam o mesmo sofrimento: eram sozinhos.
Ficaram muito amigos, e o
cachorro que vivia só a seguia pela estrada e a cada quilômetro percorrido
Violeta se sentia mais e mais perto de sua casa.
Os dias foram passando mais
suaves para Violeta, agora tinha um amigo, mas não desistiria de voltar para
sua casa.
Sempre andando, andando,
andando, com seu amigo, não podia parar, tinha que chegar a qualquer custo.
Os meses foram passando,
começaram a cair pequenas gotinhas de garoa durante a madrugada, uma chuva
muito miúda formava poças de água no caminho, a temperatura baixava, anunciando o
início do inverno.
Violeta continuava o seu
caminho, sempre perseverante, mesmo com o frio intenso, agora se sentia mais
fraca, não tinha muita comida e o inverno estava um dos piores dos últimos
anos, de tanto frio.
Violeta não estava
acostumada com tanto frio, já não corria tanto, se sentia cansada, debilitada.
Graças a seu amigo, que
trazia a pouca comida que encontrava, e sempre a estimulava a prosseguir em sua
jornada, Violeta não desistia, seguia sempre em frente.
No entanto, lá na casa da
viúva, Hélio chegou feliz da vida e gritou:
- Mãe, ganhei o concurso,
agora temos o dinheiro para comprar uma casa.
Todos pularam de alegria.
- Agora teremos nossa
própria casa, disse Hélio.
Sentiram uma certa tristeza,
justamente agora Violeta não estava lá.
- Parabéns, meu filho, disse dona Norma, estou muito orgulhosa.
Todos abraçaram Hélio,
felizes e contentes.
- Vamos hoje mesmo à
imobiliária, disse a mãe.
E aí saíram todos alegres.
Chegando na imobiliária, o
vendedor mostrou todas as casas que estavam à venda e, para a surpresa de
todos, inclusive a casa em que eles estavam morando, a casa do tio Vidigal.
Não acreditaram que a casa
estava à venda, ficaram admirados, por que será que o tio Vidigal não nos
avisou?
- Vamos comprar essa casa,
não precisamos nem mudar, disse Raquel para a mãe, nós gostamos tanto dessa
casa!
Compraram a casa e saíram
alegres e satisfeitos.
Certa manhã, Violeta acordou
com o chilrear dos passarinhos, viu umas florzinhas brotando. Eram violetas!
Sentiu o perfume das flores,
um aroma agradável, o sol brilhava, e Violeta lembrou de sua casa, das flores
que cobriam toda a varanda. Principiava a primavera.
Violeta estava enfraquecida,
abatida, faltavam-lhe forças, mas sentiu que estava perto de sua casa.
Mais que depressa acordou
seu amigo, latiu, latiu, latiu, e começou a correr, mesmo cansada, corria sem
parar. Uma força de ânimo inexplicável renovou suas energias.
Sentia o cheiro das violetas cada vez mais perto.
Num belo domingo, o sol
brilhava naquela manhã agradável de primavera, nuvens brancas vagavam macias e
leves no céu azul, a viúva e seus filhos conversavam na varanda coberta por
violetas, lembrando-se de quando na mesma época, a dois anos atrás, acharam a
cadelinha Violeta.
A mãe perguntou ao Hélio:
- Qual foi mesmo o assunto
que fez você ganhar o prêmio?
Quando o Hélio ia falar,
ouviram vários latidos, estranharam e foram ver.
- Vejam essa cachorra
latindo e abanando o rabo para nós, até parece a Violeta, disse Felipe.
- É a violeta, disse Raquel entusiasmada.
- Mas ela é diferente, é
escura e não tem a mancha branca, disse a mãe.
- É sujeira, disse Hélio,
olha como ela está feliz, até está chorando, é a Violeta!
- Vejam, tem outro cachorro,
disse Raquel, veio com ela.
Violeta latia, latia, latia,
queria entrar mas não queria deixar seu amigo que a salvou de tantos perigos,
ela ia até seu amigo e latia, latia, latia, e olhava para eles, e latia, latia,
latia.
- O que estão esperando,
disse a mãe, vão dar um banho neles.
E aí os três levaram os dois
cachorros para casa alegremente.
- É Violeta, não falei, olha
a mancha branca. Nossa, que alegria!
- Por onde teria andado nesse ano todo para estar tão suja e fraca?
Deram um banho também no outro
cachorro e se surpreenderam com a beleza dele.
- Como podem abandonar um cachorro
tão lindo, disse Raquel.
Que grande alívio, Violeta
voltou para casa!
Num domingo, a família
estava reunida ao lado dos dois cachorros quando de repente chega o tio Vidigal.
Estava sem o carro e mal vestido, ao avistar a Violeta ficou surpreso e assustado.
Quando Violeta viu o tio
Vidigal saiu correndo, chorando, e foi se esconder.
Surpresa de ver o irmão, a dona
Norma falou:
- O que veio fazer por estas
redondezas?
- Vendi a casa. Aí interrompeu
bruscamente a conversa e por um instante ficou pensativo.
Dona Norma estranhou a
atitude dele.
O tio Vidigal estava aflito e perturbado e
perguntou:
- A cachorra que saiu correndo
quando me viu é a Violeta?
- Sim, ela mesma, chegou muito
magra, fraca, suja de poeira, de lama, estava irreconhecível.
O tio Vidigal ficou atônito,
nervoso e confuso, então disse:
- Não é possível, vocês
estão me enganando, levei a cachorra para muitos quilômetros daqui, muito longe,
impossível ela ter voltado, deixei a cachorra numa estrada deserta, estreita e
distante, e fui embora.
- Ela apareceu aqui depois
de um ano, ficamos muito surpresos, não esperávamos, disse dona Norma.
O tio Vidigal ficou agitado,
inquieto, abalado e começou a chorar.
- Quero que vocês me
perdoem, fui cruel, arrogante, traiçoeiro, por isso fui castigado, perdi todo o
dinheiro que eu tinha, fiquei na miséria, depois do que eu fiz nunca fiquei em
paz, o remorso me acompanhou, por favor, me perdoem por ter feito tamanha
crueldade.
A viúva e as crianças
ficaram perplexas, nunca imaginavam que o tio largaria a Violeta na estrada.
O tio Vidigal se despediu da
família de cabeça baixa, humilhado, saiu às pressas desorientado, com a roupa
gasta pelo uso e a pé, nem terminou de contar sobre a venda da casa.
A mãe e as crianças tentaram
impedir que ele fosse embora, queriam explicar que tinham comprado a casa. Em
vão. Tio Vidigal deu as costas e partiu.
Perdoamos, disse dona Norma,
mas não teve jeito, a vergonha dele foi muito grande.
Tio Vidigal nunca pensou que
eles iriam descobrir sua atitude tão vil.
Assim que o tio saiu,
Violeta voltou do esconderijo e latiu, latiu, latiu.
- Ninguém vai levar mais
você, Violeta, disse Raquel, dando um beijo na cachorra.
Violeta latiu novamente e
foi fazer carinho em cada um, feliz, abanando o rabo, e foi até seu amigo que
estava dormindo tranquilo.
Alegria voltou naquela casa.
- Meu filho, disse a mãe
para o Helio, ainda você não falou sobre o assunto que fez você ganhar o
prêmio.
- Era para fazer uma
história para uma revista importante, muito famosa, e eu fiz a história da
Violeta que acaba de ser contada. Eles adoraram e vão fazer até um filme.
Então Raquel perguntou:
- Como você fez a história da
Violeta se ela não estava aqui e terminou a história com ela voltando para
casa.
- Mesmo quando a Violeta
estava fora, eu sempre tive a esperança de que um dia ela voltaria.
- Mas e o outro cachorro, disse
Felipe, você adivinhou?
- Sempre quis ter dois
cachorros e meu sonho se realizou.
A família estava reunida
sossegada na varanda toda florida, coberta por violetas, pois ainda era
primavera.
Violeta estava muito feliz,
olhou para eles, foi fazer carinho, latiu, latiu, latiu, abanando o rabo, latindo
novamente como se dissesse:
- Voltei para casa.
E os dois cachorros ficaram com eles felizes para sempre.
- E foi assim que eu terminei
a história da Violeta, que se passou lá pelos anos de 1950.
*****
Autora: Nilza Monti Pires
Revisão: Nilza, Paula
Vanessa e Jean
Ilustrações: Sabrina Paloma,
Annina Ramona e Paula Vanessa
*****
“Não existe cachorro de rua, existe cachorro abandonado. Se você não puder resgatar um animal (gato ou cachorro), ajude oferecendo água e comida e entre em contato com uma entidade amiga dos animais. Ajude um protetor, compartilhe postagens de animais perdidos ou para serem adotados. Denuncie maus tratos aos animais e, se puder, colabore com uma ONG. Faça a sua parte para minimizar o abandono de animais. Um pouco já é muito”. Recado da Paula Vanessa Pires de Azevedo Gonçalves, professora de história que ama os animais.